Sobre o Realizador
" Este
filme é dedicado à memória de André Bazin"
F.
Truffaut |
 
Quem é François Truffaut? Trata-se aqui apenas
de recordar quem ele é, em que contexto surgiu este filme,
por que razão o terá dedicado a Bazin.
François Truffaut
nasceu em Paris a 6 de Fevereiro de 1932 e morreu no
hospital americano em Neuilly, com 52 anos, vítima de um tumor cerebral,
a 21 de Outubro de 1984. Está sepultado no cemitério de Montmartre,
em Paris. Deixou três filhas, Laura Truffaut (nascida em 1959), Eva
Truffaut (nascida em 1961) e Josephine (nascida em
1983).
Truffaut começa, com 7 anos, a frequentar assíduamente as
salas de cinema. Leitor interessado, não se pode
dizer que tivesse sido um bom aluno. Teve uma infância
difícil e turbulenta. Com 14 anos, abandona a escola e começa a trabalhar.
Em 1947, com apenas 15 anos, funda um clube de cinema. É então que conhece o famoso
crítico cinematográfico André Bazin que o toma
como seu protegido. Inclusivamente, é Bazin quem paga a fiança quando
Truffaut é condenado por deserção do exército francês. Bazin e a esposa tornaram-se
a família que Truffaut nunca tinha tido. Basin constitui-se como um apoio emocional e
económico e, simultaneamente, incentivo poderoso para o seu gosto pelo cinema. Mais tarde, Truffaut
dedicar-lhe-á o seu magnífico e semi-autobiográfico "Les Quatre Cents
Coups".
A
carreira cinematográfica de Truffaut teve início como crítico
cinematográfico. Assinou diversas críticas para
semanários de pequena tiragem e, mais tarde, a partir de 1953, para a famosa
revista "Cahiers du Cinéma", dirigida por André Bazin. Num
dos artigos mais notáveis aí publicados em 1954, intitulado "Une
certaine tendence du cinéma français", Truffaut critica a escola existente
do cinema
francês e os grandes cineastas franceses de então, os seus filmes
caros, épicos, quase sempre encomendados, e estabelece a base do "cinema de autor", isto é, defende a tese de
que "o realizador é o
criador primário do seu filme". Truffaut propõe, assim, um novo
tipo de cinema baseado sobretudo na liberdade do realizador, da concepção
até à edição do filme.
A partir desta altura, e ainda em 1954, resolve
passar da crítica à criação com algumas experiências em curtas metragens.
Em 1956, foi assistente de Roberto Rossellini em alguns projectos que não
chegaram a ser concretizados. O ano de 1957 reveste-se de especial
importância para Truffaut: casa-se com Madeleine Morgenstern, filha de um
importante distribuidor de filmes, e funda a sua própria companhia de
produção cinematográfica, "Les Films du
Carrosse", nome inspirado no filme de Jean Renoir, "Le
Carrosse d'Or" (1952). Neste ano emblemático, realiza a
curta-metragem "Les Mistons".
Em 1959, decide rodar a sua primeira
longa-metragem experimentando as ideias por si apresentadas anteriormente nos "Cahiers du Cinéma". É neste contexto que
surgem "Les Quatre Cents Coups". Este
filme, com uma estética inovadora, muitas
sequências externas e planos longos (com destaque para os planos finais),
demonstra que é possível fazer cinema longe do aparato técnico dos
estúdios e com um orçamento reduzido sem que a qualidade final da
película seja prejudicada.
Truffaut estava, sem o saber, a dar origem à
"nouvelle vague" francesa. Trata-se de um termo
criado pela imprensa com o objectivo de designar todos os filmes produzidos pela nova geração de
cineastas que começaram a aparecer no final da década de cinquenta. A
"nouvelle vague" adquiriu, posteriormente, uma amplitude que permitiu incluir
cineastas tão diferentes como Louis Malle, Jean-Luc Godard e Claude
Chabrol, impedindo, ao mesmo tempo, que se criasse um padrão estético
característico do movimento (como ocorreu, por exemplo, com o neo-realismo
italiano).
"Les Quatre Cents Coups" é uma história
semi-autobiográfica, sobre a difícil adolescência de Antoine Doinel,
protagonizado por Jean-Pierre Léaud. Truffaut ganhará
com este filme o prémio do Festival de Cannes no mesmo ano da sua
edição, em 1959. Ao longo da sua carreira, regressará constantemente ao
personagem Antoine Doinel, sempre interpretado por Jean-Pierre Léaud e
sempre prolongando a mesma corrente autobiográfica inicial. É o caso de filmes como "L'amour
à vingt ans" (1962), "Baisers volés" (1968), "Domicile conjugal" (1970) e
"L'amour en fuite" (1979).
Há dois
temas principais que
caracterizam a maior parte dos trabalhos de Truffaut a partir do início da
década de 60. Por um lado, o realizador celebra a vida na tradição
humanística de Jean Renoir (como, por exemplo, no filme "L'enfant
sauvage", de 1969); por outro lado, de acordo com uma certa tendência fatalista e
algo cínica, revela a sua fascinação "hitchcockiana" pelo lado mais
escuro da vida (como, por exemplo, no filme "La mariée était en noir", de
1968). Em certos filmes porém, filmes que não podem ser incluídos em nenhuma
destas categorias, nota-se um equilíbrio instável entre estas duas tendências divergentes (como, por exemplo, no filme "Le dernier
métro", de 1980).
A
crítica não se cansou de repetir que os últimos
filmes de Truffaut não conseguiam igualar a "qualidade explosiva"
do seu trabalho inicial. No entanto, como Joseph McBride fez notar, a perda dessas qualidades iniciais foi compensada por uma
aproximação mais rigorosa à narrativa, uma mestria na sobriedade de estilo
e uma mais profunda riqueza emocional.
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Apesar do seu
admirável currículo, a visibilidade internacional de Truffaut só se dá em
1973, quando o filme " La nuit américaine" ganha, em
Hollywood, o Óscar para o melhor filme estrangeiro, para o qual ele também
tinha sido nomeado com o filme "Les Quatre Cents Coups". A sua filmografia
compreende mais de 20 filmes, expressivos da obra de um realizador que,
nos seus filmes, consagra, de forma extremamente bela, o amor ao
cinema.

" Conservo
da minha infância uma grande ansiedade, e os filmes estão relacionados com
a ansiedade, com a ideia de algo clandestino." - F. Truffaut |
" Sempre
preferi o reflexo da vida à vida em si"
F.
Truffaut |

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