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"Por favor, não acredite nas palavras de
ninguém porque se arriscaria a cometer muitos erros: Mas dê sempre uma importância primordial às expressões do rosto que não
enganam, nem podem enganar."
(George Borrow, cit. in Nierenberg & Calero, 2001, p. 190)
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A face é um núcleo convergente e aglutinador de pequenas janelas entrosadas que comunicam incessantemente entre si e com o mundo em redor. A testa, as sobrancelhas, os olhos, o nariz, as maçãs do rosto, a boca e o queixo compõem este núcleo facial.
Apesar de a expressão afectiva do ser humano não se manifestar exclusivamente através da face,
Ekman (1965) constatou que "somente a face era capaz de qualificar uma emoção como agradável ou não; o resto do corpo limitava-se a dar uma informação sobre a intensidade do
afecto"(cit. in Corraze, 1982, p. 75).
Ora,
como não podia deixar de ser, o universo escolar é um lugar dramático
onde, diariamente, alunos desconhecidos enfrentam professores igualmente
desconhecidos. Uns e outros, prescutam-se, revelam-se, escondem-se, jogam
um jogo de constantes percepções e múltiplas
interpretações, de permutas entre pequenos sinais que a face transporta
consigo e cujo domínio escapa, a maior parte das vezes, aos
próprios interlocutores. No dia-a-dia escolar, para lá das máscaras faciais
que professores e alunos exibem, há uma série de sinais que transmitem informações sobre os seus estados afectivos e pulsionais, sobre as suas identidades e sobre o meio
social, sobre os seus sentimentos, temperamentos, etc.
O professor, na sala de aula, olha à volta e vê uma enorme variedade de expressões faciais. Quando se
interroga sobre o sentido de cada uma delas, faz juízos sobre o seu significado.
Juízos que têm efeitos na apreciação de cada um dos alunos, nas relações
interpessoais que com eles estabelece. A percepção que o professor tem dos seus alunos tem sido amplamente
estudada. Destacamos apenas as pesquisas de Rosenthal e Jacobson, em 1968, sobre o conceito de profecia auto-realizável, também
conhecido como Efeito de Pigmaleão. Estes estudos alertam-nos para a influência que as expectativas do
professor relativamente aos alunos têm no tipo de comunicação e de relacionamento entre
eles. No mesmo âmbito, Brophy e Good
salientam para a influência que as expectativas do professor têm no comportamento do aluno. (Vieira, 2000, p. 12)
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"No início de um ano lectivo, num primeiro momento cruzam-se os primeiros olhares.
O professor observa a turma, a turma observa o professor. Uns e outros espiam-se, desafiam-se"
(Gusdorf, 1970, p. 52) |
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A título
ilustrativo vejamos um conjunto de imagens de alunos cuja expressões cabe
ao professor compreender.
Que significa o enrugamento da testa e o franzir dos olhos, a ligeira elevação da parte periférica das sobrancelhas, a boca semi-aberta e
os lábios descaídos? |

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Por que razão a menina da esquerda dirige o olhar
na direcção da colega? Que é que captou a sua atenção ou que serve de repouso para albergar a fluidez dos seus
pensamentos? Enquanto isso, a menina da direita parece estar concentrada na realização de uma
tarefa. Mas, como entender o leve arquear das suas sobrancelhas? |
Como interpretar o sorriso simples desta menina?
Por que razão os seus lábios se arredondam para trás, com uma ligeira inclinação para cima e
se mantêm unidos, ocultando os dentes? As maçãs do rosto salientes
que realçam o olhar frontal e aberto serão expressãode um estar sereno, satisfeito e algo
introspectivo? |

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Do mesmo modo, a expressão facial constitui um dos indicadores mais imediatos que os alunos têm em conta na apreciação do professor. Observemos, mais uma vez a título exemplificativo, algumas expressões faciais de professores.

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Os olhos estão exageradamente abertos. As sobrancelhas elevadas e arqueadas.
A testa franzida e subida. A boca entreaberta. Será tudo isto sinal
de entusiasmo, convicção, sedução, ou interrogação? |
A boca abre-se. Os lábios recuam e deixam ver os dentes, compondo um sorriso aberto que é enfatizado pela subida das maçãs do
rosto. O olhar dirige-se em sentido ligeiramente ascendente. Que
pretende dizer esta professora? |

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A face apresenta alguma tensão. Ou será
impassividade? A abertura dos lábios é estreita e, aparentemente, pouco enérgica.
O olhar está ligeiramente inclinado em sentido ascendente, lançado por cima dos
óculos. Que pode tudo isto significar? Uma atitude de avaliação,
indagação, explicação ? |
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"Os olhos falam tanto como a língua, com a vantagem de que a linguagem dos olhos não precisa de dicionário para ser compreendida em todas as partes do mundo"
(Emerson, cit. in Nierenberg & Calero, 2001, p. 28).
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Eu antes quero
Muda expressão;
Os lábios mentem,
Os olhos não.
(Bocage, Odes Anacreonticas, 1875)
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IMPRESSÃO DIGITAL
Os meus olhos são uns olhos
E é com esses olhos uns
Quer eu vejo no mundo escolhos
Onde outros, com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros gnomos e fadas
Num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes. São Gigantes.
(António Gedeão, Poesias completas, 1987) |
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O Mundo diz-te alegre porque o riso
Desabrocha em tua boca, docemente
Como uma flor de luz! Meigo sorriso
Que na tua boca poisa alegremente! (…)
(Florbela Espanca,
Poesia
Completa, 1997, p. 147) |
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Uma das expressões, associadas à boca e aos lábios, que mais reclama a nossa atenção é o sorriso, com todas as suas tonalidades e intensidades. O sorriso não é apenas sinal de humor ou satisfação, é também expressão de boa vontade, sinal de defesa ou mesmo de desculpa. (Esperança, 1998, p. 67)
No sorriso simples os lábios arredondam-se para trás, um pouco para cima, mas mantém-se unidos, não deixando aparecer os dentes. Aparentemente,
é o sorriso daqueles que não sorriem para si mesmos, ou surge quando uma pessoa está sozinha e se sente satisfeita.
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O meio sorriso deixa mostrar os dentes superiores e a boca
entreabre-se. Aparece, geralmente, na conversa entre duas pessoas, quando se encontram amigos
ou conhecidos.
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O sorriso aberto é muitas vezes provocado por divertimentos e brincadeiras e, acompanha-se, muitas vezes, de gargalhada, a boca abre-se e os lábios recuam de maneira a verem-se os
dentes de baixo e de cima.
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Há ainda o chamado sorriso amarelo que nos lembra que os sorrisos nem sempre estão associados a sensações de boa disposição. Nos sorrisos amarelos os lábios afastam-se completamente dos dentes e formam uma espécie de oval, e, geralmente, reflectem a vontade do seu emissor de se mostrar amável mas de forma forçada, pouco sincera. (Nierenberg & Calero, 2001, p. 32 - 34)Há
ainda o bocejo ou sorriso entediado e opostamente, o sorriso
extasiado de admiração. |
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Há ainda o bocejo ou sorriso entediado que,
curiosamente, não é muito diverso do sorriso extasiado de
admiração. |
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Na figura
seguinte estão representadas diversas formas de sorrisos e posições da boca.
"Formas de sorrisos: a) simples; b) superior; c) amplo; d) oblongo; e) atravessado; f) comprimido ou apertado.
Posições da boca: g) oblonga; h) extremidades voltadas para baixo; i) lábios cerrados." (Branningan & Humphries, 1972 em Corraze, 1982, p. 26)
A
verdade é que os lábios são como portas…
Ora se abrem de par em par em sorrisos amplos e sonoros, ora se entreabrem
tímidamente, de forma comedida e misteriosa, ora se fecham tenazmente como que
resistindo a todo o movimento que alivie ou altere a união natural dos
lábios cuja pressão pode variar do mais tenso ao mais relaxado.
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