Comunicação Proxémica

"Recordo o cheiro entranhado das antigas salas de aula que me parecia provir sempre de aparas de lápis, de borrachas, de gizes, materiais que, em boa verdade, não cheiram a nada. ( … ) Em cima de um estrado, com um quadro de ardósia por detrás, inevitavelmente lascado, junto a uma pobre secretária, dezenas de homens e mulheres sofredores, tiveram, ano após ano, a incumbência de me ilustrar, a mim e a outros trinta gaiatos que sentiam como ponto de honra, às vezes ostensivo e grosseiro, o fingir que aquilo não era com eles. ( … ) Ainda tenho presentes aqueles arrobos entusiasmados, o cachecol sempre a descair, o livro aberto com um dedo apontado para as gravuras, o sorriso, raro e feliz, os gestos largos…"

(Mário de Carvalho)

A comunicação proxémica constitui-se no jogo de distâncias e proximidades que se entretecem entre as pessoas e o espaço. Traduz as formas como nos colocamos e movemos ums em relação aos outros, como gerimos e ocupamos o nosso espaço envolvente.  A relação que os comunicantes estabelecem entre si, a distância espacial entre eles, a orientação do corpo e do rosto, a forma como se tocam ou se evitam, o modo como dispõem e se posicionam entre os objectos e os espaços, permite-nos capatar mensagens latentes.


Como era de esperar, tambémn na escola este tipo de comunicação tem importância. Na sua génese, a escola tinha por cenário espaços ao ar livre, ambientes naturais e soltos, nas praças movimentadas das grandes cidades da antiguidade ou em lugares recolhidos nos limites  das cidades, sob as sombras dos arvoredos. Que caminhos trilhou a escola para se circunscrever ao espaço fechado da sala de aula, delimitado por quatro paredes, mesas, cadeiras? 

 

Têm sido amplamente estudados os efeitos da disposição e gestão dos espaços escolares. As conclusões apontam para a sua influência e contribuição na promoção ou impedimento de determinados tipos de clima, dinâmica de trabalho, relacionamento interpessoal entre professores e alunos. Por outras palavras, como toda a comunicação, a comunicação escolar ganha contornos peculiares conforme o modo como organizamos o espaço à nossa volta. 

 


Por exemplo, a disposição do mobiliário, dos objectos e adornos na sala de aula tem experimentado grandes modificações: a substituição das carteiras fixas por cadeiras, o aparecimento de quadros e mesas móveis proporcionaram o aparecimento de diversos tipos de plantas de sala de aula.

 

 

Esperança (1998) fala-nos de quatro categorias de distâncias que guardamos entre o nosso corpo e o corpo do outro.

  • A distância pública é a que reservamos para os acontecimentos em que não nos envolvemos pessoalmente. Nas fronteiras de maior proximidade esta distância pode ir dos 4 aos 9 m. (…) Qualquer entrada nesta área é feita apenas por convite.

  • A distância social pode ir do comprimento de um braço até cerca de 4 metros. Um metro a 1,50 m é o que geralmente reservamos para contactos impessoais ou sociais. (…) de 1,5 m a 3,5 m ocorre o contacto ou a separação entre interlocutores: esta é a distância que é possível utilizar como argumento, tanto para o contacto como para a separação: é a distância mínima de trabalho, actividade pessoal.

  • A distância pessoal, que pode ir dos 40 cm até aproximadamente 1,20 m, é a distância que se mantém dos amigos mais próximos, marido e mulher, etc. (…)

  • A distância íntima que se estende, para lá do corpo, de 15 a 50 cm; a muito poucas pessoas permitimos que cheguem tão próximo de nós. É uma distância que permite um contacto directo - corpo a corpo. Todos os órgãos dos sentidos se inundam de informações sobre o outro, que se encontram tão próximo." (p. 22 e 23)

Seguem-se algumas imagens que correspondem a diversas dinâmicas relacionais e articulações espaciais entre os professores e alunos.

 

Olga Pombo opombo@fc.ul.pt