Criação: Por volta do século XIX, Braga era, em termos populacionais, a terceira maior cidade do país, o que fez com que se tornasse na mais importante cidade minhota. Braga tinha uma importante indústria artesanal e era habitada por uma maioria de trabalhadores oficinais ou do comércio. É ainda de referir que Braga era um centro administrativo que dava emprego a um conjunto significativo de funcionários públicos e albergava ainda um grande conjunto de militares.
Localização: No início: Convento dos Congregados do Oratório Em 1921: Edifício do Colégio do Espírito Santo
Instalações: Foram feitas reparações no edifício para melhoramento deste com os rendimentos vindos das propinas. Os liceus dispunham de uma pequena verba para a sua gestão. Com estas verbas os liceus efectuavam apenas reparações urgentes e compravam mobiliárioe material didáctico. Em 1852, foi criado o Colégio de Educação do liceu, passando assim a ter um internato. Este ficou instalado no mesmo edifício do liceu no segundo piso deste. Um incêndio, em Abril de 1866, destruiu parte do antigo paço arquiepiscopal onde estavam instalados o Governo Civil, a Repartição Distrital da Fazenda e os Telégrafos. Estes serviços foram desde logo transferidos para as instalações dos Congregados, ao que o Conselho do liceu reagiu negativamente. Só duas décadas mais tarde, é que o Governo Civil abandonou as instalações do liceu. Nesta altura surgem deficiências estruturais no edifício e em 1884 a situação agrava-se fortemente. Com a criação da Escola Industrial de Braga, surge a ideia, de construir duas oficinas na cerca do liceu. Estas obras foram inciadas mas não foram acabadas. Nesta altura, o liceu funcionava no rés-do-chão em seis salas de aula, secretaria e algumas dependências para guarda de material. Em 1897 é construído um gabinete para o reitor continuando a não existir uma sala para os professores. No inicio do século XX, devido à reforma de Jaime Moniz, que implicou a divisão em anos e turmas, fez com que tivessem de ser construídas salas na parte das celas dos frades oratorianos no primeiro andar do edifício. Em 1897, o liceu pediu que lhe fosse concedido uma parte da cerca para estudo botânico, pedido que rapidamente foi acedido, sendo o horto instalado e vedado em 1900. Em 1903 é pedido mais terreno para o ensino da Ginástica. No entanto, este pedido só foi acedido em 1914. O desejo por parte do liceu em adquirir as instalações inacabadas da Escola Industrial, devido ao elevado número de turmas nunca foi permitido pois estes terrenos tinham sido atribuidos à Câmara Municipal. O material foi sendo adquirido lentamente e de acordo com as quantias escassas do orçamento. O liceu beneficiou muitas vezes das ofertas de material de antigos alunos , oficiais das Forças Armadas e professores. Os mais bem equipados gabinetes eram os de Física, Química e História Natural. Com a implantação da República, abriram-se novas possibilidades de obtenção de um novo edifício para o liceu. Em 1910 foi pedido para que o liceu mudasse para as instalações do colégio Espírito Santo, pois este tinha boa posição, salas espaçosas, salões, ginásio e condições higiénicas. O colégio Espirito Santo era um estabelecimento de ensino particular com internato e externato criado por uma congregação religiosa e destinada ao sexo masculino. Este entrou em funcionamento em 1872 e mudou de instalações em 1878. A transferência do Liceu de Braga para estas instalações só aconteceu em 1921. Durante os anos que demorou a transferência do liceu para as novas instalações, os professores e alunos continuaram a ter problemas de espaço e falta de material didáctico. O número de alunos no liceu aumentou no inicio da segunda década de século XX,fazendo com que cada vez mais as salas fossem insuficientes . Em 1913, o liceu recebeu material de Física e de Química e algum mobiliário. Três anos depois, realiza-se então a mudança para as novas instalações. No entanto, com a demora na transição de instalações, o novo edifício foi ficando cada vez mais deteriorado, obrigndo a obras de reparação em 1929 e que duraram até 1933. Apesar de tudo, o mobiliário continuou o mesmo. O material de Física, Química e Ciências Naturais era o único que se enconrava em melhores condições e nesta altura o liceu dispunha de uma vasta colecção de material de laboratório uma vez que tinham o que havia quando estavam no edifício dos Congregados e algum material que tinha sido deixado nos laboratórios do Colégio Espírito Santo.
Categoria: Até 1880, o Liceu de Braga estava incluído no grupo dos liceus de primeira classe, tal como os de Lisboa, Coimbra, Porto e Évora. A partir desta data passaram a haver apenas 3 liceus nacionais centrais : Lisboa, Porto e Coimbra. O curso geral era leccionado em todos os liceus, enquanto que o curso complementar passou a existir apenas nos liceus nacionais centrais. No entanto, havia a excepção dos Liceus de Braga, Viseu, Évora e Angra do Heroismo que também estava autorizados a ter um curso complementarde letras, e no Funchal um curso complementar de Ciências. Em 1885 e após uma prolongada discussão o curso volta a ser igual em todos os liceus, devido à reforma de 1886, embora a designação de liceu nacional central e de liceu nacional permaneça igual. No entanto, em 1895 é de novo imposto que apenas os 3 liceus nacionais centrais tenham um curso complementar e impuseram também fora dos distritos de Lisboa, Porto e Coimbra não poderiam ser criados liceus centrais, a não ser que as Câmaras acarretassem com a despesa dessa criação. Devido a este facto, para que o Liceu de Braga continuasse a ser central a Câmara dispôs-se a pagar as despesas que isso acarretava. Durante trinta anos, o munícipio pagou para que o liceu tivesse curso complementar. No decreto de 27 de Abril de 1912 o Presidente da República Manuel de Arriaga determinou que: "Atendendo aos altos serviços prestados às letras pátrias pelo grande poeta quinhentista Sá de Miranda (...) hei-de por bem decretar que o Liceu de Braga passe a denominar-se Liceu Sá de Miranda."
Traços liceais: O Liceu de Braga foi adquirindo lentamente as suas características próprias. Embora tenha mantido alguns traços ideológicos, este caracterizou-se pela sua modelação face à revolução socioeconómica, política e cultural. Interessa-nos pois quais os traços marcantes deste liceu. No edifício dos Congregados, os claustros eram o local para onde davam a maioria das salas de aula e onde se cruzavam alunos, professores, funcionários, visitantes e frequentadores da Biblioteca Pública. A partir de 1866, o liceu dispersou-se e foi "invadido" por várias repartições públicas. Este facto veio perturbar a vivência do liceu. A porta do liceu constituia o local de aglomeração dos estudantes. Aí era lugar de brincadeiras, rixas, nem sempre bem vistas pelas pessoas que ali passavam e pelo reitor. Os liceus eram frequentados até à plena implantação da Reforma de Jaime Moniz, por crianças com mais de 12 anos. A partir do inicio do século XX e da plena instituição do ensino de classe, a idade à primeira matricula foi diminuindo significativamente, mas o elevado número de reprovações fez com que muitos estudantes só abandonassem o liceu na idade adulta. Como se pode ver, o Liceu de Braga era frequentado por uma gama etária muito diversificada de alunos. É de referir aqui, que ao longo da história do liceu bracarense houve alguns incidentes provocados por grupos do liceu, greves (as paredes) e motins. Tudo isto ica a dever-se também ao facto de haver muito poucos funcionários no liceu como forma de controle. Estas greves tinham por vezes o simples objectivo de paragem de aulas para momentos festivos dos estudantes. Voltando à questão do número de alunos do liceu, este aumentou ao longo da primeira década do século XX sendo sempre superior a 400 alunos. Em 1930 esse numero ultrapassou os 500 e os 800 em 1934. Em 1950 tiveram mais de 1000 alunos. Em 1964 deu-se uma queda devido ao facto de se ter criado o Liceu feminino D. Maria II, o que fez com que uma grande parte das alunas deste liceu fossem para o liceu feminino D. Maria II. A entrada de alunas veio perturbar o
liceu uma vez que, este era exclusivamente masculino. Estas ocupavam o lugar da frente nas
aulas e foram rapidamente isoladas do convívio com os colegas. O edifício dos
Congregados não tinha condições para esse isolamento, e assim em 1918 foi pedido ao
governo a criação de uma secção feminina, sendo no ano seguinte construído um anexo
para as raparigas. Este anexo servia ecenssialmente para a estadia das raparigas durante
os intervalos pois as turmas continuaram a ser mistas. Só em 1939, o liceu adquiriu
instalações equipadas para as raparigas. Após o programa oficial, pela noite fora, aconteciam ceias organizadas pelos estudantes acompanhadas por música e havia lugar para um conjunto de partidas feitas nos diversos locais da cidade. Uma característica deste liceu mesmo depois da implantação do Estado Novo foi o Enterro da Gata. Este consistia no enterro de uma gata, que servia para exorcizar o medo das reprovações nos exames e tinha uma componente de crítica social aquando dos discursos finais e da leitura do testamento da gata. O primeiro Enterro da Gata consta do ano de 1889. Os professres do liceu foram considerados elementos de elite social e cultural da cidade, no entanto também alvo de uma forte crítica social. Vários exerceram cargos políticos ou desempenharam funções de destaque nos Ministérios do Reino, da Instrução Pública ou da Educação Nacional. Profissionalmente, os reitores eram na sua maioria, professores e uma pequena maioria constituida por padres.
Conclusão: Desde o inicio que o liceu assumiu um papel de destaque entre as mais importantes instituições da cidade. Apesar de alguns conflitos, o liceu nunca perdeu o prestígio que ganhou. Muitos estudantes vinham de fora da cidade, alojando-se assim em casas particulares, hospedarias ou casas de indivíduos que aceitavam um número variável de estudantes. A cidade ficou marcada pelo nascimento do liceu, pois acontecimentos como o 1º de Dezembro ou o Enterro da Gata mereciam o apreço de toda a cidade, pois todos gostavam de ver as manifestações estudantis. Os estudantes mais velhos faziam uma vida mais boémia, faltando muito às aulas e daí resultando muitas reprovações. O liceu esteve, desde sempre muito exposto à cidade, levando a que neste ocorressem muitas conferências e exposições. Nas décadas de 1840 a 1860, liceu começou a ser usado para espectáculos de teatro e música. Com a mudança de instalações passou a haver também naquele liceu, aos fins- de -semana sessões de cinema. O Liceu de Braga foi dos mais frequentados a nível nacional. Este constituiu uma das principais instituições da economia bracarense. Apesar de tudo, o Liceu Sá de Miranda que hoje se denomina de Escola Secundária Sá de Miranda cumpriu um papel fundamental na insrução e educação de milhares de jovens.
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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