Criação: Este liceu iniciou as suas actividades em 1848. De inicio tinha apenas dois professores. Em 1851 foram nomeados mais três professores segundo o Decreto Cabralista de 1844. Fora do liceu leccionavam-se oito disciplinas: Latim, Gramática Portuguesa e Latina, Gramática Portuguesa, Latim e Latinidade. Este liceu era considerado, na sua categoria, um liceu de "segunda". Este dependia da circunscrição do Porto para prestação de exames. A 23 de Junho de 1879, através de um decreto, Vila Real passou a ser local de exame, o que fez com que os alunos de Bragança se deslocassem até lá para a realização de exames. A sua existência viu-se atribulada devido à criação de um liceu perto deste: o liceu de Chaves. Este abrangeu todos os alunos de Boticas, Chaves, Montalegre e Valpaços. Assim sendo, o Liceu de Vila Real perdeu os alunos destes conselhos. Vila Real pretendia que o seu liceu fosse central, pois Minho (Braga), Douro Litoral (Porto), Beiras (Viseu e Coimbra) e o Alentejo (Évora) já tinham um liceu com categoria de liceu central. O liceu em 1901 Em 1910, os liceus de Faro, Castelo Branco e Bragança subiram à categoria de liceu "central". Foi nesta altura que o liceu de Vila Real fez tudo ao seu alcance para que este se tornasse liceu "central". No entanto, o Estado impôs uma condição ao liceu de Vila Real, que foi a criação de um internato liceal. Foi então constituída, em 1911, uma comissão encarregada de estudar a sua organização. A sua composição tinha membros do Governo Civil, da Comissão Municipal, professores e alunos. Para este internato foi arrendado o Colégio de Nossa Senhora do Rosário por Monsenhor Jerónimo de Amaral. Foi então a 17 de Junho de 1911, por um decreto do ministro do Interior que o liceu de Vila Real foi elevado a "central", e em 1914 recebeu o nome de Liceu Central de Camilo Castelo Branco. No entanto, esta situação foi mal vista pelo conselho de Portalegre alegando que "Vila Real não tinha razão de o possuir" (O Povo do Norte, 19 de Maio de 1929), mas de nada serviu a contestação pois o liceu de Vila Real conseguiu manter este estatuto. Chegou mesmo a aumentar o seu campo de influência a alguns conselhos do distrito de Viseu. Apesar dos esforços, o liceu acabou por regressar ao estatuto anterior, ou seja, de liceu nacional, devido às reformas do Estado Novo. "Após o 25 de Abril, e de acordo com o Decreto-Lei nº 80/78, de 27 de Abril, passou a designar-se Escola Secundária de Camilo Castelo Branco" (Joaquim Ribeiro Aires).
Localização: De inicio: Em instalações provisórias Em 1848: Edifício desconhecido Em 1862: Edifício do Governo Civil Em 1881: Rua das Flores Em 1897: Rua do Rossio Em edifício construído para o liceu Em 1901: Praça Velha, actual Praça Camilo Castelo Branco
Instalações: Não são conhecidas as primeiras instalações onde funcionou o liceu. No entanto,sabe-se que, em 1862, a secretária do Governo Civil, a repartiçãode Finanças, o liceu e a estação telegráfica, se encontravam todos no mesmo edifício. Em 1881, o liceu encontrava-se na Rua das Flores. Esta foi arrendada para o liceu durante dez anos. Em 1897, o liceu mudou-se para a Rua do Rossio. Mais tarde o liceu ocupou as novas instalações , mandadas construir por Monsenhor Jerónimo do Amaral. No entanto, o número de alunos foi aumentando e estas instalações foram ficando escassas para albergar tantos estudantes. Em consequência, em 1911, quando o liceu foi elevado a "central", as classes complementares, foram transferidas para o Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em 1915, este edifício foi vendido e estas classes foram novamente transferidas, mas desta vez para a Casa da Câmara. Em 1916, o liceu foi fechado pois o seu edifício foi demolido. Este facto deve-se à abertura da Avenida Carvalho Araújo, o que obrigou a que todas as classes ficassem no mesmo edifício. Desde logo foi necessário aumentar o número de salas, passando a existir treze salas e seis gabinetes. Gabinete de Ciências (anos 40) Por falta de ginásio ou de um pátio, não havia aulas de Educação Fisíca. No fim da década de vinte, o liceu recebeu verbas para obras de melhoramento. Resolveu-se então, com esta verba, alargar o liceu, "construindo-se novos corpos de edifício, com todas as modernas condições pedagógicas, nos terrenos anexos" (O Povo do Norte, 24 de Novembro de 1929). A ampliação iniciou-se em 1932. No entanto, não resolveu totalmente o problema de espaço, pois continuou a haver problemas com o número de salas. Em 1971, foi inaugurado o refeitório e em 1974, o número de alunos aumentou e as salas e o equipamento deixaram de ser suficientes, e em 1978, implantou-se um pavilhão prefabricado com catorze salas. Este liceu possuia ainda um museu colonial, que era motivo de orgulho. E em 1927, foi colocado no liceu, um posto meteorológico, que veio em muito enriquecer o material didáctico do liceu.
Traços Liceais: Tal como em muitos outros liceus, a tradição académica mais conhecida neste liceu era a comemoração do 1º de Dezembro. "Os festejos realizavam-se com bandeiras e luminárias nos edifícios do liceu, música nas ruas, vivas aos professores, foguetes a estrelejar e dois feriados" (O Povo do Norte). As preparações das festas começavam cedo, pois logo em outubro começavam a fazer o programa e a preparar os bailes e conjuntos musicais. Das festas constava o "Regadinho", nas noites de Sábado do mês de Novembro. No inicio da noite começava a Ruada. Seguia-se um cortejo pela rua, onde os estudantes desfilavam de capa e batina com uma banda de música atrás. É de referir que os cortejos paravam sempre onde morassem professores e seguia-se uma homenagem académica. Só em 1925 é que foi baptizada a bandeira da Academia. Todos os alunos tinham que estar a rigo. Depois da cerimónia, seguia-se um baile. À noite havia a Récita de Gala, que consistia numa peça de teatro e um acto de variedades. O 25 de Abril de 1974 veio alterar muitas destas festas. Em relação ao Regadinho, conta que este foi criado antes de 1926 e consistia num processo mobilizado por estudantes, onde estes criticavam e manifestavam a sua opinião perante factos, pessoas e situações da vida citadina. Para isso,vestiam-se de modo estravagante, encarnando um ou outro papel da vida real e ridicularizando algumas dessas situações.
Conclusão: Em 1920 foi criado a Associação Académica Camilo Castelo Branco. Tinha como objectivo ajudar no desenvolvimento físico, moral e intelectual dos alunos. Em consequência disso foram realizadas visitas de estudo, pagamento de propinas e de livros dos alunos mais pobres. Englobava também um grupo orfeónico, festas escolares e celebrações de datas importantes. Um dos grandes objectivos destas associações foi eliminar a indiferença que rodeava o liceu, sendo este objectivo conseguido gradualmente e também devido à subida do liceu a central. É de referir também os imensos jornais que este liceu publicou durante a sua existência de quase 150 anos. Destes destacam-se, A Voz Escolar, O Cábula, A Academia Portuguesa, O liberal, O Ridículo, A Ripada e O Académico. Este liceu assumiu um papel fulcral no ensino secundário em Trás-os-Montes. Com o tempo, tornou-se numa instituição prestigiada que engrandecia a cidade de Vila Real. As suas tradições marcaram, não só as gerações de alunos que por lá passaram mas também a cidade, pois as festas eram feitas quase todas com a participação e aprovação da sociedade. Podemos considerar mesmo, que talvez por ser um local muito a norte de Portugal, distanciado dos grandes centros, este é um dos melhores motivos por que o liceu de Vila Real se tornou tão importante para esta região.
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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