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  Acompanhando a educação literária, a ginástica era praticada desde muito cedo, a partir dos sete ou oito anos. O seu ensino era confiado ao paidotribés, que era muito mais do que um monitor de ginástica. Tratava-se de "um verdadeiro educador que, à sua competência desportiva, devia reunir profundo conhecimento das leis da higiene e de tudo o que a ciência médica grega elaborara quanto a observações e prescrições relativas ao desenvolvimento do corpo, aos efeitos dos diversos exercícios, aos regimes convenientes aos diversos temperamentos." (Marrou, 1966: 196).

   Quando o paidotribés não recebia um ordenado mensal da cidade, os pais pagavam-lhe directamente o curso inteiro de educação física do filho (cf. Marrou, 1966: 197).

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Note-se que, ao contrário dos jovens, o  paidotribés não está nu mas pomposamente coberto com um manto de púrpura

A sua autoridade é representada pela insígnia que tem na mão: "uma longa vara forquilhada que lhe serve menos para indicar ou rectificar a posição de um membro do que para impor uma correcção vigorosa no aluno desajeitado ou que, no decorrer de uma partida, trapaceia ou tenta um golpe irregular" (Marrou, 1966: 202).

    Não era apenas pelo exemplo e pela prática que se ensinava a ginástica: "nesse, como em outros domínios, os gregos haviam-se elevado acima do puro empirismo. O seu gosto pelo pensamento claro exigia uma tomada de consciência, uma análise minuciosa dos diferentes movimentos postos em jogo pelos exercícios" (Marrou, 1966: 197). 

Tal como no ensino literário, também na ginástica o mestre dispensava ao discípulo uma teoria, sob a forma de um conjunto de instruções. No que se refere ao ensino da luta, por exemplo, o paidotribés ensinava sucessivamente as diferentes posições que o lutador teria de utilizar nos cursos de combate. 

 

Se, como diz Marrou, " a ginástica permanece o elemento, senão preponderante, pelo menos característico da formação do jovem grego, o gosto pelos desportos atléticos e pela sua prática constitui, como na época arcaica, um dos traços dominantes da vida grega, (...)" (Marrou, 1966:185).

Na verdade, desde a época arcaica que a Grécia propunha concursos atléticos destinados às crianças. Nestes concursos, aparecem por exemplo os "seniors" em oposição aos "juniors" ou entre "crianças" e "crianças plenamente crianças".

No entanto, é a partir dos  15 anos que a frequência do ginásio ganha maior relevo. Aí os jovens passam grande parte de sua vida exercitando-se, fundamentalmente, na corrida, no salto e na luta.

  

   

Num dos grandes ginásios da Atenas, o Cynosarges, os jovens atenienses marcavam encontro para exercitar regularmente o corpo.

Mas, se é verdade que a maior parte da vida dos jovens era dedicada ao treino físico, no entanto, importa perceber que "o desporto não é para os gregos apenas um divertimento; é algo de muito sério, que se relaciona com todo um conjunto de preocupações higiénicas e médicas, estéticas e éticas a um só tempo." (Marrou, 1966:185)

 

Atletismo

 

    Entre as modalidades desportivas mais praticadas contavam-se a corrida, o salto, a luta, o lançamento do disco e do dardo. Estas cinco modalidades - o pentathlon - constituíam um conjunto habitual nos jogos olímpicos.  Mais tarde, passaram a fazer também parte das modalidades desportivas praticadas pelos gregos, o boxe e o pancrácio.

  Corrida a pé

    As corridas que os gregos realizavam decorriam em pistas planas e rectilíneas. O corredor grego partia da posição de pé, com o busto inclinado para a frente e os pés muito próximos um do outro. Quando o número de concorrentes era elevado, procedia-se a eliminações e a finais.

 

Salto em extensão

   

No atletismo não se praticava salto em altura nem salto em profundidade ou salto com vara. Apenas se praticava o salto em extensão com impulso. O salto sem impulso constituía um exercício preparatório. 

"O atleta arrancava sobre uma soleira firme (...), e caía num quadrado de chão aplainado (...); o resultado obtido só era validado quando a marca dos pés era nitidamente impressa no solo (...)" (Marrou, 1966: 191). 

 

 Lançamento do Disco

Desde o fim do século V que o disco era feito de bronze. O tipo do disco variava conforme os lugares, as épocas e as categorias dos atletas. Os discos  pesavam entre 1 a 4 kg sendo, obviamente, os discos que as crianças lançavam mais leves que os dos adultos.

  

  Lançamento do Dardo

    O dardo não constituía simplesmente um desporto mas  também uma arma de uso corrente, quer na caça, quer na guerra. "O dardo desportivo, do comprimento do corpo e da espessura de um dedo, era sem ponta, lastrado à extremidade, e parece ter sido extremamente leve." (Marrou, 1966: 193).

 

  Luta

 

A luta era bastante mais popular que a corrida.  "Testemunha-o, de maneira bastante nítida, o facto de a palavra p a l a i s t r a  significar «área de luta», servindo para designar, de maneira geral, a praça de desporto ou a escola de educação física. 

 

 

A luta propriamente dita, ou «luta a pé» verificava-se, como o salto, numa área arranjada; os atletas aí se defrontavam aos pares, após sorteio; o objectivo era atirar o adversário ao solo, sem cair" (Marrou, 1966: 194).

 

  Pancrácio

O pancrácio era o exercício mais violento e mais brutal do atletismo grego: combinação de boxe e luta, em que podiam ser usados tanto as mãos como os pés ou qualquer outro meio de derrotar o adversário.

    Em limite,  "trata-se de pôr o adversário fora de combate, ou porque ele desfaleçia, ou porque, levantando o braço, se confessava vencido. Para isso, todos os golpes eram admitidos" (Marrou, 1966: 195).

 

Cuidados com o Corpo

 

    Os atletas gregos exercitavam-se completamente nus, independentemente da sua idade. Segundo Marrou (1966), "Conservavam-se os pés nus, mesmo para o salto e a corrida (...). Cabeça descoberta, mesmo sob o ardente sol de verão; alguns, delicados, protegiam-se das intempéries com um curioso boné de pele de cachorro" (1966: 200).

 

    Outra prática característica da ginástica grega é a das fricções com unção de azeite. "(...) friccionava-se o corpo inteiro antes de todo exercício num compartimento tepidamente aquecido. Após uma primeira fricção moderada a seco, aplicava-se azeite (...) e friccionava-se com a mão nua, docemente de início, depois de maneira mais enérgica (levando em consideração, bem entendido, o que podia suportar a idade da criança). À fricção preparatória opunha-se a fricção «apoterapêutica», que encerrava todo exercício e era destinada a descansar os músculos e afastar a fadiga, assim como a primeira havia servido para adestrá-los." (Marrou, 1966: 201). Por essa razão, o jovem atleta transportava sempre consigo um pequeno frasco de azeite. O fornecimento de azeite constituía "uma das grandes despesas de manutenção com que havia de arcar todo bom gimnasiarca" (Marrou, 1966: 201).

    A finalidade destas fricções era principalmente higiénica. Poderia no entanto ser-lhe reconhecida outra vantagem, nomeadamente a de, com o azeite, a pele se tornar escorregadia e, deste modo, ser dificilmente agarrada pelo adversário durante o pancrácio. Todavia, "na realidade, esse uso combinava-se com outro, cujo efeito, neste sentido, era contraditório: devidamente massajado, o atleta cobria-se com uma fina camada de poeira" (Marrou, 1966: 201). Mas também este uso tinha uma finalidade higiénica: regular a transpiração.