"A virtude (areté) não vem da riqueza, mas sim a riqueza da virtude, bem como tudo o que é bom para o homem, na vida particular ou na vida pública"
(Platão, Cit. In Cordón & Martinez, 1995: pág.110).
Se queremos encontrar um fio condutor que nos guie ao longo da história da educação grega e que lhe dê unidade, encontramo-lo no conceito de
areté, tema essencial da história da educação grega, que remonta aos tempos mais
antigos.
É este o conceito que exprime a forma primeira do ideal educativo grego. Não é por acaso que, nas grandes discussões sobre educação que o séc. V a.C. conhece, os dois conceitos -
Paideia e
areté - estão sempre presentes.
O tema da areté é um tema central à volta do qual gira toda a discussão acerca da questão educativa. Isto porque educar é, em última análise, tornar o homem melhor, aperfeiçoá-lo, torná-lo mais virtuoso.
Em Homero, na
Ilíada e na Odisseia,
a areté aparece pela primeira vez de uma forma bastante explícita.
Em ambos os casos, a areté não é algo que seja dado mas sim
conquistado e conscientemente procurado. No entanto, se bem que o ideal homérico de homem - o herói -
seja definido
pela
areté, o modo de a conceber nas duas grandes obras de Homero
não é igual.
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Na Ilíada, existem muitas
personagens heróicas. Do lado dos
Aqueus: Agamémnon,
Ájax,
Pátrocles,
Diomedes,
Menelau,
Nestor,
Ulisses.
Do lado dos troianos: Heitor,
Páris,
Príamo,
Hécuba e
Andrómaca. Mas, é claro que
Aquiles é, de todas, a que tem mais realce.
Ele é o herói modelo, nobre, valente e corajoso. É o melhor entre todos... é o
aristós.
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De facto, Aquiles
encarna a areté e é na sua figura que se concretiza esse ideal. Para além do guerreiro valoroso, valente, corajoso e honrado,
Aquiles
é o protótipo do
cavaleiro perfeito da época homérica, cortês, de boas maneiras, fino e delicado.
A
areté é uma superioridade ou uma excelência própria da nobreza, um conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como a bravura, a coragem, a força, a destreza do guerreiro, a eloquência e a persuasão e, acima de tudo, a heroicidade, entendida como a fusão da força
física com o sentido moral.
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Mas, se é em Aquiles
que melhor se realiza este ideal, é evidente que ele não chega lá espontaneamente, pressupondo-se uma educação apropriada. É dessa educação que
Homero
nos fala no canto
IX, pondo na boca de Félix, velho preceptor e educador de Aquiles, as seguintes palavras: "Fui eu que
fiz de ti o que és!"
Na Odisseia, o ideal da areté
é mais alargado. A Odisseia
relata o regresso do herói (o
Ulisses) a casa, vindo da guerra de
Tróia.
Ulisses
junta à força, à coragem, à bravura e à eloquência de Apolo, a astúcia, a manha, o engenho e a inteligência que lhe permitem
desenvencilhar-se das situações mais complexas nas aventuras do regresso.
E, mais uma vez, estas qualidades incutem-se e desenvolvem-se apenas pela educação.
Quer na Ilíada, quer na
Odisseia, a educação
tem por meio uma pedagogia fundada no exemplo vivo ou no exemplo mítico.
O herói institui-se como modelo exemplar. Os jovens sabem que devem imitar os heróis e, como eles,
conquistar a
areté.
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