Almada por quem o conheceu

 

        Diz quem o conheceu que Almada reflectia a angústia no olhar. Definiram-no várias vezes como obsecado pelo conhecimento grego, pela geometria pura, pela theoria ou arte da visibilidade. Sentindo-se iluminado pela "luz da caverna", Almada torna-se, em pleno modernismo, um apóstolo pitagórico do futuro criativo, artístico e cultural português.

        Almada tinha na Brasileira do Chiado o seu espaço de convívio. Aí discutia com um conjunto de nomes notáveis do seu tempo as teorias metafísicas que tanto o ocupavam e preenchiam. E  foi na Brasileira que Artur Nobre de Gusmão conheceu Almada:

"... foram-me encaminhando para a Brasileira do Chiado. E assim fui criando o hábito e me fui deslumbrando, de mesa em mesa, em frente de nomes notáveis da nossa cultura."

"Sem dúvida, uma das figuras que mais me fascinavam era a de Almada. Aquela sua cabeça com aqueles seus olhos! Aquele seu modo de dizer e toda a mímica facial com que dava sublinhado à voz."

"Almada cria-se possuído por alguma coisa transcendente, extremamente importante para si e, na mesma medida, sentia-se forçado a não a calar."

"Almada tinha que falar. E explicitava o que poderíamos considerar uma teoria sobre o «número» ou, de outro modo, sobre a relação 9:10, da proporção e da geometria ou, sobre a regra de ouro, sobre a «chave», etc."

"Mas penso que uma vez mais ainda foi esse «demónio» pitagórico de que estava possuído e essa vocação de apostolado que o levaram, não tanto a uma aplicação, mas sobretudo a uma demonstração"

"...nessa pintura do átrio da Fundação (painel "começar"), lá estava e está, outra vez, tudo aquilo que o preocupava e preocupou até ao fim, a meu ver: a «geometria», o «número», a «chave»."

                                           (Artur Nobre de Gusmão,1985, p.42-50)

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt