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A Mathesis
Universalis
Já vimos que Descartes defendia que a razão
era comum a todos os homens. O filósofo apercebeu-se, no entanto, que o modo de usarmos a
razão diferia de pessoa para pessoa. Perante este facto, iniciou uma busca sobre o modo
correcto de utilização da razão. Tendo-lhe as matemáticas teóricas aparecido como o
modelo do conhecimento verdadeiro e rigoroso, ele quis alargá-la a todos os domínios do
conhecimento. A mathesis universalis (matemática universal) é a designação que
Descartes atribuiu a esse projecto.
Reflectindo nisso mais atentamente, acabou por se me tornar claro que só as coisas
e todas as coisas nas quais se observa a ordem e a medida, se reportam à matemática,
pouco importa que esta medida se deva buscar nos números, figuras, astros, sons, ou em
qualquer outro objecto; que, por consequência, deve existir uma ciência geral que
explica tudo o que é possível investigar respeitante à ordem e à medida, sem
aplicação a qualquer matéria especial; e que esta ciência se designa, não através de
um nome de empréstimo, mas de um nome já antigo e aceite pelo uso; a matemática
universal [mathesis universalis], dado conter tudo aquilo em virtude do que se
diz que as outras ciências partiram da matemática.
Descartes,
Regras, A.T., X, 377-378.
Esta ciência teria, para o filósofo, características independentes dos objectos a
estudar. Seriam eles a quantidade (ou seja, a medida) e a ordem.
Descartes
qualificava as ciências matemáticas como «ciências admiráveis». Nelas
valorizava a evidência dos seus pontos de partida, o método rigoroso por elas
utilizado, a precisão da sua linguagem simbólica e a certeza dos seus conteúdos.
Para o filósofo,
as matemáticas são ciências ideais pois o seu objecto, embora não seja pura criação
do espírito, também não é constituído por realidades sensíveis e concretas. Os seres
matemáticos, como a recta, o plano, o número, constituem um universo à parte, original
e autónomo, que se basta a si mesmo sem necessidade de referência à realidade exterior.
Numa palavra,
poderíamos dizer que o grande objectivo de Descartes era construir a filosofia à imagem
da matemática.
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