A Matemática no Ménone

 

 

 No Ménone, Sócrates interroga um jovem escravo e leva-o a descobrir como duplicar a área de um quadrado.

Porquê um escravo ?

  •  porque, sendo escravo, está garantido à partida que nada aprendeu nesta vida, de modo que fica provado que todo o conhecimento que venha a revelar deve ser uma recordação de uma vida anterior. 

Com este episódio o que é que Platão consegue mostrar?

  • que conhecemos verdades matemáticas que não aprendemos nem pelo ensino nem pela experiência

  • que os seres matemáticos são um exemplo das verdades imutáveis e universais que podemos aprender por recordação

  • que, por isso, deve existir um reino de verdades absolutas e imutáveis, fonte e base de todo o nosso conhecimento.

Mas, que papel desempenham as Matemáticas no Ménon?

  •   elas funcionam, em primeiro lugar, como método. Já na primeira tentativa de determinar a essência da virtude se recorre, como prova, à definição da figura. Na segunda parte do diálogo, onde Sócrates e Ménone enfrentam novamente o problema de saber o que é a virtude, é outra vez ao exemplo das matemáticas que recorrem. Ainda não sabem  o que é a virtude mas, como o que fundamentalmente lhes interessa é saber se pode ser ensinada, Sócrates formula o problema de outro modo, ao perguntar qual deverá ser a natureza da virtude, para que  seja susceptível de ser ensinada. Trata-se assim de recair no conhecido postulado de que a virtude não é mais que um saber. E de novo é invocado o exemplo dos geómetras em apoio deste método.  

  • elas são tidas em conta para ilustrar o tipo de saber que Sócrates se propõe como objectivo. Este tipo de saber tem em comum com as matemáticas o facto de não estar  submetido ao campo do perceptível. Sócrates explica-o a Ménone, fazendo com que o escravo, um homem novo sem qualquer cultura embora não desprovido de talento, descubra por si próprio, mediante perguntas apropriadas, a regra do quadrado da hipotenusa com base numa figura toscamente desenhada no chão. Esta  experiência constitui o momento mais brilhante do diálogo. Platão deixa-nos contemplar as reflexões que levam Sócrates à aceitação da existência de um conhecimento não redutível à experiência sensível. Como é natural, sem o auxílio de Sócrates, o jovem jamais teria dado os passos necessários à descoberta daquela complicada realidade matemática. Antes de compreender a verdadeira razão do problema, o escravo incorre em todos os erros em que forçosamente cai toda a  inteligência que não tem outro horizonte senão o que lhe é aberto pelos sentidos. Mas, por fim, a certeza  brota do seu  interior.  E não é do ensino mas da consciência da necessidade das relações matemáticas em causa que essa convicção resulta. 

  • a digressão matemática do Ménon serve ainda para pôr em destaque a fecundidade do método elentico na senda do conhecimento positivo da verdade. Neste processo de auto-conhecimento progressivo e gradual, cabe à experiência sensível o papel de despertar na alma a recordação das ideias contempladas “na eternidade”.

Olga Pombo opombo@fc.ul.pt