Em sentido estrito,
a expressão fóssil índice é usada em Estratigrafia para designar
fósseis de grupos taxonómicos (normalmente de categoria género ou espécie)
com base nos quais são definidas biozonas, para datação relativa dos
estratos geológicos.
De um modo mais
lato, informal, a expressão fóssil índice (ou fóssil de idade,
fóssil característico ou fóssil estratigráfico) é muitas vezes utilizada
para designar genericamente os
fósseis de grupos taxonómicos
que permitem datações relativas mais finas, mais detalhadas, ou que permitem
identificar determinado intervalo biostratigráfico, em concreto.
O que é uma biozona?
Uma
biozona (uma unidade biostratigráfica) é um corpo rochoso (por exemplo,
um conjunto de estratos geológicos) definindo ou caracterizado
estratigráfica e geograficamente com base no seu conteúdo fossilífero.
Existem vários tipos de biozonas (de extensão, de associação, de intervalo,
de abundância, de linhagem), todos eles definidos com base em fósseis.
Cada
biozona, em concreto, é definida de acordo com a especificidade do registo
fóssil correspondente (biozonas de amonites, de trilobites, de corais, de
gastrópodes, etc.), dos objectivos do estudo e da experiência e perspectiva
de investigação dos estratígrafos envolvidos na sua definição.
Uma
biozona pode ser definida com base na ocorrência dos fósseis de um táxone
específico (biozona de extensão), pelo intervalo entre o aparecimento de um
dado táxone e o desaparecimento de outro (biozona de intervalo) ou ser
caracterizada pela ocorrência de uma determinada associação fossilífera
(biozona de associação), etc. O nome de cada biozona é dado com base no
táxone (normalmente de categoria género ou espécie) que define ou que melhor
caracteriza essa mesma biozona.
.
Biozona de Extensão. Os limites inferior,
superior e laterais da Biozona de Extensão Aa são definidos pela
extensão da ocorrência dos fósseis do táxone Aa.
.
Alguns
exemplos: Biozona de Extensão Dactylioceras costatum (biozona
do Jurássico Inferior que reflecte a expressão estratigráfica dos fósseis
das amonites da espécie Dactylioceras costatum); Biozona de
Intervalo
Globigerinoides sicanus-Orbulina suturalis (biozona do
Neogénico definida pelo aparecimento dos fósseis do foraminífero G.
sicanus e o desaparecimento dos de O. suturalis), Biozona de
Associação
Prionopeltis archiaci (biozona de trilobites do Silúrico em que a
ocorrência de fósseis de P. archiaci é um elemento importante, mas
não o único distintivo).
Que fósseis são bons fósseis índice?
Na Natureza, não há "fósseis bons" e "fósseis maus". Estabelecer uma divisão
rígida entre
fósseis que são indicadores
de idade e fósseis que são inúteis para datação é um procedimento artificial
e totalmente desprovido de fundamento. Todos os fósseis encerram algum tipo
de informação estratigráfica, temporal, e como tal os fósseis de qualquer
grupo taxonómico, em circunstâncias propícias, podem desempenhar o papel de
fóssil índice.
Contudo, os fósseis que mais frequentemente são usados para a resolução de
questões biostratigráficas, para a caracterização de biozonas e para datação
relativa fina, são aqueles que mais se aproximam das seguintes
características ideais:
1 - Ter distribuição
estratigráfica
tão
estreita
quanto possível.
Quanto
mais curta for a distribuição estratigráfica (na vertical, ao longo das
sequências de estratos geológicos) dos fósseis de um dado táxone (ou grupo
biológico), mais úteis esses fósseis serão para a caracterização de
intervalos estratigráficos finos. Quanto mais finos os intervalos
estratigráficos definidos, mais detalhado será o seu posicionamento relativo
(i.e., a sua datação relativa).
2 - Ter distribuição
geográfica
tão
ampla
quanto possível.
A correlação estratigráfica entre camadas geológicas de áreas geográficas
distintas é feita com base na comparação das associações fossilíferas, dos
fósseis, presentes nessas mesmas camadas. Quanto mais ampla a distribuição
geográfica dos fósseis de um dado táxone, mais ampla a área geográfica em
que a correlação estratigráfica com base neles será possível.
3 - Existir em grande quantidade.
Para
levar a cabo a correlação estratigráfica entre camadas geológicas
localizadas em áreas distintas é necessário ter associações de fósseis (para
comparar). Quanto mais abundantes forem os fósseis de um dado táxone (ou
grupo biológico), mais fácil será encontrá-los e mais fácil será estabelecer
a correlação.
4 - Apresentar características
morfológicas distintivas.
Para usar
os fósseis de um determinado táxone para datação relativa fina é necessário
identificar esse fóssil até ao nível da espécie ou do género. Se os fósseis
não apresentarem características morfológicas que os permitam distinguir de
outros fósseis similares (correspondentes a grupos biológicos afins), então
a sua identificação será pouco precisa e, consequentemente, a sua utilidade
como indicador de idade diminuirá.
Grupos de fósseis úteis biostratigraficamente
Em
diferentes intervalos estratigráficos e em diferentes contextos geológicos
(em fácies distintas), os fósseis mais úteis do ponto de vista
biostratigráfico, ou seja, os que mais se aproximam do ideal acima
enunciado, podem corresponder a grupos biológicos distintos.
Eis
alguns exemplos:
Trilobites (artrópodes marinhos) - Muito
úteis para a biostratigrafia de estratos geológicos marinhos do Paleozóico,
especialmente do Câmbrico-Ordovícico e, localmente, do Carbónico.
Amonites (moluscos cefalópodes) - Muito
úteis para a biostratigrafia de camadas geológicas marinhas do Mesozóico,
especialmente do Jurássico e do Cretácico.
.
Fósseis de alguns dos grupos mais usualmente utilizados em biostratigrafia
zonal.
.
Plantas pteridófilas (fetos e afins) -
Muito úteis para a biostratigrafia de camadas geológicas carboníferas do
Paleozóico, do Carbónico e do Pérmico.
Foraminíferos planctónicos
(protozoários) - Muito úteis para a biostratigrafia de estratos geológicos
marinhos do Cenozóico. Os fósseis dos foraminíferos - de muito pequenas
dimensões - são estudados no âmbito da
Micropaleontologia.
Braquiópodes (Filo
Brachiopoda) - Muito úteis
para a biostratigrafia de estratos geológicos marinhos do Paleozóico.
Rudistas (moluscos bivalves) - Muito úteis
para a biostratigrafia de camadas geológicas marinhas correspondendo a
plataformas carbonatadas do Mesozóico, em particular do Cretácico.
Fósseis e biozonas na Internet
Geologic Unit
Classification - CGI - IUGS
Biostatigraphic Units - ICS
International Commission on Stratigraphy
Paleontologia no
Departamento de Geologia da FCUL
Museu de História Natural da Universidade de Lisboa
Introducción a la
Paleontología
Paleontología
Hispana
The Paleontology Portal
Palaeobase. Database of fossils
Discovering
Dinosaurs
Ammonites du
Jurassique infériour
Ammonites
.
Carlos Marques da Silva - Lisboa, 24 de Março de
2008