Século XX
Da
utopia branca à utopia negra
|
O
mundo tornou-se sombrio. As grandes esperanças cedem face aos terríveis
acontecimentos que abalam a consciência colectiva. A própria ciência revela a
sua capacidade destrutiva, dá-se a ver como ameaça. A utopia debate-se entre
dois movimentos divergentes: ainda a esperança de um futuro feliz (utopia
branca) e a consciência
do pesadelo em que o nosso futuro se vai transformar. H. G. Wells oscila ainda.
A sua confiança face às consequências dos assombrosos desenvolvimentos técnicos
é mitigada. Newte, Foster, Kettelhut, Zamiatine, Huxley, Orwell, colocam-nos
sem rodeios perante o mundo implacável em que vamos viver, ou melhor, em que já
vivemos (totalitarismo, capitalismo industrial, sociedade de consumo). É como
se estas utopia
negras
fizessem o balanço negativo
dos sistemas políticos e sociais em grande parte resultante da aplicação das
anteriores utopias brancas.
Tudo
é agora mais complicado. A utopia perde cada vez mais a sua especificidade.
Esbatem-se as suas fronteiras com géneros próximos, sobretudo, com a invasora
ficção científica. De tal modo que é porventura legítimo considerar que a
utopia é hoje um sub-género da ficção científica.
Porém,
frágil e indecisa como género literário, a utopia tem ainda a força
necessária para se transmutar (ou será dissolver?). A transmutação é tão
profunda (ou será dissolução?) que a utopia sai para fora dos quadros da
literatura em busca de uma forma de realização - utopia
concreta - quer na
arquitectura e no urbanismo - trata-se, não já imaginar
a cidade futura mas de construir
efectivamente as megapolis em que vivemos -
quer como movimento social de tipo cooperativo que procura concretizar uma
representação idealizada da vida social (kolkhoses, kibbutz, comunidades
internacionais do tipo de Twin Oaks ou East Wind, cooperativas agrícolas em
países ocidentais, movimentos hyppies, pelos direitos dos negros, dos pobres,
das mulheres, ligas ecologistas, pela defesa dos direitos dos consumidores,
etc.). Enfim, o mais recente desenvolvimento (utopia cibernética) é
o regresso à idealização utópica, agora em torno das maravilhas da Internet,
das virtudes das comunidades virtuais, da democracia planetária.
Desenvolvimento este, porém, que não deixa de ter os seus críticos.
Kolkhoses
e Kibbutz
O
pesadelo nazi
O
sonho hippy
Paris
, Maio de
1968
Utopia
Urbanista
![](../images/seculo170.jpg)
Iakov
Tchernikov
Arkhitekturniye Fantasii
(1933) |
![](../images/seculo171.jpg) |
![](../images/seculo172.jpg) |
Corbusier
Cidade
Radiosa
(1935) |
![](../images/seculo173.jpg) |
Ernst
Jünger
Heliopolis
: Rückblick auf
eine Stadt
(1949)
|
John
Brunner
The
Squares of the City
(1965)
|
Utopia
feminista
![](../images/seculo174.jpg)
Charlotte
Perkins Gilman
Herland
(1915)
|
Franz
Werfel
Stern der Ungeborenen
(1946)
|
![](../images/seculo175.jpg) |
Ira
Levin
This
Perfect Day
(1970)
|
Joanna
Russ
The
Female Man
(1975)
|
![](../images/seculo176.jpg) |
![](../images/seculo177.jpg) |
David
Ireland
City of
Women
(1981)
|
Suzette
Haden Elgin
Native
Tongue
(1984)
|
![](../images/seculo178.jpg) |
![](../images/seculo179.jpg) |
Elisabeth
Vonarburg
Chroniques
du Pays des Mères
(1992)
|
Sheri
S. Tepper
The Gate to Women’s Country
(1993)
|
Utopia
ecologista
Aldous
Huxley
Island
(1962)
|
![](../images/seculo180.jpg) |
"That's precisely the reason why we begin with it.
Never give children a chance of imagining that anything exists in
isolation. Make it plain from the very first that all living is
relationship. Show them relationships in the woods, in the fields, in
the ponds and streams, in the village and the country around it. Rub it
in. And let me add," said the Principal, "that we always teach
the science of relationship in conjunction with the ethics of
relationship. Balance, give and take, no excesses---it's the rule of
nature and, translated out of fact into morality, it ought
to be the rule among people” |
![](../images/seculo181.jpg) |
Ernest
Callenbach
Ecotopia:
A Novel about Ecology , People and Politics in 1999
(1975)
|
Ernest
Callenbach
Ecotopia
Emerging
(1981)
|
![](../images/seculo182.jpg) |
Utopia
cibernética
McLuhann
The
Gutenberg
Galaxy
(1962)
|
Bruce
Sterling
Islands
in the Net
(1988)
|
|
Pierre
Lévy
L’Intelligence
Collective
(1995)
|
« Le projet majeur du XXIe siècle sera d’imaginer, de
construire et l’aménager l’espace interactif et mouvant du
cyberspace. Peut-être alors sera-t-il possible de dépasser la société
du spectacle pour aborder une ère post-médias, ère dans laquelle les
techniques de communication serviront à filtrer les flux de
connaissances, à naviguer dans le savoir et à penser ensemble plutôt
qu’à charrier des masses d’informations ».
|
Michael
D.Weaver
A
Second Infinity
(1996)
|
Paul
Virillo
Cybermonde,
la Politique du Pire
(1997)
|
![](../images/seculo184.gif)
|