Realizador:

Christophe Barratier nasceu em 1963 e cresceu numa família muito ligada ao cinema e ao teatro. Aos 7 anos começou a estudar música. Mais tarde ingressou no Conservatório de Paris para estudar guitarra clássica. Deixou profissionalmente a música para se dedicar ao cinema. Começou a escrever "Os Coristas" em 2004, seu filme de estreia.

 

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Entrevista a Christophe Barratier:

 

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(...)Esta película foi um remake do filme de 1945 "La cage aux  Rossignols"...

Bem, não é bem um remake...foi mais uma inspiração muito livre. Quando vemos o meu filme e o outro há coisas parecidas, de facto...a base é a mesma, um homem que ensina música numa escola, que faz cantar crianças. Mas o original é muito católico, na mensagem. E o meu trabalho com as crianças é totalmente diferente. Vejo o meu filme muito mais como a minha própria  história. Quando vi o filme original fiquei surpreendido com o paralelismo entre a história do filme e a história da minha vida. Fui uma criança que, não tendo sido abandonada, fui deixado com a minha avó, no campo, porque os meus pais eram divorciados e, como actores, viajavam muito. Para eles era mais fácil não andarem comigo pendurado. Durante quatro anos vivi com a minha avó e, como todas as crianças que não vivem com os pais, estava um pouco deprimido, triste, sensível...Entretanto encontrei um professor de música. A música mudou a minha vida. Esse homem mudou a minha vida e deu-me mais confiança em mim e no meu talento. Ajudou-me a entrar no Conservatório, foi o meu mentor...Assim, os Coristas têm na base o primeiro filme mas também a minha história.

 

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Foi, então, assim, que tive a ideia de fazer este filme?

Não, não...eu estava a fazer uma curta-metragem. Procurava escrever um argumento, mas escrevia era sobre a minha infância. Claro que a união da música com o cinema é para mim fundamental. Mas o processo criativo acabou por ser uma coisa natural.

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Escreveu dois temas para a banda sonora do filme. Inspirou-se na sua experiência?

Sim, claro, sei escrever música e escrevo todo o tipo de música. Já escrevi música clássica mas também, quando era guitarrista, canções ao estilo de Bob Dylan ou Hotel California (canta). Tenho uma vasta experiência de escrever canções, nem que seja para mim mesmo. Quando trabalhei com Bruno Coulais na música do filme, ele disse-me que faltavam ainda duas músicas das seis que eram necessárias, e pensei "vou fazê-las eu mesmo!" Foi um bocado por acaso, e também porque não tinha dinheiro suficiente para pagar a alguém que o fizesse por mim.

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Escreveu também o guião do filme em parceria com Philippe Lopes-Curval. Como foi a experiência?

O guião escrevi eu. Depois trabalhei os diálogos com o Philippe. Trabalhámos no guião 16 meses, com 4 versões diferentes. O tempo normal para um guiãoé um ano, ano e meio, mas os americanos, por exemplo, demoram 4 a 5 anos.

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A escola onde estão as crianças é muito peculiar. Tive muitos problemas em encontrar um lugar assim? Foi uma exigência da tua parte, a escola ter aquelas características?

Sim, absolutamente. Quando lemos a documentação da época, vemos que a escola era mais bonita e pequena. Mas queria transmitir a ideia de uma prisão; muito grande, muito pesada. Os muros muito altos ajudam a a reforçar essa ideia. Vi muitos sítios, mas sempre fui atraído pelos castelos. Depois da segunda guerra mundial, em França, havia muitos órfão e meninos vítimas da guerra, com pais que não os podiam sustentar. Os ministérios e o governo não tinham sítios suficientes para colocar todas as crianças. Alugaram muitos castelos abandonados pelos donos. Vi muitos, e todos eles eram desapropriados para uma situação onde têm de estar crianças a aprender. A ideia era mostrar isto: colocar 60 crianças num castelo que mais parece uma prisão, uma cidadela.

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A maior parte da acção remete a 1949, como um grande flashback. Porque situou o filme em 2004?

É uma história sobre as crianças mas também e, sobretudo, sobre o que recordamos da nossa infância. É como um livro da nossa vida, uma análise, uma terapia. Este homem que agora é muito rico e muito famoso nunca se lembra do professor que era tudo para ele. O professor ocupa na sua vida apenas quatro, seis meses e esse tempo, quando se tem 12 anos, parece muito pouco e muito distante. Para mim, era muito importante que não fosse só a história de 1949 mas a história desse professor. Penso que foi um elemento que tocou o público, porque as pessoas pensam "Quando eu era criança era assim..." há uma identificação muito clara com as crianças, principalmente porque eles estão presas. Quando há crianças fechadas entre quatro paredes há sempre um identificação total. Também é importante que as crianças de hoje conheçam o que se passava e que os adultos se lembrarem do que se passou. Para mim, é recordar a minha própria infância.

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Há uma personagem que me encantou particularmente, que é o pequeno Pépinot. Como surgiu a ideia desta personagem que espera o seu pai todos os Sábados?

É muito simples. Eu mesmo esperei muito o meu pai à porta da escola. A sério. E o meu pai nunca me foi buscar...assim, o que se passa com Pépinot é um pouco o que se passou comigo.

Cátia C. Simões in c7nema.net