As crianças selvagens
são crianças que cresceram com contacto humano mínimo, ou mesmo
nenhum. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos)
ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas.
Normalmente, são
perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos
mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os humanos.
Os casos que se conhecem de crianças selvagens
revestem-se de grande interesse científico. Elas constituem uma
espécie de grau zero do desenvolvimento humano, ensinam-nos o que
seríamos sem os outros, mostram de forma abrupta a fragilidade da
nossa animalidade, revelam a raíz precária da nossa vida humana.
Em termos de linguagem, as crianças
selvagens só conhecem a mímica e os sons animais, especialmente
os das suas famílias de acolhimento. A sua capacidade para
aprender uma língua no seu regresso à sociedade humana é muito
variada. Algumas nunca aprendem a falar, outras aprendem algumas
palavras, outras ainda aprenderam a falar correctamente o que
provavelmente indicia que tinham aprendido a falar antes do
isolamento.
Em termos de comportamento, as
crianças selvagens exibem o comportamento social das suas famílias
adoptivas. Não gostam em geral de usar roupa e
alimentam-se, bebem e comem tal como um animal o faria.
A maioria das crianças
selvagens não gostam da companhia humana e percorrem longas distâncias
para a evitar. Algumas crianças selvagens não mostram interesse
algum noutras crianças da sua idade nem nos jogos que estas
jogam. Na medida em que não gostam da companhia humana, procuram
a companhia dos animais, particularmente dos animais semelhantes
à espécie dos seus pais adoptivos. Ao mesmo tempo, também os
animais reconhecem estas crianças, aproximando-se delas como não
o fariam em relação a outros humanos.
As crianças selvagens não se
riem ou choram, apesar de eventualmente poderem desenvolver alguma
ligação afectiva. Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional
e, muitas vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma
força particular e um comportamento claramente selvagem. Algumas
crianças têm ataques de ferocidade ocasionais, mordendo ou
arranhando outros ou até eles mesmo.
Até hoje
foram encontradas diversas crianças selvagens, na maioria
criadas por lobos mas também por muitos outros animais. Por
exemplo, as irmãs Amala e Kamala de Midnapore, Isabel,
a menina que vivia no galinheiro ou Gaspard
Hauser de Nuremberga. O caso mais célebre é o de Victor
de Aveyron com base no qual Francois Truffaut realizou um
belíssimo filme.
Também o desenho
animado "Mogli, o Menino Lobo" conta a história de uma
criança que se perde da família na selva e é adoptada e criada
por lobos. Quando encontrada, reintegra-se facilmente no grupo de
humanos, antes de ser expulsa como "bruxa" em virtude do
seu "poder" sobre os bichos.
Para mais
informações devem consultar: www.feralchildren.com
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