Vimos que a educação antiga compreendia um duplo aspecto: "a ginástica (gymnastikh) para o corpo, e a música (mousich) para a alma.
No entanto, a música tinha um sentido muito mais amplo do que é dado pelo significado moderno do termo. Ela significava todo o vasto domínio das musas. A poesia, o drama, a história, a oratória, a ciência eram incluídas na extensão do termo.
Lição de Música
É muito provável que a criança grega deva ter recebido lições em dois locais distintos, um destinado à gymnastiké e o outro à mousiké. Embora qualquer estrutura conveniente ou espaço aberto podesse ser utilizado para o estudo da música, alguns professores possuíam palestras ou tinham acesso a estruturas especialmente construídas para servirem de salas de aula.
Era com a música que, desde a madrugada até ao pôr do sol, a criança ateniense despendia a maior parte do tempo. Mas, além de ensinar as crianças a tocar, o citarista também, ensina a ler e a escrever, porque para cantar os poetas é preciso saber ler as suas obras.
Na verdade, e par da aprendizagem de um instrumento musical, os primeiros anos da infância eram destinados a decorar poemas homéricos, poemas de Hesíodo e, mais tarde, de poetas líricos e didácticos. Além desse trabalho de memorização, as tarefas da palestra incluíam a explicação do significado de palavras, frases e alusões obscuras
A leitura, a escrita e o elemento literário da educação estavam, desse modo, incluídos no trabalho da música. A aprendizagem da leitura e da escrita fazia-se por processos que nós próprios usávamos, até há pouco tempo. Empregavam-se os métodos comuns, alfabético e silábico. No entanto, a leitura possuía muito maior valor educativo do que entre nós. Como as palavras eram escritas sem nenhuma interrupção e como não existia pontuação, a leitura era um exercício de elevada compreensão. Após alguns anos de prática, exigia-se uma leitura expressiva, preparatória para a declamação.
Lira
Ao fim de alguns anos dedicados ao domínio da leitura e da compreensão dos textos literários, ensinava-se a criança a cantar poemas com acompanhamento da lira. "Possuindo algum conhecimento dos poemas de Homero, que muito cedo, sem dúvida, se tornaram «clássicos», o menino devia acumular, antes de tudo, um repertório de poesias líricas, se quisesse tornar-se um dia capaz de participar honrosamente dos banquetes e de passar por um homem culto." (Marrou, 1966: 75).
Todavia, é de salientar que, no século V, os jovens atenienses aprendiam a tocar os dois instrumentos essenciais à arte musical antiga, a lira (figura à esquerda) e o aulos (figura à direita).
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Mais tarde, o aulos perdeu prestígio em Atenas. Uma anedota célebre mostra-nos o jovem Alcibíades que se recusa a aprendê-lo sob o pretexto de que "a sua execução deformava o rosto". Apesar disso, o aulos continuou a ser ensinado até que Aristóteles o excluiu formalmente do seu plano de educação.
A partir dessa altura, o ensino da música instrumental reduz-se à lira de sete cordas. A lira heptacórdia era um instrumento como a nossa harpa, e cujos recursos eram muito limitados, pois possuía poucas cordas, sendo estas tocadas ou com os dedos, ou com plectro de escama que equivale à palheta do nosso bandolim. |
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Independentemente do tempo que fosse tomado pelo menino para aprender a tocar a lira, nunca se pretendia apenas destreza técnica. A tarefa do menino era semelhante ao trabalho do velho bardo. Devia poder improvisar um acompanhamento em harmonia com o pensamento expresso no trecho recitado. Por esse motivo, exigia-se um profundo conhecimento e compreensão do poema. Assim se explica que, além de desenvolver o sentido estético e de expressão, o ensino da música visasse desenvolver a harmonia da alma, correspondente à harmonia do corpo obtida pela ginástica.
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"A harmonia é apreciada por aquele que inteligentemente se vale das Musas, não como se fosse dada para um prazer irracional, mas como uma aliada, com o propósito de reduzir o curso desarmónico da alma à harmonia e concordância consigo mesmo." (Platão, cit., in Monroe, 1979: 46). |
Uma Lição de música
Lição de música. (Jarra autografada por Dúris cerca de 490 - 480 a. C., Berlim.)
Na figura acima, aparecem representadas cinco figuras: dois alunos, dois mestres e um pedagogo. Possivelmente por exigência técnica da pintura é que o artista deu a cada menino um citarista. Na verdade, um único mestre tinha vários alunos, embora a maior parte da instrução, excepto a ministrada em coro, fosse individual. À esquerda, está representada uma lição de lira: o mestre, barbudo e seu jovem aluno, sentados face a face, cada um cingindo, no braço esquerdo, uma lira de concha de tartaruga, heptacórdia. Na mão direita seguram o plectro, ligado à lira por uma correia; com a mão esquerda, fazem vibrar as cordas. Mais à direita, está representada uma lição de declamação ou de leitura: a criança, vestida, encontra-se de pé repetindo uma parte de um poema diante do mestre, que segura um livro aberto. Na extremidade o pedagogo que acompanhava o menino ao citarista assiste à lição (as pernas cruzadas, sinal de má educação, denotam que é escravo) quer para o vigiar, quer para o auxiliar, quer simplesmente para o acompanhar de volta a casa. Na parede estão pendurados, da esquerda para a direita: uma jarra, uma lira com a correia de plectro, uma braseira, um estojo de aulos em pelica, uma lira e uma jarra.
Dança
A dança era a expressão da harmonia do pensamento por intermédio do movimento rítmico |
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O seu objectivo não era apenas o prazer individual. A maior parte das vezes, a dança era realizada em conjunto: em procissões cívicas, durante o treino militar, nas cerimonias do culto religioso.
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