Sócrates versus Sofistas 

 

      Nesta página, contrapomos dois métodos. O método dos sofistas e o método de Sócrates. Apresentamos  semelhanças entre ambos, mas também alguns dos pontos em que diferiam.

 

Principais Sofistas (Séc. V a.C):  

Górgias

( 483-375 a.C.) 

Protágoras 

"O homem é a medida de todas as coisas"

Hipías

 

Se quiser saber um pouco da biografia destes três sofistas clique no índice em: Sócrates versus sofistas.    

Para conhecer pormenorizadamente qual o método dos sofistas e quem eram os sofistas clique Trabalho sobre os sofistas.    

 

      Foram os sofistas que sistematizaram e divulgaram os novos conhecimentos. Não ensinavam num local determinado, pois os sofistas como primeiros professores do ensino superior eram conferencistas itinerantes, em constantes viagens. As exibições que faziam do seu saber e do seu  talento da palavra atraíam alunos, que se lhes agregavam e os seguiam de cidade em cidade, porque eles eram, acima de tudo, educadores. Ensinavam, sob a designação geral de «filosofia» tudo o que então se podia saber e que se não podia aprender na escola elementar: a geometria, a física, a astronomia, a medicina, as artes e técnicas e sobretudo a retórica e a filosofia propriamente dita.

       Os saberes dos sofistas ignoravam o «compreender» e eram quando muito técnicas do «agarrar»; com efeito, aquilo com que se preocupavam antes de mais os sofistas era manejar o discurso de forma tal que o interlocutor ficasse rapidamente convencido daquilo que o orador o queria persuadir. Note-se que este orador nunca se punha o problema de saber se o que ele dizia era verdadeiro, o essencial para ele era conseguir conquistar a adesão do outro.
       É por isso que, diferentemente da maiêutica de Sócrates, a retórica não se propõe conduzir o interlocutor a redescobrir a verdade que existe nele mas que esqueceu, ela propõe-se, ao contrário, em inculcar no outro ideias utilizáveis por aquele que procura o meio eficaz de lhas impor.  

 

   Se quiser consultar informação sobre o método de Sócrates clique em: Método Socrático, que se encontra no índice.

            

        Esta arte maiêutica mais não era, na realidade, que a arte da pesquisa em comum. O homem não podia ver claro por si só. A investigação de que se ocupa não pode começar e acabar no recinto fechado da sua individualidade, pelo contrário, só pode ser fruto de um dialogar contínuo com os outros, como consigo mesmo. É aqui que reside, verdadeiramente a antítese polémica em relação à sofística. A sofística era um individualismo radical. O sofista não se preocupava com os outros a não ser para arrancar a todo custo, e sem se preocupar com a verdade, o consenso que lhe assegurava o sucesso; mas nunca chegou à sinceridade consigo próprio e com os outros. Sócrates comparou a sofística à arte da cozinha que procura satisfazer o paladar mas não se preocupou se os alimentos eram benéficos para o corpo. A maiêutica era, pelo contrário, semelhante à  medicina, que não se preocupava em causar dores ao paciente contanto que conserve ou restabeleça a saúde.
   
     Ao individualismo sofístico, Sócrates contrapôs, não o conceito de um homem universal, um homem-razão que não tenha já nenhum dos caracteres precisos e diferenciados dos indivíduos, mas o vínculo de solidariedade e de justiça entre os homens, graças ao qual nenhum deles se pode libertar ou alcançar qualquer coisa de bom só por si só, antes estando vinculado aos outros e só podendo progredir com a sua ajuda e ajudando-os por seu turno.

     As pretensões dos sofistas eram portanto universais e foi por aí, sobretudo, que lhe deram o flanco às críticas e às cruéis ironias de um Sócrates e de um Platão. A sua finalidade comum era formar homens de primeira categoria, homens que fossem simultaneamente sábios e hábeis e sobretudo estadistas. Afirmavam a possibilidade de se ensinar a arete. Ora a arete, a virtus dos Latinos, não era em primeiro lugar, a virtude moral: era o conjunto das qualidades que faziam o homem eminente e o tornavam eficaz e ilustre. Muitos jovens atenienses desejariam, acima de tudo, adquirir esse saber, condição da arete. Por isso, se tornava um verdadeiro acontecimento o facto de um sofista aparecer na sua cidade.
   
      Um diálogo de Platão mostra-nos a emoção e a expectativa ansiosa do jovem Hipócrates, que vem acordar Sócrates antes do romper do dia, para lhe suplicar que o apresente a Protágoras de Abdera, que se encontra de passagem em Atenas.

Se quiser saber mais sobre este diálogo clique Turma do  Protágoras

        Aquilo a que se opunha Sócrates era a um conhecimento de si que se limitaria a ser apenas um inventário especializado, procurando prolongar-se nas técnicas da eficiência onde um poder sobre o homem se apoiaria numa ciência do homem. No meio de tantos sofistas que pretendiam saber tudo, poder ensinar tudo, poder fazer tudo, isto era, em definitivo, poder fazer não importa o quê, com tudo o que esta imprecisão implica de lassismo conducente a todos os excessos passionais, Sócrates afirmava que nada sabia. Nada sabendo, ele nada podia ensinar.

        Uma das maiores diferença entre os sofistas e Sócrates, residia no facto dos sofistas fazerem-se pagar das suas lições a preços elevados. Realmente, eram no seu tempo, os únicos mestres que podiam dispensar uma verdadeira cultura geral e formar oradores. É claro que a multidão não hesitava em troçar desses intelectuais sumptuosamente vestidos, pretensiosos e pedantes, que forneciam um alvo de categoria à crítica irónica dos poetas cómicos. Sabemos que Sócrates, com o seu ideal moral e a sua exigência fundamental da verdade, se distinguia dos sofistas, que estavam mais preocupados com a eficácia prática do que com o rigor intelectual e moral. No entanto, o ateniense médio não se punha a destrinçar tais coisas.  
        A filosofia dos sofistas, em virtude da situação na vida, adoptavam um ponto de vista egoísta-utilitário perante os problemas da actividade prática. Contra esta doutrina dos sofistas se levantou Sócrates. Para ele o homem era, como para os sofistas, a medida de todas as coisas; não, porém, o homem como indivíduo, mas o homem como espécie racional, que eleva o seu espírito à universalidade das normas morais. 

        
Em salas particulares, na rua ou no ginásio, os sofistas reuniam o conjunto de estudantes, transmitiam o conhecimento e davam a preparação retórica desejada. Sócrates, no entanto, aplicava o seu método onde existissem pessoas que o quisessem ouvir e falar com ele.

         Para Sócrates o fim da educação, então, não era dar a informação sem base que, aliada a um verbalismo superficial e brilhante, constituía o ideal dos sofistas. Era ministrar saber ao indivíduo, pelo desenvolvimento do seu poder de pensamento. Todo o indivíduo tinha em si mesmo a capacidade de conhecer e apreciar verdades como as de fidelidade, honestidade, verdade, honra, amizade, sabedoria, virtude, ou pode adquirir essa capacidade. Neste tipo de conhecimento é que Sócrates se achava interessado, - o conhecimento derivado da própria experiência, o qual constituía a base da boa conduta.         Só quem sabe que não sabe procura saber, enquanto os que crêem estar na posse dum saber fictício não são capazes da investigação, não se preocupam consigo mesmos e permanecem irremediavelmente afastados da verdade e da virtude. Este princípio socrático representa a antítese nítida da sofistica. Contra os sofistas que faziam profissão de sabedoria e pretendiam ensiná-la aos outros, Sócrates fez profissão de ignorância. O saber dos sofistas era um não saber, um saber fictício desprovido de verdade, que apenas conferia presunção e jactância e impiedade de assumir a atitude submissa da investigação, a única digna dos homens.

Em suma, os sofistas foram mestres da oratória, que vendiam para os cidadão suas habilidades com o discurso, fundamental para a política. Assim, defendiam a opinião de quem lhes pagasse bem. Acreditavam que a verdade vinha do consenso entre os homens. Os principais foram Górgias, Protágoras e Hipías. Para eles a realidade sensível não era inteligível, a linguagem era arbitrária, as palavras traíam os pensamentos. 

   O homem era a medida de todas as coisas

Por isso não existiriam coisas como o frio real. O frio era frio apenas para quem o sentia. Os sofistas destruíram a fé que a juventude tinha nos deuses do Olimpo e no código moral que se baseava no medo da divindade.

Sócrates não parou de ridicularizar as pretensões oratórias dos sofistas para quem o discurso era um fim e não um meio posto ao serviço da verdade; nada de mais anti-socrático do que a fórmula de Protágoras: «o homem é a medida de todas as coisas». 


 

 

Olga Pombo opombo@fc.ul.pt