Principais Sofistas (Séc. V a.C):
Foram
os sofistas que sistematizaram e divulgaram os novos conhecimentos. Não
ensinavam num local determinado, pois os sofistas como primeiros professores do ensino
superior eram conferencistas itinerantes, em constantes viagens. As exibições
que faziam do seu saber e do seu talento
da palavra atraíam alunos, que se lhes agregavam e os seguiam de cidade em cidade,
porque eles eram, acima de tudo, educadores. Ensinavam, sob a designação geral
de «filosofia» tudo o que então se podia saber e que se não podia aprender
na escola elementar: a geometria, a física, a astronomia, a medicina, as artes
e técnicas e sobretudo a retórica e a filosofia propriamente dita. Os
saberes dos sofistas ignoravam o «compreender» e eram quando muito técnicas do
«agarrar»; com efeito, aquilo com que se preocupavam antes de mais os sofistas
era manejar o discurso de forma tal que o interlocutor ficasse rapidamente
convencido daquilo que o orador o queria persuadir. Note-se que este orador nunca se
punha
o problema de saber se o que ele dizia era verdadeiro, o essencial para ele era conseguir conquistar a adesão do outro.
Esta arte maiêutica mais não era, na realidade, que a arte da pesquisa
em comum. O homem não podia ver claro por si só. A investigação de que se
ocupa não pode começar e acabar no recinto fechado da sua individualidade,
pelo contrário, só pode ser fruto de um dialogar contínuo com os outros, como
consigo mesmo. É aqui que reside,
verdadeiramente a antítese polémica em relação à sofística. A sofística
era um individualismo radical. O sofista não se preocupava com os outros a não
ser para arrancar a todo custo, e sem se preocupar com a verdade, o consenso que
lhe assegurava o sucesso; mas nunca chegou à sinceridade consigo próprio e com os
outros. Sócrates comparou a sofística à arte da
cozinha que procura satisfazer o paladar mas não se preocupou se os alimentos
eram benéficos para o corpo. A maiêutica era, pelo contrário, semelhante à
medicina, que não se preocupava em causar dores ao paciente contanto que
conserve ou restabeleça a saúde. As
pretensões dos sofistas eram portanto universais e foi por aí, sobretudo, que
lhe deram o flanco às críticas e às cruéis ironias de um Sócrates e de um
Platão. A sua finalidade comum era formar homens de primeira categoria, homens
que fossem simultaneamente sábios e hábeis e sobretudo estadistas.
Afirmavam a possibilidade de se ensinar a arete.
Ora a arete, a virtus dos Latinos, não era em primeiro lugar, a virtude moral: era
o
conjunto das qualidades que faziam o homem eminente e o tornavam eficaz e ilustre.
Aquilo
a que se opunha Sócrates era a um conhecimento de si que se limitaria a ser
apenas um inventário especializado, procurando prolongar-se nas técnicas da
eficiência onde um poder sobre o homem se apoiaria numa ciência do homem. No
meio de tantos sofistas que pretendiam saber tudo, poder ensinar tudo, poder
fazer tudo, isto era, em definitivo, poder fazer não importa o quê, com tudo o
que esta imprecisão implica de lassismo conducente a todos os excessos
passionais, Sócrates afirmava que nada sabia. Nada sabendo, ele nada podia ensinar. Uma das
maiores diferença entre os
sofistas e Sócrates, residia no facto dos sofistas fazerem-se pagar das suas lições a
preços elevados. Realmente, eram no seu tempo, os únicos mestres que podiam dispensar
uma verdadeira cultura geral e formar oradores. É claro que a multidão não
hesitava em troçar desses intelectuais sumptuosamente vestidos, pretensiosos e
pedantes, que forneciam um alvo de categoria à crítica irónica dos poetas cómicos.
Sabemos que Sócrates, com o seu ideal moral e a sua exigência fundamental da
verdade, se distinguia dos sofistas, que estavam mais
preocupados com a eficácia prática do que com o rigor intelectual e moral. No
entanto, o ateniense médio não se punha a destrinçar tais coisas.
Para
Sócrates o fim da educação, então, não era dar a informação sem base que,
aliada a um verbalismo superficial e brilhante, constituía o ideal dos
sofistas. Era ministrar saber ao indivíduo, pelo desenvolvimento do seu poder
de pensamento. Todo o indivíduo tinha em si mesmo a capacidade de conhecer e
apreciar verdades como as de fidelidade, honestidade, verdade, honra,
amizade, sabedoria, virtude, ou pode adquirir essa capacidade. Neste tipo de
conhecimento é que Sócrates se achava interessado, -
o conhecimento derivado da própria experiência, o qual constituía a base da boa
conduta. Em suma, os sofistas foram mestres da oratória, que vendiam para os cidadão suas habilidades com o discurso, fundamental para a política. Assim, defendiam a opinião de quem lhes pagasse bem. Acreditavam que a verdade vinha do consenso entre os homens. Os principais foram Górgias, Protágoras e Hipías. Para eles a realidade sensível não era inteligível, a linguagem era arbitrária, as palavras traíam os pensamentos.
Por isso não existiriam coisas como o frio real. O frio era frio apenas
para quem o sentia. Os
sofistas destruíram a fé que a juventude tinha nos deuses do Olimpo e no código
moral que se baseava no medo da divindade. Sócrates não parou de ridicularizar as pretensões oratórias dos sofistas para quem o discurso era um fim e não um meio posto ao serviço da verdade; nada de mais anti-socrático do que a fórmula de Protágoras: «o homem é a medida de todas as coisas».
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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