SÓCRATES 470
- 399 a.C. Sócrates
é talvez a personagem mais enigmática de toda a história da filosofia. Talvez
pelo simples facto de não ter escrito nem uma linha. Apesar disso, pertence ao
número de Filósofos que exercem maior influência no pensamento Europeu. Mesmo
quem não possui muitos conhecimentos de Filosofia, conhece certamente esta
personagem e principalmente toda a tragédia da sua morte. Nesta página
retratamos a vida de Sócrates no que diz respeito à
sua educação, sua vida familiar,
A VIDA DE SÓCRATES
Abordamos de
forma pormenorizada os seguintes temas referentes à vida de Sócrates:
Figura que ilustra a Grécia Antiga nomeadamente Atenas:
A Grécia (actual) e as ilhas e costas do mar Egeu:
Nasceu no
demo de Álopécia, em 470( a.C), isto é no fim das guerras médicas pelas quais os
Gregos puseram fim à hegemonia dos Persas no Mediterrâneo. A sua mãe,
Fenarete, era parteira; o seu pai, Sofronisco, era escultor; por isso Sócrates
dizia gracejando que descendia de Dédalo, o ancestral de todos os escultores. Segundo uma tradição, Sócrates teria exercido primeiro a
profissão do seu pai, ele teria sido mesmo um escultor de valor pois que se lhe
atribuía o grupo das «Graças vestidas» que se encontrava defronte da Acrópole
e que se podia ver ainda no século II. Platão e Xenofonte eram formais: «Sócrates era muito
pobre, aliás Aristófanes não teria deixado de nos falar de um Sócrates usuário
se o mais pequeno facto lhe tivesse permitido dar qualquer crédito a esta
afirmação.» É possível que Sócrates tivesse recebido a educação tradicional que recebiam os jovens atenienses do seu tempo: ele teve que aprender a música, a ginástica e a gramática, isto é, o estudo da língua apoiado por comentários de textos.
Estudando a obra de Homero (A
Ilíada e A Odisséia, que contavam a história da guerra de Tróia, dos
gregos contra os troianos, e do retorno do herói Ulisses para sua terra natal.
São de carácter épico. Muitos chegaram a duvidar da existência de Homero, ou
disseram que ele seria só um colector de contos do folclore popular, e não o
legítimo autor.)
A esta educação que Sócrates recebeu dos seus mestres,
é preciso acrescentar a que lhe pôde dar o século excepcionalmente brilhante
que foi o século V que começa: Ésquilo morreu quando Sócrates tinha 14 anos, Sófocles
e Eurípides eram uma dezena de anos mais velhos que Sócrates, numa palavra, nós
estavamos no século dito de Péricles.
Imagem de Péricles, representado com o capacete militar dos estrategos:
Uma outra tradição, menos fantasista, é a que afirma que Sócrates seguiu as lições de Arquelau e as de Anaxágoras.
Pretendeu-se que com Arquelau a especulação filosófica se tinha inflectido da física para a moral e que Sócrates não tinha feito senão apanhar o seguimento desta tradição, diz-se mesmo que Sócrates acompanhou Arquelau a Samos; mas também aí nos encontramos em face de afirmações discutíveis pois que, segundo Platão, Sócrates nunca saiu de Atenas, salvo para as expedições militares e uma vez para se deslocar aos jogos ístmicos. No que concerne Anaxágoras não é impossível que Sócrates, ainda novo, o tenha ouvido falar em Atenas, mas se se acreditar na autobiografia de Sócrates numa passagem célebre do Fédon, Sócrates não deve ter admirado durante muito tempo o pensamento deste filósofo: «Um dia ouvi fazer uma leitura de um livro que era, dizia-se, de Anaxágoras, e
onde estava contida esta linguagem: "Foi em definitivo o Espírito que tudo
pôs em ordem, é ele que é causa de todas as coisas". Uma tal causa fez a
minha alegria. [...] Pois bem! Adeus à maravilhosa esperança! Eu afastava-me
dela perdidamente. Avançando com efeito na minha leitura, vejo um homem que não
faz nada do Espírito, que não lhe imputa também nenhum papel nas causas
particulares da ordem das coisas, que, pelo contrário, alega a este propósito
acções do ar, do éter, da água, e uma quantidade de outras explicações
desconcertantes.» (
in Jean Brun, página 29) Para Sócrates, uma tal explicação era tão pobre como
aquela que diria que se Sócrates estava sentado neste momento na prisão, era unicamente porque os seus ossos e os seus músculos
permitiam, pelas suas
articulações, que ele ocupasse neste lugar a posição sentada. Entre os mestres em contacto com os quais Sócrates teria
formado o seu pensamento, Máximo de Tiro cita duas mulheres: Aspásia de
Mileto, uma cortesã, Diotima de Mantineia, uma sacerdotisa. Da primeira Platão
fala no Menéxeno mas é evidente que
Sócrates ironiza fazendo dela uma professora de eloquência, Xenofonte fala
igualmente dela a propósito de Sócrates, e segundo Ésquino foi ela que teria
ensinado a Sócrates a doutrina do amor que torna os homens melhores. Quanto a
Diotima, ela é sobretudo conhecida pela célebre passagem do Banquete onde a sacerdotisa de Mantineia faz o relato do nascimento
do Amor, alguns só viram nela uma personagem lendária, outros, como R. Godel vêem
nela uma iniciada nos mistérios, que teria desempenhado um papel importante na
formação intelectual de Sócrates. Para terminar com este inventário das influências
possíveis na educação e formação de Sócrates,
diremos que, por muito que Sócrates tenha conhecido ou lido dos filósofos
anteriores ou contemporâneos, não foi a partir do que predecessores lhe tenham
podido legar que nós reencontraremos o sentido profundo da mensagem socrática,
pois, como explicava Sócrates, o filósofo deve ser o próprio artesão da sua
sabedoria (Xenofonte, Banquete).
Sobre a vida familiar de Sócrates possuímos alguns detalhes nem sempre concordantes, o que é certo é que Sócrates desposou Xantipa. Alguns autores pretendem que ele teria sido primeiro marido de Mirto, filha de ou neta de Aristides, o Justo, outros afirmam mesmo que ele teria sido simultaneamente o marido de Mirto e de Xantipa; sendo a monogamia uma instituição ateniense, pretendeu-se que Sócrates teria aproveitado um decreto excepcional que incitava os Atenienses à poligamia a fim de aumentar a taxa de natalidade de uma Atenas esgotada pela guerra e pela doença; na realidade parece mesmo que o decreto em questão reconhecia, em certas condições, o título de homens livres a filhos nascidos fora do casamento. O mau carácter de Xantipa era proverbial em toda a Antiguidade, ela deixou a reputação de uma mulher irascível. Xenofonte diz-nos que ela era a mais insuportável das mulheres passadas, presentes e vindouras e não faltam anedotas que no-la representam sempre a gritar, atirando um vaso de água à figura do seu marido ou virando a mesa ao contrário quando Sócrates convida um amigo para jantar. Sócrates teve a seu respeito uma atitude paciente e resignada e não viu provavelmente nela a ajuda que lhe era necessária para levar a bom termo o seu dever cívico de paternidade. Alcibíades espantava-se com a paciência de Sócrates perante esta esposa sempre ocupada em gritar:
«E tu, diz-lhe Sócrates, não suportas os gritos dos teus gansos? -
Sim, responde Alcibíades, mas eles dão-me ovos e gansinhos. - Pois bem, replica Sócrates, Xantipa dá-me filhos.»
Interrogado no sentido de se saber se o casamento era preferível ao celibato, Sócrates
respondeu: «Qualquer que fosse o partido que escolhêsseis, vós
arrepender-vos-íeis dele». (
in Jean Brun, página 31) É conhecida a passagem do princípio do Fédon, em que Sócrates vê a sua mulher pela última vez. Rodeada dos discípulos Xantipa proferiu maldições e discursos absolutamente do género habitual nas mulheres, ela disse: "Eis, Sócrates, a última
vez que conversarão contigo os que te estão ligados, e tu com eles!"
(
in Jean Brun, página 31)
Sócrates
lançou um olhar para o lado de Críton: "Críton, diz ele, levem-na para
casa!"(
in Jean Brun, página 31)
Não é impossível, também, que a lenda tenha feito de Xantipa um carácter
caricatural não sendo senão poucas relações com a verdade.
Sócrates teve três filhos, o mais velho Lâmprocles, Sofronisco e Menéxeno;
segundo certas tradições, uns seriam de Mirto e os outros de Xantipa, mas nada
permite pronunciar-se sobre este ponto com certeza.
A vida política de Sócrates é-nos melhor conhecida. Sócrates tomou
parte em três campanhas militares na qualidade de hoplita, isto é de soldado
de infantaria. No princípio da guerra do Peloponeso Imagem da guerra do Peloponeso:
Aí teve Alcibíades como companheiro de armas, salvou-o quando este, ferido, estava prestes a cair nas mãos dos inimigos; foi aliás a Alcibíades e não a si próprio, que Sócrates pediu que fosse atribuído o prémio da bravura que o exército queria conferir-lhe. N'O Banquete, Alcibíades fala-nos da conduta de Sócrates em Potideia:
«Primeiro que tudo não há dúvida que no
resistir às fadigas, ele foi superior, não somente a mim, mas também, em
bloco, a todos os outros! Sempre que as comunicações ficavam cortadas num
qualquer ponto, como acontece em campanha, ficávamos forçosamente privados de
mantimentos, os outros no suportá-lo não eram nada ao pé dele. [...] No
suportar os rigores do Inverno (pois neste país os Invernos são terríveis),
ele maravilhava. Assim um dia, entre outros, que tínhamos o mais terrível nevão
que se possa imaginar e que cada um ou bem que se abstinha de deixar o abrigo ou
então em todo o caso não saía senão coberto por um montão de coisas
extraordinárias, os pés amarrados e enrodilhados em tiras de feltro ou de pele
de cordeiro, ele ao contrário, nesta ocorrência, saía não tendo sobre ele
outro manto senão aquele mesmo que costumava trazer anteriormente, e, pés nus,
ele circulava sobre o gelo mais facilmente que os outros com as peúgas curtas:
de modo que os soldados o olhavam sem levantar os olhos, convencidos de que a
sua intenção era a de os humilhar.»
Além disso a guerra não interrompeu as meditações de Sócrates; Alcibíades
diz-nos que Sócrates ficou imóvel no mesmo local durante vinte e quatro horas,
mergulhado nos seus pensamentos, não parecendo mesmo ver os soldados que o
observavam estupefactos.
Em 424 (a.C), cinco anos depois da peste de Atenas, encontramos Sócrates na
batalha de Délio onde as tropas atenienses são esmagadas pelos Tebanos. É lá que Sócrates salva a vida a Xenofonte que não era capaz de se livrar do seu cavalo que tinha caído sobre ele.
Sócrates livrou-o deste mau momento e transportou-o sobre os seus ombros durante um longo trajecto a fim de o subtrair aos inimigos. Alcibíades descreveu-nos Sócrates durante a retirada:
«Eu
tinha, sim, absolutamente a impressão de que, como diz este verso que é teu,
Aristófanes, aí também ele circulava, exactamente como em Atenas:
"empertigando-se e lançando olhares oblíquos", dirigindo com a calma
a sua atenção para todos os lados, e para os amigos, e para os inimigos; não
deixando dúvidas a ninguém, mesmo de muito longe, que, se o atacassem, ele era
homem para se defender e com um sólido vigor! Era mesmo o que lhes garantia, a
ele como a outro, a segurança da sua retirada; pois na guerra gosta-se pouco de
provocar, por pouco que seja, os galhardos desta têmpera, enquanto que àqueles
que fogem em desordem, perseguem-nos ardorosamente.»
Enfim, em 422 (a.C), Sócrates toma parte na expedição de Anfípolis a
respeito da qual não temos nenhum pormenor.
Mas Sócrates não mostrou somente a coragem nas peripécias da guerra,
ele deu igualmente provas dela por ocasião de várias circunstâncias da sua
vida cívica. Em 406 as frotas de Atenas tinham trazido consigo uma vitória
sobre os Lacedemónios, nas Arginusas, mas a tempestade tinha impedido que se
recolhessem os corpos, ao que a lei ateniense obrigava sob pena de morte. Os
generais foram tidos por responsáveis e chamados ao tribunal da pritania. Este
tribunal era composto por cinquenta membros, escolhidos entre o Conselho dos
Quinhentos, que ,durante cinco semanas, exerciam a sua função. O acaso fez que
a tribo de Antióquides, de que Sócrates fazia parte, tivesse que exercer as
suas funções nessa época; além disso, a sorte designou Sócrates como
presidente da mesa. O povo e os acusadores queriam fazer condenar todos os
generais por uma só e única sentença, o que era contrário à lei ateniense
que exigia que houvesse um julgamento por acusado. Apesar dos protestos e das
ameaças, Sócrates permaneceu inflexível e fez aplicar a lei exigindo tantos
julgamentos quantos os acusados. Dois anos mais tarde, durante a tirania dos Trinta, quando estes procediam a numerosos massacres, Sócrates recusou participar na detenção de Leão, o Salaminense, como os Trinta lhe tinham dado ordem,
«pois eles
frequentemente deram a muitos outros ordens deste género para associar à sua
responsabilidade o maior número possível de cidadãos. Nesta circunstância,
eu fiz ver ainda, não por palavras, mas pelos meus actos, que, se é que eu o
posso dizer sem vos chocar, eu me preocupo com a morte como se de nada se
tratasse e que a minha única preocupação, é a de nada fazer de injusto nem
de ímpio. Por isso esse poder, por muito forte que fosse, não me impressionou
ao ponto de me fazer cometer uma injustiça. Quando saímos de tholos
(sala onde os prítanes exerciam as suas funções), os outros quatro
partiram para Slamina e de lá trouxeram Leão, e no que me diz respeito eu
voltei para minha casa. E eu talvez tivesse pago isso com a minha vida, se este
governo não tivesse sido derrubado pouco depois» (Platão, Apologia
de Sócrates). (
in Jean Brun, página 33)
Aliás Sócrates já se tinha defrontado com os Trinta; com
efeito ele tinha-se indignado com os massacres ordenados por estes, se bem que
Crítias - embora tivesse sido aluno de Sócrates - e de Cáricles, tivessem proibido Sócrates de
falar aos jovens. Sócrates, com a sua habitual ironia, perguntou então qual
deveria ser doravante a idade mínima dos seus interlocutores e quis saber se
lhe seria possível perguntar o preço de uma mercadoria a um jovem mercador, ou
responder a um jovem que desejasse conhecer a morada de Cáricles (Xenofonte, Memórias).
Sócrates era feio, o que espantava fortemente os seus contemporâneos
para quem o corpo era o envelope e a imagem da alma; a beleza física devia
acompanhar a beleza moral. O próprio Sócrates
admitiu ser feio, pois tinha o nariz achatado com os buracos à mostra,
os lábios espessos, os olhos salientes e esbugalhados. A pessoa de Sócrates era pois uma espécie de escândalo
pela sua própria manifestação tanto ela parecia trazer na carne os estigmas
da paixão, e quando o fisionomista Zopiro o viu pela primeira vez declarou-o
imbecil de nascença, inculto e imperfectível. Imagem de Sócrates:
Segundo Nietzche, o aspecto físico deste homem era escandaloso: «Sócrates era um plebeu inculto, e que não reparou pelo autodidatismo o que lhe faltou na instrução da sua juventude.»
Era
preciso não confiar nas aparências enganosas que os homens, que se queriam medida de todas as coisas,
tentassem apresentar-nos: a aparência de Sócrates
nada tinha a ver com o seu ser, não era a face de Sócrates que estava à sua
medida. O ser de Sócrates era um ser escondido. No entanto, o rosto de Sócrates não deixava de
escandalizar os Atenienses pois para eles a beleza física era o símbolo da
beleza interior e nada mais incompatível com a fealdade de Sócrates e a sua
pureza moral; Sócrates explicava por vezes esta «anomalia» dizendo que o seu
rosto trazia as marcas das paixões que teriam sido suas se ele não se tivesse
dedicado à filosofia.
Transcrição
do Auto-retrato de Sócrates
..."Crês que a beleza existe só no homem ou ainda noutros
objectos? -
Creio, naturalmente, que ela existe num cavalo, num boi e em muitos objectos
inanimados, pois costumamos dizer "um belo escudo", "uma bela
espada" ou "uma bela lança". -
Mas de que maneira poderemos explicar que objectos tão diferentes sejam
igualmente belos? -
Se forem bem adaptados pela arte ou pela natureza ao destino que quisermos lhes
dar uso no uso, são belos, diz Critóbulo. -
Sabes acaso porque precisamos de olhos? -
Evidentemente, é para ver. -
Assim sendo, pode acontecer que os meus sejam mais belos que os teus. -
Como? -
Pois os teus não enxergam senão em linha recta, ao passo que os meus também vêem
de lado, pelo facto de estarem à superfície da cabeça. -
Segundo a tua teoria, dentre todos os animais o que possui os mais belos olhos
é o lagostim. -
Seguramente, sem falar que os seus olhos são dotados naturalmente de uma força
estupenda. -
Seja! Mas em questão de nariz, qual é o mais belo, o teu ou o meu? -
Penso que seja o meu, se for verdade que os deuses nos tenham dado o nariz para
cheirar. Ora, tuas narinas são dirigidas para a terra, enquanto as minhas são
arrebitadas, de maneira a receber os odores de qualquer parte que venham. -
Mas não é possível que um nariz chato seja mais belo que um nariz recto. Sim!
pois, em vez de servir de obstáculo, permite, pelo contrário, aos olhos de ver
primeiro o que querem, ao passo que um nariz proeminente separa-os como um muro. -
Quanto à boca, diz Critóbulo, cedo-te a palma: se é feita para morder, podes
morder melhor do que eu; e, com teus lábios espessos, não achas que teus
beijos sejam mais doces que os meus? -
Conforme o que dizes, eu teria então uma boca mais feia que a de um
asno?"... Xenofonte, Banquete,
V.
A
coragem de Sócrates fazia par com uma paciência, uma simplicidade e um domínio
sobre si próprio a toda a prova; a sua resistência à fadiga, vimo-lo, era célebre,
mas esta resistência permitia a Sócrates fazer boa figura em todos os
banquetes, ser um conviva agradável e jovial, bebendo tanto quanto
os seus companheiros sem nunca cair como eles na embriaguez, proeza que
enchia Alcibíades de admiração. Reprovaram frequentemente Sócrates por
ter tido como amigos debochados como Alcibíades, que o perseguia logo nos seus
primeiros passos, ou Crítias, que havia de tornar-se um dos Trinta Tiranos, mas
é preciso sublinhar com Xenofonte, que durante todo o tempo em que Alcibíades
e Crítias seguiram o ensinamento de Sócrates, este conseguiu pôr um freio às
suas paixões que não se desencadearam verdadeiramente senão a partir do
momento em que eles se desligaram do seu mestre.
«É extremamente
aborrecido não saber quando é que é preciso pôr um capacete antes de sair.»(
in Jean Brun, página 34) A apresentação de Sócrates era sempre modesta, simultaneamente porque Sócrates era pobre e porque era simples; nunca o viram entregar-se a qualquer exibicionismo do modo de vestir negligenciado como haviam de fazer os Cínicos. Sócrates não foi um vaidoso com uma qualquer fingida humildade. Os mantos de púrpura, os estofos de prata e de ouro são úteis a actores que vão representar a tragédia mas perfeitamente inúteis para a felicidade da vida, no entanto outros representam igualmente com andrajos e é por isso que Sócrates diz àquele filósofo cínico que exibia os buracos do seu vestuário:
«Eu vejo a tua vaidade através
dos buracos do teu manto.» (
in Jean Brun, página 34) Sócrates não procurava provocar o escândalo, se a alguns ele parecia escandaloso, era sempre contra a sua vontade; nada lhe era mais estranho que a arrogância. Se Sócrates via alguns objectos expostos pelos mercadores dizia: «Quantas
coisas de que não tenho necessidade!»(
in Jean Brun, página 35)
Sócrates era um ateniense que vivia na sua cidade, no meio dos seus
contemporâneos, que sabia fazer reflectir os despreocupados como os pretensiosos
e que nunca ficava vaidoso com o número de jovens que procuravam a sua companhia e
as suas conversas simples, directas e profundas. Ao lado de pessoas com quem ele
conviveu na ágora, Sócrates estava rodeado por um círculo de amigos fiéis entre
os quais se encontravam grandes nomes.
Destacaremos alguns dos amigos de Sócrates que lhe eram mais chegados,
fazendo uma breve descrição sobre os mesmos:
O «menino terrível» do século, que se lança em
todas as causas perdidas com a insolência da sua beleza fatal. Filho de família,
menino mimado, pupilo de Péricles, que deposita nele todas as suas esperanças,
amado por Sócrates até ao desespero, rompe todos os cordões umbilicais e
entra na política como quem entra na Comédie Française, para aí desempenhar todos os papéis: o
conspirador, o vira-casacas, a quinta-coluna, o caudillo, o homem providencial, o dirigente de massas, o herói, o
traidor e, apesar de tudo, o galã. As relações amorosas, filiais pedagógicas,
mas sempre tempestuosas, entre Sócrates e Alcibíades eram um conhecido motivo
de troça, mas também de reflexão: «Pode a 'virtude' transmitir-se?» Elas
passaram a constituir um dos filões da literatura socrática: para além de
dois diálogos que nos foram transmitidos (dos quais só o primeiro pode ser
atribuído a Platão), havia pelo menos mais dois Alcibíades,
o de Ésquines e o de Euclides.
Um dos íntimos de Sócrates e um dos seus mais
brilhantes discípulos, sem dúvida o
único rival «filosófico» de Platão, que apenas lhe dedicou alusões obscuras
sob máscaras diferentes. Discípulo dos Sofistas (nomeadamente de Górgias),
cuja influência é ainda notória nas suas doutrinas posteriores, converte-se
tardia e repentinamente ao socratismo, seduzido, segundo se diz, pela «resistência»
e pela «impassibilidade» do mestre; permanecerá mais fiel ao seu discurso do
que ao seu carácter (consta que era atrabiliário), ensinando a identidade da
virtude e da felicidade e a unidade de ambas. A sua austeridade moral inspirou os
Cínicos, mas o seu discurso era muito mais ambicioso do que o de um Diógenes.
Aprofundando formalmente o «o que é?» socrático, interrogou-se sobre as condições
da linguagem do enunciado definidor («a definição é aquilo que exprime o
'que era' ou o 'que é'») e chegou a uma lógica «nominalista» («vejo o
cavalo mas não a 'cavalidade'») e «extensionalista» («para cada coisa o seu
enunciado próprio»; «falar é referir-se a algo de existente»). Um dos eixos
desta doutrina era o paradoxo (que atormentou uma geração inteira), segundo o
qual «é impossível contradizer». Importante para a história da análise da
proposição, a sua «lógica», que por vezes se destinguiu mal da dos Megáricos,
era infelizmente pouco conhecida e poderia dar uma nova luz à «teoria das
ideias» de Platão, contra a qual ele chegou a escrever o Sathon. APOLODORO DE FALERO -
O impagável primeiro da classe, cujo retrato nos por Platão no início do Banquete
(172 a-173 e), aquele que sabe tudo de cor; o mesmo que chora mais alto que
todos na prisão (Fédon, 117 d). Um
incondicional. ARISTIPO DE CIRENE
-
Não possuímos informações sobre este importante discípulo de Sócrates, fundador da escola de Cirene. Grande
viajante (encontrará mais tarde Platão na corte de Dionísio de Siracusa),
cedo abandonou o circulo familiar para se juntar a Sócrates, atraído pela fama
de um homem que sabia curar os males da alma. Intimidado pelo pai a regressar ao
lar sob pena de ser vendido como escravo, ter-lhe-ia respondido: «Deixa passar
algum tempo... Quando me tornar melhor poderás vender-me mais caro!» Acerca
dele contam-se, aliás, inúmeras histórias bastante mais duvidosas, atribuíveis
à sua reputação de «amante de prazeres». Mas se a tese «Bem=Prazer» é da
sua autoria e não de um dos seus sucessores (é possível que o tenham
confundido com o seu neto homónimo), como se explica que Aristóteles não o
cite quando procede à sua análise? Em todo o caso sabe-se que ele estava
atento aos ardores do corpo («é belo vencer as paixões... não é bom
extingui-las por completo») e que respeitava as artes mecânicas nas quais via,
à semelhança do mestre, o modelo da actividade pautada pela obtenção do que
é melhor» (Aristóteles, Metafísica,
III, 2, 996 a 32 e seg.). Mas a sua obra, que incluía seis livros de «diatribes»
(esta designação não possuía ainda o sentido que herdámos dos Cínicos) está,
evidentemente, quase toda perdida. Este «humanista» (o termo poderia, aliás,
ter sido inventado por ele) boémio e juvial resumia deste modo o que a
filosofia lhe havia proporcionado: «o poder de dialogar livremente com todos»
(Diógenes Laércio, Vida ... II, 68). ARISTÓFANES ( 450 - 385 a. C) - São poucos os dados que temos da sua vida. Comediógrafo grego. É considerado o mais brilhante autor de comédias da literatura grega. Da sua obra depreende-se que era um homem de grande cultura literária e artística e que menospreza a ignorância e a rudeza. Intervinha nas lutas e polémicas de Atenas a favor do partido aristocrático, servia-se do teatro como campo de batalha. Conservador nos seus gostos e na sua atitude política, Aristófanes transportou para o teatro as questões sociais, políticas, artísticas e religiosas da Atenas da sua época, criticou com dureza e humor satírico as novidades que considerou demagógicas e inoportunas. Dirigiu a sua enorme capacidade satírica contra os renovadores do pensamento, como Sócrates, e contra todos os inovadores do teatro, como Eurípides, que atacou pelas suas ideias democráticas. No decurso da guerra do Peloponeso, Esparta derrotou Atenas.
Imagem de Aristófanes na guerra do Peloponeso.
Esta situação favoreceu o partido aristocrático, que se instalou no
poder, mas a liberdade de expressão desapareceu, o que modificou a atitude de
Aristófanes como escritor dado que o impedia que tratasse em cena temas políticos
da actualidade. Este facto histórico determina a divisão das suas obras em
dois grandes grupos: as escritas antes e depois do referido facto. Gozou da
estima do público e ganhou em diversas ocasiões o concurso anual de teatro, mas
nem sempre as suas obras tiveram êxito. Chegaram até aos nossos dias onze comédias
inteiras, além de um milhar de fragmentos. É evidente que o estilo insólito de Sócrates, a originalidade por vezes
chocante das suas interrogações e as modas intelectuais que agitavam os círculos
que ele frequentava faziam dele um alvo preferencial para a comédia ateniense,
muito mais crua e incisiva que todos os nossos cancioneiros. De todos os ataques
anti-socráticos da época resta-nos apenas as Nuvens
de Aristófanes. Nessa obra Sócrates aparece como o protótipo dos Sofistas. O
avarento Estrepsíades vem aprender no «pesadouro» de Sócrates a fazer
triunfar o «Raciocínio mais fraco» (=injusto) para confundir os seus
credores. Sócrates, suspenso nas suas nuvens, procura iniciá-lo nos segredos
de uma física ímpia. Mas o velho é pouco dotado. É o mandrião do seu filho
que irá ser o hábil dialéctico na escola de Sócrates. Triste ideia a do pai,
a de escolher um mestre tão pernicioso: as pancadas que o filho lhe dá,
descarregadas com a temível força de convicção adquirida junto dos
bem-falantes, despertam Estrepsíades da sua louca ingenuidade e levam-no a ir
sabiamente incendiar o «pensadouro». CÁRMIDES - Irmão de Pericioneia, pai de Platão, e primo coirmão de Crítias, seu tutor, que sem dúvida o introduziu no círculo socrático antes de o arrastar para o partido aristocrático e em seguida para a aventura dos Trinta (404). Nessa altura ele era comandante do Pireu; morreu nos últimos combates da guerra civil, em 403. A sua jovem beleza perturbou Sócrates e ofereceu-nos uma das cenas mais sensuais de Platão no diálogo com o seu nome (Cármides, 154 b-155 e). Em Xenofonte (Memoráveis, III, 7), não passou de um político tímido e inexperiente cujos escrúpulos o impediam de defrontar a Assembleia do Povo; Sócrates estimulou-o como um treinador antes do combate. CRÍTIAS -
Primo e tutor de Cármides e um dos maiores aristocratas da sua época (o seu avô,
o Crítias do diálogo de Platão, era sobrinho de Sólon); o protótipo do gentleman
sem escrúpulos. Dotado de uma inteligência glacial, frequentador de todos os círculos
intelectuais, aderiu ao ensino dos Sofistas antes de se ligar a Sócrates, do
qual esperou talvez alguns conselhos políticos (sabe-se que este foi um dos
motivos subjacentes do processo de 399). Foi discípulo
de Sócrates durante algum tempo. Mas «logo que se julgou superior àqueles que
também recebiam lições do mestre, abandonou Sócrates para se lançar na política,
que havia sido precisamente o objectivo da sua ligação com ele» (Xenofonte, Memoráveis,
I, 2, 12). CRÍTON -
Este velho amigo de infância, que via em Sócrates o seu guia espiritual e o
preceptor dos seus filhos, foi talvez, como afirma Platão, o delegado dos
conspiradores que arquitectaram o plano de fuga. Eram-lhe atribuídos «dezassete
diálogos reunidos num único volume». DIÓGENES DE SINOPE
(400-325 a.C.) - Reencarnação caricatural de Sócrates, que aliás
só conheceu através dos discursos do seu mestre Antístenes, ao que consta um
tanto embaraçado com este «cão» um pouco incómodo, Diógenes ficou célebre
pelas múltiplas excentricidades que nos transmite Diógenes Laércio (Vida
... VI, 2), cujo gosto pelos mexericos se expandiu alegremente à sua custa.
Algumas dessas excentricidades são célebres e esclarecedoras: (o tonel, a taça,
«afasta-te, não me tapes o sol», «procuro um homem»...), outras, obscenas
ou escatológicas, são-no menos. ÉSQUINES DE ESFETO
- Se a sua obra tivesse chegado até nós é possível
que tivessem poupado milhares de teses aos investigadores em busca de
especialização universitária. Porque este amigo dedicado, testemunha
abandonará no processo (Apologia,
33e) que acompanhou as últimas horas do condenado (Fédon,
59b), escreveu sete «diálogos socráticos» (Alcibíades,
Aspásia, Cálias, Milcíades, Rinon,
Axíoco, Telauges) que aos
olhos dos Antigos constituíam os retratos mais fidedignos do carácter do
mestre. (Não confundir com o orador Ésquines, rival de Demóstenes.)
Consta que este socrático vinha de longe (não devemos confundi-lo,
evidentemente, com o seu homónimo matemático), desafiando a lei da sua pátria
em guerra fria com Atenas, evadindo-se de noite de Mégara, vestido de mulher,
para vir escutar Sócrates, foi seu discípulo.
Contudo, pouco se sabe sobre este homem, que passava por ser sensível e
generoso (aparece no prólogo do Teeteto
e assiste às últimas horas do mestre no Fédon)
e que devia ter conquistado suficientemente a confiança de Sócrates a ponto de
lhe oferecer refúgio na sua Cidade, em caso de evasão. A escola que Euclides
fundara em Mégara parece ter sofrido uma «dessocratização» ao longo do século
IV, transformando-se num dos mais brilhantes centros de difusão da investigação
lógica. FÉDON -
Imortalizado
pelo diálogo de Platão que apresenta o seu nome, era o fiel predilecto, cuja
cabeleira Sócrates acariciava e que ele prometeu cortar em sinal de luto (Fédon,
89 a-b). Conta-se acerca dele uma história confusa e recambolesca: príncipe de
estirpe nobre, teria sido prisioneiro por inimigos implacáveis, vendido como
escravo por temíveis piratas, obrigado a prostituir-se num horrível lupanar de
onde teria fugido rapidamente antes de entrar providencialmente em contacto com
Sócrates, que o salvou da escravidão e graças a quem entrou na filosofia para
não mais voltar a sair. GÓRGIAS DE LEONTINO (
483-375 a.C.) -
Um dos grandes sofistas da primeira geração; herdou da sua Sicília natal os
seus dotes de orador, que punha em prática em aparatosos discursos de estilo
floreado (os «gorgianismos»). Menos filósofo mas mais corrosivo que Protágoras,
seu rival contemporâneo, desprezava os «professores de virtude» (Ménon,
95 c) e subordinava o seu ensino ao ensino da arte e da teoria da linguagem. O
encontro de Górgias com Sócrates (que, em princípio, o Górgias
de Platão nos relata) pode ter ocorrido em 427 (a.C), quando, na qualidade de
embaixador da sua Cidade, veio pedir o apoio de Atenas contra Siracusa. A sua
personalidade, o seu estilo e o seu talento de orador deixaram uma marca indelével
na juventude e nos escritos atenienses. HÍPIAS DE ÉLIS -
Este hábil mestre da sofística é-nos mais familiar através dos diálogos de
Platão com o seu nome do que através dos raros fragmentos dos seus discursos
que chegaram até nós. Desprezado durante muito tempo por ser o sabichão imbatível,
o campeão de eloquência dos Jogos Olímpicos, o inventor de uma mnemotécnica
impossível de fixar (Hípias Menor,
368 d), o rei dos subterfúgios que constrói toda a sua bagagem teórica de
argumentação, em suma, o indivíduo enfatuado que tradicionalmente se opõe ao
indivíduo inteligente (Sócrates), Hípias beneficiou da vaga geral de
reabilitação do movimento sofista.
Platão
nasceu em Atenas ( ou em Égina) em 428/427 a.C. O seu verdadeiro nome era Aristócles,
nome do seu avô, sendo Platão um alcunha que lhe foi atribuído por ter testa
e ombros largos ( platus, significa em grego largo).
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XENOFONTE |
Um dos mistérios de Sócrates é o de, já velho, ter conseguido cativar este
jovem aristocrata, grande apreciador de cavalos e da vida militar. Foi
discípulo de Sócrates. Um dia o
impetuoso jovem, atraído pelos horizontes distantes, pretendeu alistar-se como
«repórter» no exército do rei da Pérsia; o seu mentor pareceu discordar, mas
apesar de tudo mandou-o consultar o oráculo de Delfos. Mais astuto que devoto, o
jovem iludiu as respostas e acaba por partir (Anábase, III, 145). Muito mais tarde, após vários anos de errância
mercenária, o aventureiro dos mares regressa ao lar; o reencontro de antigos
companheiros recorda-lhe então a sua juventude de estudante e encoraja-o a
colocar dignamente a sua língua clássica ao serviço da memória do seu velho
mestre: daí a Apologia de Sócrates,
o Banquete e os Memoráveis.
No século III a.C. o médico céptico Sexto Empírico
formulou bem o problema das relações do mestre e do discípulo numa argumentação
por vezes sofística mas de que é possível tirar reflexões significativas.
Para Sexto Empírico das duas uma: ou a matéria a ensinar é clara e neste caso
ela não tem necessidade de ser ensinada, ou é obscura e neste caso não pode
ser ensinada. Por outro lado como é que pode haver ensinamento de um mestre a
um discípulo? Com efeito ou bem que o hábil ensina o hábil, mas então este não
tem de modo algum necessidade daquele, ou bem que o hábil ensina o inábil, mas
então ou a coisa é para todo o sempre impossível e o discípulo, pois que inábil,
não estará apto a receber o ensinamento do mestre, ou bem que a coisa é possível
e é então a marca de que o inábil era na realidade hábil e não tinha por
conseguinte necessidade de um mestre. A conclusão de Sexto é que: «Se não há
nem matéria ensinada, nem mestre, nem discípulo, nem método de ensinamento, não
há também nem instrução nem ensinamento», nem matéria a ensinar. Podemos
mesmo ir mais longe e dizer que também não há mesmo diálogo possível, que já
só há indivíduos de pé uns em frente dos outros não podendo comunicar entre
si e não tendo finalmente outro meio de conhecimento senão o do recurso à força
da qual se vão defrontar.
O mestre não é aquele que transmite uma ordem de conhecimento a um
aluno mais ou menos receptivo, o mestre não é essa personagem racionalista que
ensina qualquer coisa a um aluno empirista, no decurso de uma espécie de monólogo
em que um fala enquanto que o outro regista. Sócrates recusou ser um mestre que
ensinava; ele não cessava de dizer e de repetir que nada sabia; no diálogo socrático
não tratamos com um mestre que comunica qualquer coisa a um aluno; tratamos com
dois homens que comunicam entre si, o diálogo faz surgir duas consciências em
pé de igualdade na medida em que as duas são consciências que procuram e que
se procuram. É por isso que não encontramos em Sócrates nenhum ensinamento
dogmático que a história tenha podido conservar a transmitir-nos.
Sócrates convidava pois o discípulo a uma viragem do avesso de si próprio,
a uma «conversão», curando-o dos divertimentos múltiplos ao longo dos quais
não podia senão perder-se desviando-se do essencial. Assim Sócrates nunca se
fez passar por um mestre. Ora, ele encontrou constantemente interlocutores que se
tomavam por mestres e que, como o célebre sofista Hípias, pretendiam que conhecem
todas as coisas e que eram capazes de tudo ensinar a quem quisesse ouvi-los e
pagar as suas lições; o objectivo do diálogo socrático, que muito
frequentemente acabava com um ponto de interrogação, era precisamente o de
permitir a Sócrates destruir o mestre no discípulo de forma a fazer nascer
neste o desejo de um verdadeiro mestrado interior, conduzindo-o à autonomia que
só o «conhece-te a ti próprio» lhe podia conferir.
Com certeza que a maioria de nós já ouviu ou leu algures a frase:
Trata-se
de uma frase célebre da autoria de Sócrates, que curiosamente se encontra numa
das estações do metropolitano de Lisboa. Esta estação possui inclusivamente
uma imagem de Sócrates representada em azulejo:
Imagem de Sócrates em azulejo:
Em relação à frase já mencionada aparece a seguinte imagem:
Imagem da frase célebre de Sócrates:
Se é sem dúvida positivo homenagear Sócrates desta
maneira, também é legítimo salientar que Sócrates nada escreveu, e portanto
não pode ser considerado como autor da frase. Torna-se imprescindível perceber
que tudo o conhecemos de Sócrates foi-nos dado a conhecer fundamentalmente
pelas obras de Platão, Xenofonte e Aristóteles. Há que evitar
confusões!
Se quiser consultar mais informação sobre a não existência de obras realizadas por Sócrates, consulte o Problema de Sócrates que se encontra no índice. |
Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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