Agostinho da Silva



 

"Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles forem meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar a mim não teríamos talvez dois corpos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem."

Agostinho da Silva, "Cartas a um jovem filósofo"

 

 

Agostinho da Silva nasceu a  13 de Fevereiro de 1906  no Porto, tendo crescido em Barca de Alva. Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto tirou o curso de Filologia Clássica - tendo antes frequentado o curso de Românicas - com 20 valores. Fez o doutouramento - O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas - com o « maior louvor ». Uma bolsa de estudo leva-o então até à Sorbonne a ao Collège de France.

De regresso a Portugal foi professor no liceu José Estêvão em Aveiro, em 1933. Entusiasta, empenha-se muito para além das funções que lhe eram exigidas. «Tinha criado, por exemplo, uma caixa de apoio aos estudantes» mais pobres e outras acções «incómodas» aos olhos do Estado Novo.

Apenas dois anos depois de entrar para o ensino público, é exonerado, por se recusar a assinar a Lei Cabral (obrigatória para os funcionários públicos). Um documento onde tinha que jurar não pertencer a nenhuma sociedade secreta isto é, assinar uma declaração em que garantisse não pertencer a qualquer organização secreta. Apesar de não pertencer a nenhuma organização desse género, Agostinho da Silva recusou-se a assinar tal documento. 

Agostinho da Silva começa a dar aulas no ensino privado e explicações particulares. Mário Soares e Lagoa Henriques foram alguns dos seus alunos.

Em 1944, foi excomungado pela Igreja Católica, facto que o levou a abandonar Portugal para se fixar no Brasil, país onde desempenhou funções e ocupou cargos importantes no domínio da investigação histórica, mantendo sempre ligações de docente com universidades brasileiras, do Uruguai e da Argentina.

Em 1976, Agostinho da Silva, com naturalidade brasileira há mais de 20 anos, decidiu voltar a Portugal. Com direito a uma pensão de aposentação, decidiu, ainda em 1976, criar o Fundo D. Dinis para atribuição do prémio com o mesmo nome, prémio D. Dinis.

Para além de professor, filósofo e investigador, Agostinho Baptista da Silva notabilizou-se como grande escritor da língua portuguêsa. No seu currículo constam mais de 60 obras, muitas delas publicadas durante a sua permanência no Brasil. Agostinho da Silva morreu em 3 de Abril de 1994, com 88 anos de idade. 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt