A familia Bernoulli
A família Bernoulli constitui um caso intrigante e raramente visto na História da Humanidade, em particular na História da Matemática, de conjunto de oito eminentes matemáticos que, durante um século, manifestaram especial vocação para a matemática.
Oriunda da Suíça, reza a história que o pai daqueles que viriam a
constituir a célebre família de eminentes matemáticos residia originalmente
em Antuérpia, na Bélgica. O progenitor da família terá sido forçado a abandonar o
país por ser Protestante. Estabelecido em Basileia, aí contraiu matrimónio com uma senhora de uma das grandes famílias de banqueiros e
conselheiros da cidade tendo-se tornado mercador de sucesso e
oficial da cidade.
Em conformidade com esta situação profissional, o futuro dos jovens Bernoullis estava previsto passar pelo negócio familiar.
Porém, em cada caso, assim acaba por não acontecer. O regime parece ter sido muito semelhante para todos os
Bernoiulle. Porque não revelavam inclinação para
o negócio a que estavam destinados, eram admitidos na Universidade
onde, em geral, começavam por frequentar cursos de Magistratura ou Medicina.
Só mais tarde, perante a manifestação de grande interesse pela Matemática,
acabavam por se dedicar a essa disciplina.
Felizmente para a humanidade, mas contra a vontade de seus pais!
De entre os imensos contributos desta assinalável família é de destacar o
contributo decisivo que deram na área do cálculo. Há ainda que lhes
agradecer terem sido os professores de tão ilustres matemáticos como Euler ou L´Hopital
e de terem participado activamente na comunidade matemática e na discussão científica da
sua época.
Segue-se uma breve biografia dos
mais proeminentes membros da família Bernoulli.
Jacob I (1654 - 1705)
Foi compelido a estudar Filosofia e Teologia pelos seus pais, tendo-se graduado na Universidade de Basileia como mestre em Filosofia em 1671 e licenciado em Teologia em 1676. Contra a vontade de seus pais, estudou Matemática e Astronomia, tendo ministrado a cadeira de Matemática em Basileia até à data da sua morte. Juntamente com o seu irmão Johann I, estudou e difundiu na Europa o cálculo de Leibniz. Apesar de nunca ter feito nenhuma publicação, deixou vários artigos nos jornais científicos da época, um imprtante diário - Meditationes - e uma obra inacabada - Ars Conjectandi.
Johann I (1667 - 1748)
Tal como o seu irmão Jacob,
apesar de ter estudado Medicina, o seu interesse pela Matemática falou mais alto
tendo sido iniciado em matemática pelo seu irmão Jacob. Apesar desta relação inicial, a vida
destes dois homens está marcada por intermináveis quezílias e disputas
científicas. Também com o seu filho Daniel não conseguiu evitar
conflitos existindo mesmo relatos de que acabou por o expulsar de casa no
advento de uma disputa científica. Conta-se ainda que terá obrigado o filho Daniel a
partilhar com ele a glória de uma das suas descobertas.
Johann I Bernouille foi um dos mais bem sucedidos matemáticos da sua época,
justificando-se assim o ser frequentemente apelidado de Aristóteles do Século XVII.
Aquando da morte do seu irmão Jacob, ocupou a cadeira de Matemática na Universidade de
Basileia até à data da sua própria morte. Anteriormente tinha sido professor de
Física e Matemática em Groenigen. As suas areas de maior interesse foram o estudo das propriedades da luz,
as famílias de curvas, tal como o problema de Braquistócrone, a quadratura de áreas e
as séries.
Nicolau I (1687 - 1759)
Estudou
matemática com os seus tios Jacob e Johann. Foi o próprio Jacob que
supervisionou a sua graduação, terminada
em 1704, como mestre na Universidade de Basileia onde, cinco anos mais tarde, recebeu o doutoramento. Viajou pela Europa onde
conheceu e trabalhou com Montmort e
Moivre. Acabou por regressar a Basileia
em cuja universidade ministrou as disciplinas de Direito e Lógica.
Nicolau I era um matemático bastante dotado mas não muito produtivo. Como
consequência muitos dos seus importantes descobertas estão espalhadas na
sua correspondência, que ascende a 560 textos. A mais significativa parte da sua
correspondência com Montmort, entre 1710 e 1712, está publicada na obra
Essai
d’analyse sur les jeux de hazard (Paris, 1713).
Nicolau II (1695 - 1726)
Nicoulau II entrou para a
universidade de Basileia apenas com 13 anos de idade, formou-se em
Jurisprudência e, como muitos membros da
sua família, acabou por estudar Matemática. Foi
chamado para a Academia de São Petersburgo. Infelizmente morreu passados apenas
oito meses.
Esteve envolvido na famosa disputa entre Newton e Leibniz. As suas
áreas de interesse preferencial foram curvas, equações diferenciais,
probabilidades e teoria fundamental de álgebra.
Daniel (1700 - 1782)
Daniel
entrou para a Universidade de Basileia aos 13 anos para estudar Filosofia e
Lógica. Obteve o grau em mestre em 1716. A sua educação em Matemática começou
com o seu irmão mais velho Nicolau com quem se voltou a cruzar quando, em 1725,
foi designado para a Academia de São Petersburgo. Sete anos após a morte do seu
irmão, regressou a Basileia onde foi professor de várias disciplinas
matemáticas. Daniel foi grande amigo de Euler
tendo os dois mantido uma proveitosa colaboração e intercâmbio de ideias em
que, frequentemente, Euler usava a sua
extraordinária capacidade analítica para dar forma rigorosa às
ideias de Daniel.
Daniel teve a honra de ganhar por dez vezes a distinção da Academia Francesa.
Entre os seus estudos contam-se trabalhos sobre cálculo e equações diferenciais,
probabilidades e uma tentativa de explicar a teoria cinética dos gases.
Johann II
(1710 - 1790)
O mais novo dos três filhos de
Johann I. Começou por estudar Direito tendo obtido em 1727 o
doutoramento em Jurisprudência. Trabalhou com o seu pai em matemática mas também como investigador independente.
Recebeu por quatro vezes distinções da Academia de Paris. Quando o seu pai
morreu, foi-lhe designada a disciplina de Matemática na Universidade de
Basileia. Estudou prioritariamente a luz e o calor.
Johann III (1744 - 1807)
Considerado um prodígio
desde pequeno, obteve o grau de doutor em Direito quando tinha apenas 14 anos.
Como todos os Bernoulli, interessou-se por Matemática e foi chamado pela
Academia de Berlim aos 19 anos. O rei Frederico II chamou-o para dirigir o
observatório astronómico da Academia, tarefa para a qual não estava
adequadamente preparado. Assim, a maior parte das suas obras recaíram sobre
Astronomia mas nunca atingiram grande fama nem glória.
As suas àreas de maior interesse foram Probabilidades, Recorrência
Decimal e a Teoria das Equações.
Jacob II (1759 - 1789)
Como outros Bernoulli,
estudou Direito e enveredou pela Matemática. Em 1782 candidatou-se à cadeira de
Física na Universidade de Basileia, quando Daniel morreu. Acabou por não
conseguir e mudou-se para Turim e Veneza acabando por se fixar em São
Petersburgo.
Aí escreveu importantes trabalhos sobre Física Matemática, referentes a
elasticidade, hidrostática e balística. Morreu em São Petersburgo, afogado nos
rios e canais daquela a que chamam a Veneza do Norte.