O ponto da Bauhütte

Depois de Almada Negreiros, foi Lima de Freitas quem se dedicou ao estudo deste fascinante traçado geométrico: o Ponto da Bauhütte. No seu livro Almada e o Número, Lima de Freitas desvenda-nos todo o mistério deste ponto secreto, bem como a sua origem e simbolismo:

"A Bauhütte foi uma federação ou associação autónoma e secreta que uniu as lojas de pedreiros e construtores do Santo Império Germânico, incluindo as da Suiça e dos países limítrofes de língua germânica"

(Lima de Freitas, 1990, p.45)

    Como os pedreiros viajavam de obra para obra, o ponto da Bauhütte servia de senha para identificar e creditar a competência do obreiro.

    No entanto, a que enunciado deveria responder este traçado misterioso?

"o «Ponto da Bauhütte» é aquele a que se refere uma quadra transmitida tradicionalmente pelos entalhadores de pedra da época gótica e que fala de:

 «um ponto que está no círculo e se coloca no quadrado e no triângulo: conheces este ponto? Tudo irá bem. Não o conheces? Tudo será em vão»

(Lima de Freitas, 1985, p.174)

    Foi o próprio Almada Negreiros que traduziu esta quadra popular que Mössel encontrou no folclore germânico. Em suma, o Ponto da Bauhütte era um ponto interior ao círculo que determinava o quadrado e o triângulo equilátero inscritos.

Eis o traçado de Almada Negreiros:

    Segundo Lima de Freitas, o ponto encontrado por Almada Negreiros e que representou no painel Começar no átrio  da Gulbenkian, não responde totalmente à quadra dos entalhadores da Bauhütte:

"o traçado achado por Almada para determinar o ponto da Bauhütte constitui, quanto a mim, uma meritória aproximação, mas não responde inteiramente às exigências postuladas pela célebre quadra (...) O ponto de Almada comanda, de facto, a construção do quadrado e do triângulo no círculo, contudo não está no círculo; por outro lado, o triângulo obtido não é equilátero e não corresponde, portanto à perfeição do Três."

(Lima de Freitas, 1990, p.55)

   Muitos anos depois da morte de Almada Negreiros, Lima de Freitas descobriu o ponto que correspondia às exigências da quadra:

 

     Tal como Platão dizia « tendo a alma aprendido tudo sem excepção, nada impede que, relembrando uma única coisa, exactamente aquilo que queremos aprender, reencontraremos também todo o resto, sob a condição de sermos valentes e de não nos deixarmos desanimar na busca» (Platão cit in Lima de Freitas, 1990, p.56) podemos afirmar que Almada relembrou muita coisa, voltou frequentemente ao mundo das ideias e, apesar de não ter encontrado o seu ponto, não desistiu da sua busca, apenas a interrompeu por motivos de ordem maior...

Almada Negreiros faleceu dois anos depois de Começar...

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt