O
Hotel Infinito, situado em Infinitópolis, tem um número infinito de quartos,
um por cada número inteiro, estando numerados de 1 até ao infinito. Um dia,
estando os quartos todos ocupados, chegou um viajante que pretendia pernoitar
nesse hotel.
Empregada:
Desculpe, mas vai ser impossível hospedá-lo. Estamos esgotados.
O
viajante pediu para falar com o gerente do hotel, para tentar arranjar uma solução,
visto que não existia mais nenhum hotel em Infinitópolis.
Gerente:
Realmente, não temos vagas, mas eu vou arranjar-lhe um quarto.
Mandou
mudar todos os hóspedes de cada quarto para o quarto com o número seguinte,
deixando assim o quarto 1 vago para o viajante.
No
dia seguinte apareceram 5 casais em lua-de-mel, pedindo quartos. A empregada
mandou então mudar os hóspedes de cada quarto para o quarto com um número
superior em 5 unidades, deixando os primeiro 5 quartos vagos para os 5 casais
recém-chegados.
No
dia seguinte chegou uma excursão com um número infinito de turistas, tantos
quantos os números inteiros, pedindo alojamento. A empregada ficou atrapalhada:
Empregada:
Sr. Gerente, já percebi como é que no Hotel Infinito se resolve o problema
sempre que há um número finito de novos hóspedes; mas será possível
arranjar espaço para um número infinito deles, isto é, tantos quantos os
quartos que temos já ocupados?
Gerente:
Claro! Mudamos os hóspedes de cada quarto para outro com um número duas vezes
superior!
Empregada:
Claro! Desse modo mudamos os hóspedes todos para os quartos com número par, o
que deixa vagos todos os quartos com número impar, que são em número
infinito, tantos quantos os turistas!
Nenhum
conjunto finito pode ser posto em correspondência biunívoca com um dos seus
subconjuntos, no entanto o mesmo não se passa quando estamos a tratar de
conjuntos infinitos. De facto, podemos definir matematicamente os conjuntos
infinitos como sendo precisamente aqueles que podem ser colocados em correspondência
biunívoca com alguns dos seus subconjuntos.
Neste
caso, o gerente do hotel começou por provar que o conjunto de todos os inteiros
pode ser posto em correspondência biunívoca com um dos seus conjuntos de modo
a deixar de fora 1 e depois 5 elementos. Como é óbvio, este processo pode ser
modificado de maneira que sobre o número finito de elementos que desejamos.
A manobra final do gerente disponibilizou
um número infinito de quartos, mostrando como o resultado de subtrair infinitos
de infinitos continua a ser infinito. Colocando os números naturais em
correspondência biunívoca com os números pares, continua a manter-se
um conjunto infinito de números inteiros, a saber, o conjunto dos números
impares.
Já foi referido que Cantor designou a cardinalidade dos inteiros por
À0, que coincide com a cardinalidade dos números pares e dos números ímpares.
Assim sendo, vamos ter que, como o conjunto dos inteiros é a reunião do
conjunto dos pares com o dos ímpares, À0+À0=À0!
O que está subjacente ao raciocínio do gerente do Hotel Infinito é que: À0-À0=À0! Que é apenas uma das muitas estranhas propriedades que têm estes números...
Algumas das propriedades que regem este números são, por exemplo:
À0+1=À0 ; À0+À0=À0 ; À02=À0 ; ... |
Apesar destas propriedades nos parecerem pouco naturais, conduzem a uma versão consistente da aritmética para números infinitos.
Veja-se abaixo algumas das regras que regem os números infinitamente grandes (ig's) e os infinitamente pequenos (ip's):
ip + ip = ip ; ip x ip = ip ; ig + ig = ig ; ig x ig = ig ; ip + ig = ig ; 1 / ig = ip; 1 / ip = ig (se ip ≠ 0) ; etc. |