O FASCÍNIO DOS INFINITÉSIMOS

 

Parece existir qualquer coisa fantasticamente atraente no infinito, nos processos infinitos e nos infinitésimos que leva a discussões apaixonadas e apaixonantes, que nunca se esgotam.

Podemos encontrar "vestígios" de infinitos e infinitésimos por toda a parte, tanto na nossa maneira de falar como de pensar:  instantes ou momentos de tempo, demorar uma eternidade, velocidades instantâneas, a ideia de uma curva como uma série de segmentos de recta infinitamente pequenos, velocidades infinitas...

 

O tema do infinitamente grande foi já amplamente tratado, defendido e contestado. Vejamos agora a forma apaixonada como Georges Reeb fala da questão do infinitamente pequeno, ou infinitesimal:  

O sonho de um cálculo infinitesimal merecedor desse nome, isto é, no qual dx e dy sejam números infinitesimais, ab f(x) dx seja uma soma genuína de tais números e os limites sejam atingidos, tem sempre sido sonhado pelos matemáticos; e um tal sonho merece talvez um inquérito epistemológico.

Outros sonhos, talvez menores, quando comparados com as conquistas do cálculo, têm assombrado o mundo dos matemáticos e dos seus desejos: é a ideia de um mundo onde os inteiros possam ser classificados como “grandes”, “pequenos” ou até “indeterminados” sem perda de um raciocínio consistente, satisfaçam o princípio de indução e os sucessores de inteiros pequenos permaneçam pequenos; um mundo onde conjuntos concretos, talvez difusos, mas, de qualquer modo, não finitos, pudessem ser agrupados num só conjunto finito; um mundo onde fracções contínuas seriam aproximadas quase perfeitamente por polinómios de grau fixo.

Num mundo como este, o domínio do finito poderia ser explorado, quer através do telescópio, quer através da lupa, de maneira a obterem-se imagens completamente novas. Dentro de um tal mundo, o critério de rigor estabelecido por Weierstrass, interpretado de duas maneiras, poderia dar origem à fantasia e à metáfora.

(...) Deveria haver uma cadeia infinita unindo um qualquer macaco a Darwin, respeitando as regras: o filho de um macaco é um macaco, o pai de um homem é um homem.

(Reeb, cit in Stewart, 1996, p. 85)

 

 
Terá Cantor podido antever parte deste mundo maravilhoso?... Talvez sim, talvez não, mas colocou-nos a todos muito mais próximos de tal paraíso, tal como Hilbert defendeu.