Números Imaginários, o que é isso?
A
primeira ideia que nos ocorre ao ouvirmos alguém mencionar números
imaginários, é de que são números que não existem, que fazem
parte dum mundo de fantasia. Algo que é criado por nós mesmos no
nosso subconsciente. Talvez prevaleça a ideia de que cada um de nós faz
a sua própria representação de um determinado tipo de números. Ou
melhor, cada um de nós representa o número consoante a nossa imaginação.
Pois bem... não é isso
o número imaginário.
Antes de
explicar o que é o número imaginário, será
melhor reflectir sobre a representação que nós fazemos de número em
geral. Ou
seja, até que ponto é algo que foi inventado ou construído pelo homem,
ou se este existe independentemente do mundo e do sujeito.
A origem do conceito de número surgiu como expressão de uma
quantidade de elementos, isto é, como resultado do processo de contar.
Mas com o decorrer dos tempos, a definição foi sofrendo alterações, já
que do conceito original se iam obtendo novas definições e interpretações
mais gerais. O conceito de número é de fundamental importância na Matemática,
pois pode dizer-se que esta
“(...) ciência nasce com a descoberta (...) [dos números] e a sua
evolução está ligada ao seu desenvolvimento e estudo; por outro lado, o
conceito de número é a primeira abstracção da realidade na história
da humanidade.” (Moderna Enciclopédia Universal, vol. XIV, p. 69).
Da natureza do número, há quem defenda que o número é uma
ideia. O número não é um símbolo escrito como 2 ou dois,
é uma ideia que é simbolizada por 2 ou dois. É algo
inatingível. É algo que só existe mentalmente, e quando falamos ou
escrevemos o número, parece-nos mais alcançável ou real, mas é apenas
a representação de uma ideia. A representação dos primeiros números,
os naturais, surgiu para responder a questões de
quantidades. Os números mais pequenos que são reconhecidos são
1,2,3,4,5 e 6. Os restantes são obtidos através da soma ou produto
destes.
Mas, os números não se reduzem aos naturais. A criação de números mais sofisticados, teve a mão do Homem pois as exigências quotidianas a tal o obrigaram. Com isto, surgem os números negativos e o zero, dando lugar aos números inteiros. Como era algo novo houve alguma relutância em aceitar a existência de números negativos, números que são inferiores ao zero, ao nada. Mas, as diversas utilidades que estes proporcionaram, ajudaram à aceitação. Digamos que, no senso comum, não é muito usual falar em –2 flores. No entanto, ao falarmos de temperaturas negativas, saldos bancários negativos, entre outros aspectos do dia-a-dia, já nos parece credível aceitar a existência de números negativos.
O surgimento dos números fraccionários ou racionais provocou alguma dificuldade. O seu significado é facilmente compreendido, já que estão intimamente ligados à vida real e à linguagem quotidiana. Intuitivamente, temos a ideia de fracção ligada a algo que é repartido: meia garrafa, um quarto de laranja, um terço do terreno, etc. Contudo, a sua representação suscitou algumas barreiras. Estes números são, fundamentalmente, a exteriorização de conceitos abstractos que representam a razão entre as quantidades de dois conjuntos.
O conjunto dos números reais é constituído pelos naturais, inteiros, racionais e irracionais e possui à seguinte definição de número real “(...) é uma distância, medida em termos de uma dada unidade, com um sentido que lhe é conferido pelo sinal.” (Conway, 1999, p.230).
Essencialmente, com o correr dos tempos e à medida que se tornava necessário, cada um dos conjuntos dos números abordados foi surgindo como uma ampliação do conjunto anterior. Desta forma, o raciocínio feito até aqui leva-nos a pensar que os números são representações criadas pelo homem. O conjunto dos números complexos não é excepção.
O conjunto dos complexos é uma ampliação dos números reais, ou seja, do conjunto R. E é com este alargamento que vai ser possível resolver equações do tipo
x2 + a = 0, com a > 0
Mas antes de falarmos concretamente destes números, devemos definir o que é a unidade imaginária i.
Quando resolvemos a equação
x2 + 1 = 0
aplicando o método geral da resolução da equação deste género, temos
x2 = -1 Û x = ±Ö (-1)
Mas como não conhecemos raízes quadradas de números negativos, tornou-se necessário inventar um número cujo quadrado seja igual a –1. Este número é designado por i.
Assim, podemos escrever que
i = ±Ö (-1)
e de acordo com a definição dada, i2 = -1.
Além disto, o conceito de unidade imaginária é ampliada para os seus múltiplos. Por exemplo,
x = ±Ö
(-9) Û
x = ±
3i.
Assim, o homem foi capaz de produzir ou criar um número que até então era uma barreira inultrapassável no cálculo de raízes com números negativos.
Por outro lado, o surgimento destes números teve como engenho, a necessidade de calcular distâncias no plano cartesiano, sem ser da esquerda para a direita e vice-versa, ao longo de uma dada linha (no caso da recta real). Então, esta procura levou à criação dos números complexos. Estes números, cuja notação é
z = a + ib
são constituídos por uma parte real (a) e uma parte imaginária (b).
Desta forma, é possível ao homem representar distâncias entre dois pontos quaisquer do plano, sem se preocupar com a direcções que toma. Ou seja, definem-se números complexos “(...) como distâncias ao longo de direcções arbitrárias num plano fixado.” (Conway, 1999, p. 230).