INTRODUÇÃO
O solo é um dos bens mais preciosos da Humanidade. Permite a vida dos
vegetais, dos animais e do homem à superfície da Terra.
in «Carta Europeia dos Solos» (extraído)
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O solo, sendo a camada mais superficial da Terra, é imprescindível ao
desenvolvimento de muitos seres vivos, principalmente das plantas, pois possui uma grande
variedade de minerais e outras substâncias necessárias à sua alimentação. O solo possui também
recursos hidrológicos necessários à existência de todos os seres vivos. Todos os solos derivam
directa ou indirectamente das rochas - rochas-mãe - que se vão
quebrando em fragmentos sucessivamente mais pequenos, num processo designado
meteorização, por acção de agentes erosivos, internos e externos
(clima, relevo, temperatura e alguns organismos). À medida que esta avança, a rocha vai-se
fragmentando e alterando quimicamente, até estar formada uma camada de solo. No entanto, este
processo resulta na formação de matéria mineral não consolidada, não podendo considerar-se solo
enquanto nele não existir matéria orgânica. Os agentes erosivos, já referidos, modificam o
solo continuamente por vários processos, entre os quais se destacam a desintegração
física, que desagrega as rochas, convertendo-as em pó ou em grãos de menor tamanho, devido,
principalmente, às variações da temperatura, que provocam grandes tensões no interior das rochas;
a desintegração química, que se produz em presença da água líquida e se deve ao ataque dos
minerais por simples dissolução dos sais solúveis, ou por hidratação e posterior hidrólise. A
fixação inicial de determinados organismos vivos, como líquenes e cianobactérias, também
contribui para a desintegração de uma rocha-mãe e, consequentemente, para a formação do solo.
O solo é anisotrópico em profundidade e é constituído por camadas designadas por horizontes, cujo
conjunto forma aquilo a que se chama perfil do solo, o qual demora
milhões de anos para se formar. Apesar da designação dos diferentes horizontes, o mais vulgar é
designá-los pelas letras do alfabeto. Os processos de formação e desenvolvimento do solo
diferem conforme os factores de formação nele actuantes, e a sua intensidade é condicionada pelas
relações ambientais. Como foi referido, o solo é muito importante na vida das plantas, pois é
nele que elas vão encontrar o substrato natural que protege alguns dos seus órgãos e donde
retiram as várias substâncias necessárias ao seu desenvolvimento. Outros organismos vivos, como
os fungos, bactérias e alguns animais (como por exemplo as minhocas), utilizam o solo como
habitat. Uma grande parte destes seres vivos designam-se por
decompositores, os quais são responsáveis pela degradação da matéria
orgânica, proveniente da decomposição de restos de animais e plantas, em matéria mineral, sendo
esta utilizada, novamente, pelas plantas completando-se assim um ciclo. Os decompositores são os
responsáveis pela formação do húmus, que é uma fase do solo de grande actividade em que a matéria
orgânica está parcialmente decomposta. Para além da matéria orgânica e da matéria mineral, que
também é originada a partir da desagregação das rochas, o solo é constituído por ar e água em
quantidade variável e distribuídos por todos os espaços livres deixados pela matéria orgânica e
mineral. Varia também na quantidade e no tamanho das partículas de que é composto e da maneira
como estas partículas estão estruturadas. Assim, o solo apresenta várias características das
quais se destacam a textura, a estrutura, a permeabilidade e a capacidade da retenção da água e
do ar. A textura é caracterizada pela proporção relativa das areias, limos e argilas
existentes no solo. É uma característica variável consoante o local onde nos encontramos, a qual
não se modifica facilmente ao longo dos anos. Pode ser classificada em solos arenosos, limosos,
argilosos e francos ou barrentos. A estrutura de um solo corresponde ao arranjo dos seus
constituintes sólidos. Ambas as características são responsáveis pela determinação da
porosidade de um solo (volume ocupado pelos poros) que condiciona a
circulação da água e do ar e a penetração das raízes. Nem todos os solos se deixam atravessar
pela água com a mesma facilidade. Os poros de dimensões maiores tornam mais fácil a circulação de
água e de ar, enquanto que os poros de menores dimensões permitem a retenção da água. A
circulação da água tem grande importância pois é nela que certas substâncias se dissolvem,
nomeadamente os nutrientes imprescindíveis à vida vegetal. Quando os solos são submetidos a
uma forte evaporação as substâncias dissolvidas precipitam à superfície dado que a água tem uma
deslocação ascendente. A água pode-se também encontrar adsorvida à superfície das partículas
que nele existem ficando retida pelas mesmas, não podendo ser utilizada pelas plantas. Quanto
mais facilmente a água atravessa um dado solo - permeabilidade - menor
será a quantidade de água retida e indespensável à vida dos seres vivos. Assim, há solos que:
- não retêm a água, tornando-se demasiado secos - são os solos
permeáveis;
- retêm a água em excesso, formando com ela uma pasta. Tornam-se lamacentos quando recebem água
e demasiado duros, secos e estaladiços quando a perdem - são os solos
impermeáveis;
- retêm uma certa quantidade de água entre as suas partículas, mas permitem que a água em
excesso os atravesse - solos semi-permeáveis.
Sabe-se que a água do solo está sempre a deslocar-se e a renovar-se. A quantidade de água
presenteno solo depende da sua permeabilidade bem como de outros factores, tais como, a
pluviosidade, infiltração, evaporação e a utilização de água pelos seres vivos. Assim, a água
existe em quantidade variável nos solos sendo, no entanto, substituída regularmente. Existem
portanto vários tipos de solo:
- Solos arenosos, os quais possuem matéria mineral em que quase toda
ela é constituída por areia e são considerados solos muito secos e pobres.
- Solos argilosos, que são os que têm uma predominância de argila,
sendo muito pegajosa ao tacto e difíceis de trabalhar. Retêm muita água mas também secam muito
facilmente, tornando-se então muito duros e abrindo fendas, quando excessivamente secos.
- Solos agrícolas, que para além de outros constituintes, têm areia
e argila em proporções tais que os tornam macios ao tacto, bem arejados, fáceis de trabalhar e
férteis.
- Solos limosos, contêm uma grande quantidade de limo, aparecendo em
menor quantidade a areia e a argila. É um solo muito suave, causando uma sensação parecida ao
toque da seda.
Assim, pode-se estabelecer uma ligação entre a permeabilidade do solo e o seu tipo. Os solos
permeáveis correspondem aos solos arenosos pois estes possuem muitos espaços entre as partículas
deixando-se atravessar pela água com relativa facilidade. Os solos impermeáveis correspondem aos
solos argilosos pois como as partículas constituintes são muito pequenas unem-se umas às outras
deixando muito poucos espaços livres para a passagem da água, ou seja, retêm a maior parte da
água. Os solos semi-permeáveis correspondem aos solos agrícolas retendo estes alguma quantidade
de água, sendo no entanto largamente atravessados por esta. Isto deve-se à existência de espaços
deixados pelas partículas de húmus (um dos principais constituintes deste tipo de solo). Os solos
limosos podem-se considerar impermeáveis, embora o sejam menos que os solos argilosos.
PROTOCOLO EXPERIMENTAL
Para se descobrir a constituição do solo, deve-se observar atentamente um
perfil do solo, conjunto dos horizontes e colher amostras necessárias na actividade a realizar.
MATERIAL
- 4 funis
- algodão
- 4 gobelés
- 4 tipos de solo
- 4 tripés
- 4 provetas
- 4 espátulas
- água (4 × 50 ml)
- cronómetro
METODOLOGIA
- Em cada funil, colocou-se um pouco de algodão e uma das amostras de solo.
- Colocou-se os funis nos tripés e um gobelé na parte inferior para receber a água vinda do
funil.
- Verteu-se um volume igual de água (V0 = 50 ml) em cada amostra e anoto-se o tempo
inicial (T0).
- Deixou-se a água infiltrar nos solos e registou-se os tempos correspondentes ao
desaparecimento da água na superfície de cada amostra contida nos funis.
- O volume da água depositado nos gobelés foi devidamente medido com a ajuda de provetas e
registado (V1, V2, V3, V4).
CÁLCULOS
SOLO AGRÍCOLA
ti = 9h 26m
tf = 9h 28m 25s
vf = 21 ml
P = vf / (tf - ti) = ml/s
P = 50/145 = 0,34 ml/s
Retenção de água
R= vi - vf
R= 50 - 21 = 29 ml
SOLO ARENOSO COM PEQUENA PERCENTAGEM DE LIMO
ti = 0 s
tf = 3m 07s = 187 s
vf = 18 ml
P = 50/187 = 0,27 ml/s
R= 50 - 18 = 32 ml
SOLO ARENOSO
ti = 0 s
tf = 258 s
vf = 23 ml
P = 50/258 = 0,19 ml/s
R= 50 - 23 = 27 ml
SOLO ARGILOSO
ti = 9h 20m 35s
tf = 10h 50m 35s
P = 50/5400 = 0,0092 ml/s
DISCUSSÃO
Após realizada a experiência em questão, determinou-se que os solos utilizados
possuem permeabilidades diferentes, uma vez que a água retida em cada um deles varia nos quatro
solos utilizados. Foi possível observar-se que, com o mesmo volume de água utilizado em todos
os solos, aquele que se mostrou menos permeável foi o solo argiloso, tendo-se obtido o valor de
0,0092 ml/s em 90 minutos, verificando-se que a maior parte da água ficava retida à superfície do
solo. O solo que demonstrou ter maior permeabilidade foi o solo agrícola com o valor de 0,34
ml/s demorando a água 145 s a atravessá-lo. Os outros dois tipos de solo (arenosos) têm uma
permeabilidade intermédia relativamente aos outros solos. Assim, o solo arenoso teve um valor
de permeabilidade de 0,19 ml/s e o solo arenoso com uma pequena quantidade de limo teve um valor
igual a 0,27 ml/s. No primeiro solo a água demorou 258 s a atravessá-lo, enquanto que no segundo
demorou 187 s. Estas diferenças entre os valores devem-se às diferentes granolometrias das
partículas, sendo o menos permeável aquele que é constituído por partículas de pequeníssimas
dimensões e o mais permeável o solo com partículas de maiores dimensões. Em relação ao volume
de água retida nos solos, observou-se que aquele que retém mais água no seu interior era o solo
arenoso com pequena quantidade de limo, devido ao diâmetro das partículas e também à quantidade
de limo que ajuda na retenção da água (NOTA: Tomámos em conta o solo que retinha mais água no seu
interior. No entanto, o solo argiloso retém uma quantidade superior de
água, mas no exterior.). Existe, assim, uma relação entre a
permeabilidade e a retenção de água pelos solos, ou seja, quanto maior a permeabilidade, maior a
retenção de água no interior do solo, pois as moléculas de água ao atravessarem os poros entram
em contacto com as partículas constituintes do solo, ficando muitas delas unidas a estas.
CONCLUSÃO
Após ter-se realizado a experiência com os quatro tipos de solos, verificou-se
uma considerável diferença de permeabilidade em cada um dos solos. Assim, verificou-se que o solo
agrícola é o mais permeável, seguido dos solos arenosos. O solo argiloso é o menos permeável
retendo a maior parte da água. Relativamente à textura dos solos, podendo concluir, com base
na experiência e com base nos conhecimentos adquiridos nas aulas, que o solo agrícola é "fofo"
devido à quantidade de húmus existente, possuindo as partículas uma granolometria de tamanho
grande e médio (aproximadamente o tamanho dos grãos de areia misturados com algumas partículas
maiores de matéria orgânica). Assim, existem muitos espaços entre as partículas, o que explica a
rápida passagem da água através dele. O solo arenoso tem uma textura áspera pois possui
partículas com uma granolometria entre 2 e 0,02 mm (menores que algumas partículas do solo
agrícola), continuando a haver espaços livres, mas mais pequenos, entre elas o que permite a
passagem de água, embora mais lenta do que no tipo de solo anterior. O solo arenoso com uma
pequena porção de limo possui uma textura um pouco mais áspera que o solo arenoso, mas quando
molhado tornava-se mais suave, demonstrando a existência da pequena porção de limo. As partículas
deste tipo de solo eram um pouco maiores que as do solo arenoso havendo mais espaços livres entre
elas e, consequentemente, permitindo uma maior facilidade à passagem da água. Por fim, o solo
argiloso tem uma textura muito suave, aderindo algumas das partículas aos dedos quando tocado. A
granolometria das partículas é pequeníssima, sendo inferior a 0,002 mm e sendo também inferior em
relação às partículas de todos os outros solos. O tamanho destas partículas provoca a aglomeração
das partículas (as partículas vão ocupar todos os espaços livres existentes, devido às suas
pequenas dimensões), tornando o solo compacto, sendo quase impossível a passagem da água através
dele. Em termos gerais, concluiu-se então que devido às diferentes constituições dos solos, a
permeabilidade varia em cada um deles. Assim, facilmente se explica o fenómeno ocorrido (passagem
de água), se interpretam as diferentes quantidades que cada solo possui de argila, limo e areia,
a textura relativamente à granolometria das partículas e a percentagem de húmus.
CURIOSIDADES
Quando as amostras de solo são lançadas na água, os seus constituintes
separam-se conforme são mais ou menos pesados:
- O ar sobe na água e liberta-se sobre a forma de bolhas.
- Os fragmentos de húmus flutuam à superfície da água porque são mais leves.
- As partículas de argila mais finas flutuam, turvando a água.
- As areias e outros elementos mais pesados depositam-se no fundo.
Um hectare de manta morta pode conter dez milhões de folhas.
As gotas de chuva atingem o solo com uma velocidade de 5 a 15 km/h. Este
impacto tende a desfazer os torrões do solo - é o primeiro passo para a erosão do solo.
AUTO-CRÍTICA
A experiência realizada ajudou o grupo a compreender o fenómeno de
permeabilidade e de retenção de água pelos solos. No entanto, a experiência foi um pouco
monótona, pois os seus intervenientes tomaram um papel pouco activo. Na execução deste
relatório surgiram algumas dúvidas de vocabulário e também dificuldade na realização da discussão
e conclusão, pois não se sabia como realizá-las correctamente. Mas a dificuldade que causou
maior transtorno foi a falta de apoio e compreensão de certos "elementos" do grupo, mostrando-se
a sua quase inexistente ajuda, ineficaz.
BIBLIOGRAFIA
Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, Volume XVII, págs. 5783-5784,
Ediclube, Alfragide, 1996.
Leite, Ana et al, Da célula ao organismo, Bloco 2, 1ª Edição,
págs. 11-21, Areal Editores, Porto, 1996.
Peralta, Catarina Rosa et al, Investigar e Aprender a Terra, Ciências
da Natureza, 5º Ano, 1ª Edição, págs. 126-136, Porto Editora, Porto, 1990.
Foram consultadas também algumas folhas informativas sobre o assunto tratado
providenciadas pela professora de TLB.
Foi ainda consultada a enciclopédia multimédia em CD-ROM Encarta 95
sobre o assunto tratado.
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