Dissecação do encéfalo de mamífero (carneiro)

INTRODUÇÃO

Esta actividade tem o objectivo de identificar as diversas partes que constituem o encéfalo de um mamífero, mais propriamente de um carneiro, e poder assim compará-lo ao encéfalo do Homem.
O sistema nervoso pode comparar-se ao sistema de um computador que controla a máquina mais complexa até hoje criada: o corpo humano. A unidade de processamento central deste sistema é o sistema nervoso central, que é constituído pelo encéfalo e pela espinal medula, formados por biliões de células nervosas (neurónios) interligados.
O sistema nervoso central recebe informações do interior e do exterior do organismo através dos órgãos dos sentidos e de outras estruturas sensitivas. As estruturas que transportam essas informações são os nervos e ramificam-se do sistema nervoso central para todo o corpo. A esta complexa rede de nervos dá-se o nome de sistema nervoso periférico.

Figura 1- Sistema nervoso do Homem.

O sistema nervoso tem, não apenas divisões anatómicas, mas também divisões funcionais. Deste modo, existem duas divisões consideradas muito importantes: o sistema nervoso somático, o qual controla os músculos esqueléticos responsáveis pelos movimentos voluntários, e o sistema nervoso autónomo, que se ocupa especificamente da regulação automática do funcionamento interno do organismo. Este último, é considerado muito importante, uma vez que mantém o equilíbrio do corpo, adaptando-se consoante as situações.
O sistema nervoso autónomo tem duas divisões: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático.
Com algumas excepções, pode dizer-se, de um modo geral, que o sistema nervoso simpático activa as funções de modo que, quando existem situações de emergência ou de stress, elas possam atingir a máxima intensidade. O sistema nervoso simpático tende a aumentar o consumo de energia, para assim o corpo reagir de melhor forma ao meio que o rodeia.
Por outro lado, o sistema nervoso parassimpático tende a diminuir o consumo de energia diminuindo a velocidade cardíaca, respiratória e metabólica, ou seja, inibe as funções executadas pelo sistema nervoso simpático. O equilíbrio do organismo mantém-se graças à acção coordenada destes dois sistemas.
Mas como é que o sistema nervoso consegue reagir a tempo de modo a que o corpo se mantenha equilibrado?
As informações vindas do exterior são recebidas por órgãos sensitivos. Essas informações são enviadas para um dos órgãos do sistema nervoso central através de uma complexa cadeia de nervos. Esta cadeia é um conjunto de neurónios sensitivos através dos quais passam os impulsos até a um neurónio de conexão que faz a ligação entre os neurónios e os órgãos e vice-versa. Ao receber as informações, o sistema nervoso central vai fazer as modificações necessárias de modo a manter o bem-estar do corpo. Assim, envia impulsos nervosos aos órgãos (nomeadamente os músculos) através de neurónios motores para eles evitarem ou se adaptarem a determinada situação. Esta série de passos (arco reflexo) dura um curtíssimo espaço de tempo e acontecem milhões de vezes por dia.

Figura 2- Neurónio.

As funções controladas pelo sistema nervoso autónomo são executadas sem nós termos consciência disso. Se isso não acontecesse teríamos que pensar para respirar ou para controlar os batimentos cardíacos.
As funções que controlamos racionalmente são controladas e processadas através do órgão mais complexo do organismo: o encéfalo.
O encéfalo é o principal órgão do sistema nervoso, localizado no crânio e tendo cerca de 70% do peso de todo o sistema nervoso. O encéfalo (designado na linguagem corrente por cérebro) é o órgão do pensamento, da fala e das emoções, mas o seu principal papel é o de centro de controle do corpo.
Enquanto que a espinal medula controla as funções básicas do organismo, como o ritmo cardíaco, a respiração e a temperatura corporal, o encéfalo recebe, selecciona e interpreta as sensações transmitidas pelos nervos que se estendem do sistema nervoso central a todas as partes do corpo. Dá início e coordena os impulsos motores implicados em certas actividades, como os movimentos e a fala.
O sistema nervoso somático é o responsável pela chegada ao encéfalo das sensações vindas dos órgãos dos sentidos e também de enviar as mensagens do encéfalo aos músculos de modo a iniciar os movimentos.
O encéfalo é constituído pelo tronco cerebral e o cerebelo, os quais ainda fazem parte do sistema nervoso autónomo, os dois tálamos, que fazem a ligação entre o tronco cerebral e o cérebro, o hipotálamo, a hipófise e o grande constituinte do encéfalo, o cérebro.

Figura 3- Estruturas do encéfalo.

O tronco cerebral e o cerebelo são as zonas mais antigas do encéfalo em termos evolutivos. Deste modo, não existe grande diferença entre o Homem e os outros mamíferos, nestes órgãos. Eles actuam abaixo do nível de consciência por actos reflexos em que um dado estímulo ou um conjunto de estímulos evocam uma resposta pré-programada ou automática.
Os tálamos servem de retransmissores às informações sensitivas destinadas ao cérebro. O hipotálamo regula algumas funções corporais tais como a temperatura corporal, a sede e o apetite. A hipófise é responsável pelas hormonas que actuam sobre as glândulas, indo assim intervir no crescimento e no desenvolvimento sexual.
O cérebro apresenta dois hemisférios. A superfície destes é constituída por pregas e fissuras profundas, de modo que apenas um terço da superfície total é visível. Algumas fissuras que separam as pregas são particularmente evidentes, dividindo a superfície em lobos distintos: occipital, parietal, temporal e frontal. Os seus nomes devem-se aos principais ossos do crânio que os recobrem.

Figura 4- Lobos e funções dos lobos do cérebro.

Embora o cérebro pareça simétrico, algumas actividades superiores, como a fala e a escrita são controladas pelo hemisfério dominante. Nas pessoas que usam a mão direita, esse hemisfério é o esquerdo, e mesmo nos esquerdinos geralmente o hemisfério dominante é também o esquerdo. O hemisfério não dominante tem importância na visão, na apreciação artística e na imaginação.
Como se pode observar o sistema nervoso é um sistema muito complexo que só agora começamos a entender. Mas uma coisa é certa: sem ele não teríamos a mínima hipótese de sobrevivermos à variação das condições do nosso planeta.

PROTOCOLO EXPERIMENTAL

MATERIAL

INSTRUMENTOS

  • tina ou tabuleiro de dissecação
  • bisturi
  • tesoura
  • pinça
  • sonda
  • agulha de dissecação
  • papel de limpeza
  • frasco lavador
REAGENTES
  • solução de formol (10%)
OBJECTO DE ESTUDO
  • encéfalo de carneiro

METODOLOGIA

  1. Observar o encéfalo a fresco, sob diferentes ângulos (ventral, dorsal e lateral), de forma a obter uma imagem integral do órgão e representar esquematicamente o que se observar.
  2. Com a ajuda da agulha de dissecação procurar diferenciar as estruturas que revestem o encéfalo.
  3. Retirar o encéfalo da solução de formol, colocá-lo no tabuleiro de dissecação e proceder à sua lavagem com água corrente.
  4. Com o auxílio do bisturi, efectuar um corte sagital pela região do sulco inter-hemisférico, separando, com cuidado os dois hemisférios seccionados. Registar o que se observar, efectuando um esquema.
  5. Efectuar um corte horizontal no encéfalo, com auxílio de um bisturi, e esquematizar o que se observar.

DISCUSSÃO

Na actividade realizada tivemos a oportunidade de identificar as diversas estruturas constituintes do encéfalo de um mamífero.
O encéfalo de carneiro é constituído por três estruturas distintas: o cérebro, o cerebelo e o bolbo raquidiano/espinal medula.
Quando se observou a vista dorsal do encéfalo, verificou-se que o cérebro se dividia em dois hemisférios, separados pelo sulco inter-hemisférico, que se dividiam em quatro lobos: o lobo frontal, o lobo occipital, o lobo parietal e o lobo temporal. Observou-se que o cérebro era bem irrigado por vazos sanguíneos que o rodeavam como uma delicada rede. As pregas que constituem o cérebro denominam-se circunvoluções cerebrais. No lobo frontal, estava a aracnóidea que secou, como se pode verificar pela sua côr (preto). A envolver todo o cérebro estava a mais intensa das meninges, a pia-máter.
O cerebelo, tal como o cérebro, também possui circunvoluções, denominadas circunvoluções do cerebelo. Está também dividido em hemisférios, denominados hemisférios cerebelosos. Possui ainda uma estrutura denominada vérmis na zona superior junto ao cérebro. Entre o cérebro e o cerebelo pode-se observar a hipófise e os tubérculos quadrigémeos.
Observou-se também a espinal medula e o bolbo raquidiano em forma de cilindro.
Quando se efectuou o corte sagital, verificou-se que o cérebro era constituído externamente por uma substância cinzenta e internamente, no corpo caloso, por uma substância branca. Mais ou menos onde o cérebro e o bolbo raquidiano se encontram, existia um ventrículo e um pouco mais à frente o trígono.
Na espinal medula, observou-se que, ao contrário do cérebro, a substância cinzenta encontra-se no interior e a substância branca no exterior.
Observou-se ainda que o cerebelo, internamente, possui uma zona ramificada um pouco mais clara que o resto do cerebelo.
Na vista ventral, observou-se, mais ou menos na zona central do cérebro, a ligação dos nervos ópticos ao cérebro, os bolbos olfactivos no lobo frontal, os pedúnculos cerebrais na parte de trás do cérebro, e a epífise, situada mais ou menos entre os pedúnculos cerebrais.
Observou-se também uma estrutura arredondada denominada protuberância anular, a qual se encontra entre o bolbo raquidiano e o cérebro.

NOTA: Para se poder acompanhar o raciocínio aqui desenvolvido, é favor observar as figuras contidas na secção Anexos.

CONCLUSÃO

Com esta actividade conclui-se que o encéfalo de um mamífero é um órgão muito complexo.
O encéfalo e todos os órgãos do sistema nervoso são protegidos por três meninges: a dura-máter que é a meninge mais externa e que não foi observada, talvez por ter ficado ligada ao crânio do carneiro; a aracnóidea que é a meninge média que no encéfalo apresentava a côr preta; e a pia-máter que é a meninge mais interna e que se encontrava por baixo da aracnóidea envolvendo todo o encéfalo.
No encéfalo, verificou-se que a maior estrutura é o cérebro o qual é constituído exteriormente pela substância cinzenta e interiormente pela substância branca. A substância cinzenta forma uma zona chamada córtex que contém essencialmente os corpos celulares de neurónios que emitem enormes prolongamentos citoplasmáticos em todas as direcções. É nesta zona que existe a mais complexa rede de neurónios de todo o corpo, demonstrando assim por que é que o estudo do comportamento humano é tão difícil. A substância branca contém as fibras condutoras desses neurónios.
O cerebelo, constituído por grossos feixes nervosos, é semelhante ao cérebro, embora muito mais pequeno. Possui circunvoluções exteriormente as quais são bem visíveis. A principal função do cerebelo é a do equilíbrio, embora também seja responsável pela coordenação motora.
Entre o cérebro e o cerebelo observou-se a hipófise que se assemelhava a uma pequena esfera. Este órgão tão pequeno é responsável pela produção de hormonas e está ligado ao hipotálamo.
O bolbo raquidiano situa-se entre o cérebro e a espinal medula e é um pouco difícil de identificar. Faz a ligação entre o cérebro e a espinal medula.
A espinal medula também possui substância cinzenta e substância branca mas estão situadas inversamente em relação à sua localização no cérebro. Tem a forma de um tubo cilíndrico. A espinal medula controla a maior parte das funções involuntárias do organismo pertencendo ao sistema nervoso autónomo.
Através da observação destas estruturas, pode-se concluir que o sistema nervoso é muito complexo estruturalmente. É responsável pela regulação de todos os órgãos do organismo o que contribui para a sua sobrevivência. O encéfalo é o órgão responsável pela resolução de problemas práticos uma vez que é o mais complexo. O cérebro, por ser a zona mais externa do encéfalo, é considerada como a detentora da inteligência dos animais, sendo mais inteligentes aqueles que possuírem esta zona em maior tamanho, em relação às dimensões do encéfalo. A zona mais interna do encéfalo é a que coordena algumas das funções vitais do organismo, sendo também uma das mais antigas em termos de evolução.

ANEXOS

Figura 5- Esquema do encéfalo de carneiro (vistas dorsal e sagital).

Figura 6- Esquema do encéfalo de carneiro (vista ventral).

AUTO-CRÍTICA

Fez-se aqui uma breve introdução ao sistema nervoso. É claro que existe muito mais àcerca deste maravilhoso e complexo sistema, mas tornar-se-ia demasiado exaustivo aprofundar mais o assunto.
Esta actividade foi uma das minhas preferidas até agora pelo que pude observar o interior e o exterior de um encéfalo, o órgão que para mim é dos mais importantes e complexos do organismo.
A execução deste relatório não foi fácil, pois para além dos impedimentos técnicos (problemas com o computador), tive também alguns contratempos psicológicos devido a problemas de saúde. Por isso, peço desculpa se me repeti muito ao longo deste relatório ou se não desenvolvi mais aprofundadamente alguns temas aqui expostos.
Por último, quero agradecer à «stôra» de TLB por ter sido tão paciente e me ter deixado entregar o relatório um dia útil depois da data marcada.

BIBLIOGRAFIA

Enciclopédia de Medicina, págs. 424-427, 997-999, Selecções do Reader's Digest, Novembro de 1996.

Enciclopédia Médica Ilustrada, págs. 34-35, Selecções do Reader's Digest, Janeiro de 1984.

Gaudin, Bernard, Grandes Enigmas do Homem - O Corpo Humano, Volume 2, págs. 75-123, Amigos do Livro.

Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, Volume XVI, págs. 5741-5743, Ediclube, 1996.

Marques, Eva et al, Técnicas Laboratoriais de Biologia, Bloco III, 1ª Parte, págs. 199-202, Porto Editora, Porto, 1997.

O Livro da Saúde - Enciclopédia Médica Familiar, págs. 783-784, Selecções do Reader's Digest, 1976.

Foi ainda consultada a enciclopédia multimédia em CD-ROM Encarta 95 sobre o assunto em questão.


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