Almada Pitagorista

 

    Como bom deísta, Almada Negreiros defende a ideia de um mundo invisível que comanda o visível, mundo esse que é a matriz de tudo o que existe. 

Ouçamos as suas palavras: 

 "Invisível não é só o que ainda não está visível, é também o que nunca será visível mas cuja posição pode ser contornada perfeitamente pelos mesmos limites do visível, como o cheio e o vazio num todo, isto é: o invisível é a descoberta feita pelo visível.

(Almada Negreiros, 1943, p.29)

Mas que diz Almada afinal? 

Que o invisível, o que nunca poderá ser visível, pode no entanto ser "contornado", circunscrito, pelo visivel. É nessa medida que Almada pode dizer que "o invisível é a descoberta feita pelo visível".

Resta saber que visível é esse que tem a capacidade de "contornar", exibir, dar a ver o invisível. A nossa interpretação é que é a matemática. Senão vejamos: 

 

No olhado primeiro, anterior a visto, no ingénuo, o visível e o invisível estão confundidos um com o outro, e se a sabedoria reflectida do visto os distingue, isto não é ainda tudo, falta ainda que o ingénuo, tal qual, seja levado a fim, que não fique vencido e convencido pelo exacto do visível, que o ultrapasse e entre nas contas onde o visível e o invisível são um e o mesmo, como quando chegámos pela primeira vez à Natureza, ingénuos: com a sabedoria sagrada que não prevê a sabedoria reflectida por não a necessitar.  

Sabedoria reflectida porque nela a Luz é a Sabedoria mesma, a sagrada, esta que cada pessoa recebe inteira e unicamente pela sua legítima ingenuidade, precisamente a que tem olhos e não vê, a que tem ouvidos e não ouve."

(Almada Negreiros, 1943, p.29)

Neste fragmento, Almada estabelece uma série de graus no acesso compreensivo à realidade do invisível. 

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