Conclusões 

Ensino, instrução e educação

 

Ao analisarmos o filme "Billy Elliot", na perspectiva da disciplina de "História e Filosofia da Educação", confrontamo-nos com o significado de termos como educação, ensino, instrução.  Tentaremos clarificar alguns aspectos referentes a estes conceitos.


 

A instrução...

Na primeira parte do filme, Billy, descobre o fascínio pelo dança clássica, despertando algo que está no seu ser de forma muito intensa. Essa descoberta leva-o a assistir a uma aula de ballet no ginásio onde praticava boxe. Ao integrar a classe de ballet com Mrs. Wilkinson, a professora, ou melhor a mestre, (no filme madame), o rapaz inicia uma aprendizagem dos vários movimentos e passos de dança. 

Mrs. Wilkinson, mostra ao seu  protegé, como se faz fazendo ou, numa fase inicial, pedindo que este imite as suas colegas. A imitação e repetição de várias técnicas, o processo de tentativa/erro em que o objectivo é um saber fazer que, de alguma forma, implica capacidades físicas, dá origem
à aquisição de uma habilidade, destreza ou skill .

Se no início do processo de instrução, tudo é muito complicado, difícil e por vezes desesperante, numa fase posterior Billy vai aprender (a - prender, prender a si) as destrezas físicas que lhe são exigidas e, de alguma maneira, torná-las automáticas.

 

Para além da instrução... 

 

A aprendizagem de Billy teve em vista, não só um conjunto de técnicas próprias da instrução, mas também, a realização de uma potencialidade que Billy dá provas possuir. 

Mais do que transmitir um saber fazer, Mrs. Wilkinson quer educar o seu aluno, permitir-lhe desenvolver uma capaicidade que nele adivinha. Por isso o desafio a apresentar-se na  Royal Ballet School e, para tal, a criar uma coreografia para apresentar na audição. Utilizando alguns dos seus objectos preferidos, Billy tem a oportunidade de mostrar como sente a dança.

 O objectivo de Mrs. Wilkinson é que Billy se vença a si próprio, "qualquer coisa que tem a ver com cada um (...), que se passa entre o que se é e o que se poderia ser" (Olga Pombo em "A Escola, a Recta e o Círculo"). Ora é isto que se passa, ou pelo menos deveria passar-se na Educação que, para além do sentindo normativo que a palavra transporta consigo (e-ducere que significa guiar para) deverá passar pelo ex-ducere, que pressupõe conduzir cada um para fora (ex) de si mesmo, desenvolver as suas capacidades, ajudá-lo a superr e ultrapassar os seus limites.

 

 

Mas, será que o ballet se pode ensinar? 

 

Quatro últimas reflexões

 

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Para uma pequena cidade constituída na sua maioria por mineiros, que nasciam e morriam trabalhando o carvão, o caso Billy constituiu-se como um escândalo. Numa altura em que a crítica feminista e a teoria dos géneros se fortalecem, é inevitável ver "Billy Elliot" também como uma obra sexualmente libertária. No entanto, a associação do ballet masculino à homossexualidade, é uma discussão que aparece no filme, de forma peculiar. Em nenhum momento Billy demonstra interesse por pessoas do mesmo sexo. O seu prazer é dançar. O mesmo não ocorre com o melhor amigo, que veste as roupas da irmã quando está sozinho. Billy é um garoto heterossexual, mas isso não o impede de ter várias qualidades femininas e de condenar certas coisas típicas do universo masculino.

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Outro facto que chama atenção neste filme, são os sentimentos de Billy, o enorme carinho de Billy para com a avó de quem cuida com imensa dedicação, o seu comportamento delicado em contraposição às atitudes rudes do pai e do irmão. Enquanto os dois mostram o seu machismo e a sua virilidade, Billy demonstra uma enorme sensibilidade. A ausência da mãe, que o poderia proteger, agrava a situação e aproxima-o da professora, também infeliz na sua vida familiar. No entanto,  ela não é a sua mãe e Billy não está disposto a destruir sua relação com o pai e o irmão.

 

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Para professores e futuros professores, a mensagem deste filme deveria passar pelo estabelecimento de uma correspondência com uma frase de Protágoras a Sócrates no diálogo do mesmo nome: "E digo mesmo que não me espantaria se te tornasses famoso entre os homens pela tua sabedoria" (Platão em Protágoras (361 e). Que quer isto Dizer? Que uma das felicidades - e porventura dos deveres - do bom professor é ser capaz de olhar o aluno vendo nele a promessa que o habita. O bom professor seria então aquele que olha para o aluno e vê nele a possibilidade de este vir a tornar-se uma figura absolutamente notável!

 

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Para além de Billy, há neste filme uma outra personalidade esplendorosa: o pai e tudo o que o seu amor de pai o leva a fazer por amor do filho. É talvez neste aspecto que o filme se mostra genial. Em vez de contar, pela milionésima vez, um confronto sem solução entre um garoto sensível e fraco contra um pai machista e forte, "Billy Elliot" conta a história de como um pai machista e forte, descobre que o filho tem o direito de ser o que é. E, mais do que isso, sendo o que é, poderá fugir das minas de carvão, dos baixos salários e das greves.  

O amor do pai de Billy é capaz de o levar a reformular a sua visão do mundo,de o levar a ser "fura-greves" (ou seja, "maricas"), para conseguir o dinheiro suficiente para ajudar o filho a concretizar o seu sonho. É que, se Billy luta pelo que quer ser. O que é difícil. O pai – e, depois o irmão - lutam contra o que são. O que é mais difícil ainda.

 

 

 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt