Dois Longínquos Lugares da EscolaA resistência da Escola no Afeganistão ou a Vontade de Estudar
O exemplo do Instituto Gulbar, no Norte do Afeganistão, é eloquente. Em 2001, a 40 quilómetros da frente de batalha, todas as manhãs o início das aulas era anunciado com cartuchos de munição vazios que caíam das vigas de um corredor pouco iluminado. Os alunos, enquanto escutavam o som rouco dos cartuchos de munição, iam entrando no Instituto através daquilo que restou do portão principal, destruído no final de 1998. Os lápis e cadernos eram levados pelos próprios alunos pois praticamente todo o material escolar havia sido destruído. Apesar de os Talibã terem proibido o ensino das meninas com mais de oito anos, o Instituto Gulbar continuou a oferecer aulas para os meninos, de manhã, e para as meninas, na parte da tarde.
Uma professora, Latifa, ensinou ilegalmente durante quatro anos vinte alunas que queriam aprender a ler e a escrever. A professora descreve a situação de uma menina de seis anos, sua aluna, que um dia, quando ia da escola para casa, foi abordada por um carro com soldados Talibãs, violentamente revistada e interrogada. A menina manteve-se firme e nada disse sobre a localização da escola. Impotente, Latifa assistiu a tudo, da janela da escola. Não podia correr em auxílio da menina pois se o fizesse a escola deixaria de existir.
Actualmente, a situação do Afeganistão parece ter melhorado. As crianças já podem ir para a escola livremente. Mas muita coisa tem ainda que mudar. Por exemplo, no interior do país, sobretudo nas províncias mais pobres do sul dominadas pelos pashtuns, a guerra parece não ter ainda terminado. Assim, nos arredores da província de Ghazni, são diariamente necessários 20 homens armados para proteger a escola feminina Johan Malaka Ghazni, bombardeada em Dezembro de 2002. Mesmo em Cabul, a liberdade de aprender nem sempre é respeitada. Por exemplo, a Escola de Música de Cabul, que reabriu depois de oito anos sem funcionar, continua a não aceitar mulheres.
Digamos que, apesar das dificuldades, existe uma enorme vontade de estudar. Até as populações nómadas realçam a importância da educação das
suas crianças. Os Kuchis, grupo nómada originário do norte do Afeganistão
(província de Parwan), em vez
de partir para o Sul, resolveram no último ano fixar-se na pequena vila Sherak para
aí construir uma rudimentar escola para as suas 142 crianças. A escola de Sherak
é desde então uma realidade. A UNICEF forneceu ardósias, livros e outros materiais
escolares.
[Dois Longínquos Lugares da Escola] [Escola Chinesa, Luso-Chinesa e Portuguesa de Macau] [Bibliografia] |
Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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