Dois Longínquos Lugares da EscolaEscola chinesa, luso-chinesa e portuguêsa em Macau
Escolas Chinesas As escolas chinesas em Macau têm a particularidade de exigirem dos seus alunos um comportamento extremamente ordeiro. Todas têm como norma o uso de farda, e têm orgulho no símbolo da sua escola. Devido ao limitado espaço de Macau, a maioria das escolas está instalada em altos edifícios e o recreio é muitas vezes o terraço desse mesmo edifício. Apesar das condicionantes espaciais, é generalizado o acesso a livros e meios tecnológicos, sendo a Internet de uso cada vez mais intenso dentro das escolas. A sala de aula tem o formato nosso conhecido: as carteiras individuais (é estimulado um certo individualismo no estudo), a ardósia ou o quadro branco, o giz ou as canetas, a secretária do professor em frente aos alunos, na maioria das escolas em cima de um estrado. Apesar do formato ocidental, a herança do tempo dos mandarins faz-se sentir em princípios que prevalecem como o da autoridade, o do formalismo e o culto da memória. Esta educação extremamente verbal e livresca começa com a dificuldade de conhecer a língua chinesa que, pelo facto de ser ideográfica, torna difícil o seu extenso conhecimento, sendo o número de caracteres que um indivíduo conhece, proporcional à sua cultura. Escolas Luso-Chinesas O ensino em Macau sempre teve dificuldades acrescidas pelo facto de se encontrar no ponto de encontro de duas culturas. A população de origem chinesa tem como língua materna o cantonês e a administração portuguesa, tentando deixar o seu legado, tem procurado implementar o ensino do português. É assim que surgem as Escolas Luso-Chinesas, aquelas em que o ensino do Português existe a par da língua chinesa. Nestas escolas surgem diversos problemas, pois a Língua Portuguesa é cada vez considerada um língua estrangeira e a motivação para a sua aprendizagem por parte dos alunos e das respectivas famílias é praticamente inexistente neste momento. O Liceu de Macau O Liceu de Macau, em conjunto com os Salasianos João D. Bosco, foram as duas únicas escolas secundárias que ensinaram, desde sempre em Português. A 30 de Junho de 1893, foi aprovado pelo Governo de Portugal o projecto regulando o ensino em Macau, cujos art.os 3.º e 4º diziam:
O liceu foi inaugurado com 31 alunos a 28 de Setembro de 1894, ficando instalado no convento de Stº Agostinho, um antigo quartel da extinta Guarda Policial. Este edifício com arquitectura tipicamente colonial, acabou por ruir, tendo o liceu encontrado pelos casarões de Macau diversas moradas, nenhuma definitiva. Em 1986, o Liceu de Macau conhece a sua última morada, antes da transferência da administração portuguesa de Macau para a China, em 1999. Nesse ano, inaugurou-se a Escola Portuguesa em Macau, que ainda hoje lecciona em português. Ao longo da sua história, o liceu macaense teve muitas vezes em risco de extinção devido ao seu diminuto número de alunos. Apenas 31 alunos inauguraram este estabelecimento de ensino, o que fez com que na imprensa local se lessem comentários que reflectiam o temor da população macaense em que o governo da metrópole viesse a extinguir a recém-criada escola: "é necessário, portanto, providenciar para que a frequência seja mais numerosa, se não quiserem que o lyceu tenha uma bem curta existência", dizia o Echo Macaense de 24 de Outubro de 1894. No conselho escolar confessava-se também que se, no ano seguinte, fosse escasso o número de alunos, pois grassando a peste bubónica e tendo-se já encerrado, por este motivo, as aulas no Seminário e na Escola Central, o Liceu de Macau teria pouco tempo de vida. Já dizia o professor de filosofia Camilo Pessanha, na sessão de 20 de Maio de 1895,"que não estava convencido que houvesse grande perigo, digo prejuízo para a salubridade em continuarem funcionando as aulas, sendo tão espaçoso como o edifício do lyceu e tão diminuto o número de alunos que o frequentam". Apesar destes temores, meses depois, a 29 de Setembro do mesmo ano, foi inaugurada, no edifício do liceu a Biblioteca Nacional de Macau, que forneceu, tanto aos alunos como à população macaense em geral, um excelente meio de acesso à cultura. Resistindo sempre, às diversas crises, o Liceu de Macau chega a 1998, 104 anos depois da sua inauguração, com 1500 alunos.
O Liceu de Macau está equipado com salas específicas apetrechadas com material moderno, havendo a destacar a sala de informática, que conta com 24 terminais, laboratórios de línguas, laboratório de ciências naturais, laboratórios de física e de química, sala de música, sala de audiovisuais, etc. Do Liceu de Macau faz parte um Auditório com capacidade para 450 lugares, concebido para a realização de seminários, encontros, palestras, peças teatrais, etc. A Biblioteca, cujo espólio documental é, na sua maior parte, composto por documentos que já recheavam as antigas instalações, tendo sido devidamente equipada, quer em meios humanos, quer em meios materiais. Para a prática da natação dotou-se o Liceu de uma magnífica piscina, cujas águas podem ser aquecidas no Inverno. No último piso funciona o Centro Pedagógico-Didáctico (C.A.P.D.), cujo objectivo principal é, como a sua própria designação indica, o apoio pedagógico e didáctico aos docentes do Liceu e aos das escolas particulares do Território. A televisão educativa é também um das sua principais componentes. Este liceu é uma cópia do modelo de escola ocidental. Tratando-se da única escola onde se fala português em Macau, e como se pretendia com ele deixar um espaço representativo da presença portuguesa neste território chinês, houve um esforço para que o modelo fosse seguido fielmente. O que teve com consequência que tivesse sido feito um simples transporte do modelo de escola ocidental sem que tenha havido a preocupação de o adaptar deste a um povo diferente. Esta é a causa das principais dificuldades que experimenta. A existência de dois grupos de alunos com distintos níveis linguísticos (os alunos cuja língua materna é o cantonês – com tendência para aumentar - e os alunos cuja língua materna é o português - com tendência para dimunuir), tem como efeito uma série de dificuldades. Assim se compreende que a existência de uma escola com currículos portugueses, cuja língua de transmissão de conhecimentos é a segunda língua para a maior parte dos alunos, esteja em franco declínio. Quer isto dizer que, o formato do Liceu de Macau poderá resistir ao tempo, mas a Escola em Macau está definitivamente em mudança. Nota Bio-Bibiográfica sobre alguns professores do Liceu de Macau
[Dois Longínquos Lugares da Escola] [A Resistência da Escola no Afeganistão ou A Vontade de Estudar] |
Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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