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"Sanderson & a Escola de Oundle"(excertos)

 

 

A Escola O Ensino O Professor O Aluno

A Escola


 

"Para que uma escola possa funcionar pondo sobretudo em acção o espírito empreendor e criador, é necessário que tenha liberdade para organizar os seus programas e para adoptar os processos de ensino que lhe pareçam mais convenientes; não basta para que uma escola se renove, que só um dos elementos de trabalho se modifique, é preciso que haja uma reforma conjunta de todo o ambiente, que todas as faces da tarefa se transformem ao mesmo tempo; mudar só de programas ou só de métodos ou insuflar espírito novo em organizações velhas é caminhar para um desastre.

 

A direcção de Oundle, embora com as restrições que lhe punha, pelo menos de início, o conselho de administração e a massa não educada dos pais, dava-lhe (a Sanderson) a possibilidade de tentar a reforma das escolas e de encontrar o que devia passar a ser  todo o estabelecimento de ensino para que se conseguissem estabelecer os fundamentos de um mundo mais perfeito; tinha que se fazer da escola dos merceeiros uma escola-modelo, não no sentido da escola que atingiu os cânones que se impõem a todo o educador, o que seria absurdo, mas no sentido de guia, de desbravador de caminhos, de despertador de energias.  

Sanderson queria que a sua escola fosse muito rapidamente uma miniatura do universo que sonhava, queria que os rapazes passassem a viver uma vida mais nobre e mais ampla do que a que tinham levado até então e que, ao saírem de Oundle, tivessem bem firme no ânimo o desejo de transformar a vida social e de conduzir os homens a uma felicidade ignorada de quase todos; além da vantagem de lançar para o país grupos de dirigentes com preocupações e visões novas a experiência que tentava, teria a vantagem de demonstrar a possibilidade de realização prática, com os rapazes e a situação actual, de teorias pedagógicas que quase todos confinavam para os limites da utopia.  

Se reflectia sobre as escolas vulgares, via Sanderson que elas estão fundadas sobre os dois princípios que regem a vida da sociedade que os homens souberam e puderam formar: um o da posse, o outro o da rivalidade; há aqui, certamente, a obra de dois instintos poderosos e tudo parece estar organizado para os satisfazer inteiramente, mesmo numa época em que, pelas condições especiais da vida económica, o seu domínio sobre as regras de existência é perfeitamente absurdo; as escolas não podiam escapar à sua influência e considera-se impossível que dela se possam libertar.  

O instinto de posse manifesta-se nas escolas de duas maneiras: em primeiro lugar cada aluno procura aprender por si e para si; tem-se todo o cuidado em impedir a colaboração e em desenvolver em todas as crianças a tendência para o isolamento e para o trabalho puramente egoísta; a comunicação do saber é feita ao mestre como uma prova puramente pessoal e o trabalho do aluno é defendido pela escola contra os outros, como se faz no mundo dos adultos a defesa dos direitos de propriedade privada; em segundo lugar, todo o trabalho da escola é feito com o pensamento de que é necessário aparecer na vida bem armado, pronto à conquista dum bom lugar e à sua defesa contra os possíveis assaltantes; a criança aprende para ganhar bem quando for grande; é o conselho que ouve continuamente de mestres e parentes.  

Do plano da posse passa-se naturalmente para o da rivalidade; a escola é uma carreira em que o plano procura ultrapassar os camaradas e em que se sente sobretudo satisfeito quando foi o primeiro da classe; consciente ou inconscientemente, as escolas favorecem o desenvolvimento deste instinto de emulação, com os lugares especiais na aula, com as medalhas, com os elogios comparativos, com os quadros de honra com as notas dadas muito menos para saber do valor individual do que para ordenar toda a aula e tornar bem nítidas as diferenças entre os alunos.  

A tradição dos colégios dos jesuítas foi das mais vivazes em matéria de educação, como de resto noutras; treinam-se as crianças como galos de combate, numa áspera luta pelas melhores classificações, com absoluto desprezo pelo fraco que não pode acompanhar a corrida e os elogios mais desmoralizadores para os fortes que alcançam os melhores lugares; destrói-se tudo quanto é generosidade, altruísmo, frescura de espírito, delicadeza de maneiras, respeito pelas possibilidades de cada um, sentido do seu aproveitamento, numa obra de cooperação; trata-se de vencer, sejam quais forem os meios empregados; e são exactamente os defensores de tais métodos que depois se queixam da rude maneira porque os homens se comportam na vida.  

Sanderson crê que mais forte do que o instinto de posse, mais forte do que o instinto de rivalidade se levanta em cada espírito infantil o instinto criador; antes de vir para lutar e possuir, o homem veio para criar; seria ridículo supor um ser cuja missão fosse a de travar batalha com os seus semelhantes ou a de erguer muros na paisagem dos campos; o fundo da actividade humana é o desejo de fazer alguma coisa de novo; se várias circunstâncias económicas impostas pela organização interna e pela conquista do mundo o não têm deixado manifestar claramente, compete à escola dar o primeiro passo e abrir para os homens uma vida em que o lema não seja de luta egoísta, mas de cooperação, de tarefa em comum. 

A escola de Oundle há-de responder ao apelo que vem do íntimo das crianças para que as deixem trabalhar com amor, criar com liberdade e sentido social; a emulação desaparecerá do seu ambiente para ser substituída pela cooperação, pelo serviço dos outros e a ajuda dos outros; todos serão aproveitados segundo as suas possibilidades, porque todos têm possibilidades; a faina comum substituirá todo o impulso egoísta; é preciso que se dê ao aluno a clara noção de que o seu companheiro não é o seu inimigo mas o seu colaborador indispensável, mesmo quando parece divergir e opor-se. 

Uma das grandes realizações de Oundle é a de ter mostrado a possibilidade do trabalho de cooperação no ambiente escolar; o grupo tem na escola de Oundle a importância que, individualmente, pelo seu trabalho pessoal, limitado e hostil ao dos outros, tem nas restantes o aluno; as lições marcam-se a grupos e, dentro de cada grupo, distribuem-se os assuntos, segundo as predilecções de cada qual; toda a tentativa de fraude é impossível, porque não se enganam os companheiros com quem se trabalha com a facilidade com que se engana o professor; depois todo o trabalho em comum é irrealizável se falha um dos elementos; por último, ninguém no grupo toleraria que um rapaz se mostrasse menos diligente ou menos honesto. 

Pode objectar-se que o trabalho por grupos tem o inconveniente de dar a cada aluno apenas o conhecimento de um aspecto do assunto, mas a objecção só tem razão de ser se o sistema for mal aplicado; a necessidade da formação de um plano de trabalhos, a discussão que se estabelece a propósito de cada contribuição, a redacção de um relatório em comum, dão a todos a possibilidade de estudarem todas as faces da questão; o trabalho pessoal de investigação e de coordenação, o entusiasmo pela tarefa do grupo apuram as faculdades intelectuais do aluno, tiram-no da modorra em que as mergulha a escola vulgar, multiplica-lhes a penetração e o poder de memória; o saber que resulta do trabalho do grupo é profundo e seguro. 

Se as consequências intelectuais deste sistema de trabalho são importantíssimas, pelo contacto íntimo com os assuntos, pela necessidade de noções claras, pelo gosto da ordem e da precisão que se torna indispensável para o ajuste das tarefas particulares, as consequências morais são ainda talvez mais dignas de nota; o trabalho de grupo é a arma mais segura de combate contra o egoísmo, contra o desprezo dos outros, contra a intolerância perante a opinião alheia; dá o sentimento e o hábito duma grande faina comum para o progresso da colectividade; quem trabalha juntamente com outros numa tarefa que o interessa ama os seus colaboradores, está pronto a ajudá-los, a dar-lhes possibilidade de se elevarem cada dia mais alto. 

Organizado deste modo o trabalho escolar, a barreira entre professores e alunos abatia-se por completo; a escola em que o mestre é o senhor e o aluno o escravo não é senão a imagem de um mundo dualista com as mesmas duas classes de homens com todo o saber e todos os direitos e de homens que se têm de humilhar na ignorância e na mais estrita das dependências; no trabalho por grupos, o mestre é um colaborador e um amigo; as relações não são pautadas pelo medo da pancada ou das más notas ou, de outro lado, por um orgulho dominador; regram-se pelo respeito das capacidade e da dedicação e desenrolam-se num ambiente de confiança, de amizade viril, de verdadeiro amor pedagógico. 

Compreende-se que as concepções sobre a liberdade dos alunos tenham de ser totalmente diferentes das que são vulgares nas escolas de trabalho puramente individual; em Oundle os grupos constituem-se à vontade dos alunos - só assim pode haver coesão e entusiasmo pelo trabalho - não têm horas fixadas para a tarefa, podem utilizar-se à vontade de bibliotecas e laboratórios, não são obrigados na sala da aula à compostura da imobilidade e silêncio que são de regra nas escolas velhas; cada um fala e mexe-se como na vida, tendo sempre, no entanto, bem presente o princípio de que a nossa liberdade nunca deve ir tão longe que corte a liberdade dos outros. 

Desde a reforma de Sanderson as questões de disciplina deixaram de se pôr, com excepção dos casos de pura arrumação que fatalmente têm de aparecer em escolas de centenas de alunos; na escola de Oundle não havia nem castigos nem prémios e tudo girava na mais perfeita das harmonias, sem que o professor tivesse de assumir uma só vez o papel de polícia ou carcereiro; espalhou-se em todos os rostos o entusiasmo sereno, a seriedade de quem se sente preso por um forte interesse e não acudia ao espírito de ninguém, porque não havia razão para o fazerem, o tomar qualquer das atitudes com que nas escolas comuns o aluno se vinga ou se defende de um ambiente de incompreensão e tirania. 

Em Oundle cada um tem a consciência de que está servindo o bem geral, não só com o trabalho que realiza dentro da escola como pela projecção que esse trabalho há-de ter um dia sobre o mundo; a tarefa diária não aparece como uma ocupação absurda que rouba as melhores horas do dia e que o professor marca, parece que apenas levado pelo gosto de que os outros sofram com a monotonia do latim ou da matemática; é uma preparação para o papel de renovadores que hão-de desempenhar no futuro e um conhecimento, a cada passo obtido por um esforço de artista, das possibilidades humanas e de tudo quanto o homem tem conseguido realizar no mundo". (Agostinho da Silva, Sanderson & a escola de Oundle, pp.41-47) 

"A escola será naturalmente o lugar de eleição para que se prepare a humanidade nova que transformará por completo o mundo existente e fará surgir as possibilidades do reino de Deus; (...) para que dê todo o fruto que dela se espera, a escola há-de ser também uma escola reformada, uma escola nova, assente em princípios bem diferentes daqueles em que se baseia a escola actual e com uma orgânica totalmente diversa; a renovação da escola é a condição indispensável da renovação social; sem ela o esforço será estéril". (Ibid., pp.38-39)


"A ideia de uma felicidade humana construída pelos homens, pela sua ciência e pelo seu amor, levaram Sanderson a pensar no que queria que fosse o verdadeiro templo da sua escola: um grande edifício, com as naves espaçosas de uma catedral, mas onde, em lugar de imagens de santos, houvesse os gráficos, os desenhos, as fotografias de tudo o que os homens têm conseguido fazer; haveria os retratos dos génios e a exposição das suas obras; e, para que o templo não tomasse o aspecto de um museu, os alunos encontrariam ainda a menção de tudo o que falta realizar para que a humanidade esteja em condições de cumprir a sua missão. 

Não se celebraria nenhum culto; entrar-se-ia livremente e livremente se erraria meditando sobre o esforço das gerações passadas, encontrando no que foi a grande força impulsora para que se conquiste o futuro; quem se sentisse fraquejar na sua tarefa viria ao templo da humanidade e ele lhe daria, no silêncio e na calma, a coragem de prosseguir; as preces não seriam formulários de palavras que se recitam mecanicamente, mas uma construção do espírito, uma elevação da alma, uma purificação de todos os pequenos incidentes da vida, de todas as fraquezas, de todos os momentos de desânimo". (Ibid., pp.64-65) 

"A obra industrial não levava ao desprezo pelo trabalho artístico; fazia-se, no entanto, o possível por não estabelecer entre eles uma grande diferença de plano; inculcava-se no espírito do aluno que é tão apreciável o operário que faz uma chave ou um sapato perfeitos como o escultor que realizou uma bela estátua e que se pode encontrar no jogo de válvulas dum motor a mesma beleza, o mesmo aceno de Deus que passa num quadro de Velásquez: o horror da máquina como motivo estético é uma manifestação de literatura que tem de se afastar por completo do espírito do homem moderno. 

A educação artística fazia-se em Oundle não como a cultura de uma prenda, mas como um meio de elevar a alma e de a exprimir; modela-se, pinta-se, formam-se coros e orquestras, para que todos possam tentar uma linguagem nova e para: que todos se possam sentir ligados por novos laços; na escola de Sanderson abolira-se o costume de só aproveitar os melhores; se o canto do mau cantor é dispensável para a comunidade como canto, não o é para o espírito que sobe a outros planos por esse processo; e no fim sempre ganha a sociedade: porque o indivíduo lhe volta mais apurado, mais fino e, portanto, mais útil". (Ibid., p.63)

"Nenhuma disciplina, de resto, se estudava sem que houvesse uma constante ligação com o mundo actual e sem que se mostrassem a cada passo as suas relações com as outras actividades da escola; a separação quase absoluta das matérias como em compartimentos estanques, o cuidado com o que o professor evita penetrar nos domínios alheios dão ao aluno uma ideia falsa da ciência e fazem-lhe ver uma distinção fundamental onde apenas há uma comodidade de trabalho, além de apresentarem todos os inconvenientes da aprendizagem avulsa sem relações que a fixem no espírito com segurança". (Ibid., p.57) 

"É na oficina de trabalhos manuais que talvez com mais facilidade se possa surpreender este contacto como mundo; as oficinas de Sanderson não são salões onde os meninos fazem brinquedos de papel ou manejam com habilidade a serra de recortar; são oficinas verdadeiras, organizadas para darem rendimento e em que mestres, sabedores do seu ofício e contacto pedagógico, procuram formar bons operários; é preciso que o rapaz trabalhe em objectos que tenham utilidade real: fazer um cubo perfeito à lima é absurdo se o cubo não serve para nada; todo o interesse desaparece de um trabalho que se vê inútil. 

Convém também que haja o sentido da cooperação, o que se não pode conseguir com as tarefas vulgares dos trabalhos manuais; em Oundle, quando se constrói um motor - e era esta a especialidade da oficina - sabe cada um que o trabalho de que o encarregaram é uma parte da obra comum e que toda a negligência, toda a falta de atenção, se vai reflectir depois no funcionamento da máquina; deve-se naturalmente procurar que todos os rapazes passem por todas as tarefas, para que se não caia na especialização monótona; o grupo que forja num trimestre, rebitará no seguinte, passará depois ao torno; é necessário que lhe não fique oculto nenhum aspecto do trabalho". (Ibid., pp.62-63)

"A interpenetração dos estudos, o aparecimento de tudo o que se aprende como um bloco que se pode cindir, mas só provisoriamente, habitua o rapaz a uma largueza de concepção, a um gosto de relacionação, a uma faculdade de aperceber conjuntos, que só podem ter os efeitos mais benéficos para a .sua vida intelectual e moral, para sua acção como um reformador de sociedade; só a actividade complexa é criadora; a compartimentação conduz à estreiteza de espírito, a um empobrecimento real, à inaptidão para ver o mundo como uma vida que se transforma". (Ibid., p.57) 

"Desejoso de estabelecer o maior número possível de ligações com o mundo e de dar aos seus alunos toda a possibilidade de se elevarem não podia a escola de Oundle tomar em face do problema religioso a atitude cómoda da abstenção; pelo contrário, fez da religião, no que ela tem de interesse profundo pela vida total, de íntima seriedade, de procura de contacto com um espírito superior, de apuradora de energias, uma inspiradora de todo o trabalho escolar; todo o acto de um homem de Oundle é ou deve ser um acto religioso, isto é, um acto inspirado pelo desejo de servir convenientemente e plenamente um ideal de bondade, de justiça e de paz. 

Compreende-se que uma religião organizada, com cerimónias e templos, não tivesse para Sanderson atractivos especiais; há em Oundle uma capela e serviços religiosos; mas, para o director, a religião é uma atitude, não é nem uma doutrina, nem um ritual, nem um formulário; a oficina, o campo de jogos, o jardim botânico são templos em que se adora Deus muito melhor que na igreja; toda a vida tem de ser religiosa, não apenas a breve hora de domingo; aí sobretudo se deve reflectir sobre o que se fez e sobre o que se vai fazer, ganhando ao contacto de espíritos irmãos a força moral, a coragem, a nobreza necessárias para a faina". (Ibid., pp.62-63)

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O Ensino

 

"O trabalho da escola que Sanderson quer fazer surgir deve exercer-se exactamente de preferência junto daqueles que se transformaram em estátuas de pedra e nada vêem nem ouvem; é preciso acordá-los, mostrar-lhes os sofrimentos que causa a sua incompreensão e o perigo iminente em que colocam a própria vida civilizada.

(...) A tarefa essencial não consiste em preconizar soluções, embora a expressão material de uma ideia, embora a sua afirmação pela realidade criada, seja bem útil ao progresso do espírito; trata-se sobretudo de fazer surgir na alma dos homens uma atitude nova, de preocupação intelectual e moral; o grande renovador não é o que deixa atrás de si uma obra em linhas rígidas e definidas: é o que pôs os espíritos num ângulo novo frente à vida, o que lhes fez aparecer a uma luz diferente o mundo em torno; para este fim devem convergir os seus esforços essenciais.

Não basta, porém, acordar nas almas notas mais belas, afiná-las para uma vida superior; é necessário que se ponham em contacto com os problemas da vida e que se faça o possível por que eles lhes apareçam com toda a clareza e precisão; há uma actividade de informação que é de primeira importância e que habilitará cada um a ter do mundo uma ideia bem diferente da que lhe tinha fornecido uma ignorância de primitivo e uma indolência mental quase completa; para Sanderson, a vida sofre, em grande parte, de ser ignorada dos que vivem; o conhecimento esclarecido das condições em que gira o mundo actual traria imediatamente a solução de grande número dos seus problemas.

Combater o mal dos viciosos hábitos de pensar, da confusão mental, da ignorância que se toma por ciência, do contacto distraído com o que há de mais importante para o homem, da desistência de raciocínio perante as questões, da falta de espírito crítico; combater o desconhecimento que o homem moderno tem da vida moderna e da sua própria possibilidade de homem, dos males e dos meios de luta que a natureza pôs à sua disposição - eis, segundo Sanderson, os dois polos de acção que tem de desenvolver quem vise à formação de um mundo mais perfeito. 

Ora habituar o espírito a uma atitude crítica e pô-lo em contacto franco e inteligente com os problemas da vida é o objectivo de toda a educação que se não limita ao ensino das técnicas e à fabricação em série de indivíduos resignados e apáticos; (...) é preciso, como primeiro passo para a renovação, que todos saiam das escolas com o espírito liberto de ilusões, com o amor da precisão e da verdade, com a confiança no valor do esforço, com um desejo de reforma e, por outro lado, com um conhecimento seguro do que é a realidade para que se não corra o risco das inadaptações e dos desastres". (Ibid., pp.36-39)

"Numa verdadeira educação, a escolha das disciplinas e dos métodos aparece como importante não só sob o ponto de vista dos conhecimentos, mas sobretudo pelo que se refere à formação geral do espírito; efectivamente o ideal de uma escola não deve ser o de que os seus alunos saiam com uma grande quantidade de noções, mas o de que se aproximem quanto possível de um tipo de homem que se pôs como perfeito; para Sanderson, da actividade reformadora e missionária, que é a única força capaz de evitar uma catástrofe fatal para a civilização. 

Claro está que Sanderson não considera a instrução como separável da educação; a personalidade é um todo que se não forma por contribuições isoladas; mas afirma que o ter-se arquivado na mente do aluno uma série de noções absolutamente estáticas, inertes, o torna inaproveitável para a grande tarefa que se ergue perante todo o homem consciente; a escola desse teve por supremo objectivo abrir os olhos dos rapazes para a realidade ambiente e dar-lhes o gosto e os meios de intervirem activamente para que ela se modifique num sentido de melhoramento; trata-se de criar forças activas e não de lançar para o mundo seres dispostos a todos os conformismos e a todas as renúncias. 

Desde que é este o ideal, a escola não pode deixar de ser um lugar em que o contacto com a vida é especialmente forte; Oundle não é, por consequência, um convento afastado do temporal e em que se educam espíritos para a contemplação, de qualquer espécie que ela seja; formam-nos para a acção e para a mais benéfica, para a mais viril, para a mais bela das acções: a de não aceitar a vida como um esquema fatal, a de tentar organizá-la conforme o projecto que se formou. 

Não deixou de se levantar contra Sanderson a objecção costumada: os rapazes de Oundle, em lugar de reformarem o mundo, de alcançarem nele os postos de comando que lhes dariam possibilidades de agir, seriam vencidos na luta, porque encontrariam pela frente homens educados de uma forma realista; foi exactamente o contrário que aconteceu: as situações ocupadas pelos alunos de Sanderson provaram que a educação realista, no sentido de uma educação para a plena adesão às leis vulgares, é de estrutura muito fraca e produz espíritos que facilmente vence o verdadeiro idealismo; não há nada mais inferior em valor combativo, em força de penetração, em percepção de realidades de que o homem preparado para a luta de espertezas e de egoísmos; se encontra adversários decididos, a sua perda é certa. 

O contacto da escola com a vida tem de se fazer de duas maneiras; por uma, é o mundo que penetra na escola, por outro a escola que se dirige ao mundo; para que haja bons resultados, é necessário que os dois momentos andem intimamente ligados, que a corrente entre o receber e o dar seja contínua e activa, que não haja ou só o egoísmo que absorve ou só a dádiva excessiva que acaba por esterilizar e afastar realmente do mundo; só é viva a escola que estabelece com o ambiente uma série de trocas, que se deixa penetrar por ele amplamente e por sua vez o penetra e modifica. 

Em Oundle todos os espíritos estão abertos para a vida; os programas variam conforme as recentes descobertas ou conforme o interesse momentâneo que se revelou bastante forte para que à volta dele se possa construir um trabalho"; (Ibid., pp.59-61)

"Para que uma escola possa funcionar pondo sobretudo em acção o espírito empreendedor e criador, é necessário que tenha liberdade para organizar os seus programas e para adoptar os processos de ensino que lhe pareçam mais convenientes; não basta, para que uma escola se renove, que só um dos elementos de trabalho se modifique; é preciso que haja uma reforma conjunta de todo o ambiente, que todas as faces da tarefa se transformem ao mesmo tempo; mudar só de programas ou só de métodos ou insuflar espírito novo em organizações completamente velhas é caminhar para um desastre. 

Sobre alteração de programas e de processos de ensino, Sanderson tem em Oundle uma liberdade quase completa; a maioria dos seus rapazes não lhe exige um curso, mas uma cultura; trabalha num país em que o diploma não é uma carta de alforria e em que todas as iniciativas se podem desenvolver plenamente; nenhuma rígida barreira o impede de avançar.
 
Os antigos programas dificilmente se podem defender perante a crítica; o seu principal defeito é o dogmatismo que os caracteriza; todas as noções são dadas ao aluno, não como o resultado de uma experiência que realizou e compreendeu, mas como uma afirmação que tem de acreditar porque vem no compêndio ou lha transmitiu o mestre; não se procura despertar no rapaz nenhum espírito de investigação e de crítica; pelo contrário, parece haver até, quando se lhe ministram conhecimentos que não pode apreender, o propósito de o afastar de todo o raciocínio, de o esmagar sob o peso do incompreensível. 

Por outro lado, o desprezo das linhas essenciais que por completo se perdem na multidão dos pormenores, a extensão dos conhecimentos exigidos em cada ano de trabalho, como se o essencial para a vida futura fosse “conhecer” e não “saber conhecer”, a elaboração estereotipada sem que o progresso das ciências e das técnicas nela se reflicta senão ao fim de muitos anos, tudo contribui para que os programas sejam um dos maiores obstáculos para o funcionamento de uma escola nova. 

Como consequência da péssima organização das matérias de estudo, todo o interesse desaparece por completo do ensino; não há nenhuma disciplina que verdadeiramente prenda o aluno; todas são formas diferentes do latim e aprendem-se com a mesma monotonia e o mesmo esforço obstinado de memorização; as matérias mais vivas, como a filosofia ou a história, a química ou as ciências naturais, em nada impressionam o espírito do aluno e não lhe deixam quase outra recordação que não seja a das aulas pesadas e a dos estudos intermináveis. 

A reforma de Sanderson foi radical; aplicou-se logo de princípio uma das ideias em que mais insistia: a de que é necessário não confinar o aluno na ciência elementar e dar, mesmo aos mais novos, uma noção, que pode ser pouco segura, dos últimos progressos da ciência e fazer-lhes entrever os mistérios que ainda há a esclarecer; é essencial que o rapaz que inicia os seus estudos científicos tenha o sentimento de poesia e de aventura que é, para o sábio, um dos mais belos aspectos do trabalho científico. 

Depois, não basta apresentar a ciência como um corpo de doutrina absolutamente constituído, como uma revelação que subitamente foi feita ao Homem por um Deus benevolente e que o professor recolheu e transmite; o aluno tem de saber, sob pena de se lhe falsear toda a perspectiva da vida, que a ciência é um trabalho de gerações; é muito mais educativo saber como se formou a física, conhecer as experiências de um Torricelli, de um Pascal, de um Faraday, de um Branly, repeti-las nos laboratórios, do que fixar as teorias do barómetro ou da T.S.F.

Em Oundle, os alunos frequentemente tinham séries de sessões de trabalhos sobre um grande vulto da história da ciência e reproduziam, com material idêntico ao do sábio e fabricado por eles nas oficinas da escola, as experiências clássicas que tinham permitido avançar mais um passo; o contacto com o trabalho dos maiores sábios dava-lhes uma noção da solidariedade humana, das capacidades de invenção, um gosto pela investigação pessoal e ao mesmo tempo uma solidez de conhecimentos que os programas vulgares de nenhum modo lhes poderiam incutir. 

Para que o ensino das ciências se possa fazer sob o aspecto da sua evolução histórica é naturalmente necessário que os museus sejam muito diferentes do tipo habitual do museu; ainda hoje se entende por museu um local onde estão guardados objectos raros que se visitam com um respeito exterior e uma íntima fadiga; na escola, o museu é uma sala em que nunca se entra ou onde se olham, por pura distracção, as formas estranhas dos bichos ou as colorações variadas dos minerais. 

O museu tem de passar a ser uma lição; tem de se organizar de modo que o visitante ou o aluno aprendam realmente alguma coisa; por meio de esquemas, de breves explicações, de uma disposição adequada tem de se tirar o museu do reino da morte e dar-lhe uma vida ampla e fecunda; um museu de zoologia deve preocupar-se muito menos com as colecções de aranhas do que em expôr claramente as leis de Mendel ou a evolução das ideias sobre os cromossomas; um museu de pintura deve indicar-nos as influências que sofreu ou exerceu um artista, com as suas características, o ambiente social em que trabalhou, o seu significado na história do espírito humano. 

A par da reforma dos museus, que passaram a ter utilidade e interesse, fez-se em Oundle a transformação dos laboratórios; Sanderson conseguiu que o Conselho de Administração lhe concedesse grandes verbas para o apetrechamento dos laboratórios antigos e para a construção de novos locais de trabalho; o laboratório de biologia era um dos melhores de Inglaterra e todos os outros permitiam que se fizessem experiências e investigações, mesmo dispendiosas, quer se tratasse, de trabalho escolar ou de trabalho puramente pessoal. 

Entendia, efectivamente, que o laboratório serve sobretudo para dar ao aluno interesse pela disciplina e para lhe fornecer a possibilidade de lhe satisfazer a sua curiosidade, encaminhando-o a pouco e pouco para a investigação original; os laboratórios eram de frequência livre, os alunos trabalhavam neles às horas que queriam; Sanderson achava que era preferível que o material corresse algum risco a que repousasse nos armários, inteiro e inútil; mesmo os alunos, porque tinham interesse, tomavam cuidado e as perdas não iam muito além do nível normal em laboratórios. 

Era este mesmo espírito de investigação laboratorial que Sanderson queria estender a todas as disciplinas do colégio, mesmo àquelas que tradicionalmente mais dele se afastavam; durante a sua direcção a história deixou de se estudar por manuais que não podem dar dos acontecimentos senão uma visão estreita e pálida e passou a saber-se pela consulta dos textos dos grandes historiadores ou, quando possível, pelos documentos contemporâneos. 

O grupo que se encarregava de determinado assunto, suponhamos as Guerras de Religião ou a Revolução Francesa, começava por tomar num manual um conhecimento esquemático da questão; distribuía depois entre os seus membros os vários capítulos e cada um, munido de uma boa bibliografia, ia colher na esplêndida biblioteca do colégio os elementos necessários; a limitação do tema e a consulta de textos originais dava ao aluno todo o prazer da investigação histórica e afastava-o das tentações retóricas; em seguida, com os camaradas, discutia os resultados e ajudava a elaborar o relatório comum. 

Em literatura, puseram-se logo de parte as lições em que apenas se decoram os nomes dos autores e os títulos das obras, e as aulas de análise e explicações em que todo o interesse se esvai no miúdo comentário; os rapazes passaram a frequentar a biblioteca, a ler realmente os escritores, a comparar as suas impressões com as dos críticos e a terem, no fim do seu ano de trabalho, uma noção muito mais exacta da história literária e, o que é mais, todos os benefícios que para a cultura podem advir do estudo dos grandes autores. 

Os modernos passam a ter um lugar de que o ensino clássico totalmente os afastava; parecia natural a Sanderson - e desejável - que o rapaz se interessasse mais por Wells ou Shaw ou Russell do que por Chaucer ou John Dryden; os problemas de que tratam são problemas actuais, a solução que propõem a que o aluno pode discutir com o conhecimento que tem da vida do seu tempo; os outros, ou são apenas interessantes sob o ponto de vista histórico, ou só sinceramente apreciáveis para quem já tenha uma cultura estética adiantada. 

De todas as disciplinas foi talvez a matemática a que mais atraiu as atenções de Sanderson; encontrou-a, ao chegar a Oundle, ensinada como uma coisa morta que se disseca e se recompõe, com virtuosidade mas sem beleza; os professores não faziam o mínimo esforço para saírem da rotina e de ano para ano voltava-se, como a um trabalho reforçado, a decorar os teoremas de Euclides e as fórmulas de equação; conservava-se-lhe cuidadosamente um aspecto difícil e esotérico, afastando-a de tudo o que fosse vida; esta só penetrava debilmente nos problemas em que as pessoas vão aos mercados carregar-se de géneros absurdos ou se metem, por puro gosto, em longuíssimos cálculos de juros. 

Sanderson quis dar à matemática aplicações concretas e ligá-la amplamente à realidade; os rapazes de Oundle aprendiam matemática a propósito de motores de automóvel e de avião, de notícias de jornais, de fenómenos astronómicos, de trabalhos no campo, de estudos de física ou de química; a matemática deixou de ser para eles uma língua morta que se aprende com esforço e que sem esforço se esquece". (Ibid., pp.51-57) 

"Toda a aparelhagem de coacção e de policiamento que ainda hoje faz parte integrante das escolas e é, em quase todas, a armadura principal, pusera-se em Oundle completamente de lado, não só no que respeita às questões de disciplina mas também quanto a programas e a matéria de estudo; não havia nenhuma rigidez, não se entendia ser um ideal supremo fazer passar a todos pelos mesmos moldes, dar a todos um interesse uniforme; pelo contrário, procurava-se satisfazer os gostos de cada um dos alunos, com disciplinas especiais, facilitando a diferenciação, de modo que na escola houvesse a variedade de tendências e de ocupações que constitui uma das belezas do mundo". (Ibid., p.48)

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O Professor

 

"Sanderson nasceu em Brancepeth, em 1857; (...) e quando chegou à idade dos estudos pensou o pai em encaminhá-lo para uma profissão que não exigisse muitos anos de escola (....) professor de instrução primária seria já uma profissão excelente e que lhe dava até possibilidade de continuar a instruir-se, se quisesse e pudesse fazé-lo."


"Feito o curso elementar, entrou como aluno-mestre na escola de Tudhol e aí, como aconteceu na escola paroquial, (...) notaram algumas pessoas influentes a inteligência e a vontade do rapaz (...) pensavam em que se faria dele um bom pastor e Sanderson, consultado, entusiasmou-se com a ideia; havia já no seu espírito um sentimento religioso profundo e um desejo de servir os outros que lhe pareciam indicar-lhe como a mais apropriada a carreira eclesiástica"


"um professor é um homem que sobretudo aprende a falar de qualquer maneira, mesmo que não tenha assunto" in Disperos, Entrevista concedida ao programa ZIP-ZIP da RTP a 25/9/1969


"Colocou-se como professor de Física no colégio de Dulwich; a vida escolar agradou-lhe plenamente; dava as aulas com o fervor, o dom de si próprio, o amor vigilante com que celebraria um ofício religioso; sentia-se a colaborar na construção de um mundo novo"


"se lia os livros de física alargava os sus interesses a todas as ciências, à história e à literatura, sobretudo à literatura moderna."

"era bem diferente dos seus colegas, quase todos consideravam a sua profissão como a pior das que haviam no mundo e ansiavam pelo dia em que tivessem acumulado o capital suficiente para se libertarem da escola; o jornal ou a bibliografia das revistas satisfaziam o desejo de leitura da maior parte; os mais trabalhadores embrenhavam-se em questões puramente históricas sem nenhum interesse para vida futura"


"Sanderson não acreditava que um verdadeiro Professor se possa alhear do que de há de mais vivo e de mais urgente à sua volta e que haja maneira de separar uma atitude perante a escola de uma atitude perante o mundo"

"Sanderson meditava sobre as as incoriências e os defeitos do mundo e sobre a maneira de lhes dar remédio; sentia que não podia ser um educador, que não encontraria a sua missão sem que lhe fizesse clara a sua concepção do mundo e sem que o seu trabalho de mestre se encontrasse em ampla ligação com os deveres do homem;"


"não queria porém, ser dos sacerdotes que só cuidam de salvar a sua alma, absolutamente indiferentes ao que possa acontecer à dos outros; tinha a certeza de que a sua vida só poderia ser bela e plenamente forte no dia em que tivesse por único motivo melhorar a vida dos outros"

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O Aluno

 

"O entusiasmo de Sanderson, a sua acção junto dos alunos, a preparação dos meios de trabalho, deu a todos a noção de que estão em progresso moral e de que esse progresso moral vai servir em último grau ao melhoramento do mundo; cada rapaz de Oundle, tem o seu espírito os dois polos fundamentais da vida de todos os grandes homens; não pode deixar de ser, como eles, ardente, confiado, destemido perante as oposições e alegre com toda a alegria criadora de quem se sente a construir um universo. 

(...) os alunos levantam-se de noite para estudarem as questões que os interessam e que não tiveram tempo de tratar durante o dia; Sanderson surpreende-os a horas mortas na biblioteca e nos laboratórios, absorvidos pelos livros e pelas manipulações; quando uma vez mandou fechar o laboratório de química, os rapazes fabricaram nas oficinas chaves falsas e continuaram o seu trabalho; na véspera de conferências ou de exposições, reinava em Oundle a actividade mais frenética: cada um dava o máximo que lhe era possível para que o nível dos resultados fosse sempre superior ao que se tinha proposto". (Ibid., pp.47-48) 

"O entusiasmo dos alunos arrastava naturalmente os mestres; todas as desconfianças que tinham surgido no início, todas as oposições que Sanderson tivera de vencer, todos os atrasos que sempre adquirem os professores numa escola que não vive, que se embala na rotina, tinham desaparecido para sempre; havia, em Oundle, nos últimos anos, um bloco de trabalhadores dispostos a dar tudo o que lhes fosse possível para que o mundo se salvasse e se salvasse pela escola". (Ibid., p. 48) 

"Por outro lado, a escola deve servir o mundo e tentar modificá-lo, enquanto escola; os rapazes de Oundle organizam exposições científicas em que se põem claramente certos dados basilares, reconstituições de experiências históricas, conferências de divulgação, representações e concertos; nos laboratórios da escola analisam-se amostras de terras que os agricultores enviam; preconizam-se métodos novos de cultura; propõem-se soluções para todos os problemas que a vida regional representa; procura-se a todo o momento esclarecer e civilizar". (Ibid., p. 62) 

"Os alunos saíram com a visão clara dos grandes problemas humanos e dispostos a fazer o possível para que o amor cristão entre no domínio que até agora lhe tem resistido mais teimosamente: no domínio económico; saíram com entusiasmo para se baterem na vida, não por vantagens meramente pessoais, mas por uma organização geral que dê a todos os homens a possibilidade de se desenvolverem; saíram com a energia que não desanima diante de nenhuns obstáculos e antes os toma como os seus melhores auxiliares para que se apure e se estabeleça mais firme. 

Todos eles aprenderam no contacto com Sanderson que a vida só é bela quando é uma empresa em benefício dos outros homens e do mundo, quando sai da rotina que esteriliza para os perigos da aventura intelectual ou da aventura de acção; e o ambiente de Oundle, toda a sua actividade, toda a sua admirável organização, todo o ímpeto espiritual que o animava lhes puseram, como a primeira das suas obrigações na vida, lutar para que os homens seus irmãos tenham na oficina, no campo, na escola, na vida pública, a mesma liberdade, os mesmos direitos e os mesmos deveres, os mesmos recursos e as mesmas perspectivas". (Ibid., pp.65-66)

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt