A mão - primeira "máquina de contar"
A mão é
certamente o mais antigo e mais difundido dos auxiliares de contagem e de cálculo
usados por todos os povos no decurso dos tempos.
Na cultura clássica
encontram-se diversos testemunhos escritos alusivos à mão como instrumento de
cálculo. Entre os Gregos, Aristófanes a Plutarco fazem-lhe referência. Com a
frase tuos digitos novi, “conheço a tua habilidade com os dedos”, Cícero
testemunha que a prática era igualmente corrente em Roma. Numa das suas
Epístolas(LXXXVII), Séneca escrevia: ”A avareza ensinou-me a contar e a pôr
os meus dedos à disposição da minha paixão”. Mais tarde, Tertuliano declamava no
seu Discurso apolgético: “Mas, durante esse tempo, é preciso permanecer
de pé envolto por uma grande quantidade de papéis e gesticulando os dedos para
exprimir os números.” Também Quintiliano diz nas suas Instituições oratórias
(livro I): “O conhecimento dos números, não é apenas necessário para o orador
mas para qualquer um que tenha os primeiros elementos das letras; fez-se
frequentemente uso disso na tribuna e um advogado que hesita sobre um produto ou
que somente mostra incerteza ou falta de jeito na maneira de contar com os seus
dedos dá logo má opinião do seu talento”. Plínio, o Velho, na História
Natural (XVI, p. 434) conta que o rei Numa tinha dedicado ao deus Janus uma
estátua que mostrava com os dedos o número de dias do ano.
Esta prática não foi porém apanágio de gregos e romanos. Podemos encontrá-la em
todas as épocas e em todas as regiões do mundo.
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Fig. 1 - A conta digital entre os astecas (Mexico pré-colombiano). Detalhe da pinlura mural de Diego Rivera (cena de mercado). Palácio Nacional do Mexico. |
Fig. 2 — Boécio (470-524), filósofo e matemático latino, executando com dedos os gestos de uma numeração particular. Segundo uma pintura de Juste de Gand (s. XV). |
O que se apresenta em seguida procura mostrar como o homem, ao longo do tempo, entende as espantosas possibilidades numéricas dos seus dedos.
O procedimento mais elementar consiste em atribuir um valor inteiro a cada dedo, na ordem de sucessão regular começando pela unidade. Existem diversas variantes:
Nesta
técnica, a associação dos números aos dedos faz-se, ou a partir das mãos dobradas
e estendendo-se os dedos um após outro, ou a partir das mãos estendidas,
dobrando-se um dedo depois do outro. Este procedimento pode ainda desenvolver-se
da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.
Fig. 3 - Variantes da contagem digital elementar