A MÃO -
PRIMEIRA
“MÁQUINA DE CONTAR”
Uma
curiosa maneira de comercializar
“Acredito
já ter lido em algum lugar que os orientais têm um método particular de concluir
um negócio diante de várias pessoas sem que nenhuma saiba o preço estipulado;
servem-se ainda muito frequentemente dessa arte. Temi que alguém me comprasse
alguma coisa dessa maneira, pois ela dá ocasião ao corrector ou ao comissário de
enganar, mesmo em sua presença, aquele para o qual ele faz o negócio” (cit
in Ifrah, G. (2000), Tomo I, pag.94), Karsten Niehbur, o célebre viajante
dinamarquês no século XVIII, seu livro Descrição sobre a Arábia.
E, prossegue com a descrição do processo utilizado:
“As duas partes fazem conhecer o que se pede e o que se quer pagar
tocando os
dedos ou as juntas da mão. Para fazer esse negócio cobre-se a mão com o pano
do seu casaco, não para fazer um mistério dessa arte mas por causa dos
assistentes, para que ignorem a negociação que pode ter lugar...” (cit in
Ifrah, G. (2000), Tomo I, pag.94).
O procedimento é o seguinte:
a. Para indicar a unidade, um dos contratantes toma o indicador do parceiro;
b. Para o 2, toma o indicador e o dedo médio reunidos;
c. Para o 3, toma o indicador, o dedo médio e o anelar reunidos;
d. Para o 4, toma a mão, menos o polegar,
e. Para o 5, toma a mão inteira;
f. Para o 6, toma duas vezes seguidas o indicador, o médio e o anelar reunidos (ou seja, 2x3);
g. Para o 7, toma inicialmente a mão menos o polegar, depois o indicador, o médio e o anelar reunidos (ou seja,4+3);
h. Para o 8, toma duas vezes seguidas a mão menos o polegar (ou seja, 2x4)
i. Para o 9, toma inicialmente a mão inteira depois a mão menos o polegar (ou seja, 5+4).
Para 10, 100, 1000 ou 10000, toma-se novamente o indicador do parceiro (exactamente como fez para a unidade); para 20, 200, 2000, 20000,
pressiona o polegar e o indicador reunidos (como fez para o 2); e assim por
diante (fig.4).
Fig. 4 - Conta digital que serviu outrora as negociações de comerciantes orientais.
No princípio do século, no
Bahrein, este procedimento ainda era utilizado entre os naturais da ilha, como
se pode ler na seguinte descrição: “Os dois contratantes, sentados um em
frente do outro, dão-se a mão direita. Com a mão esquerda seguram por cima das
mãos reunidas, um véu a fim de que os seus gestos permaneçam escondidos e o
negócio – inclusive as inevitáveis discussões às quais dá lugar – se desenrole
efectivamente sem que uma palavra ou enunciação de preço saia da boca do
comprador ou do vendedor. A psicologia deste mercado, segundo os que assistiam a
ele, é extremamente interessante, porquanto a impassibilidade é a regra e o
menor sinal pode ser interpretado para a desvantagem de um dos contratantes.”
(J.-G Lemoine,
cit in Ifrah, G. (2000),
Tomo I, pag.95)
Cerca dos anos vinte, na China e na Mongólia ainda se negociava de maneira
análoga. Segundo P. -J. Dols:
“O comprador põe as suas mãos nas mangas do vendedor. Conversando, toma o indicador da mão do vendedor, isto é, oferece 10, 100, ou 1000 francos.
“- Não! Diz o outro.
“O comprador toma então o indicador e o dedo médio conjuntamente.
“- É isso, responde o vendedor.
“A compra está concluída, o objecto está vendido por 20, 200, 2000 francos. Os três dedos tomados em conjunto indicam a soma de 30, 300 ou 3000. ...O polegar e o dedo mínimo conjuntamente, 60. O polegar na palma do vendedor quer dizer 70. O polegar e o indicador conjuntamente indicam 80. Quando o comprador toca com o polegar e o indicador unidos no primeiro dedo do vendedor, indica a soma de 90” (cit in Ifrah, G. (2000), Tomo I, pag.95).