Demonstração

 

 

 

Aqui está um comentário do editor sobre as ideias subjacentes à demonstração da suposição que Arquimedes faz na hipótese 4: 

 

Até agora a carta foi literalmente traduzida devido ao interesse histórico inerente ao ipsissima verba de Arquimedes em tal assunto. O restante trabalho pode agora ser mais livremente reproduzido, e, antes de proceder com os conteúdos matemáticos, só é necessário comentar que Arquimedes a seguir descreve como ele chegou a um limite superior e inferior para o ângulo subtendente pelo sol. Ele fez isto pegando numa vara grande ou régua, atando um pequeno cilindro ou disco na ponta, e apontando a vara na direcção do sol logo ao nascer deste (para que seja possível olhar para o sol directamente), depois pondo o cilindro a uma distância de tal forma que ocultasse e que quase oculta, o sol, e por fim medindo os ângulos subtendentes pelo cilindro.

Ele explica também a correcção que ele achou necessária fazer porque "o olho não vê de um dado ponto mas sim de uma dada área".

O resultado da experiência tinha como propósito mostrar que o ângulo subtendente pelo diâmetro do sol era menor do que -ésima parte, e maior do que -ésima parte, de um ângulo recto.

 

 

 

 

 

 

    Para provar que o diâmetro do sol é maior do que o lado de um polígono com 1000 lados iguais inscrito no círculo maior do 'universo'. 

 

Suponha-se que o plano do papel é o plano que passa pelo centro do sol, o centro da terra e do olho, à hora em que o sol tenha acabado de nascer acima do horizonte. Consideremos o círculo EHL resultante da intersecção do plano com a terra e o círculo FKG resultante da intersecção do plano com o sol, sendo C e O o centro da terra e do sol respectivamente, e sendo E a posição do olho.

 

 

Consideremos ainda, o círculo maior AOB resultante da intersecção do plano com a esfera do 'universo' (isto é, a esfera cujo centro é C e cujo raio é CO).

 

 

Desenhe-se duas tangentes ao circulo FKG com ponto de intersecção E, e que passam pelos pontos P,Q e a partir de C desenhe-se outras duas tangentes ao mesmo círculo passando pelos pontos F e G respectivamente.

 

 

Seja CO o segmento de recta que intersecta o sol no ponto H e a terra no ponto K; e sejam CF, CG os segmentos de recta que passam pelos pontos A e B respectivamente no círculo maior AOB.

 

 

Trace-se os segmentos EO, OF, OG, OP, OQ, AB, e seja AB o segmento de recta de tal forma que o segmento CO intersecte AB no ponto M.

 

 

Assim CO>EO, pois o sol está acima do horizonte. 

 

Portanto    Ð PEQ > Ð FCG.

 

E    Ð PEQ > R

Mas            < R , onde R representa um ângulo recto.

 

Logo   Ð FCG < R, a fortiori,

 

e o arco do círculo maior associado à corda AB é menor do que -ésima parte da circunferência deste círculo, isto é

 

AB < (lado de um polígono com 656 lados inscrito no círculo).

 

Ora o perímetro de qualquer polígono inscrito no círculo maior é menor do que CO. [Cf. Medida de um círculo, Prop.3.]

 

Portanto    AB : CO < 11 : 1148,

 

e a fortiori,    AB < CO..............................(a) .

Assim, uma vez que CA = CO, e AM é perpendicular a CO, enquanto que OF é perpendicular a CA, vem    AM = OF.

 

Portanto    AB = 2AM = (diâmetro do sol).

 

Desta forma    (diâmetro do sol) < CO, por (a) ,

 

e, a fortiori,    (diâmetro da terra) < CO. [Suposição2]

 

Por isso    CH + OK < CO,

 

assim    HK > CO,

 

ou    CO : HK < 100 : 99.

 

E    CO > CF,

 

por outro lado    HK < EQ.

 

Portanto    CF : EQ < 100 : 99..............................(ß).

 

Consideremos agora o lado adjacente ao ângulo recto dos triângulos rectos CFO, EQO respectivamente, 

 

    OF = OQ, mas EQ < CF (pois EO < CO).

 

Portanto    Ð OEQ : Ð OCF > CO : EO,

mas                                      < CF : EQ   *

 

*A proposição aqui suposta é claro equivalente à fórmula trigonométrica que afirma que, se a , ß são o comprimento de arco de dois ângulos, cada um menor do que um ângulo recto, do qual a é maior, então

 

                 (nota do editor).

 

Multiplicando os ângulos por 2,    РPEQ : Ð ACB < CF : EQ

                                                                                < 100 : 99, por (ß).

 

Mas    Ð PEQ > R, por hipótese.

 

Portanto    РACB > R

                                > R.

 

Sai então que o arco AB é maior do que -ésima parte da circunferência do círculo maior AOB.

 

Logo, a fortiori,    AB > (lado de um polígono com 1000 lados inscrito no círculo maior),

 

e AB é igual ao diâmetro do sol, como queríamos demonstrar.

 

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Os seguintes resultados podem agora ser demonstrados:

    (diâmetro do 'universo') < 10.000 (diâmetro da terra);

e  (diâmetro do 'universo') < 10.000.000.000 estádios.  

 

    (1) Suponha-se, para simplificar a notação, que representa o diâmetro do 'universo', o diâmetro do sol, o diâmetro da terra, e o diâmetro da lua.

 

Por hipótese,     não é > 30 [Suposição 3]

 

e    > ; [ Suposição 2]

 

logo    < 30 .

 

Por outro lado, pela última proposição,

     > (lado de um polígono regular com 1000 lados inscrito no círculo maior),

 

assim    (perímetro de um polígono regular com 1000 lados) < 1000

                                                                                            < 30.000 .

 

Mas o perímetro de qualquer polígono regular com mais de seis lados inscrito num círculo é maior do que um hexágono regular inscrito nesse mesmo círculo, e portanto maior do que 3 vezes o diâmetro. 

 

Assim,    (perímetro de um polígono regular com 1000 lados) > 3 .

 

Consequentemente    < 10.000 .

 

    (2) (Perímetro da terra) não é > 3.000.000 estádios.

     

[Suposição 1] 

 

e    (perímetro da terra) > 3 .

 

Portanto     < 1.000.000 estádios,

 

donde    < 10.000.000.000 estádios.

 

 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt