"Uma longa sequência
de metamorfoses Da palavra «metamorphose», vertical e
horizontalmente escrita na superfície, com as letras O
e M como pontos de intersecção, origina-se um mosaico
de quadrados brancos e pretos, que se transforma, num
tapete de flores e folhas, onde duas abelhas foram
pousar. A seguir transformam-se as flores e folhas de
novo em quadrados, mas em breve deles se desenvolvem
formas de animais. Expressado em linguagem musical,
temos aqui que ver com o com passo quaternário.
Agora muda-se o ritmo:
uma terceira cor, junta-se ao branco e ao preto e
daí resulta um compasso ternário. Cada figura
simplifica-se e o padrão que primeiro consistia em
quadrados, passa agora a hexágonos. Então surge
uma associação de ideias: hexágonos fazem lembrar
os alvéolos de um favo e assim aparece em cada
alvéolo uma larva de abelha. As larvas crescidas
transformam-se em abelhas que voam no espaço. Não
lhes está determinada uma longa vida, pois cedo as
suas silhuetas pretas juntam-se a um plano de
fundo de peixes brancos. Logo que estes também se
unem, mostra-se que os espaços intermédios têm a
forma de aves pretas.
Tais transformações de
objectos em planos de fundo aparecem ainda algumas
vezes: aves escuras – barcos claros – peixes
escuros – cavalos claros – aves escuras. Estas
simplificam-se num padrão de triângulos de lados
iguais que servem por pouco tempo de suporte para
envelopes com asas, mas que depressa se
transformam em formas de aves pretas. Do seu plano
de fundo branco, aparecem avezitas cinzentas que
ficam cada vez maiores, até tocarem os contornos
das demais espécies. O que então ainda resta do
plano de fundo branco, toma a forma de uma
terceira espécie de ave de maneira que três
espécies diferentes, cada uma com a sua forma e
cor específica, preenchem inteiramente a
superfície.
Agora é de novo a vez
duma simplificação: cada ave torna-se num losango.
Tal como na estampa «Circulação» oferece-se aqui a
oportunidade de passar a uma imagem
tridimensional, pois três losangos sugerem um
cubo. Dos blocos origina-se uma cidade à beira
mar.
A torre que está na
água é ao mesmo tempo uma figura de xadrez cujo
tabuleiro, com seus quadrados claros e escuros,
conduz às letras da palavra «metamorphose».”
(Escher, 1994, p.11) |