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OBRA DE GALOIS |
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A teoria das equações faz surgir em Galois o mesmo problema que tinha sido colocado por Abel, isto é, o de, dada uma equação qualquer, decidir se esta é ou não, resolúvel por radicais. Numa nota encontrada entre os papéis de Galois, pode ler-se:
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"
É hoje uma verdade vulgar que as equações gerais de grau superior a 4, não
podem resolver-se por radicais, isto é, que as suas raízes não podem
exprimir-se por funções dos coeficientes que não contenham outras
irracionais senão radicais. Esta verdade tornou-se vulgar de certa forma por
ouvir-dizer, embora a maior parte dos geómetras ignore as demonstrações dela
apresentadas por Ruffini,
Abel
, etc.,
demonstrações baseadas no facto de que uma tal solução é já impossível para
o quinto grau. À primeira vista parece que assim se termina a teoria da
resolução por radicais..."
cit in Estrada, 2000, pág.542 |
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Ruffini |
Na realidade já se conhecia, na altura, uma fórmula para resolver equações de grau 2 (fórmula resolvente ou fórmula de Báskara), de grau 3 (fórmula de Cardano, apesar de muitos dizerem que foi Tartaglia quem a descobriu) e de grau 4 (fórmula de Ferrari). O termo "grupo" e o "desenvolvimento da Teoria dos Corpos", deve-se a Galois, pois foram usados em 1830, aquando da exploração dos seus trabalhos. Nas suas obras também está presente o termo de "corpo", que mais tarde viria a ser definido de forma mais explicita por Dedekínd. |
Apresentamos alguns teoremas e algumas definições, entre eles, a definição de "grupo" e de "corpo". |
Definição:
Seja G um conjunto e * uma operação (binária) definida em G. Diz-se que o par (G,*) - ou, quando for claro a que operação nos referimos, apenas G - é um grupo quando:
1) * é associativa:
(x*y)*z = x*(y*z), ∀x,y,z ∊G;
2) Existe em G um elemento neutro para *:
∃u ∊G : x*u = u*x = x, ∀x ∊G;
3) Para cada x ∊G, existe em G um elemento oposto:
∀x ∊G, ∃x'∊G: x*x' = x'*x = u;
Diz-se que o grupo G é comutativo (ou abeliano) quando satizfaz a seguinte propriedade adicional:
4) * é comutativa:
x*y = y*x, ∀x,y ∊G.
Definição:
Chama-se anel a uma estrutura constituída por um conjunto A e duas operações binárias definidas em A, arbitrariamente designadas por «adição» e «multiplicação», tais que:
1) a adição é associativa e comutativa;
2) existe em A um elemento, designado por 0, que é neutro para a adição e cada elemento de A tem simétrico;
3) a multiplicação é associativa;
4) a multiplicação é distributiva em relação à adição;
O anel diz-se comutativo quando:
5) a multiplicação é comutativa.
Definição:
Chama-se corpo a um anel comutativo e com identidade(1) , no qual todo o elemento não nulo é uma unidade (isto é, todo o elemento tem inverso).
Definição:
Sejam K um corpo e S∊K. S é subcorpo de K se e só se:
a) 0,1 ∊S;
b)∀x,y ∊S, x-y ∊S;
c) ∀x ∊S, ∀y ∊S\{0}, xy-1 ∊S;
Definição:
Sejam K, L corpos. Dizemos que L é uma extensão de K se K é um subcorpo de L, e escrevemos K≼L neste caso. O símbolo L:K designa a extensão de K por L.
Teorema:
Suponhamos que L é uma extensão de K. Então podemos encarar L como sendo um espaço vectorial sobre K com respeito ás operações "naturais":
adição: x+y [adição do espaço vectorial] := x+y [adição do corpo L], ∀x,y ∊L;
multiplicação escalar: kx [produto escalar] := kx [produto em L], ∀k ∊K, ∀x ∊L.
Definição:
Sejam K, L corpos tais que L é uma extensão de K.
(a) (Grau de uma extensão). O grau da extensão L:K é a dimensão de L considerado como espaço vectorial sobre K; escreve-se |L:K| para este grau, onde se entende que |L:K| é um cardinal (poderá ser infinito).
(b) (Extensão finita). Diz-se que L é uma extensão finita de K se o grau |L:K| for finito; caso contrário, dizemos que L é uma extensão infinita de K.
Definição:
(a) Seja L uma extensão de K e seja λ∊L. Dizemos que λ é um elemento algébrico sobre K, se existe um polinómio p(t)∊K[t], onde p(t)≠0, tal que p(t)=0; caso contrário, dizemos que λ é transcendente sobre K.
(b) Seja L uma extensão do corpo K. Dizemos que L é uma extensão algébrica de K se λ é algébrico sobre K para todos os elementos λ∊L.
Definição:
Seja L uma extensão de K. Dizemos que L é uma extensão simples de K se existe α∊L, tal que L = K(α).
Definição:
Seja L um corpo. Dizemos que o polinómio f(t)∊L[t] se decompõe em L se f(t) = λ.(t-α1).....(t-αn), onde λ,α1, ......, αn ∊L.
Definição: (Corpo de decomposição)
Seja K um corpo e seja f(t)∊K[t]. Dizemos que o corpo T é um corpo de decomposição para f(t) sobre K, se K∊L e se verificam as seguintes condições:
(a) f(t) decompõe-se em T; e
(b) se K≼T'≼T e se f(t) se decompõe em T' então T' = T.
Definição:
Seja L:K uma extensão do corpo K. Dizemos que L:K é uma extensão normal se cada polinómio irredutível f(t)∊K[t] que tem pelo menos uma raiz em L se decompõe em L.
Definição:
(a) Seja f(t) um polinómio irredutível sobre o corpo K. Dizemos que f(t) é separável sobre K se f não tem raízes múltiplas num corpo de decomposição.
(b) Dizemos que g(t)∊K[t] (não necessariamente irredutível) é separável sobre K se cada factor irredutível de g(t) em K[t] é separável sobre K.
(c) Seja L:K uma extensão de corpos e seja α∊L um elemento algébrico sobre K. Dizemos que α é separável sobre K se o polinómio mínimo de α sobre K é separável sobre K.
(d) Dizemos que a extensão algébrica L:K é separável se cada elemento α∊L é separável sobre K.
Definição:
Seja L:K uma extensão do corpo K. Então L:K é uma extensão radical se L = K(α1,....,αm) onde, para cada i = 1,....,m, existe n(i)∊ℕ tal que:
αin(i)∊K(α1,....,αi-1), 2≤i, α1n(1)∊K.
Definição: (Grupo de Galois)
(1) Seja L:K uma extensão de corpos. Define-se o Grupo de Galois, G(L:K), da extensão L:K como sendo G(L:K)={g: g é um automorfismo-k de L}.
Por outras palavras, G(L:K)={g: g é um automorfismo de L tal que kg = k ∀k∊K}
(2) Sejam K um corpo, f(t) ∊ K[t] e L um corpo de decomposição de f sobre K. Define-se o Grupo de Galois de f(t) sobre K como sendo G(L:K).
Definição: (Grupo Resolúvel)
Seja G um grupo finito. Dizemos que G é resolúvel se existe uma cadeia de subgrupos
1 = G0⊴ G1 ⊴ ..........⊴ Gn = G
onde todos os quocientes Gi/Gi-1 abelianos.
Teorema: (Galois, 1832)
Se f(t)∊ℚ[t] então, f(t) é resolúvel por radicais sobre ℚ se e só se o grupo de Galois de f(t) é resolúvel.
Teorema: (Galois, 1832)
Seja f(t)∊ℚ[t], irredutível e de grau primo sobre ℚ. Então, f é resolúvel por radicais sobre ℚ se e só se sempre que α≠β são raízes de f em ℚ, ℚ(α,β) é o corpo de decomposição de f sobre ℚ.
Corolário:
Seja f(t)∊ℚ[t], irredutível e de grau primo sobre ℚ. Se f(t) tem pelo menos duas raízes reais e pelo menos uma raiz não real, então f(t) não é resolúvel por radicais sobre ℚ.
Teorema:
O polinómio f(t) = t5-6t+3 ∊ℚ[t], não é resolúvel por radicais sobre sobre ℚ.
Proposição(*):
Volvidos mais de dez anos depois da morte de Galois, foi Liouville que publicou alguns trabalhos deixados por este prodígio da matemática. Trabalhos que, além da sua novidade eram dificilmente legíveis em virtude da sua complexidade de notação e de escrita que Galois utilizava. Assim se entende que Liouville, nas suas reflexões sobre os motivos que durante anos levaram à rejeição dos trabalhos de Galois, tenha recordado a seguinte frase de René Descartes: "Quando questões transcendentais são discutidas, seja transcendentalmente claro!" in http://users.hotlink.com.br/marielli/matematica/geniomat/galois.html |
Veja agora o grande contributo que Galois, através da sua teoria, deu à matemática, ajudando a resolver os 3 grandes problemas da Antiguidade: a trissecção do ângulo, a quadratura do círculo e a duplicação do cubo.
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