

Cronologia da vida de Gauss

Nasceu
a: 30 de Abril de 1777, em Brunswich, na Alemanha
Morreu
a: 23 de Fevereiro de 1855, em Göttingen, na Alemanha
Na linha divisória entre a
Matemática dos séculos XVIII e XIX domina a figura majestosa de Carl Friedrich Gauss.
Filho de um trabalhador à jorna, foi criado no seio de uma
família pobre, austera e sem educação.
Dadas as precárias condições económicas da sua família, recebeu o
precioso apoio do Duque de Brunswich que reconheceu nele uma
criança-prodígio. Este apoio começou quando Gauss tinha 14 anos e permitiu-lhe
dedicar-se exclusivamente aos estudos, durante 16 anos.
Ainda antes do seu vigésimo quinto aniversário, já Gauss era famoso
pelo seu trabalho em Matemática e Astronomia. Aos 30 anos foi nomeado Director do
Observatório de para Göttingen, cidade da qual raramente saiu, excepto por questões
científicas. Aí, trabalhou durante 48 anos (de 1807 a 1855) até à sua morte,
com quase 78 anos.
A vida pessoal de Gauss
foi trágica e complicada. Um pai insensível, a morte prematura da sua primeira mulher, a
pouca saúde da sua segunda mulher e uma terrível relação com os seus filhos negou-lhe,
até tarde, a possibilidade de vida estável no seio de uma famíla
equlibrada.
Mesmo com todos estes problemas, Gauss manteve uma rica e espantosa
actividade científica. A sua precoce paixão pelos números e cálculos estendeu-se à Teoria dos Números, à Álgebra,
à Análise, à Geometria, à teoria das Probabilidades e à
Teoria dos Erros. Ao mesmo tempo, levou em frente uma intensiva pesquisa empírica e
teórica em muitos outros ramos, incluindo Astronomia Observacional, Mecânica
Celeste, levantamento topográfico, Geodesia, Geomagnetísmo, Electromagnetísmo
e Mecanismos Ópticos.
***
Gauss não encontrou nenhum colaborador entre os seus colegas matemáticos
tendo trabalhado sempre sozinho. Mas, se é verdade que o seu isolamento relativo, a sua compreensão
das matemáticas «puras» e «aplicadas», a sua preocupação com a astronomia e o uso
frequente que faz do latim têm a marca do século XVIII, é inegával que, nos seus trabalhos,
se reflecte o
espírito de um novo período. Se, tal como os seus contemporâneos Kant, Goethe, Beethoven e Hegel,
se manteve à margem das grandes lutas políticas da sua época, a verdade é
que, no seu próprio campo, Gauss
expressou as novas ideias da sua época de uma forma poderosíssima.
As suas publicações, a sua abundante correspondência, as suas notas,
e os seus manuscritos mostram que ele possuía uma das maiores virtuosidades científicas
de todos os tempos.

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Nem na descendência de Gauss,
nem no seu ambiente infantil, existe qualquer indício do que viria a ser o trabalho da
sua vida.
Do lado de seu pai, temos sobretudo donos de pequenas quintas, trabalhadores
rurais e operários em Braunschweig (que é agora uma parte da ex-Alemanha de
Leste), isto é, trabalhadores que lutavam arduamente pela sua subsistência. Contudo, há também notícia de agricultores
abastados, pedreiros e titulares de postos eclesiásticos.
O avô paterno, Jürgen Goos, estabeleceu-se na
cidade de Braunschweig (mais tarde, capital do Ducado de Braunschweig) em 1744. Seu
pai, Gebhard Dietrich Gauss, nasceu em 1744. Finalmente, e após muito trabalhar como
pedreiro, construtor de canais e jardineiro, Gebhard tornou-se proprietário de uma casa, em Wilhelmstrasse, que havia sido comprada por seu pai,
Jürgen Goos, em 1753, com uma elevada hipoteca. Como Gebhard calculava e escrevia bem, foi-lhe confiado a função de
tesoureiro de um fundo de enterro. A primeira mulher de Gebhart morreu em 1775.
No ano seguinte, Gebhart casou com
Dorothea Benze. O único filho desta união foi Carl Friedrich Gauss,
que nasceu a 30 de Abril de 1777, na casa de Wilhelmstrasse (que mais tarde se tornou um
museu e foi destruída num bombardeamento durante a Segunda Guerra Mundial).
O avô materno de Gauss, Kristoffer Benze, era
pedreiro na aldeia de Velpke, nos arredores de Braunschweig. Como trabalhava no arenito,
seus pulmões foram afectados, acabando por morrer quando tinha apenas trinta anos.
O irmão mais novo de Dorothea, Johann Friedrich, era
dotado, original e autodidacta, tendo aprendido por si próprio a ser um bom tecelão de
damasco. Quando morreu, em 1809, Gauss declarou que o mundo havia perdido um
génio, declaração esta que só tem a evidência do olhar de Gauss como
sustentação.
Quanto à sua mãe, Dorothea, nunca aprendeu a escrever
e quase não conseguia ler. No entanto tinha uma óptima inteligência, bom humor e um
forte caracter. O seu filho Carl Friedrich foi o seu interesse dominante da sua
vida cujas
últimos vinte e dois anos dedicou a acompanhar o filho no observatório, em Göttingen.
Em 1810 Gauss descrevia os seus pais numa carta para
Minna Waldeck (que se tornou a sua segunda esposa) nas seguintes palavras:
"O meu pai era um homem
absolutamente honesto, em muitos aspectos merecedor de respeito, e certamente um homem bem
visto. Mas na sua casa era tirânico, grosseiro, e violento... Nunca teve a minha
confiança completa quando eu era uma criança. No entanto, creio que nenhuma
influência dele se faz realmente sentir em mim,
dado que me tornei independente muito cedo...
A minha mãe nasceu a cinquenta quilómetros de Braunschweig, e
lá trabalhou durante alguns anos como empregada. Casou com o meu pai em 1776, e não
houve mais crianças para além de mim. O seu casamento não foi feliz o que
ficou a dever-se a circunstâncias exteriores e ao facto das duas personalidades não
serem compatíveis. A minha mãe é certamente uma mulher muito boa, que não é indigna
do amor do seu filho."

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A Infância
Começaram cedo os indícios que faziam
adivinhar o talento incrível que Gauss demonstraria ao longo de sua vida. Isso é patente
em alguns dos excertos que relatam a sua infância. É o caso do seguinte episódio:
durante os verões, Gebhard Gauss, que era contramestre numa firma de alvenaria,
pagava o salário semanal aos seus trabalhadores. Uma vez, quando Gebhard estava
prestes a pagar o salário a um dos trabalhadores, Carl Friedrich, na altura com apenas
três anos, levantou-se e disse: "Papa, cometeste um erro!",
indicando em seguida a quantia certa. Gauss tinha seguido os cálculos sem
sequer poder ver os registos escritos (dado que a
sua altura ainda não era suficiente para alcançar a mesa), e para surpresa dos
presentes, uma confirmação provou que Carl Friedrich estava
certo.
É portanto natural que Gauss
tivesse o costume de dizer que tinha aprendido a contar e a calcular antes
de ter aprendido a falar. |
|
Outra das suas proezas foi aprender a
ler sozinho. Como o conseguiu? Segundo reza a história apenas perguntando aos adultos
como se pronunciavam as letras do alfabeto. E isto foi só o início do que viria a ser a
sua...
 |
Carl Friedrich
tinha sete anos quando entrou para a Escola Primária St. Catherine, sendo inicialmente
apenas mais um no meio de tantos alunos. O seu professor era J.G. Büttner, um professor
tradicional que, em geral, considerava os seus alunos como incapazes e pouco
dotados. No entanto, cedo descobriu que Gauss era diferente. Como o descobriu? Quando o seguinte episódio
aconteceu: |
Gauss tinha
cerca de dez anos e frequentava a classe de aritmética quando Büttner propôs o seguinte
difícil problema:
"Escrevam todos os números de 1 a 100 e depois vejam quanto dá a
sua soma."
Era hábito, quando a classe tinha uma tarefa deste tipo, que se
fizesse o seguinte: o primeiro aluno a acabar iria até à secretária do professor com a
sua ardósia e colocá-la-ia em cima da mesa. O seguinte a acabar colocaria a sua ardósia
em cima da do colega e assim sucessivamente, até a pilha de ardósias estar completa.
O problema em questão não era difícil para alguém que tivesse
alguma familiaridade com as progressões aritméticas. Como os rapazes ainda
eram principiantes, Büttner certamente pensou que lhe seria possível fazer um
intervalo por um bom bocado. Mas estava enganado... Em alguns segundos, Gauss colocou a
sua ardósia na mesa, e ao mesmo tempo disse no seu dialecto Braunschweig: "Ligget
se" (Aqui jaz ). Enquanto os outros alunos continuavam a somar, Gauss sentou-se calmo e sereno, impassível aos olhares desdenhosos e
suspeitos de Büttner.
No final da aula os resultados foram examinados. A grande maioria
dos alunos tinha apresentado resultados errados pelo que foram severamente corrigidos com uma cana-da-índia. Na ardósia de
Gauss, que se encontrava no fim, estava apenas um número: 5050 (É desnecessário
dizer que o resultado esta correcto.) Como seria de esperar, Gauss teve que
explicar ao espantado professor Büttner como é que tinha obtido aquele resultado:
"Então, 1+100=101, 2+99=101, 3+98=101, e por ai em diante,
até finalmente 49+52=101 e 50+51=101. Isto dá um total de 50 pares de números cuja soma
dá 101. Portanto, a soma total é 50 101=5050."
Desta maneira aparentemente simples, Gauss tinha encontrado a propriedade da simetria das progressões aritméticas,
derivando a fórmula da soma para uma progressão aritmética arbitrária
fórmula que, provavelmente, Gauss descobriu por si próprio.
Este
acontecimento marcou o ponto de viragem na sua vida. Büttner imediatamente percebeu que
pouco mais tinha para ensinar a Gauss e deu-lhe o melhor livro escolar de aritmética,
especialmente encomendado de Hamburg. Por essa altura, Gauss teve um estreito
contacto com Martin Bartels, na altura com 18 anos, assistente de Büttner nas
aulas o que constituiu um golpe de sorte, não tanto para Gauss que pouco
tinha a aprender com ele mas para Bartels que, mais tarde, se tornou professor de
Matemática. |
Perante este génio, tanto Büttner como Bartels visitaram o pai de
Gauss para lhe falarem da educação do seu filho. Gebhard estava habituado a que a sua
vontade fosse lei na família e havia idealizado que os seus dois filhos
seguissem os seus passos (o que, de facto, aconteceu com o meio irmão de Carl Friedrich, George, fruto do
primeiro casamento de seu pai). Inicialmente Gebhard mostrou-se
relutante e perguntou-lhes (com razão) como é que iria arranjar dinheiro
suficiente para subsidiar a educação superior do seu filho. A isto Bartels e
Büttner responderam com o único argumento que era habitual e, frequentemente, o único
possível, nesses dias: "Não temos dúvida que arranjaremos
qualquer pessoa distinta que queira sirvir de patrono a um tal génio." |
 |
O resultado foi um compromisso... Gebhard permitiu que o rapaz abandonasse o seu
trabalho de rotina fiando linho. A roca de fiar desapareceu (Gebhard disse que
havia feito dela lenha para a lareira) e, no seu lugar, apareceram livros.
Gauss
e Bartels passaram então a trabalhar juntos. Costumavam sentar-se e discutir problemas de Matemática até longas horas da
noite. Mas cedo Bartels compreendeu que nada tinha para ensinar a Gauss. O aluno
tinha superado o mestre.
Em 1788, Gauss
matriculou-se (quase contra a vontade do pai) no Liceu Catharineum em Braunschweig.
O Professor Hellwing devolveu o
primeiro trabalho escrito de Gauss com o comentário de que "não era
necessário, para um estudante tão dotado, continuar a ter aulas naquela classe".
Com a ajuda de Bartels e do filólogo Meyerhoff, Gauss depressa
ultrapassou os seus colegas, não só em Matemática como também nas línguas
clássicas. No entanto, para que fosse possível continuar a sua educação, e terminado o
período de frequência neste colégio, era necessário dinheiro, coisa que Gauss não
tinha. É então que... |
Através de Bartels, Gauss, entrou em contacto com o Professor Zimmermann no
Colégio Carolinum (que mais tarde se tornou um Instituto Técnico). Este era conselheiro
particular do Duque Ferdinand e viria a ser o intermediário entre Gauss e o seu
benfeitor, o reinante Duque Carl Wilhelm Ferdinand, da casa de Braunschweig. Mais tarde, de forma
a formalizar o apoio dado pelo Duque, Gauss foi convocado para uma audiência pelo
Tribunal Oficial na qual tudo correu bem. Aí o Duque comprometeu-se a fornecer os
meios necessários "para a continuação da preparação de uma pessoa
tão dotada".
O Duque tinha
ganho
de uma vez por todas a confiança e a devoção do tímido jovem de 14 anos.Com os
problemas económicos resolvidos, era suposto que o pai de Gauss não tivesse mais nada a
dizer contra o facto do seu filho continuar a estudar.
Gauss frequentou o Colégio Carolinum durante os anos 1792-1795. Quando
lá chegou, possuía uma educação clássica e científica muito para além do que era
habitual naquele tempo, em pessoas tão jovens.
Em 1796, quando Gauss publicou a sua primeira notícia
científica (sobre o polígono regular de 17-lados), Zimmermann apresentou-o ao
círculo de leitores com algumas linhas:
"aqui
em Braunschweig devotou-se ele próprio à filosofia e à literatura com o mesmo sucesso
que na álgebra superior."
|
Antes que um matemático maduro seja capaz de dar qualquer contribuição para a
sua ciência, terá primeiro que conhecer a fundo os resultados que as
gerações anteriores já alcançaram.
Existem várias formas de o fazer: usando um livro escolar, recebendo o
apoio um professor ou pensando
por si só. Durante a sua infância, Gauss pôde utilizar a primeira e a
segunda destas possibilidades,
embora com limites muito estreitos. Porém, tendo em conta a sua genialidade, é natural que
tenha usado a terceira hipótese na maioria das vezes. Assim,
aconteceu-lhe com grande frequência redescobrir
teoremas que já eram conhecidos, por exemplo, a fórmula da
soma de uma progressão aritmética.
Tal
como todas as outras crianças, Gauss começou os seus estudos matemáticos
pelos números
naturais 1, 2, 3, 4, ... Sabemos que, apesar de parecerem simples, estes
números escondem muitos dos mais
difíceis problemas matemáticos, por exemplo, em torno dos números primos.
Ora, com apenas 15 anos, isto é, durante o ano 1792-1793, Gauss investigou a
distribuição dos números primos. A única ajuda que teve foi uma tabela de números primos
publicada pelo suíço Johann Lambert. Gauss dividiu os números naturais em milhares (de
1 a 1000, de 1000 a 2000 e por aí em diante) e usou a tabela de Lambert para calcular o
número de primos em cada intervalo, isto é, determinou (1000), (2000)- (1000) e assim sucessivamente. Na tabela seguinte, que
apenas mostra o início, estão as diferenças que medem a taxa de crescimento dos número
primos denotadas por D(x). |
x |
(x)
|
D(x) |
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000 |
168
303
430
550
669
783
900
1007
1117
1229 |
168
135
127
120
119
114
117
107
110
112 |
A tendência de D(x) para decrescer devagar à medida que x aumenta aparece
já aqui e esta tendência permanece à medida que a tabela vai sendo aumentada. Para a maior
parte, o seu crescimento continua a uma razão cada vez mais lenta, sem contudo parar
completamente. O que implica que os números primos se tornam mais escassos à
medida que progredimos nos números naturais.
Esta
propriedade geral dos números primos já era conhecida e, como é relativamente trivial,
não importa se foi ou não Gauss que a descobriu por si só. Mas o que se segue não é
trivial. Ao investigar diferentes tipos de funções Gauss depressa descobriu que na
média D(x) era inversamente proporcional ao logaritmo natural de x, que se
escreve log x.
Como ele havia
descoberto uma expressão para D(x), podia determinar uma expressão para (x) por um processo de
soma
intimamente relacionado com os integrais em Matemática.
-
O jovem Gauss,
com apenas 15 anos,
apresentou a sua hipótese sobre a distribuição de números
primos na forma de integral: o número de primos que são menores ou iguais
ao número natural x é aproximadamente dado por

Na sua
pesquisa da teoria dos números, e provavelmente noutras áreas do seu trabalho, Gauss
começou com os números. Ele experimentou-os, combinando-os de
inumeráveis maneiras em cálculos numéricos (houve quem dissesse que brincava com
eles) e durante essa brincadeira encontrou, empiricamente, relações e leis cujas
demonstrações rigorosas lhe custaram grandes esforços.
As
investigações de Gauss sobre a distribuição de números primos marcaram os seus quinze
ou dezasseis anos de transições do que ele próprio mais tarde chamou "a
pesquisa mais subtil na aritmética superior" (o que nós agora chamamos teoria
dos números). O seu método indutivo permitiu aí os maiores triunfos quando descobriu o Teorema Fundamental dos Resíduos Quadráticos,
em Março de 1795, a que chamou Theorema aureum- teorema dourado - e Gemma
Arithmeticae - gema da aritmética.
|
 |
O baptizado
poético dos seus novos teoremas talvez pareça hoje estranho aos nossos ouvidos. Mas Gauss viveu
durante um período que, do ponto de vista da literatura, era dominado pelo
romantismo. Trata-se de um estilo que Gauss seguiu nas
suas cartas privadas e testemunhos e que por vezes invade o seu trabalho
matemático. As metáforas românticas
que usa quando compara os
teoremas matemáticos ao ouro e a pedras preciosas ou quando diz: "Matemática é a rainha das ciências, mas a Aritmética
é a rainha das Matemáticas" são espelho disso mesmo. Curiosamente,
a metáfora revertia sobre o próprio Gauss que era
designado como Príncipe das Matemáticas. |
Em 1791, Gauss começou a sua investigação dos meios
aritmético-geométricos.
Já em 1792, quando tinha quinze anos, havia começado a
ponderar os fundamentos da Geometria Euclidiana. Estava já interessado no famoso axioma
das paralelas e as suas ideias, mais tarde amadurecidas, deram origem à Geometria
Não-Euclidiana. Ao longo dos anos, na sua correspondência, é possível verificar que,
cautelosamente mas de forma cada vez mais clara, a sua certeza aumenta em relação ao
facto de o Quinto Postulado de Euclides
não
ser demonstrável.
Em 1794
Gauss descobriu a relação entre este valor médio e certas séries de potências. Ainda
no mesmo ano descobriu o Método dos Mínimos Quadrados,
tendo também estudado como trabalhar com erros observáveis, o que mais tarde o levaram
à curva Gaussiana dos erros. |

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Os Primeiros Anos Universitários
No dia 15 de Outubro de 1795, Gauss foi admitido na Universidade
de Göttingen como "matematicamente culto"; isto é, como um estudante
de Matemática. Contudo é muitas vezes assinalado o facto de, de início, Gauss,
ter estado indeciso
entre tornar-se Matemático ou Filólogo.
O geólogo Sartorius von Waltershausen, um amigo intimo de Gauss
nos seus últimos anos disse que Gauss terá ficado completamente certo da sua
escolha quando descobriu a construção do polígono regular de 17 lados, ou
seja, após o primeiro ano na universidade.
Dos professores em Göttingen,
quem mais impressionou Gauss foi o
grande filólogo e classicista Christian Gottlob Heyne, a cujas aulas assistiu
inicialmente e o matemático Abraham Gotthelf Kästner, que mostrou pouco
interesse pela pesquisa de Gauss.
A Biblioteca requisitada por Gauss
durante o primeiro ano em Göttingen é surpreendente. Como estudante no Colégio
Carolinum ele tinha estudado Newton, Euler, e
Lagrange provavelmente de forma profunda, e
seria natural para ele que continuasse por essa linha. Mas, dos vinte e cinco livros que
ele requisitou
da Biblioteca,
apenas cinco eram de Matemática, sendo os restantes de autores humanistas.
Quer isto dizer que as
humanidades continuariam como
o seu passatempo
preferido...
De qualquer modo, aos dezoito anos Gauss teve um vislumbre das suas ideias matemáticas.
Sabêmo-lo através do seu jornal cientifico, escrito em latim, a que deu o nome de Notizenjournal.
Na edição de 30 de Março de 1796, escreve:
"Princípio da divisão do círculo, como dividir geometricamente uma circunferência
em dezassete partes, e daí em diante."
|
Foi esta descoberta
que, com um simples golpe, fez Gauss famoso entre os Matemáticos. Ela envolve a
construção do polígono regular de 17 lados usando apenas "as
ferramentas de Euclides", isto é, régua e compasso. |

|
Gauss ficou tão feliz e orgulhoso com esta descoberta que disse ao seu amigo Wolfgang
Bolyai que o polígono regular de 17 lados deveria ser gravado na sua sepultura.
Não chegou a
ser. Mas, no monumento a Gauss, em Braunschweig, existe uma estrela de 17 pontas que quase
se confunde com uma circunferência.
A
primeira noticia publicada com que Gauss apareceu em público dá a retrospectiva
histórica do problema.
"Todo o
principiante em Geometria sabe que é possível construir diferentes polígonos regulares,
por exemplo, triângulos, pentágonos, polígonos regulares com 15 lados, e que esses
polígonos são resultantes de se duplicar o número de lados dessas figuras. Parte disto já
vem do tempo de Euclides e parece que, desde então, se acreditou que o campo da geometria
elementar acabou nesse ponto. Em todo o caso, não conheço nenhuma tentativa bem
sucedida para estender as fronteiras para além dessa linha.
Parece-me portanto que esta descoberta possui algum interesse
especial. Na verdade, para além desses polígonos regulares, um número de outros são
geometricamente constructíveis, por exemplo, o de 17 lados. Esta descoberta é realmente
um corolário de uma teoria com conteúdos maiores, que ainda não está completa, mas que
será publicada assim que for completada."
C. F. Gauss,
Braunschweig
Estudante
de Matemática em Göttingen
|
 |
O jornal de Gauss só foi fundado em 1898. Desempenhou um papel importante
na apreciação da sua contribuição matemática dado que contém muita coisa que Gauss nunca
publicou ou a que apenas havia feito alusão em cartas para os seus amigos. É uma
brochura de dezanove páginas impressas em oitavo, cobrindo o período de 30 de Março de
1796 a 9 de Julho de 1814. Ao todo, existem 146 pequenos registos de descobertas,
resultantes de cálculos numéricos ou simples afirmações de teoremas matemáticos. |
O jornal
dá-nos uma visão clara do percurso matemático de Gauss quando este tinha entre
18 e 24 anos, isto é, durante os anos significativos de 1796-1801.
De todos os registos, 121 deles caem neste intervalo. Assim, de forma lacónica, podemos
seguir o fio de grandes descobertas em Álgebra, Análise e Teoria dos Números.
No jornal, Gauss teve que pôr de lado a máscara de cautela e
inacessibilidade que sempre mostrou ao mundo que o rodeou durante toda a sua vida.
A sua alegria e orgulho surgem em
exclamações triunfantes. "Felicitas nobis est facta" (fui bem sucedido)
fecha a noticia de 3 de Junho de 1800, quando descobriu a mais bela propriedade das
funções modelares elípticas. Expressões semelhantes apareceram várias vezes.
Elas são
reminiscências da "Eureka" de Arquimedes,
grito triunfante
das descobertas ao longo dos anos.
Apesar
de lacónicas, as notícias no jornal revelam alguma coisa da individualidade de Gauss:
rica
ingenuidade combinada com competência numérica e poder lógico para encontrar
as demonstrações exactas, depois de longo e laborioso trabalho.
Como explicar esta
sua reserva?
Tal como
Mozart, supõe-se que Gauss tenha sido esmagado por
uma enchente de novas ideias, durante a sua juventude. As introduções no jornal eram feitas em Latim e, provavelmente, era intenção de
Gauss pô-las de forma mais detalhada posteriormente. Mas, em muitos casos, Gauss nunca publicou as suas descobertas, as quais foram recuperadas das notas
ou das cartas que
deixou.
Tal como Newton, que Gauss admirava muitíssimo
(nquanto que outros matemáticos são rotulados com epítetos tais como "clarissimus"
(altamente distinguíveis), Newton é "summus" (o
melhor)), Gauss adicionou à exigência
de rigor e forma clara outra característica: a exigência de síntese. Ele
queria encontrar uma teoria uniforme e geral em
cada área que estabelecesse as ligações entre os diferentes teoremas.
Quer isto dizer que, tal como Newton, Gauss desejou deixar uma obra de arte
completa na qual nada pudesse ser modificado sem que se destruísse a harmonia
do conjunto. Mas, tal como
Newton, Gauss queria obter uma posição social segura e, apesar do Duque Ferdinand o
apoiar, Gauss queria sustentar-se a ele próprio. O posto de
chefe no Observatório Astronómico em Göttingen permitiu-lhe alguma independência
económica em 1807.
Mais uma
razão para a sua reserva pode ser encontrada no próprio caracter de Gauss
que detestava todas as
formas de violência e encarava as explosões impetuosas como algo vergonhoso. Provavelmente,
esta atitude era uma reacção contra o seu pai tirânico. Gauss sempre teve um profundo
desagrado por polémicas e quis proteger a paz de espírito no seu trabalho.
Nunca
tomou parte em nenhum debate público apesar de ser conhecida a perspicácia
da sua crítica em
discussões privadas com os amigos.
Estas são
algumas das causas que podem permitir explicar porque razão tantas descobertas
brilhantes nunca foram publicadas por Gauss. A mais importante é, certamente, a sua exigência de
rigor, beleza, e síntese. Exigências que encontram expressão magnífica na obra de
Gauss. |
Desde a infância, provavelmente devido ao seu estatuto de prodígio, e talvez
também devido à sua disposição séria, Gauss isolou-se dos seus contemporâneos. Esta
solidão continuou durante os primeiros anos em Göttingen. Gauss não participava na vida
estudantil e tinha poucos amigos.
Entre os seus
poucos amigos estava o húngaro Wolfgang Bolyai
(1775-1856). Bolyai estudou em
Göttingen durante 1796- 1799 e mais tarde tornou-se professor de Matemática em Maros
(Vásárhely) na Transilvânia.
Gauss
dizia que Bolyai era o único que tinha o mesmo ponto de vista que ele em relação
aos fundamentos da Matemática. Por seu lado, Bolyai terá dito a Dorothea que o
seu filho era "o maior Matemático da Europa" .
Gauss e Bolyai
trocaram cartas durante mais de cinquenta anos, desde 1797 até 1853. Cartas
que dão uma imagem viva da fiel amizade
que Gauss, apesar do seu temperamento frio, era capaz de abrigar dentro do seu coração.
|
A 16
de Julho de 1799, Gauss foi graduado Doutor em Filosofia pela Universidade
de Helmstedt. A sua tese, publicada nesse mesmo ano, sob o título Demonstratio
nova theorematis omnem functionem algebraicum rationalem integram unius variabilis in
factores reales primi vel secundi gradus resolvi posse (Uma nova demonstração
de que todos os polinómios de uma variável podem ser factorizados em factores reais de
primeiro e segundo grau), é uma demonstração do Teorema Fundamental da
Álgebra. |

|
O Teorema Fundamental da Álgebra pode
enunciar-se de forma geral: Toda a equação polinomial tem pelo menos uma raiz. O
facto de uma equação polinomial de grau n ter sempre n raízes é então
um simples corolário.
As diferentes
demonstrações deste teorema são as contribuições mais importantes que Gauss deu como rigorista, isto é, como representante do rigor lógico nos métodos demonstrativos.
Como este teorema tem grande significado tanto em Álgebra como em Teoria de Funções,
ele influenciou ambas as áreas. Mas o estímulo do rigor veio sobretudo da Teoria das
Funções.
|
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As ideias que fluíram de Gauss durante os anos frutuosos de 1795-1801
foram, na sua maioria, reunidas num trabalho que publicou em Leipzig em 1801,
Disputationes arithmeticae.
|
A
impressão foi paga pelo Duque Ferdinand razão pela qual o trabalho começa
com uma dedicatória a "Sua Graciosa Alteza, Príncipe e Lorde Carl Wilhelm
Ferdinand, Duque de Braunschweig e Lüneburg." Entre outras
coisas, Gauss declara que, sem a bondade do Duque, "nunca teria conseguido dedicar-me à
Matemática, na qual tenho estado sempre mergulhado com apaixonado amor."
Esta dedicatória é fortalecida pelo estilo rocócó que era usado na
altura mas, neste
caso, não estamos perante uma bajulação vazia de sentimento. Estas palavras reflectiam aquilo que
Gauss sentia.
As Disquisitiones arithmeticae
estão divididas em sete partes:
Congruências em
geral
Congruências de primeiro grau
Resto de Potências
Congruências de
segundo grau
Formas quadráticas
Aplicações
Divisões do
círculo
Apresentamos em seguida apenas um
esboço do conteúdo das Disquisitiones arithmeticae
que, com propriedade, podem ser consideradas como uma sinfonia clássica em sete momentos, onde os diferentes temas
são combinados num final que é levado a cabo com grande força e
magnífica clareza.
Congruências em Geral e Congruências de Primeiro Grau
Na primeira página Gauss introduz um
novo símbolo matemático e diz que:
Se um número m divide a diferença a-b
(ou b-a) de dois números a e b sem resto, então a e b
dizem-se congruentes módulo m, e Gauss escreveu

Esta expressão lê-se: a é
congruente com b módulo m. A relação é chamada congruência; e m
é chamado de módulo da congruência. O número b é chamado o resto
de a módulo m, e inversamente a é chamado o resto de b módulo m.
Se a diferença a-b não for divisível por m, então a e b
dizem-se incongruentes módulo m, e a e b não são restos
um do outro, módulo m.
De acordo com a definição, é o mesmo que a-b=m y, onde y é um número inteiro qualquer.
Gauss escolheu o símbolo com grande previdência, dada a analogia entre congruências e
igualdades. A noção de congruência é mais inclusiva, dado que podemos considerar a
igualdade uma congruência de módulo 0.
Na segunda secção do seu
Disquisitiones arithmeticae Gauss primeiro provou alguns teoremas donde saiu aquele que usualmente é chamado o Teorema Fundamental da Aritmética:
Todo o número natural maior que 1 pode, excepto pela ordem dos
factores, ser escrito de uma e uma só maneira como produto de números primos.
Usando o teorema fundamental da
álgebra Gauss depois determinou o máximo divisor comum (a,b)
e o mínimo múltiplo comum {a,b}, de dois números a
e b.
O resultado de Gauss para a
solubilidade das congruências lineares é:
Se (a,m)=d, então é condição necessária e suficiente
para que a congruência seja solúvel que d seja um divisor
de b. Então logo existem d diferentes sequências de soluções, ou seja, d soluções.
Congruências de Segundo Grau
Na terceira e na quarta secções
Gauss continuou com as congruências de grau superior. Especialmente importante é a
congruência binomial .
Se p é um número primo e a é
um número inteiro qualquer não divisível por p, então .
A quarta secção refere-se a uma das
mais interessantes partes da teoria dos números, a teoria dos restos quadráticos. Um
número a é chamado um resto quadrático do número m
se a congruência tiver solução. Se a congruência
não tiver solução, então a não é um resto quadrático de m.
Ao computar o período inteiro da
expansão decimal de 1/n desde n=1 até n=1000, Gauss escreveu
uma tabela para descobrir a relação entre o período da expressão decimal e o
denominador n.
No dia 8 de Abril de 1796, uma
pequena noticia no jornal afirma que ele havia descoberto a demonstração exacta do
teorema fundamental dos restos quadráticos. Esta era uma demonstração muito longa, que
continha oito casos diferentes e era carregada de lógica obstinada. O grande matemático
alemão Leopold Kronecker (1823-1891) mais tarde caracterizou-a como "um teste de
força ao génio de Gauss".
A lei da
reciprocidade quadrática pode ser formulada de várias maneiras. A mais curta
é provavelmente a seguinte:
O número primo p é um erro quadrático ou não é
um erro de outro número primo p de acordo com ser um erro
ou não de p.
Formas Quadráticas
Na quinta secção Gauss primeiro
manuseia a forma binária quadrática, isto é, uma expressão da forma . Aqui o problema é determinar as soluções inteiras de x
e y da equação Diofantina =m, onde a,
b, c e m são números inteiros dados. Depois ele estudou o
problema correspondente para a forma ternária quadrática, isto é, uma expressão da
forma .
Na sexta secção a precedente teoria
é aplicada a um número especial de casos, tais como às soluções de números inteiros
da equação diofantina .
A Divisão do Circulo.
Na sexta e última secção Gauss
aplica os resultados anteriores à congruência binomial
onde p é um número primo e n é um número natural. A relação entre
estas congruências aritméticas e a equação binomial xn=1 dá a
solução para o problema da divisão do círculo e da construção do polígono regular
de 17 lados de que se falou anteriormente. A congruência binomial reúne aritmética, álgebra, e geometria numa das sínteses
mais importantes a que Gauss se dedicou e que ele alcançou aqui de uma maneira que tem
poucos equivalentes na história da Matemática.

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Astronomia
O interesse de Gauss pela astronomia foi
despertado quando, no primeiro dia do novo século (1 de Janeiro de 1801), Piazzi, em
Palermo, descobriu o primeiro asteróide, a que foi dado o nome de Ceres. Visto que
não era possível fazer muitas observações do novo asteróide, levantou-se o problema do
cálculo da órbita de um planeta a partir de um pequeno número de
observações. Só assim os observadores saberiam para onde apontar os seus telescópios. |
Gauss resolveu o
problema completamente tendo sido conduzido a uma equação do oitavo grau. Enquanto
que as Disquisitiones arithmeticae tornaram Gauss famoso entre os matemáticos, a determinação da órbita
do asteróide Ceres fê-lo famoso em todos os círculos académicos do mundo.
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No caso dos planeta
podia-se dizer que a sua órbita era uma elipse, isto
é, a sua excentricidade era um número desconhecido entre zero e um. Mas, no caso de
Ceres os métodos conhecidos eram inúteis.
Gauss já
tinha trabalhado com questões astronómicas, por exemplo, com a teoria do movimento da
lua e sentia-se agora atraído com este novo problema. Ele mostrava-se tão difícil que
parecia ser
necessário recorrer à sua tremenda virtuosidade computacional e à sua criativa imaginação.
Decidiu então trabalhar em métodos mais úteis para
determinar órbitas e rapidamente encontrou a sua primeira solução. Graças a
este resultado, Ceres foi encontrado novamente durante o período de 25 de Novembro a 31
de Dezembro de 1801, quase exactamente no sítio que havia previsto.
Enquanto
continuava a melhorar os seus métodos, Gauss calculou efemérides para novos
asteróides à medida em que eles eram descobertos. Os seus cálculos para Vesta provocaram uma
indisfarçada admiração em Olber (Wilhelm Olbers (1758-1840), um mais importantes
astrónomos amadores de todos os tempos. Durante o dia exercia medicina, e à noite
sentava-se no seu observatório privado, onde entre outras coisas, descobriu pelo menos
seis cometas e dois asteróides. Este homem, que claramente necessitava de dormir muito
pouco, tornou-se um dos amigos mais íntimos de Gauss.) Em apenas dez horas Gauss tinha
calculado os elementos da órbita e comparado os seus valores teóricos com
as diferentes observações dos novos asteróides.
Quando
se tratava de órbitas parabólicas, os seus cálculos eram ainda mais rápidos. Gauss
conseguia calcular a órbita de um cometa simplesmente numa hora, tarefa que
tinha ocupado
Euler, usando outros métodos, durante três dias. Dizia-se que tantos cálculos
tinham levado Euler a cegar de uma das vistas. Gauss afirmou um tanto desapiedadamente:
"Eu
também teria cegado se tivesse calculado dessa maneira, durante três dias." |
Gauss publicou os seus novos métodos em 1809 sob o título Theoria motus corporum coelestium
in sectionibus conicis solem ambientium (Teoria do movimento dos corpos celestes que se
movem em torno do sol em secções cónicas), obra que constitui um
trabalho clássico em astronomia teórica .
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O seu trabalho teórico em astronomia terminou em 1817, mas Gauss continuou a ser um
observador posicional, calculando e relatando os seus resultados até à sua morte.
Auxiliado por estudantes e colegas, observava regularmente e estava envolvido em todos
os detalhes relativos à instrumentação. |

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Casamento e Avanços Académicos
Em
1804 um novo observatório foi planeado em Göttingen.
A 25 de Julho
de 1807, Gauss foi nomeado Professor de Astronomia e director do observatório em
Göttingen.
Em Novembro de
1807 Gauss mudou-se para Göttingen tendo trabalhado no velho observatório
enquanto o novo edifício estava em construção. Permaneceu na posição oficial
de Director do Observatório durante
o resto da sua vida.
Mas não o fez sozinho...
Em 1803,
havia conhecido Johanna Osthoff, a filha do dono de uma fábrica de curtumes em
Braunschweig. Ela tinha nascido em 1780 e era filha única. Ficaram noivos no final de
1804. O casamento teve lugar a 9 de Outubro de 1805.
Em 1814 o
novo observatório estava completo. As residências dos professores ficaram
completas em 1816. Gauss e a sua família mudaram-se para a ala oeste, enquanto Harding
vivia na ala este. Durante os anos seguintes, Gauss e Harding instalaram os
instrumentos astronómicos. |
A 14 de
Outubro deu-se a batalha de Auerstädt na qual o Duque Ferdinand era comandante das
tropas Prussianas e Saxónicas. Durante a batalha, o Duque foi atingido por uma bala de
mosquete e morreu em Altona a 10 de Novembro de 1806. Significativo é o
facto de o seu nome não ter ficado na
História política mas, pelo apoio pretado a Gauss, ter encontrado lugar na
história da Matemática.
Durante este período de agitação política Gauss encontrou compensação no seu
trabalho e na sua família. Teve três filhos: Joseph (1806); Wilhelmina (1808); e por
fim Ludwig (1809). Com a terceira gravidez, Johanna esgotou as suas forças e acabou por
morrer a 11 de Outubro de 1809, sendo seguida por Louis (Ludwig), cinco meses mais tarde.
Gauss entrou numa profunda solidão da qual nunca mais conseguiu realmente
sair.
No entanto, menos de um ano depois, a 27 de Março de 1810, acabou
por escrever a sua segunda proposta de casamento. Esta proposta foi dirigida à melhor
amiga da sua falecida mulher, Minna Waldeck. Gauss casou com ela a 4 de Agosto de 1810.
Deste
casamento nasceram dois filhos e uma filha: Eugene (1811), Wilhelm (1813) e Therese
(1816). Contudo Minna raramente estava bem ou feliz: para além da doença que a afligia,
sofria por Gauss dominar as suas filhas e discutir com os seus filhos mais
novos que acabaram por imigrar para os Estados Unidos da América.
Gauss nunca conseguiu ter uma vida familiar tranquila até que a sua
filha mais nova, Therese, tomou conta da família, depois da morte da sua mãe (em 1831) e
se tornou a sua companhia durante os seus últimos vinte e quatro anos de vida.
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Erros Observáveis e o Cálculo
Das Probabilidades
O grande interesse de Gauss em Astronomia, e o seu tardio interesse em geodesia,
levaram-no a procurar métodos racionais para determinar a magnitude dos erros
observáveis.
Ainda
hoje a teoria dos erros observáveis é ensinada quase exactamente na mesma forma que
Gauss a criou.
dado que a Astronomia
assumiu uma posição dominante entre as ciências experimentais durante o período que
foi de 1600 a 1700 é natural que a teoria dos erros observáveis tenha tido o seu primeiro
desenvolvimento em astronomia. |
A primeira publicação de Gauss do
método dos mínimos quadrados apareceu em 1809 no final do seu Theoria motus.
Em 1823 Gauss
publicou o seu grande trabalho Theoria combinationis observationum erroribus minimus
obnoxiae (A Teoria para a combinação de observações, que estão ligadas com os
mínimos erros possíveis).
Trata-se de uma apresentação sistemática e generalizada da sua
recente teoria de erros observáveis. Gauss desenvolve aí o método dos mínimos quadrados
enquanto a mais adequada de combinar observações,
independentemente de qualquer lei hipotética relativa à probabilidade de erro. |
A famosa lei da distribuição de Gauss, com várias aplicações, foi publicada na
terceira secção do livro Theoria motus.
Gauss fez série de suposições gerais sobre as observações e os erros
observáveis e complementou-os com uma suposição puramente matemática. Depois, de uma
forma muito simples, foi capaz de obter a equação da curva que correspondia aos
seus resultados empíricos. Essa curva era a Curva de Gauss
O gráfico de assemelha-se a um sino e às vezes é chamado uma curva em forma
de sino. Se o coeficiente da precisão é grande, então a curva é íngreme
e as
observações caem próximo da média aritmética. Mas se for pequena, a curva é plana,
isto é, a distribuição é mais generalizada.
Gauss também fez
cálculos acerca de limites de erros prováveis para uma série particular de
observações da mesma quantidade. O resultado mais importante aqui é que o erro médio
da média aritmética é inversamente perpendicular à raiz quadrada do número de
observações; noutras palavras, a ocorrência provável da média cresce com a raiz
quadrada do número de observações.
Gauss descobriu também o Teorema do Integral de Cauchy
para funções analíticas, mas
não publicou essa descoberta. |

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Geodesia
Em 1817, Gauss estava preparado para trabalhar em relação à Geodesia que seria a sua
preocupação durante os próximos oito anos e um peso nos seguintes trinta anos.
Desde a sua
chegada a Göttingen, Gauss estava preocupado com a exactidão da localização do
observatório e, em 1812, o seu interesse em problemas mais gerais foi estimulado durante uma visita ao Observatório de Seeberg.
Começou então a discutir com Schumacher a possibilidade de prolongar até Hannover
o último
levantamento da Dinamarca. E Gauss tinha muitos motivos para este projecto. Ele envolvia
problemas matemáticos interessantes que abriam um novo campo para as suas habilidades
calculatórias e permitiam complementar a sua astronomia posicional. Competindo com os esforços
franceses para calcular o comprimento do arco de um grau no meridiano, esta situação
oferecia-lhe uma oportunidade de fazer alguma coisa útil para a humanidade,
providenciando uma fuga aos aborrecimentos do seu trabalho e aois problemas familiares. A última era
uma razão trivial, dado que Gauss tinha responsabilidades familiares
acrescidas para enfrentar um salário que permaneceria fixo desde 1807 até 1824.
Só em 1820 a
Triangulação de Hannover foi oficialmente aprovada, mas já em 1818 Gauss havia
começado um árduo programa de verão no qual, supervisionando no terreno, tentava
recolher dados que não tinha sido possível obter durante o inverno.
Atormentado pelo deficiente arejamento das instalações em que se
encontrava, pelas desconfortáveis condições de vida, pelo mau tempo, pelos
funcionários pouco cooperativos, pelos acidentes, pela saúde precária e pela
inadequada assistência e suporte financeiro, Gauss fez o trabalho de campo
quase sempre sozinho ou com uma ajuda mínima durante oito anos. Foi, sem dúvida, uma verdadeira prova de persistência.
Depois de 1825, restringiu a si a supervisão e a
calculação necessária ao acabamento da triangulação de Hannover em 1947. Quando tal
aconteceu, havia manejado milhões de números sem qualquer assistência.
Um dos
instrumentos que resultou do seu trabalho de campo foi o invento do
heliotrópio, um instrumento que permitia reflectir os raios solares numa direcção
medida. Motivado pela insatisfação quanto aos parcos métodos
existentes para observar
pontos distantes, Gauss decidiu usar luz do sol reflectida. Depois de trabalhar
em teoria
óptica, projectou o instrumento. O primeiro modelo foi construído em 1821.
O resultado foi bem sucedido na prática, tendo o instrumento alcançado o brilho da magnitude de uma primeira
estrela à distância de 24.14 km.
***
O percurso vitorioso de
Gauss viria a terminar a 23 de Fevereiro de 1855, dia em que faleceu enquanto dormia.
Apesar da sua morte, o seu trabalho e as suas poderosas contribuições para a Matemática
estão, ainda hoje, mais vivas
do que nunca. Num olhar pela história da Matemática e da Astronomia será
impossível não reconhecer o quanto o trabalho realizado por Gauss permitiu que estas
duas ciências progredissem e tivessem o grau de rigor e precisão que hoje as
caracterizam... |
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