John Bowers, professor no Departamento de Matemática Pura na Universidade de Leeds e colaborador da New Scientist, no livro Convite à Matemática (1988), desafia os leitores, de forma extremamente sugestiva, a conhecer essa gente original que são os matemáticos. Quer viajar com ele?
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Os Prémios Nobel da Matemática Todos os anos são atribuídos seis Prémios Nobel, um em cada uma das seguintes categorias: Literatura, Física, Química, Paz, Economia, e Psicologia e Medicina. Mas, estranhamente, a Matemática está fora desta lista! A razão desta distinta ausência tem sido objecto de muitas especulações. Uma das mais comuns e infundadas razões que terá levado Nobel a não atribuir um prémio à Matemática tem a ver com uma mulher a quem ele terá proposto que fosse sua esposa ou amante. Ela tê-lo-ia recusado em detrimento de um matemático famoso. Gosta Mittag-Leffler (1846 - 1927) é muitas vezes indicado como sendo a parte culposa. Não há porém evidências históricas que apoiem tal afirmação. Em primeiro lugar, o Sr. Nobel nunca casou. Além disso, há outros motivos, mais credíveis, para explicar porque razão não há Prémio Nobel para a Matemática. Talvez que o mais válido entre eles seja o simples facto de o Sr. Nobel não dar muita importância à Matemática, de esta não ser considerada uma ciência da qual a humanidade pudesse beneficiar (principal motivo da criação da Fundação Nobel).
Apesar de não existir Prémio Nobel de Matemática, Bertrand Russell (1872 - 1970) ganhou,
em 1950, o Prémio Nobel de Literatura. De tudo isto se pode concluir que ninguém opta pela matemática para adquirir riqueza ou fama, mas apenas por amor pela matemática. Basta mencionar a palavra «matemático» para nos virem à ideia as excentricidades de alguns dos maiores génios matemáticos. Por exemplo, quando a água do banho de Arquimedes (287 a. C. - 212 a. C.) transbordou, ele não reagiu, como qualquer cidadão vulgar, praguejando e pedindo ao escravo que limpasse o chão. Em vez disso, saiu do banho e correu rua abaixo aos gritos: Eureka, Eureka!. Além disso, toda a gente sabe que
Newton (1643 - 1727) assistiu à queda de uma maçã no seu pomar! Em vez de se entregar a
reflexões triviais como, por exemplo, se se teria esquecido de pulverizar a árvore ou se
a maçã em causa seria boa para comer, ocorreram-lhe pensamentos excepcionalmente sérios. Que aspecto tem esta grande colecção de pessoas?
O que se segue é o relato de um diálogo, numa festa, entre um matemático e uma pessoa de importância local, a quem Bowers chama «O Dignitário». «Diga-me» - pergunta o Dignitário, com um
sorriso em que se misturam condescendência e desagrado que não é devido ao uísque
que tem na mão: Esta reacção revela uma opinião diferente acerca dos matemáticos.
Será que os matemáticos também são competidores?
A melhor delas é a paciência, necessária, em todos os níveis da matemática:
Outra virtude favorecida pela matemática é a modéstia que resulta da consciência dos limites impostos pelas técnicas matemáticas. Ela ajuda os matemáticos a evitar tanto a ambição estonteante como o desespero devorador.
Algumas doenças causadas pela Matemática
Existem também algumas doenças profissionais causadas pela matemática.
Os Matemáticos apreciadores de Música e Poesia
Porém, alguns matemáticos têm menor capacidade como músicos amadores do que como poetas. Estão neste caso Joseph Sylvester (1814 - 1897), Sir William Rowan Hamilton (1805 - 1865) e Augustus De Morgan (1806 - 1871). É também esse o caso do astrónomo e algebrista Omar Khayyam (1048 - 1131) que viveu na Pérsia por volta de 1100 d. C. e que é hoje menos lembrado pela sua matemática do que pela sua poesia.
Os Matemáticos amantes do Desporto
De acordo com a reputação geral, gastam muito do tempo restante a ver ou a participar em desportos, provavelmente porque a concentração exigida pela matemática é muito desgastante do ponto de vista intelectual e, portanto, qualquer exercício físico (mesmo quando executado por outra pessoa) proporciona um merecido repouso. Por exemplo, G. H. Hardy (1877 - 1947) trabalhava apenas quatro horas por dia na sua teoria dos números. Depois descansava jogando ténis, ou vendo críquete ou basebol.
No entanto, tendo em conta que muitos matemáticos participam em actividades desportivas, muito poucos foram os que se notabilizaram nelas. Curiosamente, é mais fácil encontrar matemáticos que se notabilizaram entre os adeptos de jogos intelectuais. O mais notável foi Emmanuel Lasker (1868 - 1941), Campeão Mundial de Xadrez desde 1894 até 1921. O matemático médio não se encontra propriamente neste grupo, mas os jogos como o xadrez, o bridge e o gamão absorvem muitas das suas horas.
Os matemáticos sentem necessidade de um ambiente tranquilo que os envolva e convide à contemplação. Por essa razão, têm tendência para viver em frondosos subúrbios onde possam trabalhar sem interrupções. Como encontrar os futuros matemáticos? Sabemos que a inteligência é uma importante componente da aptidão matemática. Mas sabemos igualmente que não a esgota. Outra valiosa qualidade é a capacidade para reconhecer padrões.
A acrescentar a essas propriedades intelectuais,
um matemático necessita também de algumas qualidades morais. Referimo-nos já à
paciência, virtude que raramente é um dom. Contudo, a paciência pode
desenvolver-se através da persistência. Infelizmente, embora os matemáticos tenham sido objecto de maior número de
estudos psicológicos que qualquer outro grupo de pessoas (com excepção dos escritores e
dos loucos), muito pouco se sabe ao certo acerca do seu tal particular modo de pensar.
Os verdadeiros prodígios matemáticos têm sempre êxito na vida, mas não necessariamente na matemática. Por exemplo, John Wilson (1741 - 1793) é lembrado pelo teorema que demonstrou quando estudante. Mas êxito na sua vida (pelo qual foi galardoado com uma ordem de mérito) obteve-o na qualidade de juiz!
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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