A Conservação
das Quantidades Descontínuas
e suas
Relações com a Correspondência
Biunívoca e Recíproca
Neste capítulo, Piaget procura estudar como se desenvolvem
"(...) as relações entre a
conservação das quantidades e o desenvolvimento da correspondência
biunívoca e recíproca, a qual constitui (...) uma das fontes do
próprio número." (Piaget, 1971, pp.51,52)
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Primeira fase: Ausência de Conservação
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"(...) as quantidades são inicialmente avaliadas
simplesmente em função das relações perceptivas não-coordenadas entre
si ( quantidades brutas) e é esta incoerência inicial que explica ao mesmo
tempo as contínuas contradições entre os julgamentos sucessivos da
criança e a ausência de qualquer critério de conservação."
(Piaget, 1971, p.54).
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"(...) a correspondência biunívoca e recíproca entre
duas colecções deveria conduzir à equivalência das colecções correspondentes (...) a quantificação é tão desenvolvida que a
correspondência nem mesmo entra em conflito com as aparências contrárias
e se subordina de saída à percepção especial." (Piaget, 1971,
p.56).
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"(...) a numeração falada que o meio social impõe
às vezes à criança deste nível permanece inteiramente verbal e sem
significação operatória. Quanto à correspondência termo a termo (...)
começa por um estado de simples comparação qualitativa." (Piaget,
1971, p.56).
Segunda fase: Início de Constituição dos Conjuntos
Permanentes
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"(...) caracterizada pelas soluções intermediárias,
situadas a meio caminho entre a quantidade bruta sem invariância e a
quantificação propriamente dita. (Piaget, 1971, p.56).
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"(...) a criança deste nível é capaz de afirmar uma
certa conservação no caso de uma mudança pouco importante, mas não o
consegue no de uma transformação mais considerável (...)." (Piaget,
1971, p.57).
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"(...) há conservação quando a criança pensa no
alinhamento dos termos descontínuos e não-conservação quando pensa em
uma ou outra das dimensões da forma global. (...) dissociações entre as
avaliações fornecidas (...) demonstram quanto a quantificação implica de
operações diversas que a criança tem dificuldade em coordenar entre si e
(...) parece indicar (...) a intervenção de uma decomposição em
elementos na conservação (...)." (Piaget, 1971, p.58).
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" É por uma coordenação das relações em jogo que
ela efectua a síntese da equivalência real com as variações aparentes e
essa coordenação inicia-se igualmente sob a forma de uma multiplicação
simplesmente lógica, para logo se prolongar proporcionalmente."
(Piaget, 1971, p.60).
Terceira fase: Conservação e Coordenação Quantificante
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"(...) descoberta da invariância das totalidades"
em que os " (...) diversos procedimentos de comparação"
são "todos descobertos espontaneamente pela criança"
(Piaget, 1971, pp.61,63).
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"(...) desde que é capaz de coordenar as diferenças
de altura e de largura numa " multiplicação de relações",
fonte de quantificação intensiva, a criança chega igualmente a igualar
as diferenças ou a submetê-las a medidas comuns que implicam a unidade e a
constituir assim uma quantificação extensiva.(...) uma multiplicação
lógica das relações em jogo de altura e de largura. Para levantar a
contradição entre a correspondência unívoca e recíproca entre os
elementos das duas colecções, fonte de equivalência, e as mudanças
aparentes, o sujeito, com efeito, imagina de saída que estas formam um todo
(...)" (Piaget, 1971, pp.63,64).
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"(...) logo que coordenadas operariamente, as
diferenças percebidas são medidas umas pelas outras, com todo aumento de
largura a ser igualado ou comparado com a diminuição concomitante de
altura, ou o inverso. (...) esta proporção, que constitui assim o início
da quantificação extensiva, vai ela própria de par com a partição
aritmética (...)" (Piaget, 1971, p.65).
"(...) essas proporções, essas igualizações de diferenças e
essas partições numéricas constituem-se em função das operações
inversas, das quais a criança adquire o manejo pelo próprio facto de
tornar "operatórias" as transformações até então
concebidas a título de simples relações perceptivas. (...) a
reversibilidade própria a toda operação lógica e matemática (...)
permite conceber igualdades e decomposições." (Piaget, 1971,
p.65)
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Na primeira fase, "(...) por falta de coordenação, as
relações perceptivas impõem ao espírito uma tal verossimilhança de
variação ou de desigualdade que a equivalência é concebida como não
durável. Durante a segunda fase, entretanto, existe já coordenação
das relações e, no entanto, essa coordenação nascente não basta
para fazer triunfar a equivalência sobre as aparências perceptivas,
com a correspondência termo a termo permanecendo impotente para
engendrar uma equivalência durável." (Piaget, 1971, p.66).
Com a terceira fase verifica-se a percepção imediata da equivalência
pretendida.
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