A
Seriação, a Similitude
Qualitativa e a Correspondência
Ordinal
"(...) a questão da seriação, da
correspondência entre duas séries de relações assimétricas ou
"similitude qualitativa", e da correspondência ordinal, ou
similitude tornada numérica. Colocar em correspondência termo a termo os elementos de duas
colecções não implica, a priori,
nenhum primado do número cardinal sobre o ordinal (...) para que cada termo
seja contado e contado apenas uma vez, é necessário que os
diferentes termos estejam ordenados numa série que permita distinguir
cada termo de todos os outros." Sendo assim, "(...) de
dois elementos um pode ser o primeiro e o outro o segundo ou vice-versa,
desde que haja sempre um primeiro e um segundo. Num caso assim, é
legítimo fazer a abstracção da ordem e, desde então, a
correspondência assume uma significação principalmente cardinal, pois
permite estabelecer a equivalência entre esses conjuntos,
independentemente da ordem seguida."
(Piaget, 1971, p.146)
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Primeira fase: Comparação Global sem Seriação Exacta ou Correspondência
Termo a Termo Espontânea
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"(...) nenhuma das crianças
(...) revelou-se capaz não apenas de empregar correctamente, mas mesmo de projectar
ou conceber um método da seriação dupla. A ideia da seriação
dupla, com efeito, supõe o problema resolvido antecipadamente, ou seja, ela
exige a faculdade de se representar por assim dizer no vazio o conjunto das
relações constitutivas da série e da correspondência."
(Piaget,1971, p.152).
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"(...) quando empregam o
método da seriação simples com correspondência as crianças (...) não
são capazes de seriação espontânea exacta. (...) estes sujeitos nem mesmo procuram, no
começo constituir uma série de aumentos
regulares e se limitam a alinhar as bonecas numa ordem qualquer. (...) É
que, para seriar um certo número de elementos segundo sua grandeza, é
preciso que o tamanho de cada termo seja ao mesmo tempo mais elevado que o
dos precedentes e mais baixo que o dos seguintes(...)" (Piaget, 1971,
p.152,153).
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"(...) a criança perde toda a noção da correspondência quando se desloca uma das duas séries e se
limita, para determiná-la, a designar os elementos actualmente colocados em
frente um do outro." (Piaget, 1971, p.159).
Segunda fase: Seriação e
Correspondência Progressivas e Intuitivas
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"(...) aparecimento da
seriação e da correspondência serial correctas espontâneas.(...) a
criança, portanto, é capaz doravante de ordenar um elemento numa série de
maneira tal que ele seja ao mesmo tempo o maior (ou menor) dos que restam a
seriar e o menor (ou o maior) daqueles que já se acham colocados."
(Piaget, 1971, p.155,156).
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"(...) em vez de dominar simultaneamente
a totalidade das relações necessárias à seriação, o
sujeito (...) as descobre pouco a pouco, no decurso de tacteios empíricos.
(...) quando a intuição detém o primado da operação, a criança, mesmo
sabendo que constrói uma escala crescente, compara os termos por pequenos
grupos ou dois a dois (...) a criança procura restabelecer a
correspondência exacta seja por meio de procedimentos empíricos, seja
contando, mas confunde sem cessar a categoria procurada e a do termo precedente." (Piaget, 1971, p.156,159).
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"(...) as crianças (...)
enganam-se incessantemente de uma unidade. (...) quando se trata de
encontrar a correspondência de um elemento n, eles contam os termos que
precedem, ou seja, n-1 e depois procuram na série correspondente o elemento
n-1º elemento e aí se detêm. Por outro lado, como contam n-1 seja a
partir de um, seja a partir de dez, a categoria encontrada é ora de uma
unidade abaixo, ora de uma unidade acima." (Piaget, 1971, p.164).
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"(...) as hesitações
próprias (...) dão testemunho (...) de um início de dissociação não
concluída embora, entre as relações qualitativas e as relações
numéricas e, portanto, entre a correspondência serial (ou similitude
qualitativa) e a correspondência ordinal (ou similitude
generalizada)."(Piaget, 1971, p.166).
Terceira fase: Seriação e
Correspondência Imediatas e Operatórias
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"(...) a criança descobre a
correspondência combinando as noções ordinais e as noções cardinais.
(...) consegue encontrar a correspondência correcta, coordenando a
seriação com a cardinação." (Piaget, 1971, p.149).
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"(...) a criança considera a
cada instante o conjunto das relações entre todos os elementos, pois
procura, quando de cada nova relação, o termo maior (ou o menor) dos que
restam. A série é assim construída sem hesitações ou tacteios."
(Piaget, 1971, p.158).
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"(...) a este duplo
progresso da cardinação tornada independente das partes e se aplicando a todos
os termos concebidos como unidades equivalentes, assim como da
ordenação desligada da qualidade, esses dois mecanismos são tornados
correlativos e o termo n significa daí por diante, para a criança, ao
mesmo tempo a nª categoria e uma soma cardinal de n." (Piaget, 1971,
p.168,169).
Na primeira fase,
"(...) os sujeitos (...)
permanecem tão afastados da compreensão real da seriação que não
mais apreendem as correspondências assim que os elementos não se acham
mais directamente na frente, termo a termo, com as duas séries permanecendo
paralelas, apenas com uma leve defasagem."
(Piaget, 1971, p.161)
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Quando os sujeitos da segunda fase
"(...) procuram encontrar a
categoria de um elemento dado, compreendem que é preciso enumerar os termos
precedentes como outras tantas unidades equivalentes entre si,
mas não levam a aritmetização da série suficientemente longe para
contar igualmente o elemento de que está em jogo a categoria como uma
unidade homogénea às outras. Desde logo, para determinar uma categoria
qualquer por enumeração, a criança considera isoladamente a posição
qualitativa do elemento em questão e igualmente à parte o valor
cardinal da colecção dos elementos que o precedem: não compreende que
cada categoria é ela própria um número, nem que este número é
indissociável da colecção inteira de que faz parte o elemento assim
ordenado."
(Piaget, 1971, p.167)
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"(...) às reacções da terceira fase, que nos permitirão assistir
a esse progresso duplo da correspondência operatória e não mais
intuitiva das correspondências serial e ordinal e, por isso mesmo, da
descoberta de uma conexão necessária entre a ordinação e a
cardinação (...)"
(Piaget, 1971, p.167)
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