A Composição
Aditiva das Classes
e as Relações da
Classe
e do Número
Nos capítulos anteriores considerava-se
"(...) o número como
uma classe seriada, ou seja, como o produto da classe e da relação
assimétrica. Mas isso em nada quer dizer que as últimas sejam
anteriores ao número e, ao contrário, pode conceber-se este como, em
troca, necessário ao acabamento das estruturas propriamente lógicas." (Piaget, 1971, p.224).
Com este capítulo
Piaget vai
"(...)
examinar-se como a construção do número inteiro positivo se completa
pela descoberta das operações aditivas e multiplicativas." (Piaget,
1971, p.223)
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Primeira fase: Ausência de
Composição Aditiva
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"(...) a criança permanece
incapaz de apreender que as classes B abrangerão sempre mais elementos que
as classes de ordem A, e isso porque, psicologicamente, ela não consegue
pensar simultaneamente no todo B e nas partes A e A', o que equivale a
dizer que, logicamente não concebe ainda a classe B como resultando da
adição B = A + A', nem a classe A como resultante da subtracção A = B -
A'." (Piaget, 1971, p.226).
Segunda Fase
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"(...) é o facto de chegar a
pensar ao mesmo tempo na classe total caracterizada pela qualidade b
(substância) e nas classes parciais definidas pelas qualidades a e a' (cor)
que conduz pouco a pouco essas crianças à descoberta da composição
aditiva e da inclusão correctas." (Piaget, 1971, p.242).
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"(...) a criança consegue
pouco a pouco estabelecer que as classes de ordem B contêm mais elementos
que as classes inclusas de ordem A, mas efectua esta descoberta
intuitivamente, sem proceder ainda por via dedutiva ou operatória: com
efeito, não é senão ao ser obrigada a visualizar os colares ou colecções
que ela descobre a relação B>A e não antecipadamente, graças ao próprio
jogo das inclusões que resultam da composição aditiva. Em particular, a
criança descobre amiúde a relação B>A no momento em que pensa no
número preciso dos elementos da classe A' (ou da classe A, quando os
conta)." (Piaget, 1971, p.226,227).
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"(...) a mobilidade e a
reversibilidade possíveis da construção permitem-nos decompor e
recompor à vontade os conjuntos, de maneira a isolar as suas diversas implicações,
inclusões e relações em geral, a irreversibilidade do pensamento e da
representação da criança impedem-na da adquirir o poder de decomposição
necessário à análise e à síntese combinadas e, portanto, à
compreensão das inclusões e das relações." (Piaget, 1971, p.245).
Terceira Fase
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"(...) a criança compreende
de saída que a classe B que inclui é mais numerosa que a classe inclusa A,
porque se coloca de antemão no ponto de vista da composição aditiva (B =
A + A' e A = B - A')." (Piaget, 1971, p.227).
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A criança "(...) consegue
portanto, de saída ou quase, pensar simultaneamente na classe total B
caracterizada pelo qualidade b (substância ou forma) e na subclasse A,
definida pela qualidade a (cor), donde as duas constatações de que as A
são também B (...), mas que as B compreendem também as A' (...). Cada um desses
sujeitos, portanto, compreende ao mesmo tempo que B = A + A' e que A
= B - A'." (Piaget, 1971, p.243).
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"(...) as crianças (...)
chegam sem dificuldade (...)" à "(...) reversibilidade psicológica
e (...)" à "(...) composição lógica das
operações inversas com as operações directas." (Piaget, 1971, p.247).
"Na realidade, as operações aditivas e multiplicativas já se
acham implícitas no número como tal, pois um número é uma reunião
aditiva de unidades e a correspondência termo a termo entre duas colecções
envolve uma multiplicação. (...) Do mesmo modo que a
construção do número é indissociável da construção das classes e
das relações lógicas, assim também o manejo das operações
numéricas é solidário ao das operações qualitativas. (...) um
número é ao mesmo tempo uma classe e uma relação assimétrica, com as unidades que o compõem sendo simultaneamente adicionadas enquanto equivalentes e seriadas enquanto diferentes umas
das outras. (...) o número resulta, ao mesmo tempo, da equivalência generalizada
e de uma seriação generalizada. (...) a hierarquia
aditiva das classes, a seriação das relações e a generalização
operatória do número (...) constituem-se de maneira aproximadamente sincrónica, por volta do 6 a 7 anos, no momento em que o raciocínio da
criança começa a ultrapassar o nível pré-lógico inicial: é que a
classe, a relação assimétrica e o número são, os três,
manifestações complementares da mesma construção operatória
aplicada, seja às equivalências e diferenças reunidas. Com efeito, é
no momento em que a criança, tendo conseguido tornar móveis as
avaliações intuitivas dos primórdios, atinge assim o nível da
operação reversível, que ela se torna simultaneamente capaz de
incluir, seriar e enumerar."
(Piaget, 1971, pp.223,252,253)
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