QUEM FOI PASCAL?

 

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Blaise Pascal nasceu em Clermont-Ferrand, Puy-de-Dôme, França em 19 de Junho de 1623 e morreu em Paris a 19 de Agosto de 1662.

A mãe de Pascal morreu quando ele tinha apenas três anos. Em 1631 seu pai, Étienne, deixou o cargo de juiz e mudou-se para Paris com os filhos Gilberte, Blaise e Jacqueline. Pascal nunca foi à escola ou à universidade. Foi educado pelo pai que além de trabalhar para o governo na cobrança de impostos, era um homem de grande cultura, um matemático que teve o bom gosto de preferir que o filho se dedicasse primeiro ao estudo das línguas clássicas.

 

    Dada a precocidade que revelava (movido apenas pela curiosidade, e sem qualquer tipo de ajuda, conseguiu deduzir ainda menino as trinta e duas primeiras proposições de Euclides), Blaise, com apenas quatorze anos, é levado pelo pai a participar nas reuniões da Academia de Ciências organizadas por Mersenne (1588 - 1648), em Paris, onde tomou conhecimento com as ideias mais avançadas da sua época.

    Os ensinamentos ministrados pelo pai e as ideias colhidas nas reuniões da Academia de Ciências, levaram Pascal a editar, em 1640, com apenas dezasseis anos, a obra Essai sur les coniques. Aí formulou um dos teoremas básicos da geometria projectiva  conhecido, desde então, como o Teorema de Pascal. Esta obra, que fez avançar um tema que havia permanecido estagnado durante dezanove séculos, foi considerada anos depois como um dos mais criativos trabalhos até então publicados. Não obstante, o interesse de Pascal variava como a cor do camaleão. A todo o momento se interessava por coisas novas e aparentemente alheias ao espírito de um homem da Ciência.

Com dezanove anos, inventou, para facilitar o trabalho do pai, a primeira máquina de calcular.   Composta de engrenagens, mostradores e pequenas alavancas, a Pascalina permitia efectuar somas e subtracções. Nos anos seguintes, construiu e vendeu perto de quarenta máquinas.

(para saber um pouco acerca da história da evolução destas tecnologias clique aqui).

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  Baseada em dois conjuntos de discos (um para a introdução dos dados e outro que armazenava os resultados) interligados por meio de engrenagens, esta máquina utilizava o sistema décimal para os cálculos de maneira que, quando um disco ultrapassava o valor nove, retornava ao zero e aumentava uma unidade no disco imediatamente superior. Este engenho de cálculo, pioneiro de um longa geração de máquinas matemáticas, encontra-se no Conservatório de Artes de Paris. Essa conquista que testemunha a grande engenhosidade mecânica de Pascal valeu-lhe a homenagem de ter sido atribuído o seu nome a uma importante linguagem de programação: a linguagem Pascal.

   No entanto, Pascal dava claramente preferência ao trabalho mental. Muitos foram os desafios que se propôs decifrar e resolver. Certa vez, propuseram-lhe um problema referente ao jogo de dados. Reflectindo sobre ele, acabou por desenvolver, em colaboração com o matemático Fermat (1601 – 1665) com o qual se correspondia, um novo ramo da matemática - o estudo das probabilidades. Meditando sobre as regras que governavam os jogos de azar, a discussão entre os dois matemáticos girou em torno de dois problemas principais. O primeiro, relativo à probabilidade de um jogador obter uma certa face de um dado num certo número de jogadas. O segundo, mais complexo, consistia em determinar, para qualquer jogo de azar envolvendo muitos jogadores, o valor das apostas que iria retornar a cada jogador se o jogo fosse interrompido. Pela primeira vez, era possível medir com valores numéricos coisas até então consideradas imensuráveis, tais como a certeza e a incerteza de que um determinado evento pudesse ocorrer.

    A curiosidade de Pascal levou-o também a estudar o comportamento dos fluídos. Assim, com vinte e quatro anos de idade, voltou-se para a física, centrando toda a sua atenção no estudo da pressão distribuída no interior dos fluídos em repouso. Foi ele quem descobriu que a pressão age perpendicularmente às superfícies que limitam o vaso em que o liquido está contido e se transmite a todos os pontos do líquido, aumentando progressivamente com a profundidade. Ao aplicar as suas conclusões às ideias de Torricelli (1608 – 1647) a respeito da atmosfera, Pascal concluiu que, à medida que nos elevávamos, o peso do ar acima de nós deveria diminuir e que, portanto, a quantidade de ar iria decrescendo com a altitude até desaparecer por completo. Construiu então dois barómetros iguais aos de Torricelli e pediu a um parente que escalasse uma montanha carregando-os, já que a sua saúde não permitia fazê-lo pessoalmente. Como tinha previsto, o nível das colunas de mercúrio baixou significativamente durante a escalada, retornando à altura inicial no final da descida. Em 1647 publicou os resultados das suas observações em torno das hipóteses de Torricelli sobre a natureza física do vácuo.

    Após a morte do pai em 1651, Pascal iniciou um período de vida boémia que se iria estender durante três anos e que somente seria abandonada após ter quase morrido num acidente de carruagem.

    Na última década de sua vida, Pascal interessou-se também pela filosofia . Dedicando-se à meditação redigiu, entre outros escritos, a obra Pensées (1658). É também nesta nova fase que surge a oposição entre "esprit de finesse et esprit géométrique": de um lado, a razão com as suas meditações procura dar ao homem o exacto, o lógico, o pensável, aquilo a que Pascal chamou de espírito geométrico; do outro lado, a emoção, o coração, a religião, a moral: elementos que, se reunidos, podem transcender o mundo físico. A este último conjunto, Pascal chamou de espírito de finura. "La finesse est la part du jugement, la géométrie est celle de l’ esprit." (Pascal, 1985:13)

    Em 1658, Pascal publicou uma outra obra científica Traité du triangle arithmétique,   dedicada ao estudo do denominado Triângulo de Pascal. Trata-se de um arranjo de números usado para calcular coeficientes binomiais que é construído somando-se dois números adjacentes numa linha e colocando a sua soma na próxima linha abaixo. É conveniente "puxá-los" para a esquerda do triângulo e chamar as linhas de n=1, 2, … e as colunas de r=0, 1, 2, … . Cada entrada é a soma do número acima com o da sua esquerda acima. A entrada na n-ésima linha e na r-ésima coluna denota-se por C(n,r). Este triângulo apresenta relações e analogias que terão grande utilidade no futuro método aritmético, além de que se vão constituir como um verdadeiro elo de união entre toda a matemática formulada por Descartes (1596 – 1650), Newton (1642 – 1727) e Leibniz (1646 – 1716).

    Pascal publica ainda um tratado sobre os senos num quadrante de círculo, onde tenta a integração da função seno, chegando muito perto da descoberta do cálculo integral.

    Talvez a frase de Pascal mais famosa, e que espanta todos os que conhecem a sua autoria, seja esta: "O coração tem razões que a razão desconhece".

    Cientista ansioso em ajudar a resolver os problemas da sua época, Pascal foi capaz de sistematizar muitos campos da ciência. Foi filósofo, escritor, matemático e físico. Sem dúvida, uma das maiores figuras do século dezassete.

 

 

  

   

Olga Pombo opombo@fc.ul.pt