No Inverno de 1858, um jovem antiquário escocês chamado A. Henry Rhind, de visita ao Egipto por motivos de saúde, comprou em Luxor um grande papiro que teria sido descoberto nas ruínas de um antigo edifício de Tebas. Rhind morreu de tuberculose cinco anos mais tarde e o seu papiro foi adquirido pelo Museu Britânico de Londres.
O documento não estava, obviamente, intacto. Originalmente, era um rolo de 6 metros de comprimento e 33 centímetros de largura. Mas tinham sido perdidos alguns fragmentos até ser adquirido por Rhind.
Cinquenta anos mais tarde muitos desses fragmentos foram encontrados no depósitos da Sociedade de História de New York (Museu de Brooklyn). Eles tinham sido obtidos, juntamente com papiros sobre medicina, pelo coleccionador Edwin Smith. Os fragmentos esclareceram alguns pontos essenciais para a compreensão do todo.
Foi possível iniciar a tradução do papiro de Rhind quase de imediato devido ao conhecimento adquirido da pedra de Roseta. A pedra de Roseta é constituída por três painéis, cada um inscrito num tipo diferente de escrita: na primeira parte hieroglífico antigo, na secção do meio hierático desenvolvido e na parte final grego.
Actualmente, o papiro faz parte da colecção Rhind, existente no Museu Britânico e foi publicado por Eisenlohr, de Leipzing, em 1877 (Ein mathematishes Handbush der alten Aegypten), tendo sido discutido em várias memórias por Cantor, Favano, Rodet, Bobyning e Weyr.
O papiro de Rhind é também conhecido por papiro de Ahmes em homenagem ao escriba que o copiou no 33º ano do reinado de Apepa II (rei Hyksos da 15ª Dinastia) algures entre 1788 e 1580 a.C.
O escriba diz-nos que o material deriva de um original do Reino Médio, na 12º Dinastia, escrito entre 2000 e 1800 a.C., e é possível que algum do conhecimento tenha vindo do famoso arquitecto e físico Imhotepy que supervisionou a construção da pirâmide do Faraó Zozer há cerca de 5000 anos.
Escrito em hierático, o papiro consta de 87 problemas e sua resolução. Muitos dos problemas têm por base problemas do quotidiano, como a medida de cerveja e a divisão de pão.
A primeira parte do papiro - que parece representar um manual do cálculo matemático da altura, com um sumário de regras e questões organizadas para servirem de guia aos sacerdotes egípcios, cultores da especialidade - inclui uma tabela da divisão de 2 por números ímpares - de 2/3 até 2/101. Esta tabela de conversão era necessária porque os egípcios operavam unicamente com fracções unitárias e, portanto, reduziam todas as outras a esta forma. Com excepção da fracção 2/3 todas as outras eram expressas na soma de fracções unitárias.
Vêm de seguida alguns exemplos relativos ás operações fundamentais da Aritmética, em que, na multiplicação parece proceder-se por adições sucessivas dos resultados obtidos pela operação multiplicar por dois, única tábua de multiplicação que parece ser conhecida.
Na divisão encontram-se os resultados, sem que se indique o processo seguido. Mostra-se, contudo, por documentos posteriores que se procedia por tentativas.
O papiro de Rhind trata depois de apresentar as soluções de alguns problemas, que, na nossa linguagem matemática, se exprimem por equações numéricas simples do primeiro grau a uma incógnita, da forma ax + bx + cx +...= k em que a, b, c ,..., k , ou são números inteiros ou fracções unitárias; ou são a soma destes números inteiros e fracções unitárias.
Na parte geométrica encontram-se alguns exemplos numéricos relativos à apreciação de volumes, à determinação das áreas de algumas figuras rectilíneas e à resolução de problemas sobre pirâmides.