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Esparta,  cidade conservadora, aristocrática e guerreira, ocupa um lugar privilegiado na história da educação grega. Segundo Marrou, "a educação do cidadão espartano não é a de um cavalheiro, mas a de um soldado; insere-se numa atmosfera «política»(Marrou, 1966: 36). O objectivo era dar a cada indivíduo preparação física, coragem e hábitos de obediência total às leis da cidade de forma a torná-lo um soldado insuperável em bravura em que o indivíduo estivesse absorvido pelo cidadão. 

"a educação espartana,  não terá mais por fim seleccionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis – soldados prontos a  devotarem a sua vida à pátria" (Marrou, 1966: 36). 

Não admira pois que o jovem espartano revelasse hábitos de obediência e uma compostura que os outros gregos possuíam em muito menor grau. Todavia, "conquanto os espartanos possuíssem um fino senso de humor e a sua vida activa não se ressentisse da falta de alguns prazeres naturais e simples, pouco havia no seu ideal da «vida bela e feliz» dos atenienses. Faltavam aos espartanos os sentimentos mais delicados e a sensibilidade dos atenienses para a harmonia na conduta e especialmente para as amenidades da vida, ou para o seu aspecto cultural" (Monroe, 1979: 34).

Contudo, embora predominantemente física e moral, a educação espartana não ignorava as artes, em especial a música. Esta assegurava a ligação entre os aspectos físicos e intelectuais: através da dança, dá a mão à ginástica; pelo canto, veicula a poesia.

Governada após Licurgo por uma assembleia democrática constituída por todos os homens livres e por um senado aristocrático, Esparta organizou um sistema geral de educação que era dirigido por um superintendente – o paidonomos

Depois de um duro treino até aos sete anos de idade, em que ficava entregue aos cuidados de sua mãe, o menino era retirado do lar e colocado sob os cuidados do paidonomos e dos seus diversos  auxiliares que cuidavam do menino em "casernas" públicas, custeadas pelo Estado. 

"O jovem espartano é requisitado pelo Estado: até à morte pertence-lhe inteiramente" (Marrou,1966: 42). 

Dividiam-se os meninos em pequenos grupos sob a direcção de líderes escolhidos em grupos de meninos mais velhos. 

"Dos meninos de mais de 12 anos, os mais distintos de entre eles tornavam-se companheiros favoritos dos adultos; e os anciãos frequentavam constantemente seus lugares de exercício, observando as suas demonstrações de força e de saber, não de passagem e precipitadamente, mas como pais, guardas, governantes, de forma que em nenhuma ocasião ou lugar lhes faltavam pessoas para os instruir ou castigar" (Plutarco, cit. in Monroe, 1979: 35).

   Na verdade, a educação do menino era pública. Por esse motivo todo o espartano adulto era um professor, e todo o menino espartano tinha um tutor, escolhido sob o critério da estima mútua. O professor e o aluno não estavam unidos por nenhuma relação económica mas por laços de amizade e afecto. É assim que,  mesmo fora das horas do treino regular, o menino recebia educação dos mais velhos sobre justiça, honra e patriotismo, espírito de sacrifício, domínio de si mesmo e honestidade. 

Na caserna, os meninos comiam em mesas comuns, ajudavam no fornecimento dos alimentos caçando os animais selvagens, participavam das danças, corais e cerimónias religiosas. 

   

O restante do seu tempo era despendido em exercícios de ginástica que constituíam o elemento principal de sua educação

 Entre os 18 e os 20 anos, o jovem  ireno dedicava-se  à instrução de meninos mais jovens e ao estudo sério das armas e das manobras militares sendo submetido a severos exames de 10 em 10 dias.   

Dos 20 aos 30 anos o treino tornava-se muito semelhante aos serviços da verdadeira guerra. Aos 30 anos o jovem tornava-se maior de idade, mas apenas para continuar com os seus serviços inteiramente devotados ao Estado e aos treinos militares necessários.

Treinador de boxe

  O jovem espartano era treinado mediante formas de exercícios regulares: corrida, salto, lançamento do disco, arremesso do dardo, exercícios militares combinados com dança coral, mas principalmente, por meio da luta. A caça, ocupação das horas de folga, era também uma importante forma de exercício.

Lançamento do Disco

 

    No que diz respeito à ginástica, e contrariamente aos outros gregos, os espartanos não possuíam ginásios e não colocavam, como finalidade importante da ginástica e o desenvolvimento físico harmonioso do atleta. O seu principal objectivo era a formação do soldado "destro, perspicaz, cauteloso, com autodomínio, sem medo, sem piedade, experimentado em todas as fadigas, obediente ao comando, respeitador da autoridade, capaz de agir em uníssono com seus companheiros, e tendo pela morte aquele desprezo que os atenienses consideravam uma insolência e uma impiedade" (Monroe, 1979: 37).

No entanto, a preparação militar dava aos jovens espartanos uma elevada capacidade atlética. Assim se explicam as suas frequentes vitórias nos jogos pan-helénicos. A primeira grande vitória espartana conhecida é a da 15ª Olimpíada. Dos oitenta e um vencedores, quarenta e seis eram espartanos.

 

 

 

 

 

 

 

Atleta nu a correr

Segundo Tucídides, é aos espartanos que devem ser atribuídas duas inovações que serão depois adoptadas por todos os gregos: "a nudez completa do atleta (...) e o uso do óleo para embrocação" (cit. in Marrou, 1966: pag)

   Outra característica interessante da educação física espartana é o facto de ela não estar reservada aos homens. Na verdade, o atletismo feminino é ilustrado, a partir da primeira metade do século VI, por encantadoras estatuetas de raparigas em plena corrida, levantando com uma das mãos a barra da saia. 

Na verdade, em oposição a qualquer outro povo antigo, os espartanos davam às mulheres praticamente a mesma espécie de educação que aos homens. O seu fim era preparar mães de guerreiros. 

As raparigas eram alvo de uma formação na qual a música, a dança e o canto desempenham um papel menos importante que a ginástica e o desporto.