"Ramanujan For Lowbrows"
B. Bernedt e S. Bhargava (1933), "Ramanujan-For Lowbrows", American. Mathematics Monthly, 100: 644-656.
O artigo que traduzimos não é de Ramanujan mas sobre Ramanujan. Na verdade, o que existe da sua obra são essencialmente fórmulas e expressões matemáticas isoladas, rascunhos manuscritos como este que reproduzimos. Feitas algumas
pesquisas, descobrimos apenas relatos e compilações da sua
correspondência matemática com Hardy
e outros matemáticos da época. Textos no entanto capazes de nos revelarem este "estranho" génio da matemática. É um destes textos que traduzimos.
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Para celebrar o centenário do nascimento de Ramanujan, em Junho de 1987, foi organizada uma conferência na Universidade de Ilinois em Urbana-Champaign. Numerosos caminhos e vários cenários permitiram reunir pesquisas dos artigos, problemas, cartas, blocos de notas e manuscritos não publicados de Ramanujan numa panóplia de áreas de investigação, incluindo “inúteis” funções teta, mecânica estatística, álgebras de lie, teoria probabilística de números, formas modelares, funções elípticas, multiplicações complexas, séries hipergeométricas, q-series, expansões assimptóticas e integrais beta. Muitos outros matemáticos de nome não conseguiram ter tanto impacto em investigação matemática. Apesar de muitos dos resultados apresentados na conferência terem sido entendidos e apreciados por matemáticos que fazem investigação fora desta área, esta era uma conferência para génios. Muitas
das belas descobertas de Ramanujan são, contudo, fáceis de compreender,
elementares e apelam a uma grande variedade de gostos. Assim este artigo é
essencialmente publicado para gente vulgar, com limitadas preocupações
intelectuais. A maior parte dos teoremas aqui referidos, necessitam de uma álgebra
elementar, para serem demonstrados. A maioria deles pode ser encontrado numa
parte ainda desorganizada do livro de notas II, que se compilou como terceiro
livro de notas de Ramanujan, que os publicou para os habituais leitores do Journal
of the Indian Mathematical Society. Os resultados que vamos descrever vão
ao mais profundo da álgebra elementar, da igualdade de séries de potências e
da teoria elementar dos números. Concluímos
o nosso artigo com algumas aproximações do número π. Muitas referências vão ser feitas aos dois volumes de notas de Ramanujan. O segundo volume contém o segundo e terceiro livros de notas e todos os números das páginas neste artigo referem-se à paginação neste segundo volume.
Teoria
dos números Suponhamos
que p é um número primo e n é um inteiro positivo. Assim, por um teorema
bastante conhecido da Teoria Elementar dos Números, a maior potência de p que
divide n! é igual
Apesar
de, ao longo dos anos, este teorema ter sido bastante usado pelos investigadores da
teoria dos números, as desigualdades
dadas por Ramanujan
no seu terceiro “notebook”, parecem não ter sido devidamente consideradas até hoje. Ambas
as desigualdades em (4.1) são exactas. Se
Na realidade,
Ramanujan declarou (4.1) com o p substituído por um
Bhargava, Adiga e
Somashekara deram uma demonstração de (4.1) quando p é um inteiro positivo
excedendo 1. Damos agora outra demonstração. Demonstração
de (4.1): Primeiro, escrevendo n em
função de p, i.e., estabelecendo
encontramos, depois
de um simples cálculo, que
donde sai a segunda
desigualdade de (4.1). A primeira desigualdade de (4.1) é bastante mais difícil de estabelecer.
Seja
Então, por (4.2),
é suficiente provar que
Escrevendo
Então
Segue-se que
Por (4.3)-(4.5),
devemos conseguir terminar a demonstração se mostrarmos que
Primeiro, se r=0,
(4.6) claramente verifica a igualdade. Se r
onde
No entanto, por cálculos
elementares, verifica-se que
Desde que
Como referido na introdução,
concluímos esta pequena amostra das descobertas elementares do Ramanujan com
uma nota do
Assim, esta simples fracção continua que equivale à
expansão decimal do
Retirando uma breve diversão
do seu famoso apontamento nas aproximações do
a qual, “foi obtida empiricamente”. Como é que Ramanujan terá deduzido esta aproximação tão pouco usual, aproximação que pode ser encontrada no seu 2º e 3º notebooks [26, pp.217, 375]? N.D. Mermin [16], [17, pp. 304-305] ofereceu a melhor explicação para a aproximação de Ramanujan (4.8). Na expansão decimal de
é a aproximação
natural do
A facilidade
que Ramanujan detém para com as fracções continuas é inigualável na história matemática, e como tal
deve ter observado que [16], [17], [4, p.151]
Truncando esta fracção continua mesmo antes do “maior” quociente parcial 16,539 dá a aproximação (4.8). |