O
Conhecimento
O homem sentiu, desde sempre, necessidade de explicar o
mundo que o rodeia. Por isso, o problema do conhecimento foi colocado logo desde o início
da filosofia grega.
Embora o conhecimento seja, não um estado mas sim um processo e, como tal,
necessariamente relacionado com a actividade prática do homem (conhecer não
é só possuir uma representação mental do mundo, é também actuar no mundo a partir da
representação que dele temos), tradicionalmente, o conhecimento foi descrito como
uma relação entre um sujeito, enquanto agente conhecedor, e um objecto, enquanto
coisa conhecida. Dois grandes problemas se colocam:
1.
Qual a origem do conhecimento?
Será que todo
o conhecimento procede apenas da experiência? Será que alguns dos nossos
conhecimentos têm a sua origem na razão? Ou será que todo o conhecimento resulta
de uma elaboração racional a partir dos dados da experiência?
Três respostas são
possíveis a esta questão: o empirismo, o racionalismo e o empírico-racionalismo ou
intelectualismo.
O empirismo
O empirismo considera
como fonte de todas as nossas representações os dados fornecidos pelos sentidos. Assim,
todo o conhecimento é «a posteriori», isto é, provém da experiência e à
experiência se reduz. Segundo os empiristas, inclusivamente as noções matemáticas
seriam cópias mentais estilizadas das figuras e objectos que se apresentam à
percepção.
" Os pontos, as linhas, os
círculos que cada um tem no espírito são simples cópias dos pontos, linhas e círculos
que conheceu na experiência"
Stuart Mill
Assim, "a linha recta seria uma simples cópia do fio
de prumo, como o plano, simples cópia da superfície do lago, o círculo da lua ou do
sol, o cilindro do tronco de árvore e a noção de número deriva da percepção
empírica de colecções de objectos." (Ribeiro e Silva, 1973, p. 390).
O racionalismo
Os racionalistas
consideram que só é verdadeiro conhecimento aquele que for logicamente necessário e
universalmente válido, isto é, o conhecimento matemático é o próprio modelo do
conhecimento. Assim sendo, o racionalismo tem que admitir que há determinados tipos
de conhecimento, em especial as noções matemáticas, que têm origem na razão.
Não quer isso dizer que neguem a existência do conhecimento empírico. Admitem-no.
Consideram-no porém como simples opinião, desprovido de qualquer valor científico. O
conhecimento, assim entendido, supõe a existência de ideias ou essências anteriores e
independentes de toda a experiência.
Descartes defende uma particular
posição no interior do racionalismo: o racionalismo inatista.
O empírico-racionalismo ou
intelectualismo
Para os defensores desta
teoria, as nossas representações são construções «a posteriori» elaboradas pela
razão a partir dos dados experimentais. Assim, o conhecimento tem a sua origem na
experiência mas a sua validade só pode ser garantida pela razão.
As noções matemáticas são construções racionais a partir da
observação dos objectos e figuras que rodeiam o homem. Decorrem de processos de
abstracção e regularização relativamente à irregularidade das figuras reais.
2.
Qual a natureza do conhecimento?
O que é que conhecemos? Os próprios objectos ou as representações, em nós,
desses objectos?
Para responder a estas questões, duas grandes doutrinas têm sido defendidas:
O realismo
O realismo afirma
que no acto do conhecimento, o sujeito consegue apreender um objecto que é independente e
distinto dele.
O idealismo
O idealismo defende
que não é o objecto em si que conhecemos mas o objecto tal como se nos representa. Em
limite, não podemos saber sequer se há coisas reais, transcendentes ou exteriores ao
espírito ou, se pelo contrário, tudo quanto existe está no espírito.
Descartes recusa a concepção realista do objecto defendendo um idealismo crítico.
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