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Complexos

 

O nascimento dos complexos

Historicamente, os números complexos surgiram para resolução das equações quadráticas, e cúbicas. Se a equação  é solúvel, por que razão não o será também a equação ? Ou seja, não terá -1 uma raiz quadrada?

É inútil perguntar a natureza desse número que, multiplicado por si mesmo, é igual a -1. Representando esse número pelo símbolo i observamos que tudo funciona bem. O objecto i – a unidade imaginaria - nada tem a ver com Número como instrumento de contagem. A unidade imaginária é puramente um símbolo cuja natureza parece alheia ao carácter concreto e indutivo que os números naturais apresentam. Designemos desde já por imaginárias ou complexas as raízes quadradas dos números negativos. Como veremos, os imaginários são tão reais como os reais. Mais ainda: estes números obedecem às regras que já conhecemos para os números reais. 

Como entraram em uso estes números? Compreendemos melhor o que se passou recordando as reacções aos diversos alargamentos do campo dos números.

Quando os pitagóricos descobriram os irracionais (etimologicamente, irracional significa sem razão), reinou a consternação e, por tê-los revelado, um dos membros da seita pagou com a vida o seu crime de apostasia. Os Gregos, para quem a geometria era um regozito e a álgebra um mal necessário, baniram-nos, incapazes que eram de os representarem geometricamente. Mas a álgebra precisava deles para se desenvolver. As equações do tipo , com a e b positivos (como ), conduzem naturalmente a números negativos! Mais sábios do que o sábio árabe Omar Kayan, que os evitou, os Chineses e os Hindus reconheceram-nos ainda antes do começo da era cristã. Os Europeus demorariam muito mais tempo. Sem terem ainda assimilado bem os irracionais e os negativos, depararam com outros entes problemáticos – os complexos. A humanidade demorou algum tempo a compreender que, afinal, os complexos são simples.

Os números negativos foram considerados impossíveis durante muito tempo. De que falamos afinal, quando falamos de -2 maçãs? Decerto, de nada realmente real (pelo menos no sentido físico)! Porem, todos falamos com naturalidade de temperaturas negativas ou de saldos bancários negativos. O hindu Brahmagupta, em 628 da nossa era, lidou com os negativos sem grandes problemas. O que é interessante, pois a introdução das diferentes espécies de números sempre desencadeou reacções de espanto e de não aceitação.

No século XVI, os negativos surgem na “Ars Magna” de Cardano, famoso tratado de álgebra da Renascença. No entanto, repugnaram tanto a consciência cientifica de Girolamo Cardano que este lhes chamou fictícios. No século XVII, Antoine Arnauld argumenta que a proporção é absurda, pois como pode um mais pequeno estar para um maior, como um maior está para um mais pequeno?

Cardano, ao resolver a equação , obtém as soluções  e e afirma:

“Deixando de lado as torturas mentais envolvidas, substituamos a pretensa solução na equação. Observando sem preconceitos, concluímos que como se pretendia. Portanto, progride a subtileza da aritmética, cujo o fim é tão refinado quanto inútil.”

Ou seja, pode não fazer sentido, mas a verdade é que funciona! Um verdadeiro enigma.

Cedo terão os matemáticos deparado com equações quadráticas cuja resolução conduzia a raízes quadradas de números negativos. Todavia incapazes de aceitarem esses entes rejeitaram-nos, afirmando que as equações que a eles conduziam não tinham solução. No século XVI, Cardano concebeu que, se  tais números fossem tratados como números ordinários com a regra adicional , então satisfariam as equações. Estes números, a que no passado atribuía a impossibilidade de qualquer significação, sendo por isso designados por «imaginários», conquistaram progressivamente a cidadania matemática.

    Embora o conceito de “número imaginário” tenha demorado ate ao século XIX, para a sua aceitação total pelos matemáticos, a fórmula de Cardano pode ser encarada como sendo o início do processo. Contudo foi o professor Bombelli, o último dos grandes matemáticos bolonheses do século XVI, que esboçou pela primeira vez uma teoria consistente dos números imaginários.

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