O que é a gripe das aves ?
É uma infecção transmissível, causada pelo vírus da gripe (chamado vírus influenza) em aves. Este vírus tem vários tipos e subtipos, alguns dos quais também existem em outros animais. Nas aves, a infecção pode ser completamente assintomática, pode causar doença pouco grave, ou pode causar doença muito grave e morte. Depende da variante do vírus que causou a infecção e da ave em causa. O vírus da gripe infecta tanto aves selvagens (em particular aves aquáticas migradoras), como aves domésticas (patos, perus, galinhas).
Nós não somos aves, o que é que a gripe das aves tem a ver connosco ?
As aves são o maior reservatório natural do vírus da gripe. Pensa-se que todos os vírus da gripe que infectam mamíferos e humanos derivaram de vírus da gripe das aves. A infecção directa de um humano por uma ave doente com gripe é um acontecimento raro. Historicamente, tem sido mais frequente as aves infectarem primeiro os porcos e estes (depois do vírus sofrer uma recombinação dentro do porco) infectarem humanos. Nas últimas décadas, porém, também se registaram vários episódios de infecção directa de humanos por aves. Desde 1997, o subtipo H5N1 do vírus, foi o que esteve envolvido em mais casos confirmados de transmissão directa de aves para humanos. Estes episódios são perigosos, pois os humanos não têm defesas contra os vírus das aves. Se um vírus de aves adquirir capacidade para se transmitir entre humanos, pode-se desencadear uma pandemia.
É assim tão grave ser infectado por um vírus da gripe das aves ?
Pode ser ou não. Tem acontecido de tudo. Desde infecções que se limitaram a produzir doença respiratória ligeira, conjuntivites, etc., até pneumonia directa pelo vírus e morte em 2 ou 3 dias. Uma coisa é certa, os humanos não possuem defesas contra a grande maioria dos tipos e subtipos de vírus da gripe que estão nas aves, por isso, é sempre perigoso ser infectado por uma ave.
Que tipos de vírus da gripe existem ?
O vírus da gripe, tem 3 tipos : A, B e C. O tipo A existe em várias espécies de animais, é o mais perigoso e divide-se em vários subtipos. O tipo B é exclusivamente humano. O tipo C foi encontrado em humanos, porcos e cães, causa infecções respiratórias ligeiras mas não causa epidemias. Centremos a atenção no A.
Os subtipos do tipo A, são identificados por um código com duas letras e dois números: HxNy, onde x e y são números. Por exemplo: H1N1, H3N2, H5N1, etc.
H quer dizer hemaglutinina (HA) e N quer dizer neuraminidase (NA). São duas proteinas que estão na cápsula que envolve o vírus. A HA permite ao vírus agarrar-se às células para entrar e a NA permite-lhe sair da célula depois de se multiplicar lá dentro. Os números representam a ordem pela qual as várias formas químicas destas moléculas foram descobertas. Por exemplo, H5 quer dizer que é a 5ª forma descoberta da hemaglutinina. Até à data, conhecem-se 16 hemaglutininas e 9 neuraminidades. Ou seja, existem subtipos desde H1N1 até H16N9.
Nas revistas da especialidade os subtipos do A podem surgir identificados de forma mais complicada, por exemplo: A/Hong Kong/156/97 (H5N1), ou seja: A/ local da identificação/número dado pelo laboratório/ano da descoberta (subtipo). Se o vírus infectar animais, o nome do animal aparece antes do local, por exemplo: A/Chicken/Hong Kong/G9/97 (H9N2).
Todas estes subtipos existem nas aves aquáticas. Nos humanos, presentemente, circulam apenas o H3N2 e o H1N1, mas no passado circularam outros subtipos. Nos cavalos, é muito frequente o H7N7.
Como se transmitem os vírus da gripe ?
Depende. Há que distinguir transmissão entre aves, de aves para mamíferos não-humanos, de aves para humanos, e entre mamíferos (humanos incluídos).
Entre aves
As aves aquáticas são o maior reservatório de todos os subtipos conhecidos do tipo A do vírus. Nos patos selvagens, o vírus multiplica-se nas células que revestem o tracto intestinal, sem causar sinais de doença, e são excretadas nas fezes em grandes concentrações. Os vírus têm sido isolados de fezes recentemente depositadas e de água de lagos, sugerindo que este sistema de transmissão fecal-aquática-oral é muito eficiente.
Uma grande proporção de aves, em especial juvenis, são capazes de libertar vírus. O vírus permanece vivo na água durante várias horas, especialmente se esta estiver fria, e pode infectar outras aves.
De aves para os mamíferos (não-humanos)
As aves aquáticas selvagens transmitem o vírus às aves domésticas e estas aos mamíferos. Vejamos uma situação frequente. O sr. Wang-Chu possui uma quinta com patos, galinhas e porcos. Para os patos, tem um pequeno reservatório de água onde os animais se banham. Na primavera, passam naquela região aves aquáticas migradoras que dão um saltinho ao tanque do sr. Wang-Chu. Repousam umas horas e deixam uns presentes de fezes infectadas, quer na água quer no solo. Os patos do sr Wang-Chu são infectados pelos vírus e, como não existe separação entre patos e galinhas, infectam as galinhas também. Há, aliás, múltiplas possibilidades de infecção. Desde os porcos do sr Wang-Chu irem cheirar as fezes das aves, até os seus filhos andarem a brincar por ali e tocarem com as mãos em dejectos infectados que depois levam aos olhos, tudo é possível. Finalmente, como a promiscuidade é geral, galinhas e porcos convivem na mesma área restrita. Os porcos são infectados porque inalam partículas microscópicas infectadas, em suspensão no ar, libertadas pelas galinhas.
(um àparte sobre os porcos)
Os porcos possuem nas células do trato respiratório receptores moleculares aos quais tanto conseguem aderir os subtipos de vírus comuns nas aves como os subtipos dos mamíferos. Isto, aliás, torna os porcos animais especialmente vocacionados para gerar subtipos de vírus novos, capazes de infectar humanos, e para os quais os humanos não possuem defesas. Os porcos funcionam como uma espécie de “misturadora” de vírus de origens diferentes (ver fig ao lado). Devido à grande capacidade de recombinação do vírus, surgem no porco subtipos híbridos, com uma parte dos genes aviários e uma parte dos genes humanos. Pensa-se que foi assim que surgiram os subtipos que estiveram na origem das grandes pandemias do século 20 em humanos.
Entre mamíferos
Entre mamíferos a transmissão dá-se predominantemente por via respiratória. Um hospedeiro infectado, seja porco, cavalo ou humano, emite gotículas microscópicas infectadas que ficam em suspensão no ar, por vezes durante horas, e podem ser inaladas por outro hospedeiro. Nos humanos, isto é comum, quando um indivíduo com gripe fala, tosse, ou espirra.
O sr. Wang-Chu estará em risco, quando de manhã abrir os portões da pocilga onde os animais infectados pernoitaram. Também estará em risco, embora menor, se, ao ver uma galinha doente, a for matar e manipular sem ter o cuidado de se proteger (ver a seguir).
Estima-se que cerca de 10% de pessoas que têm contacto regular com porcos, tenham já sido infectadas por subtipos de vírus do porco (a avaliar por estudos serológicos). Estes subtipos, contudo, não se propagam entre humanos. Infectar o humano é uma espécie de "beco sem saída" para eles.
De aves directamente para humanos – ver a seguir
Qual o risco de um humano ser infectado directamente por uma ave ?
A transmissão directa de aves para humanos é um fenómeno raro. O mais comum, é o porco servir de “misturador” intermediário entre aves e humanos (ver acima). No entanto, tem havido vários episódios de humanos infectados directamente por vírus de aves nas últimas décadas. Desde 1997, o subtipo H5N1 esteve envolvido numa boa parte desses episódios. A maioria dos casos ocorreu na China e Sudeste asiático (Malásia, Tailândia, Viet Nam, Indonésia, Hong-Kong, Cambodja, etc.). Note-se, contudo, que nestes países existem biliões de galinhas e muitos milhões de criadores de aves. No entanto, o número de casos conhecidos é de apenas algumas centenas. Aparentemente, a probabilidade do fenómeno ocorrer é baixíssima.
Como é que têm ocorrido as infecções de pessoas pelo vírus das aves ?
Tipicamente, têm ocorrido em pequenas criações de animais em áreas rurais ou semi-rurais, como a do sr. Wang-Chu do exemplo acima. Uma ave infectada espalha abundante quantidade de vírus nas fezes e cria várias oportunidades de infecção. Muitas das pessoas que as criam dependem delas para viver. Quando uma ave aparece doente, matam-na imediatamente para a consumir. Ao matá-la, não são tomadas medidas de protecção e, por exemplo, ocorre contacto com o sangue e as vísceras do animal.
Na maior parte dos estudos retrospectivos de gripe de aves em humanos, foi possível relacionar os doentes, quer com a manipulação de aves infectadas, quer com visitas a mercados de venda de aves ao ar livre, aviários etc.
É seguro comer aves e produtos de aves ?
(resposta adaptada do site da Organização Mundial e Saúde:
www.who.int/csr/disease/avian_influenza/avian_faqs/en/index.html#whatis)
Em países onde não existe gripe das aves, como é o caso de Portugal, os produtos derivados de aves podem ser preparados e consumidos como de costume, seguindo as recomendações de higiene e preparação da OMS, que sempre existiram para estes produtos. Se assim se fizer, não há risco de apanhar o vírus da gripe das aves nestes países.
Mesmo nos países com surtos de gripe das aves, também é seguro comer estes produtos, desde que se cumpram as mesmas regras de higiene e os produtos sejam bem cozinhados. O vírus é sensível ao calor. As temperaturas a que normalmente se cozinha (70º C ou mais) são suficientes para matar o vírus. Os consumidores devem assegurar-se de que não ficam “partes rosadas” na carne (carne semi-crua) e que os ovos ficam completamente cozidos (e não apenas “mal passados”). Até à data, não há evidência de que alguém tenha contraído gripe das aves comendo carne bem passada, mesmo quando a carne estava infectada.
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Vírus da gripe ao microscópio electrónico
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Esquema do vírus com as proteínas da superfície H e N
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Esquema de transmissão de vírus das aves ao homem através do porco. O porco é infectado simultâneamente por vírus de aves e vírus humano. Estes combinam-se no porco, formando um subtipo híbrido que pode ser transmitido do porco ao homem. Os humanos podem não ter qquer defesa para este novo subtipo
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O que é o H5N1 ?
O H5N1 é um subtipo do tipo A do vírus da gripe. Este subtipo tornou-se endémico (quer dizer, “instalou-se”) entre aves domésticas no SE asiático e, desde 2004, tem surgido em regiões progressivamente mais para ocidente. Em Out-2005 foi detectado em aves na Turquia, Roménia, Grécia e Reino Unido. Receia-se que continue a progredir para ocidente e chegue à Península Ibérica.
Donde vêm os vírus da gripe novos ?
As aves aquáticas são o reservatório natural de todos os subtipos de vírus da gripe. Os subtipos que causaram as grandes pandemias do séc 20, por exemplo, continuam presentes naqueles animais. Outros mamíferos, como o porco e os cavalos, possuem também alguns subtipos que não estão nos humanos. O H5N1 apareceu primeiro em aves selvagens, tendo sido transmitido às aves domésticas.
Porque razão estamos tão preocupados com o H5N1?
Por 4 razões principais.
1) O H5N1 originou uma epidemia nas aves (chamada uma epizootia) que, desde 2004, atinge uma área geográfica sem precedentes (fig ao lado), e continua a alastrar. Neste momento (Nov 2005), há já patos domésticos infectados sem sintomas de doença. Estes animais funcionam como portadores do vírus, perpetuando a transmissão para outras aves.
2) Desde 2003, o H5N1 foi o principal protagonista de casos de infecção directa de humanos por vírus das aves.
3) Tanto em aves como em humanos, o H5N1 tem mostrado poder ser altamente patogénico. Nos humanos, por exemplo, as mortes têm ocorrido em indivíduos com idades inferiores a 65 anos, que não eram de risco para morte por complicações da gripe. O H5N1 tem também provocado pneumonias virais directas, um fenómeno pouco frequente, que caracterizou a grande pandemia de 1918.
4) O H5N1 mostrou já capacidade de alargar a sua gama de hospedeiros, tendo infectado gatos e tigres, espécies anteriormente consideradas imunes a vírus aviários.
Podemos ser infectados pelo H5N1 ?
Por enquanto, a gripe das aves é uma doença das aves. A infecção de humanos pelo H5N1 é um fenómeno raro e muito pouco provável. Mas não é impossível, como os casos do SE asiático têm mostrado.
Ver acima como a transmissão a humanos pode ocorrer.
O H5N1 já se transmite entre humanos ?
Ainda não. Os raríssimos casos detectados não causam alarme. Ocorreram em situações muito particulares, que sugerem contacto muito íntimo com pessoas doentes. O pessoal médico a tratar de doentes no sudeste asiático, por exemplo, nunca foi infectado. Muitos cientistas, contudo, estão convencidos de que é apenas uma questão de tempo até o vírus adquirir capacidade de transmissão eficaz entre humanos. Poderá ser em 2005, 2006, 2007 … ninguém sabe.
De que maneira pode o H5N1 mudar e tornar-se capaz de transmissão entre humanos?
Há duas maneiras:
1. Se houver uma pessoa (ou um porco) infectada simultaneamente pelo H5N1 e por um vírus humano (o H3N2 ou o H1N1), os dois vírus podem trocar entre si genes, dando origem a um vírus novo, com propriedades do vírus das aves e do vírus humano. Este novo vírus pode ser capaz de se transmitir entre humanos (conferida pelos genes do vírus humano) e de iludir o nosso sistema imunitário (conferida pelos genes do vírus das aves), podendo originar uma pandemia. Esta pandemia iniciar-se-ia com um aumento súbito no número de casos de gripe, devido a transmissão sustentada de humano para humano. É a situação mais perigosa e difícil de travar.
2. Pode haver um processo gradual de mutação (isto é, mudanças espontâneas na informação genética do vírus que ocorrem ao acaso) que faça com que a capacidade do vírus para aderir às células humanas vá gradualmente aumentando. Inicialmente, assistiríamos a transmissões esporádicas, de humano para humano, umas aqui, outras ali, sem longas cadeias de transmissão. O vírus estaria como que a fazer “ensaios” de transmissão entre humanos. Esta seria a situação mais favorável, pois dar-nos-ia mais tempo para detectar os mutantes e anulá-los.
Que adaptação é que o H5N1 necessita para se tornar capaz de transmissão entre humanos ?
As bases moleculares da transmissibilidade do vírus da gripe não são ainda bem compreendidas, mas pensa-se que envolvem vários genes. Para se transmitir de pessoa para pessoa, o vírus tem de aprender a entrar em células humanas, replicar lá dentro, sair para infectar outras células e propagar-se para outra pessoa.
A principal proteína envolvida nesta adaptação é a hemaglutinina (HA), uma glicoproteína da superfície do vírus que se liga aos receptores das células e medeia a entrada do vírus na célula. A proteína HA do vírus H5N1 evoluiu de forma a ligar-se eficientemente aos receptores das células de aves. Contudo, poderão ocorrer mutações nos genes do vírus que tornem a HA capaz de se ligar a células de outras espécies, como os humanos. De início essa ligação não deve ser muito eficaz e, provavelmente, esta é a fase em que o vírus presentemete se encontra. A melhoria desta ligação é um passo crítico para a adaptação do H5N1 aos humanos. Quanto mais eficientemente ele for capaz de se ligar aos nossos receptores celulares, mais eficientemente entra nas células e diminui as hipóteses dos nossos mecanismos de defesa o eliminarem antes de se começar a replicar.
Crê-se que há outros genes (para além dos que codificam a HA) que desempenham um papel na adaptação do vírus aos mamíferos, nomeadamente genes que codificam a maquinaria de replicação do vírus dentro das células. O conhecimento das mutações que tornariam o vírus bem adaptado aos humanos é presentemente uma área de intensa investigação, pois é crucial para reconhecer o potencial pandémico das novas variantes que emergem destes vírus.
Os outros tipos de vírus da gripe não são perigosos ?
A infecção de uma pessoa por qualquer subtipo de vírus que não seja um dos três que circulam na população humana (H1N1, H3N2 e tipo B), é sempre um acontecimento perigoso para a saúde da pessoa. O nosso sistema imunitário não está preparado para nos proteger dos subtipos de vírus não-humanos.
O que é uma pandemia ?
Diz-se que existe uma epidemia quando o número de novos casos de doença aumenta claramente acima daquilo que é considerado habitual.
Uma pandemia é uma epidemia que atinge uma área geográfica muito grande, em geral todo o planeta. As pandemias têm sido causadas pela transmissão dos animais ao homem de um subtipo de vírus novo que adquiriu capacidade de se transmitir entre humanos.
Já houve pandemias de vírus da gripe antes ?
Sem dúvida. Nos últimos 250 anos, pensa-se que ocorreram 10 a 20 pandemias de gripe. No século 20 ocorreram 3 que ficaram famosas (figura ao lado):
Em 1918-19 - A gripe “pneumónica”, provocada pelo subtipo H1N1
Em 1957 – A gripe “asiática” provocada pelo subtipo H2N2
Em 1968 – A gripe de “Hong-Kong” provocada pelo subtipo H2N3
As análises genéticas destes subtipos sugerem que, na altura, estes subtipos surgiram como híbridos, formados por uma parte de genes oriundos de vírus das aves e o restante de genes de vírus humano. Pensa-se que a transmissão através de porcos teve um papel importante neste processo.
Há 37 anos que não ocorre nenhuma pandemia.
Porque razão a pandemia é mais perigosa do que a gripe “do costume” que aparece todos os Invernos ?
Por 3 razões principais
1) A proporção da população que adoece é muito superior à que adoece com a gripe “do costume”. Todos os anos, cerca de 5 a 25% da população apanha a gripe habitual do Inverno. Numa pandemia, facilmente pode adoecer 50% da população ou mais, paralisando parcialmente parte do país. Isto acontece porque ninguém tem qualquer protecção contra o novo subtipo que causa a pandemia. Como os países vizinhos devem encontrar-se na mesma situação, não há que esperar grandes ajudas vindas de fora.
2) Numa pandemia, as pessoas que correm o risco de adoecer gravemente ou morrer, não são apenas as do “grupo de risco” habitual (idosos, pessoas com doenças pulmonares crónicas, etc.). Na pandemia de 1918, por exemplo, 99% das mortes ocorreram em pessoas com menos de 65 anos. A maioria tinha entre 20 e 45 anos.
3) Se o subtipo de vírus que causa a pandemia for particularmente patogénico, a mortalidade entre os doentes pode ser muito elevada. Em 1918, o vírus mostrou-se capaz de originar pneumonias directas seguidas de morte. (Em condições habituais, a pneumonia é causada, não pelo vírus, mas por uma infecção bacteriana a seguir à gripe). Na pandemia de 1957, por exemplo, mais de metade dos indivíduos que morreram não tinham nenhuma condição médica considerada de risco para a gripe.
Pode haver pandemia causada pelo vírus H5N1 ?
Se o vírus adquirir capacidade para se transmitir entre humanos, pode haver pandemia. Por enquanto ele não consegue fazer isso. Contudo, enquanto nos países com gripe das aves houver humanos a ser infectados pelo vírus, há possibilidade deste vir a adquirir capacidade de se transmitir entre humanos. Por outro lado, enquanto houver aves com gripe, há possibilidade de haver humanos a ser infectados por aves. Esta situação pode perdurar durante anos ! O risco de pandemia é real e sério. É necessário uma vigilância apertada das regiões onde o H5N1 se instalou em aves domésticas.
É possível evitar a pandemia ?
Presentemente, o vírus H5N1 está já instalado nas aves de forma que parece irreversível. No início de 2006, a OMS receberá uma oferta de 3 milhões de tratamentos com o antiviral oseltamivir (com o nome comercial Tamiflu) que foram prometidos pelo fabricante Roche. Tem-se esperança de que, se a pandemia começar (cadeias de transmissão humano-humano com o H5N1), esta seja detectada muito cedo e estes antivirais possam ser usados para efectuar tratamento profilático dos contactos dos doentes, travando a propagação da pandemia na origem e, eventualmente, ganhando tempo para a vacina.
Ninguém sabe se isto poderá ser feito. Foram recentemente publicados modelos matemáticos que sugerem que é possível travar a pandemia da forma descrita, mas é necessário actuar de forma muito rápida. Estes modelos têm também pressupostos acerca da transmissibilidade do vírus, acerca dos quais existe incerteza. Pressupõem uma vigilância epidemiológica (clínica e laboratorial) muito apertada nas regiões de maior risco (de momento, o SE asiático) e uma alta capacidade para isolar áreas afectadas.
O mundo está preparado para a pandemia ?
A resposta da OMS (www.who.int) a esta pergunta é não. Apenas 40 países deram sinais de desenvolver planos de preparação para a pandemia, seguindo, nomeadamente, as linhas estratégicas recomendadas pela OMS. Uma das medidas recomendadas é a criação de uma reserva estratégica de medicamentos (antivirais, antibióticos, etc). Segundo a OMS, apenas 30 países estão a desenvolver esforços neste sentido. Devido a limitações do fabricante, nem mesmo estes países terão de imediato acesso a todos os antivirais que já encomendaram (como é o caso de Portugal).
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No início de 2004, o número de casos de gripe em aves domésticas causada pelo H5N1 explodiu (pontos vermelhos)
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Doentes com gripe durante a pandemia de 1918
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As últimas 5 pandemias de gripe. Assinalam-se os subtipos de vírus que iniciaram cada uma delas e o tempo que ficaram em circulação na população humana. Presentemente circulam o H3N2 e o H1N1. No canto inferior esquerdo, o número de mortes em cada pandemia. A verde, marcos históricos da gripe: isolamento do vírus e desenvolvimento das vacinas.
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Início e progressão da pandemia de 1957. A pandemia deu a volta ao planeta o planeta em 6 meses
Máscaras protectoras usadas na Europa e na Ásia durante a pandemia de 1957. As máscaras visam proteger a comunidade dos espirros e tosse da pessoa que usa a máscara (e não o oposto)
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A vacina contra a gripe, actualmente à venda nas farmácias, não chega ?
A vacina contra a gripe que está à venda, só protege contra os subtipos do vírus actualmente em circulação na população humana (H1N1, H3N2 e Tipo B). Não protege contra o H5N1.
Quais as características da vacina que está à venda ?
ver aqui
Existe vacina contra o H5N1 ?
Ainda não. Presentemente (7 Nov 05), há cerca de 10 companhias fabricantes de vacinas, em mais ou menos igual número de países, que trabalham intensamente no desenvolvimento de uma vacina “pandémica”, isto é, uma vacina para o H5N1 quando este adquirir capacidade de se tornar transmissível entre humanos. Se se iniciar uma pandemia antes de 2006, nenhum fabricante estará ainda em condições de produzir quantidades grandes de vacina e comercializá-la.
Em que fase está o desenvolvimento da vacina contra o H5N1 ?
Alguns dos fabricantes entraram em fase de ensaios clínicos da vacina em 2005. Outros entrarão em breve e esperam-se os primeiros resultados antes do fim de 2005. Isso não significará contudo que a vacina final ficou pronta. A vacina em que se trabalha neste momento, baseia-se no H5N1 tal como ele existe agora, sem capacidade de transmissão entre humanos.
Os ensaios clínicos são efectuados para:
a) Testar a segurança da vacina. Uma vacina não deve causar efeitos adversos graves.
b) Determinar qual a formulação adequada para a vacina.
(Uma informação mais técnica)
Pretende-se neste momento determinar a curva dose-resposta da vacina e a quantidade de antigénio mínima que deve ter. Uma vez que a vacina poderá ter de ser produzida em quantidades sem precedentes, num curto espaço de tempo, é importante perceber até que ponto se pode reduzir a quantidade de antigénio na formulação, mantendo a vacina capacidade de induzir resposta imunológica protectora. Uma das formas de conseguir isto é através da inclusão de adjuvantes na formulação. Os adjuvantes estimulam o sistema imunitário e permitem poupar antigénio. O trabalho actual, feito com base no H5N1 não-pandémico, permitirá adquirir experiência técnica preciosa para aplicar rapidamente à variante pandémica do H5N1, logo que esta apareça.
E quando fica a vacina final pronta ?
A vacina “pandémica” final, só poderá ficar pronta quando aparecer a variante do H5N1 capaz de se transmitir entre humanos e causar a pandemia. Tal ainda não aconteceu, mas muitos cientistas pensam que é apenas uma questão de tempo. Quando esta variante aparecer, haverá já experiência de fazer vacinas para o H5N1, a qual será preciosa para ganhar tempo na produção da versão final da vacina. Só essa versão é que será produzida em doses maciças para a população mundial.
Entre o momento de declaração de pandemia (em princípio, feito pela OMS) e o aparecimento de doses industriais da vacina pandémica, irão decorrer alguns meses (2, 3 ?). A razão para isso, é que a versão final também terá de passar por ensaios clínicos, cuja duração é difícil de prever.
Quando se iniciar a produção comercial da vacina pandémica, os fabricantes actualmente a fabricar a vacina trivalente pararão para fabricar a vacina pandémica. De momento, estima-se que haverá uma capacidade de produção de 5 milhões de vacinas por dia.
Estranho, há pelo menos um país que anunciou que já tem a vacina e que a pode vender a outros.
Pois há. Mas se for verdade, não pode ser para o H5N1 capaz de se transmitir entre humanos (o H5N1 “pandémico”) porque este ainda não apareceu e não há forma de saber de antemão quais as suas características moleculares, importantes para a vacina.
Se a referida vacina for para o H5N1 actual (das aves) valerá a pena ter essa vacina ? Se se tomar essa vacina, provavelmente ficar-se-á com alguma protecção contra o H5N1 pandémico, mas não muito. Se a pessoa for infectada, adoece na mesma e pode até ter doença grave, mas é pouco provável que morra. Seja como for, espera-se muito mais de uma vacina eficaz.
Portugal vai ter vacina contra o H5N1 ? quando ?
Portugal irá encomendar 10 milhões de doses (informação não oficial). Logo que os primeiros fabricantes anunciem que estão em condições de efectuar contratos de compra, Portugal efectuará esse contrato, mas só terá a vacina quando o fabricante começar a produzir a versão final da mesma (ver acima). Em princípio, as vacinas não deverão chegar todas de uma vez, provavelmente virão várias remessas.
A vacina contra o H5N1 será posta à venda nas farmácias ?
Em principio não, pelo menos as primeiras remessas de vacina.
As linhas que se seguem são a minha opinião pessoal, não representam a posição nem da Comissão Técnica de Vacinação nem, que eu saiba, a de qualquer entidade oficial nacional.
Deve ser dada prioridade de toma da vacina a todo o pessoal de que depende o funcionamento dos serviços de saúde, sanidade e suporte social básico. Se a pandemia chegar, é necessário garantir que os serviços mínimos de que toda a população depende não param de funcionar. Isto pode incluir, por exemplo, desde técnicos que garantem o fornecimento de electricidade e a qualidade da água que bebemos, até ao pessoal das morgues.
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