4.O
Método de Ensino no Estado Ideal de Platão
Através dos programas descritos em duas das grandes obras de Platão, a
República e as Leis, sabemos o que Platão pensava que deveria ser a
educação.
Na sociedade que Platão idealizou existem três classes: a classe dos artífices e
comerciantes, cuja virtude é a temperança; a classe dos guerreiros, cuja virtude é a
coragem e a classe dos filósofos cuja virtude é a sabedoria. Se a classe dos filósofos
governar, se a classe dos guerreiros se encarregar da defesa e a classe dos artífices e comerciantes
mantiver as duas outras classes, existirá harmonia e equilíbrio e a justiça
poderá ser
alcançada.
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Na República e nas Leis, para além de desenhar o seu estado ideal, Platão
também define o sistema educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre
a educação, o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da
filosofia e do filósofo.
Platão começa por defender uma sólida formação básica que evolui até
elevados estudos
filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam
chegar à filosofia.
Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um nível de
formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por
função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e
o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e
deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles
que seriam os futuros cidadãos.
Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos
pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que
a educação deveria ser igual para rapazes e raparigas, mas só até aos seis
anos. A partir desta idade
teriam mestres e classes diferentes.
Platão defendia que o ensino deveria durar 50 anos.
Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos
educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só
começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu
de enorme importância para o desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua
continuidade e o seu enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica)
para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora
atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma
original, incidindo exclusivamente em exercícios de carácter militar, desempenhados
tanto por rapazes como por raparigas, preparando-os para o combate. O seu programa de jogos
incluia a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de infantaria pesada
e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a funda, marcha e manobras
tácticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direcção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo
Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade
adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir
para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que
se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura
e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as
indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto
intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e
ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens,
contribuindo para a disciplina moral.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a criança deveria aprender a ler e a
escrever, iniciando em seguida o estudo dos autores clássicos, integralmente ou em
antologias (trechos escolhidos). Para além dos poetas, Platão defende também
o estudo de autores
em prosa. Platão criticava o ensino dos poetas como Homero pois considerava que os mitos
pervertiam a criança e não lhe ensinavam a virtude. Assim, para ele, as obras de poetas
como Homero e Hesíodo davam uma ideia maliciosa das divindades. |
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No período dos 13 aos 16 anos, a música ocupa um lugar de distinção. Para Platão a
pessoa rectamente educada pela música, pelo facto de a assimilar espiritualmente, sente
desabrochar dentro de si, desde a sua mocidade e numa fase ainda recuada do seu desenvolvimento, uma certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo
feio, a qual o habilita mais tarde a saudar alegremente, como algo que lhe é afim, o
conhecimento da verdade, quanto ele se apresentar.
A música contribui, assim, para a formação harmoniosa da
alma. Segundo Platão, ela não
abrange apenas o que se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a
palavra falada, o logos. |
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O estudo das matemáticas foi sempre reservado a um
grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as matemáticas deveriam encontrar o
seu lugar em todos os níveis, começando pelo mais elementar, sendo aprofundada a partir
dos 16 anos e prolongada nos estudos superiores.
Esta inovação de Platão
inspira-se provavelmente nas
práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim, à aritmética, acrescentou a
prática dos exercícios de cálculo ligados a problemas concretos da vida e dos
negócios. Estes primeiros exercícios possuíam já uma virtude formadora, sendo
seu
objectivo a aplicação da matemática à vida prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e
à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende
também o ensino uma ciência totalmente nova, a estereometria (cálculo do volume
de sólidos). Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso
do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de
pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo
tempo que seleccionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus
futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque
aos jovens era imposto o serviço militar. Neste período, segundo Platão, a fadiga e o
sono impedem qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma selecção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao
exército; numa segunda selecção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era
encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os
estudos superiores, mas não directamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos,
continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria (plana e no espaço). Todas estas ciências devem eliminar qualquer experiência prática tornando-se
totalmente racionais, por exemplo, a astronomia deve ser uma ciência matemática e
não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da formação dos filósofos, que através dos
problemas elementares de cálculo, devem ser encaminhados para um
grau superior de abstracção. Platão diz que as matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis,
mas formar um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar
que Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na
personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o desempenho
pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um ciclo de matemáticas transcendentes e depois de um
última selecção, se inicia o método propriamente filosófico, a dialéctica, discussão do problema do bem e do mal, do justo e do
injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à
verdade. Os que chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção
dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência
participando na vida activa da cidade.
Aos cinquenta anos, estará completa a sua educação, se tiver sobrevivido e superado
todas as provas. Ele reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que
é a ideia
do Bem. Poderá então exercer um cargo na direcção do estado, não como uma honra mas
como um dever.
Este plano de Platão, que abarca a vida inteira, tem unicamente como objectivo formar um
pequeno grupo de governantes - filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem
do estado.
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se baseia na procura da
Verdade cuja posse
definirá o verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político
.
O curso de estudos, para Platão deveria
ser de cinco períodos:
1º- dos 3 aos 6 anos:
Prática do pentatlo (Nome colectivo de cinco exercícios que constituíam os jogos da
Grécia, em que entravam os atletas: salto, carreira, luta, pugilato e disco. Dança e
música para ambos os sexos).
2º- dos 7 aos 13 anos:
Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A
partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos.
Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos
10anos.
3º- dos 13 aos 16 anos:
Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária,
compreendendo gramática e aritmética; outra musical, compreendendo poesia e música.
Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril.
4º- dos 17 aos 20 anos:
Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a
toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica, faziam-se os homens
ferozes. Somente com a música, produzir-se-iam os afeminados.
5º- dos 21 anos em diante:
Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com carácter superior e
baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, seleccionam-se os futuros governantes,
prosseguindo sua educação até os 50 anos.
Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma:
· Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia.
· Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialéctica, sem prejuízo
dos estudos matemáticos.
· Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará
os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes
dos 50 anos de idade. |
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