BREVE HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA COMPANHIA DE JESUS
No dia 15 de Agosto de 1534, Inácio de Loiola, estudante da Universidade de Paris, juntamente com seis companheiros vindos de Espanha, Portugal e França (Francisco Xavier, Nicolau de Bobadilla, Diogo Laínez, Afonso Salmerón, Simão Rodrigues e Pedro Fabro, o único que era sacerdote), fizeram voto de pobreza, de castidade e de dedicação à causa da Igreja Católica.
Em 1537, juntaram-se a este grupo três novos companheiros, Pascássio Broet, João Codure e Cláudio Jay. Dirigiram-se a Roma, puseram-se à disposição do Papa e dedicaram-se a obras de caridade. Em 1539 decidiram criar uma Ordem religiosa e Inácio de Loiola começou a escrever as Constituições que só ficaram prontas 16 anos mais tarde. Em 27 de Setembro de 1540, o Papa Paulo III, pela Bula "Regimini Militantis Ecclesiae", aprova a constituição da nova Ordem também denominada Companhia de Jesus, então contando apenas 10 membros. A Companhia de Jesus surgiu com o objectivo missionarista de espalhar a fé cristã, não estando então previsto que fosse uma ordem religiosa especialmente consagrada ao ensino. Como Inácio de Loiola e os outros membros da Companhia tinham frequentado a Universidade, pensaram abrir "Casas" ou "Residências" junto das Universidades onde se formariam os novos membros da Companhia. Assim aconteceu em Paris em 1540, e posteriormente em Coimbra, Lovaina e Pádua. Só mais tarde é que essas "Residências" se transformaram em "Colégios". Na impossibilidade de converter a população adulta, os jesuítas perceberam que é pela educação das crianças que se pode fazer a renovação do mundo. Nesse sentido, e aproveitando o esforço expansionista dos dois maiores impérios da altura, o português e o espanhol, os jesuítas vão estar presentes nos novos mundos desde o início da colonização. S. Francisco Xavier percorre a Índia, a Indonésia, o Japão e chega às portas da China. Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ajudam a fundar as primeiras cidades do Brasil ( S. Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro ). João Nunes Barreto e André de Oviedo empreendem a fracassada missão da Etiópia. S. FRANCISCO XAVIER Em 1545, S. Francisco Xavier, em carta dirigidada Índia a Jerónimo Nadal, seu contemporâneo na Universidade, convida-o a aderir à Companhia de Jesus. Jerónimo Nadal vai ter uma grande influência na definição da vocação docente da Companhia na medida em que é ele que vai ser incumbido de introduzir nos Colégios Jesuítas o Modus parisiensis e de elaborar os primeiros programas de ensino. A vocação docente da Companhia acentuar-se-á com o decorrer dos anos de tal maneira que passará a ser a característica principal das actividades da Companhia. Apesar de inicialmente os Colégios aceitarem apenas alunos que eram candidatos a jesuítas, passaram posteriormente a aceitar também alunos que não pretendessem seguir a vida religiosa. Assim, eram admitidos gratuitamente nos Colégios estudantes pobres e também filhos de ricos e de nobres ficando no entanto a cargo destes o pagamento dos seus estudos. Tanto uns como outros se deveriam sujeitar às mesmas regras dos candidatos a jesuítas, se bem que se devessem vestir de maneira diversa e residissem numa parte diferente do Colégio. Foi em Messina, na Sicília, que em 1548 Inácio de Loiola abriu o primeiro Colégio da Companhia, aquele que inspirou todos os outros. Para o Colégio de Messina foram escolhidas pessoas com uma excepcional preparação. Jerónimo Nadal era o reitor e professor de hebreu, Pedro Canísio professor de retórica, André des Freux professor de grego, Isidoro Bellini professor de lógica, Giovanni Battista Passerino, Hannibal du Coudret e Benedetto Palmio, professores respectivamente das 3ª, 2ª e 1ª classes de gramática. À excepção de Pedro Canísio que havia estudado em Colónia, todos estes professores, de várias nacionalidades, tinham em comum o facto de terem estudado na Universidade de Paris, razão que explica a adopção pela Companhia do Modus Parisiensis. O êxito do Colégio de Messina levou Inácio de Loiola a pensar na criação de um Colégio em Roma que servisse de modelo aos outros e onde se podessem formar os futuros professores da Companhia. Uma doação de Francisco de Bórgia, duque de Gandía, permitiu que o Colégio Romano, mais tarde Universidade Gregoriana, começasse a funcionar em 1551. Dois anos mais tarde, em 1553, já com algumas centenas de alunos, esse Colégio começou a ensinar, além da Gramática e da Retórica, a Filosofia e a Teologia. Para além dos alunos externos, estudavam ali os futuros jesuítas oriundos de Itália, Espanha, Portugal, Bélgica e da Alemanha. Em dez anos, o número de professores elevou-se a mais de 200. Tendo por base este importante centro pedagógico, os jesuítas empreenderam uma implementação sistemática da sua actividade docente cuja lei orgânica é consagrada na publicação, em 1599, da Ratio Studiorum, . Os seus esforços dirigiam-se preferencialmente para França e Alemanha onde os movimentos protestantes iam tendo uma maior penetração. Em 1759, o Marquês de Pombal, com o pretexto de um atentado contra o rei D. José, expulsou os jesuítas de Portugal e das colónias. A Companhia de Jesus foi também expulsa de França em 1764 e da Espanha e das suas colónias em 1767. A pressão das monarquias destes países foi-se intensificando e o Papa Clemente XIV dissolveu a Companhia de Jesus no ano de 1773 em todo o mundo, com excepção da Prússia e da Rússia Branca. Em 1814 o Papa Pio VII, através da Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum, restaurou a Companhia de Jesus. Durante todo século XIX, a vida da Companhia foi muito atribulada. Quando os governos eram conservadores, os jesuítas eram chamados e exaltados, quando os governos eram liberais, os jesuítas eram perseguidos e expulsos. No século XX a Companhia acompanhou de perto os grandes conflitos internacionais: duas guerras mundiais, a revolução russa e sua expansão nos países da Europa oriental que abalou dez vice-províncias da Companhia. O triunfo de Mao-Tsé-Tung na China arrasou a estrutura missionária construída durante um século de trabalho. O nacionalismo dos povos de África e da Ásia, lutando contra as potências colonizadoras, criou dificuldades para os missionários estrangeiros. *** Quando Inácio de Loiola morreu em 1556, existiam 40 Colégios aprovados, mas só 35 é que estavam em funcionamento. A Companhia tinha cerca de 1000 membros, distribuídos em 110 Casas e 13 Províncias, sendo a de Portugal a primeira a ser criada. Em 1615, quando Acquaviva faleceu, os jesuítas eram mais de 13.000 e os Colégios eram 372. Em 1773, quando a Companhia foi extinta, contava com 23.000 membros e dirigia, na Europa, 546 Colégios e 148 Seminários e, fora da Europa, 123 Colégios e 48 Seminários, num total de 845 estabelecimentos de ensino. Aquando do Concílio do Vaticano II, entre 1962 e 1965, o número de jesuítas era de 36.000, mas nos anos 80 passou a 26000.
|
Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
|