Tradução
da 4ª carta
Segunda-feira,
24 de Agosto de 1654
Senhor,
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Comentários: |
1.
Na última carta não consegui explicar-lhe todas as minhas ideias acerca do
problema dos pontos e, ao mesmo tempo, tenho um certo receio em fazer isso pois,
temo que esta admirável harmonia conseguida entre nós e que é tão querida
para mim, comece a diminuir pois, tenho receio que tenhamos opiniões diferentes
em relação a este assunto. Desejo expor-lhe todo o meu raciocínio e, peço-lhe
o favor de me corrigir caso eu esteja em erro, ou de me endossar caso esteja
correcto. Peço-lhe isto com toda a confiança e sinceridade pois nem sequer
estou certo que você estará do meu lado.
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Pascal
predispõe-se a apresentar o seu raciocínio.
É de
salientar o facto de Pascal pedir a Fermat para o corrigir ou para o apoiar, apesar de mostrar algum receio
que a amizade até à data conseguida, possa diminuir. |
Quando há somente dois jogadores a sua teoria, que prossegue das
combinações, é muito justa. Mas, quando há três, acredito que tenho a prova
que é injusto que proceda de qualquer outra maneira diferente daquela que eu
tenho. Mas, o método que lhe dei a conhecer, e o qual tenho usado universalmente,
é comum a todas as condições imagináveis de distribuição dos pontos, em
vez do das combinações (as quais eu não uso, excepto em casos
particulares quando é mais curto do que o método habitual), um método que só
é bom em casos isolados.
Tenho a certeza de que conseguirei fazê-lo entender mas, são necessárias
algumas palavras da minha parte e um pouco de paciência da sua parte.
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Pascal tenta convencer Fermat
de que
somente o método que lhe deu a conhecer na última carta permite uma
generalização quanto ao número de jogadores. |
2.
Este é o método de procedimento quando se tem dois jogadores: se dois
jogadores estiverem a jogar em vários lançamentos, encontram-se num estado tal
que o primeiro carece de 2 pontos e o segundo de 3 para ganhar a aposta, você
diz que é necessário ver em quantos pontos será o jogo, absolutamente,
decidido.
É conveniente supor que isto será em 4 pontos, donde se conclui que, é
necessário ver de quantas maneiras diferentes podem ser distribuídos os pontos,
entre os dois jogadores, quantas combinações existem para fazer com que o
primeiro ganhe e, quantas para fazer com que o segundo ganhe e, para dividir a
aposta de acordo com essa proporção. Eu dificilmente poderia entender esta
explicação se não a soubesse antes; mas, você também escreveu isto na sua
discussão. Então, para ver de quantas maneiras 4 pontos podem ser
distribuídos entre dois jogadores, é necessário imaginar que eles jogam com
um dado de apenas 2 faces (uma vez que há apenas dois jogadores), como cara e
coroa, e que eles lançam 4 dados destes (porque eles jogam 4 vezes). Agora, é
necessário ver de quantas maneiras podem eles cair. Isso é fácil de calcular.
Podem haver 16, que é a segunda potência de 4; que é o mesmo que dizer, o seu
quadrado. Agora imagine que uma das faces tem marcado a, favorável ao
primeiro jogador. E, suponha que a outra tem marcado b, favorável ao
segundo. Então estes 4 dados podem cair de acordo com qualquer uma destas
disposições:
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Pascal volta a explicar o seu método a
Fermat para o caso de dois jogadores. Na última carta, o matemático
explicou este método através de 3 casos particulares, tendo como ponto
de partida os pontos conseguidos pelos jogadores até à data. Aqui, usa o mesmo método mas, partindo do caso em que a um jogador
faltam 2 pontos para ganhar e ao outro 3.
Todo o raciocínio
feito neste ponto, é baseado na suposição de que estão apenas 4 pontos em jogo. |
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Neste pequeno
quadro, podem ser observadas as 16 disposições possíveis em que
os 4 dados (de duas faces: a e b) podem cair, sendo 11 delas
favoráveis ao primeiro jogador (indicadas com 1 na tabela) e 5 ao segundo
(indicadas com 2).
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e,
porque o primeiro jogador carece de dois pontos, todas as disposições que têm
2 a's fazem com que ele ganhe. Assim sendo, tem 11 a seu favor. E, porque
o segundo carece de três pontos, todas as disposições que têm 3 b's,
fazem com que ele ganhe. Há 5 desta forma. Assim, é necessário que eles
dividam a aposta como 11 está para 5.
Pelo seu método, quando temos dois jogadores, você diz que se existirem mais
jogadores, não será difícil fazer a divisão por este método.
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3.
Neste ponto Sr, digo-lhe que esta divisão, baseada nas combinações, é
muito equitativa e boa mas, se houver mais do que dois jogadores nem sempre é
justo e devo-lhe dizer a razão para tal diferença. Comuniquei o seu método a
(alguns dos) nossos cavalheiros, e o Sr. Roberval fez-me esta objecção:
Que é errado basear o método de divisão na suposição que eles estão a
jogar por 4 lançamentos vendo que, quando um carece de dois pontos e o outro de
três, não há necessidade que eles joguem quatro jogadas, uma vez que, pode
dar-se o caso que joguem dois, ou três ou, na verdade, talvez quatro.
Isto porque ele não vê por que é que um deve fingir fazer uma divisão justa, com
a condição assumida que um jogue quatro lançamentos, tendo em consideração
o facto de que, nos termos naturais do jogo, eles não devem lançar o dado
depois de um dos jogadores ter ganho; e que, se isto pelo menos não é falso,
deve ser provado. Consequentemente, ele suspeita que nós tenhamos cometido um
paralogismo.
Eu respondi-lhe que não tinha encontrado a minha explicação, tanto no método
das combinações, que na verdade não está em causa neste momento, como no meu
método universal, do qual nada escapa e que transmite a sua prova por si mesmo.
Este encontra a mesma divisão que a do método das combinações. Além disso, mostrei-lhe a verdade das divisões entre os dois jogadores pelas
combinações, da seguinte forma: não é verdade que, se dois jogadores, estando de acordo com as condições da hipótese de que um carece de dois
pontos e o outro de três, devem, de comum acordo, jogar 4 jogadas completas,
isto é, que devem lançar 4 vezes, ao mesmo tempo, dois dados de duas faces -
não é verdade, digo eu, que, caso eles estejam impedidos de jogar as 4 jogadas,
a divisão deve ser, como já dissemos, de acordo com as combinações
favoráveis a cada um? Ele concordou com isto e isto está de facto provado. Mas,
ele negou que o mesmo acontece quando eles não são obrigados a jogar as 4
jogadas. Então, eu respondi como se segue:
Não
é óbvio que os mesmos jogadores, não estando obrigados a jogar as 4
jogadas mas, desejando desistir do jogo antes de um deles ter alcançado a sua
pontuação, podem, sem perda ou ganho, ser obrigados a jogar as 4 jogadas, e que
esse entendimento não muda, de modo algum, as suas condições? Visto que se o
primeiro ganhar os 2 primeiros pontos de 4, não deverá, aquele que ganhou,
recusar jogar mais 2 jogadas, vendo que se ele ganhar, não ganhará mais e se
perder, não ganhará menos? Porque os dois pontos que o outro ganhar não são
suficientes, dado que ele carece de 3 e não há pontos que cheguem, em 4
jogadas, para ambos conseguirem o número que lhes falta.
É com certeza conveniente considerar que, é absolutamente igual e indiferente
para cada um, quer eles joguem segundo a maneira natural do jogo, a qual é
acabar assim que um consiga a sua pontuação, quer eles joguem as 4 jogadas por
completo. Assim sendo, dado que estas duas condições são iguais e
indiferentes, a divisão deve ser semelhante para ambos. Mas, dado que só é
justo quando eles são obrigados a jogar as 4 jogadas, como eu mostrei, também
é, portanto, justo no outro caso.
Esta foi a maneira como eu o provei e, como deve estar recordado, esta
demonstração é baseada na igualdade das duas condições verdadeiras,
assumidas em relação aos dois jogadores, a divisão é a mesma em cada um dos
métodos e, se um ganhar ou perder por um método, ele perderá ou ganhará pelo
outro, e os dois terão sempre a mesma quantia.
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Pascal
confessa
ter apresentado o método de Fermat a alguns colegas seus. De entre os
comentários que poderão ter surgido, Pascal refere o de Roberval.
Segundo este, Fermat baseou o seu método numa suposição falsa. De seguida, Pascal justifica
ess objecção explicando aquilo que aparenta ter sido defendido por Roberval.
Para terminar, Pascal dá a conhecer o que disse em resposta a tal
observação. |
4.
Usemos o mesmo argumento para três jogadores e, assumamos que ao primeiro falta
1 ponto, ao segundo 2 e ao terceiro 2. Para fazer a divisão, seguindo o mesmo
método das combinações, é necessário primeiro descobrir em quantos pontos
pode ser decidido o jogo, como fizemos quando havia 2 jogadores. Aqui, terão que
ser em três pontos, pois eles não conseguem jogar 3 jogadas sem, necessariamente,
chegar a uma conclusão.
É agora necessário ver de quantas maneiras podem ser combinadas as 3 jogadas,
entre os jogadores, e quantas são favoráveis ao primeiro, quantas são ao
segundo e quantas ao terceiro, e seguindo a proporção na distribuição da
aposta, como fizemos na hipótese dos 2 jogadores.
É fácil ver quantas combinações há ao todo. Isto é a terceira potência de
3; que é o mesmo que dizer, o seu cubo, ou 27. Pois, se um atirar 3 dados ao
mesmo tempo (pois é necessário atirar 3 vezes), tendo estes dados 3 faces cada
um
(uma vez que há 3 jogadores), uma marcada a favorável ao primeiro, uma
marcada b favorável ao segundo e outra marcada c favorável ao
terceiro, - é evidente que estes 3 dados atirados, ao mesmo tempo, podem cair de 27
maneiras diferentes, como:
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Analogamente ao que foi feito no ponto 2, Pascal volta a
usar o mesmo método mas, desta vez, fá-lo para o caso de 3 jogadores, em
que ao primeiro falta 1 ponto para ganhar e ao segundo bem como ao
terceiro, faltam 2.
Todo este raciocínio é feito tendo por base a
hipótese de haver só 3 pontos em jogo. |
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Este quadro contém
as 27 disposições possíveis em que
os 3 dados (de três faces: a, b e c) podem cair, sendo
19 delas
favoráveis ao primeiro jogador (indicadas com 1 na tabela), 7 ao segundo
(indicadas com 2)e outras 7 favoráveis ao terceiro (indicadas com 3).
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Dado que o primeiro carece de 1 ponto então, todas as
distribuições onde aparece um a são-lhe favoráveis. Ao todo há 19. O
segundo carece de 2 pontos. Então, todas as distribuições onde há dois b's,
são a seu favor. Há 7 delas. O terceiro carece de 2 pontos . Portanto, todas as
distribuições onde aparecem dois c's são-lhe favoráveis. Há 7
destas.
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Se nós concluirmos daqui, que é necessário dar a cada um de
acordo com a proporção 19, 7, 7, estamos a cometer um sério erro, e eu
hesitaria em acreditar que você faria isto. Há diversos casos favoráveis ao
primeiro e ao segundo, como abb tem o a de que o primeiro precisa,
e os 2 b's de que precisa o segundo. Assim como o acc é
favorável ao primeiro e ao terceiro.
Portanto, não é desejável contar as distribuições que são comuns aos dois
como valendo o valor total de cada mas, somente metade do ponto. Pois, se a
distribuição acc ocorrer, o primeiro e o terceiro deverão ter o mesmo
direito à aposta, fazendo cada um a sua pontuação. Assim sendo, eles devem
dividir a aposta ao meio. Se a distribuição aab ocorrer, o primeiro
ganha sozinho. É necessário fazer a seguinte suposição:
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Pascal chama
a atenção de Fermat para a possibilidade de se vir a cometer um erro,
dado que existem combinações que são favoráveis a mais do que um
jogador.
Segundo
Pascal, estas
combinações devem valer metade. |
Existem 13 distribuições que dão o total da aposta ao primeiro, 6 que dão
metade e 8 que não lhe valem de nada. Assim, se a soma total for uma pistola,
há 13 distribuições, em que cada uma lhe vale uma pistola, há 6 que lhe valem
1/2 de uma pistola, e 8 que não lhe valem de nada.
Então, neste caso da divisão, é necessário multiplicar
13 por uma pistola que dá 13
6 por metade que dá 3
8 por zero que
dá 0
Total 27
Total 16
e
dividir a soma dos valores, 16, pela soma das distribuições, 27, o que dá a
fracção 16/27 e é esta quantia que pertence ao primeiro jogador, no caso de
haver uma divisão; o que quer dizer, 16 pistolas de 27.
As partes do segundo e terceiro jogador serão as mesmas:
há 4 distribuições que valem 1 pistola;
multiplicando,
4
há 3 distribuições que valem 1/2 de uma pistola;
multiplicando, 11/2
e 20 distribuições que não valem
nada
0
27 Total
Total 51/2
Assim 51/2
pistolas de 27 pertencem ao segundo jogador, e o mesmo ao terceiro. A soma de 51/2,
51/2
e 16 dá 27.
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Tendo em conta tudo o que foi
dito anteriormente, Pascal termina este ponto dizendo quanto ganha cada
jogador. |
5.
Parece-me que é esta a maneira na qual é necessário fazer a divisão pelas
combinações, de acordo com o seu método, a não ser que tenha algo mais sobre
o assunto que eu não saiba. Mas, se não estou enganado, esta divisão é
injusta.
A razão é que estamos a fazer uma suposição falsa, isto é, que eles
estão a jogar 3 lançamentos sem excepção, em vez da condição natural deste
jogo que é, que eles não devem jogar a não ser quando um dos jogadores
obtiver o número de pontos que lhe faltam, e nesse caso o jogo termina.
Não é que tal não possa acontecer ao jogarem 3 vezes mas, pode acontecer que
eles joguem uma ou duas vezes e não necessitem de jogar outra vez.
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Pascal,
neste ponto (5), começa por referir um ponto em comum entre o seu método
e o de Fermat: a divisão pelas combinações. Segundo ele tal divisão baseia-se numa suposição falsa (a Bold) |
Mas dirá você: porque é que é possível fazer a mesma suposição neste
caso como fizemos no caso dos 2 jogadores? Aqui fica a razão: na verdadeira
condição (do jogo) entre 3 jogadores só um pode ganhar pois, pelos termos do
jogo, terá terminado assim que um (dos jogadores) ganhe. Mas, sob as condições
assumidas, 2 podem obter o número dos seus pontos, dado que o primeiro pode
ganhar o ponto que lhe falta e, um dos outros pode ganhar os 2 pontos que lhe
faltam, desde que eles tenham jogado só 3 jogadas. Quando há apenas 2
jogadores, as condições assumidas e as verdadeiras condições contribuem para
a vantagem dos 2. É isto que faz a maior diferença entre as condições
assumidas e as verdadeiras.
|
Pascal apresenta a razão pela qual é possível fazer a mesma
suposição, para o caso de 3 e de 2 jogadores. Neste ponto, Pascal
menciona também os dois tipos de condições, que podem servir de base
aos dois raciocínios, o de Fermat e o seu: condições assumidas e
condições verdadeiras. |
Se os jogadores se encontrarem no estado dado na hipótese, - o que é o
mesmo que dizer que, se o primeiro carece de 1 ponto, o segundo de 2 e o
terceiro de 2; e se eles concordarem e cooperarem para a estipulação de que
eles jogarão 3 jogadas completas; e se aquele que fizer e os pontos que lhe
faltam tomar o total da soma se for o único a conseguir os pontos; ou se dois
conseguirem obtê-los, que devem partilhar equitativamente, - neste caso, a
divisão deve ser feita como eu indico aqui: o primeiro deve ficar com 16, o
segundo com 51/2
e o terceiro com 51/2
de 27 pistolas, e isto traz consigo a sua prova na suposição da condição
acima indicada.
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Pascal indica a divisão a ser feita, partindo das condições
assumidas (a sublinhado). |
Mas, se eles jogarem simplesmente na condição de que não jogarão
necessariamente as 3 jogadas mas, que jogarão apenas até que um deles tenha
obtido os seus pontos, e que então o jogo deve acabar sem dar a outro a
oportunidade de alcançar a sua pontuação, então 17 pistolas deverão
pertencer ao primeiro, 5 ao segundo e 5 ao terceiro, de um total de 27. E isto
é dado pelo meu método geral que também determina que, sob a condição
precedente, o primeiro deve ficar com 16, o segundo com 51/2
e o terceiro com 51/2,
sem usar as combinações - pois, isto resulta para todos os casos e sem nenhum
obstáculo.
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É apresentada a divisão mas, desta vez, utilizando as condições
verdadeiras (a sublinhado). |
6.
Estas, Sr, são as minhas reflexões sobre este tópico, no qual não tenho
nenhuma vantagem sobre si exceptuando o facto de ter meditado nele mais tempo
mas, isto é pouco (vantajoso para mim) do seu ponto de vista, uma vez que o seu
primeiro palpite é mais penetrante que as minhas prolongadas tentativas.
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Neste
último ponto, Pascal volta a elogiar o estudo feito por Fermat acerca do
problema. |
Não me é permitido revelar-lhe as minhas razões para estar ansioso pelas suas
opiniões. Acredito que você reconheceu nisto que a teoria das
combinações é boa, para o caso dos 2 jogadores, por acidente, como também é,
por vezes, boa no caso dos 3 jogadores, como quando um carece de 1 ponto, outro
de 1 e o outro de 2, pois neste caso, o número de pontos aos quais o jogo
termina não é suficiente para permitir que 2 ganhem mas, não é um método
geral e é bom somente no caso de ser necessário jogar, exactamente, um dado
número de vezes.
Consequentemente, como você não tinha o meu método quando me enviou a
divisão entre vários jogadores mas, (dado que você tinha) só o das
combinações, temo que defendamos diferentes pontos de vista relativamente a
este assunto.
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Após ter referido, mais uma vez,
para que casos a teoria das combinações é boa, Pascal volta a confessar
a Fermat, como já tinha feito no início desta carta, o seu receio de que
estejam a ser utilizadas diferentes abordagens do
problema. |
Peço-lhe que me informe acerca do modo como procederia na sua pesquisa neste
problema. Receberei a sua resposta com respeito e alegria, mesmo que as suas
opiniões sejam contrárias às minhas.
Pascal
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Para
terminar, Pascal, tal como tinha feito no início da carta,
pede a Fermat que o informe das suas pesquisas, mesmo que as suas opiniões
sejam divergentes. |

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